É uma queixa recorrente dos usuários da Netflix: no meio de tantos filmes — cerca de 3 mil, segundo levantamentos —, gastam mais tempo escolhendo o que ver do que assistindo a um título. O problema é agravado pela quantidade de bombas — a plataforma de streaming é como um campo minado, uma hora você vai pisar num Hypnotic, num Intrusion, num Spiderhead...
Mas verdade seja dita: não faltam boas opções na Netflix. Há muitos ganhadores do Oscar, vencedores de prêmios nos festivais de Berlim, Cannes e Veneza e até clássicos, embora em um número infinitamente menor do que o desejável. E se você se dispõe a garimpar um pouquinho, pode encontrar pequenas joias contemporâneas. Ah, e quanto menos restrita a gêneros e idiomas for a sua dieta, mais saboroso se mostra o cardápio.
Para ajudar, refiz e ampliei a lista com os melhores filmes em cartaz na Netflix atualmente. Friso o advérbio porque rotineiramente a plataforma acrescenta e remove títulos de seu catálogo.
Os melhores filmes na Netflix em 2023
A seleção dos melhores filmes da Netflix em 2023 está dividida em sete categorias: Africanos, asiáticos e australianos, Animações, Brasileiros, Documentários estrangeiros, Europeus, Hollywood/Independentes dos EUA (que incluem obras de diretores de outros países com produção estadunidense) e Latino-americanos. Clique nos links se quiser saber mais.
Filmes africanos, asiáticos e australianos
Atlantique (2019)
De Mati Diop. Ambientado no Senegal, mistura gêneros como romance e terror para contar a história de Ada, jovem prometida ao rico Omar, mas apaixonada pelo pobre Souleiman, operário que sonha em migrar para a Europa.
Beasts of No Nation (2015)
De Cary Fukunaga. O diretor estadunidense conta a história de um garoto que, após ser separado da família durante a guerra civil em um país africano não determinado, é obrigado a lutar ao lado de mercenários.
O Desconhecido (2022)
De Thomas M. Wright. Estrelado pelos ótimos Joel Edgerton e Sean Harris, é baseado em uma história real ocorrida na Austrália, mas como a maioria dos brasileiros não deve estar familiarizada com o caso, aqui não se falará muito sobre a trama. Ou melhor: não se falará quase nada, pois quanto menos soubermos, melhor. Não é que o filme seja uma montanha-russa repleta de reviravoltas. Antes pelo contrário: O Desconhecido é como um quebra-cabeças do qual a gente consegue intuir qual vai ser o quadro final, mas que é montado pacienciosamente pelo diretor. Pacienciosa e engenhosamente: Wright embaralha um pouco a cronologia dos fatos, mistura imagem e som de maneira não muito convencional, corta de um personagem para outro sem avisar. A ideia é construir um suspense atmosférico e hipnotizante.
O Discípulo (2020)
De Chaitanya Tamhane. Um jovem indiano tenta seguir os passos de seu guru e se tornar um renomado cantor de ragas. Mas nem sempre o esforço pode compensar a falta de talento.
O Hospedeiro (2006)
De Bong Joon-ho. Antes de conquistar o Oscar e o mundo com Parasita (2019), o diretor sul-coreano seduziu a crítica com esta ficção científica sobre monstros que se faz acompanhar por humor ácido e comentário político.
Laço Materno (2020)
De Tatsushi Omori. O filme japonês sobre a relação tóxica entre uma mãe irresponsável e seu filho é um dos mais tristes que eu já vi.
Perfeitos Desconhecidos (2022)
De Wissam Smarya. Versão libanesa de uma comédia dramática italiana sobre um grupo de sete amigos (incluindo três casais) que, durante um jantar, concorda em participar de um jogo perigoso: eles deixam os celulares desbloqueados na mesa, expondo-se ao risco de ligações e mensagens revelarem segredos, traições e quetais.
RRR: Revolta, Rebelião, Revolução (2022)
De S.S. Rajamouli. A história se passa na década de 1920, quando a Índia ainda era colonizada à mão dura e sanguinária pelos britânicos. Tudo começa com a esposa do cruel governador levando para sua casa, como se fosse um souvenir, uma menina que mora em um vilarejo. O sequestro vai provocar a revolta do protetor de Bheem (N.T. Rama Rao Jr.), que arquiteta um plano para resgatar a guria. Sua trajetória vai se cruzar com a do policial Raju (Ram Charan Teja). As três horas e sete minutos de RRR voam, porque o diretor, sua equipe técnica e seu elenco não têm medo de abraçar o exagero e o ridículo. Mais do que não temerem, fazem isso com uma paixão contagiante. É uma declaração de amor ao caráter fantástico do cinema, espaço onde tudo pode, onde a violência de mentirinha é capaz de nos fazer sofrer e sorrir na mesma cena, onde a imaginação é o limite.
A Sun (2019)
De Chung Mong-hong. Em Taiwan, a vida de uma família é transformada a partir da prisão de um dos dois filhos após um ato brutal em um restaurante.
Tempo de Caça (2020)
De Yoon Sung-hyun. Em um futuro próximo, no qual a crise financeira derrubou a Coreia do Sul, um jovem, após três anos de prisão, reencontra os amigos e elabora um plano para assaltar um cassino clandestino. Mas eles acabam entrando na mira de um assassino impiedoso.
O Tigre Branco (2021)
De Ramin Bahrani. O diretor nasceu nos EUA, mas como tem família iraniana e a história se passa na Índia, conta como asiático este filme que concorreu ao Oscar de melhor roteiro adaptado e que foi apontado como "o Parasita de 2021".
Tribunal (2014)
De Chaitanya Tamhane. A história sobre um compositor de canções de protesto acusado de ter incitado um operário ao suicídio permite pintar um retrato das tradições e das contradições da Índia.
Animações
O Castelo Animado (2004)
De Hayao Miyazaki. Uma bruxa lança uma terrível maldição sobre a jovem Sophie, transformando-a numa idosa de 90 anos. Desesperada, ela embarca numa odisseia em busca do Castelo Andante, onde reside um misterioso feiticeiro que poderá ajudá-la a reverter o feitiço.
A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas (2021)
De Mike Rianda e Jeff Rowe. Enquanto os vilões reforçam o alerta sobre nossa dependência em relação a dispositivos eletrônicos e às redes sociais e sobre a diabólica dobradinha entre comportamento consumista e obsolescência programada, crianças e adultos são brindados por muitas piadas, desde aquelas envolvendo o cachorro bobão da família até as citações musicais de Kill Bill, de Quentin Tarantino.
The House (2022)
Vários diretores. Se você curte animações sombrias e esquisitas, com um senso de humor mórbido, a dica é assistir a esta coprodução entre EUA e Inglaterra com a técnica stop-motion. O filme consiste em três episódios que giram em torno da casa citada no título. São três fábulas que falam sobre cobiça, integridade, a fragilidade das aparências, a natureza destruidora do ser humano, adaptação e laços afetivos.
A de abertura tem como diretores Emma De Swaef e Marc James Roels. Em 1800, Raymond (voz de Matthew Goode), um decadente pai de família, recebe, de um misterioso benfeitor, uma oferta irrecusável, a de se mudar para uma mansão — parece um típico pacto com o diabo, cheio de momentos aterradores. A segunda história, dirigida por Niki Lindroth von Bahr, se passa nos dias de hoje. Um rato antropomorfizado (Jarvis Cocker) está reformando a tal residência para vendê-la por um preço alto, mas inquilinos e convidados indesejados atrapalham terrivelmente seus planos. Apesar do final bizarro e simbólico, é o segmento menos interessante. O último, realizado por Paloma Baeza, traz as vozes de Helena Bonham Carter, Paul Kaye, Will Sharpe e Susan Wokoma. Embora seja ambientado em um futuro distópico, é o mais solar da antologia. A gata Rosa, que sonha em restaurar a propriedade, vive em atrito com o pescador Elias e a hippie Jen, que só pagam o aluguel com peixes e pedras. Mas dinheiro não é tudo na vida.
A Viagem de Chihiro (2001)
De Hayao Miyazaki. Única animação não falada em inglês a vencer o Oscar da categoria, o filme do cineasta japonês é um dos mais belos já feitos. Na trama, durante a mudança de casa, uma menina de 10 anos depara com um mundo de deuses, bruxas e espíritos.
Filmes brasileiros
7 Prisioneiros (2021)
De Alexandre Moratto. O ator Rodrigo Santoro tem um dos melhores desempenhos de sua carreira na pele do patrão de um ferro-velho onde jovens trabalhadores do Interior descobrem estar em condição análoga à escravidão.
Carandiru (2003)
De Héctor Babenco. Superprodução baseada em livro do médico Drauzio Varella (interpretado por Luiz Carlos Vasconcelos). As histórias de detentos vividos por atores como Rodrigo Santoro, Lázaro Ramos, Wagner Moura e Gero Camilo culminam com o massacre de 1992 no presídio de São Paulo, então o maior da América Latina.
Cidade de Deus (2002)
De Fernando Meirelles. O mosaico sobre o surgimento, o desenvolvimento e a hegemonia do tráfico de drogas em um conjunto habitacional da zona oeste do Rio, entre os anos 1960 e 1980, é um dos maiores sucessos do cinema brasileiro. Concorreu em quatro categorias do Oscar (direção, roteiro adaptado, fotografia e edição), disputou o Globo de Ouro de longa-metragem internacional, foi aplaudido em pé durante sete minutos no Festival de Cannes e entrou na lista dos 100 melhores de todos os tempos elaborada pelos críticos Richard Schickel e Richard Corliss para a revista Time, dos Estados Unidos, em 2005, e no ranking compilado em 2018 pela BBC, do Reino Unido.
Democracia em Vertigem (2019)
De Petra Costa. Indicado ao Oscar de melhor documentário, reconstitui a turbulência política do país desde o impeachment de Dilma Rousseff até a eleição de Jair Bolsonaro à Presidência. A diretora mineira faz isso de forma assumidamente não neutra (e com narração e trilha um tanto melodramáticas) e mesclando à narrativa sua vida pessoal e as contradições de sua família.
Elena (2012)
De Petra Costa. Trata-se do poético inventário de um prolongado luto. Ao recriar os passos da sua irmã mais velha, Elena, e tentar compreender os caminhos, desvios e o atalho por ela tomados, a diretora mineira revive uma dor que trazia entranhada desde os sete anos.
Emicida: AmarElo — É Tudo pra Ontem (2020)
De Fred Ouro Preto. Documentário que conjuga, com harmonia e contundência, os bastidores de um show do rapper no Theatro Municipal, em São Paulo, à história da cultura e da luta dos movimentos negros no Brasil.
Estômago (2007)
De Marcos Jorge. Comédia criminal com sabor brasileiro e inspiração italiana, narra a história de ascensão e queda do paraibano Raimundo Nonato (João Miguel) em São Paulo, onde as coxinhas que frita em um boteco caem no gosto dos boêmios clientes, entre eles a prostituta Iria (Fabíula Nascimento).
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014)
De Daniel Ribeiro. Premiado com o Teddy (destinado a produções LGBT+) no Festival de Berlim, conta a história de um adolescente cego que tenta lidar com a mãe superprotetora ao mesmo tempo em que descobre mais sobre sua sexualidade.
Laerte-se (2017)
De Eliane Brum e Lygia Barbosa da Silva. O documentário enfoca a longa trajetória de autoaceitação, como mulher, da genial cartunista Laerte.
O Lobo Atrás da Porta (2013)
De Fernando Coimbra. No subúrbio carioca, um triângulo amoroso formado pelos personagens de Leandra Leal, Fabíula Nascimento e Milhem Cortaz e alimentado por mentira, desejo e perversidade culmina em uma tragédia hedionda. Eurípedes e Nelson Rodrigues encontram-se neste filme vencedor de sete categorias no Grand Prêmio do Cinema Brasileiro e de troféus nos festivais de Havana e San Sebastian.
Que Horas Ela Volta? (2014)
De Anna Muylaert. Regina Casé encarna uma personagem típica dos lares brasileiros mais ricos: a empregada doméstica. No papel de Val, ela é "da família", mas quando sua filha (Camila Márdila) chega de Pernambuco para prestar vestibular, a garota começa a questionar a desigualdade social. As duas atrizes ganharam um prêmio especial no Festival de Sundance e o filme recebeu dois troféus na mostra Panorama do Festival de Berlim.
Simonal (2018)
De Leonardo Domingues. Fabrício Boliveira interpreta o personagem do título, o cantor Wilson Simonal (1938-2000), retratado da ascensão meteórica à queda em desgraça.
Tropa de Elite (2007)
De José Padilha. Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim, o filme sobre a guerra do tráfico no Rio provocou um intenso debate: o diretor condena ou exalta a violência na ação dos policiais? Para uns, Tropa de Elite é uma radiografia da realidade do combate ao crime no Brasil, que mostra como a polícia se tornou corrupta e abusiva; para outros, o cineasta transforma o capitão Nascimento (interpretado por Wagner Moura) em herói, um justiceiro que acaba impondo a ordem pela força, à margem da lei, como única alternativa possível em um cenário em que a própria sociedade financia o negócio das drogas. O longa-metragem gerou uma continuação, Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora É Outro (2010), em que o protagonista já não sobe os morros cariocas — tem de lidar com a corrupção de políticos e agentes da segurança pública e o surgimento das milícias.
A Última Floresta (2021)
De Luiz Bolognesi. Premiado com o troféu do público na mostra Panorama do Festival de Berlim, este documentário dramatiza lendas para abordar um tema urgente: a destruição da Amazônia por garimpeiros e a sobrevivência dos povos indígenas.
Documentários estrangeiros
No Caminho da Cura (2021)
De Robert Greene. Enquanto lutam por Justiça, seis homens que, na infância, foram abusados sexualmente por padres, nos Estados Unidos, são convidados pelo diretor e por uma dramaterapeuta para criar e estrelar pequenos filmes sobre seus próprios traumas. É o processo ao qual se refere o título original, Procession.
Contornando a Morte (2018)
De Pailin Wedel. Trabalhando em um microcosmo, a diretora reflete sobre questões gigantescas. O drama de uma família tailandesa que decide congelar o cérebro da filha caçula — acometida por um tipo raro de câncer — nos convida a pensar sobre ciência e fé, corpo e espírito, amor e o que muitos chamariam de loucura, sobre como lidamos ou não com a perda, com o luto.
Diga Quem Sou (2019)
De Ed Perkins. Ao reconstituir a vida dos hoje cinquentões Alex e Marcus Lewis, gêmeos univitelinos, o filme inglês mostra, na teoria e na prática, como as memórias são uma construção permanente, um mecanismo complexo e algo mágico, um labirinto em que podemos tentar esquecer episódios traumáticos.
O Dilema das Redes (2020)
De Jeff Orlowski. Exibe o lado nocivo de plataformas como Facebook, Google, Twitter, YouTube e Instagram e aponta efeitos globais da mudança de comportamentos pessoais. Quem conta isso para nós conhece muito as engrenagens dessas empresas, como Tristan Harris, que era especialista em ética do design no Google, e Justin Rosenstein, engenheiro que foi um dos inventores do botão de "curtir" no Facebook.
O Golpista do Tinder (2022)
De Felicity Morris. Começa contando a história da norueguesa Cecilie Fjellhoy, uma loira sorridente com experiência no aplicativo de paquera, onde encontrou um príncipe encantado. Ledo engano. Em ritmo de suspense irresistível, o documentário fala sobre as ilusões amorosas e evidencia como estamos sujeitos aos riscos do culto à imagem e da sedução da ostentação.
Indústria Americana (2019)
De Steven Bognar e Julia Reichert. Vencedor do Oscar, aborda consequências da crise econômica iniciada em 2008 nos EUA, tendo como foco as diferenças culturais entre trabalhadores (de baixo e alto escalão) estadunidenses e chineses em uma fábrica do Ohio reativada por empresários asiáticos.
Inverno em Chamas: A Luta pela Liberdade da Ucrânia (2015)
De Evgeny Afineevsky. Concorrente ao Oscar, o filme dirigido acompanha as manifestações que ocuparam as ruas de Kiev entre o final de 2013 e o início de 2014 para protestar contra o governo de Viktor Yanukovych, que buscava estreitar laços econômicos com a Rússia. A violenta repressão acabou provocando uma guerra civil na Ucrânia.
As Mortes de Dick Johnon (2020)
De Kirsten Johnson. A documentarista estadunidense resolveu homenagear o pai em vida, antes que a morte levasse seu corpo ou, no mínimo, sua memória ficasse comprometida pelo Alzheimer. A celebração também é do cinema, capaz de eternizar as coisas e as pessoas, e capaz também de matar sem matar.
Professor Polvo (2020)
De Pippa Ehrlich e James Reed. Ganhador do Oscar, o filme retrata a aproximação entre um homem, o documentarista Craig Foster, e um polvo na costa da África do Sul. Além de exibir imagens fabulosas, Professor Polvo retoma algumas lições velhas, mas nem sempre aprendidas — como a de que, se descuidarmos, o trabalho pode nos devorar e a de que não somos visitantes, mas integrantes da natureza.
Virunga (2014)
De Orlando von Einsiedel. Indicado ao Oscar, ao Bafta e aos troféus do Sindicato dos Diretores dos EUA e da Associação dos Produtores dos EUA, o documentário conta a história dos guardas que arriscam a vida para proteger o parque nacional mais precioso da África, na República Democrática do Congo, e seus gorilas em risco de extinção.
Filmes europeus
18 Presentes (2020)
De Franco Amato. Em uma cidadezinha italiana, uma mulher grávida e com câncer terminal deixa 18 presentes para a filha que vai nascer — um para cada aniversário, até que fique adulta. Inspirado em uma personagem verídica, o drama requer um pacote de lenços ao lado do sofá.
Carne Trêmula (1997)
De Pedro Almodóvar. É a versão livre do diretor espanhol para um romance policial da inglesa Ruth Rendell. Ambientado em Madri, o filme acompanha o desastrado percurso do entregador de pizzas Victor (Liberto Rabal, anunciado à época como o novo Antonio Banderas). Aos 20 anos, o rapaz teve uma única experiência sexual, com a bela e viciada em heroína Elena (Francesca Neri). Na tentativa de repeti-la, ele atira acidentalmente no policial David (Javier Bardem).
Desejo e Reparação (2007)
De Joe Wright. Na Inglaterra de alguns anos antes da Segunda Guerra Mundial, uma adolescente aspirante a escritora (Saoirse Ronan) muda o curso de várias vidas quando acusa o amante (James McAvoy) de sua irmã (Keira Knightley) de um crime que ele não cometeu. Bela adaptação do romance escrito por Ian McEwan.
O Destino de Haffmann (2021)
De Fred Cavayé. Na Paris de 1941, durante a ocupação alemã, François Mercier (Gilles Lellouche) é um homem comum que sonha em ter um filho com a esposa, Blanche (Sara Giraudeau). Ele trabalha para um talentoso joalheiro, o Sr. Haffmann (Daniel Auteuil) - que é judeu. O recrudescimento da perseguição nazista força a partida da família de Haffmann e um rearranjo das relações de poder na joalheria, com consequências cada vez mais complicadas.
Educação (2009)
De Lone Scherfig. A diretora dinamarquesa assina esta produção britânica que concorreu a três Oscar: melhor filme, atriz (Carey Mulligan) e roteiro adaptado (pelo escritor Nick Hornby). Na trama ambientada na efervescente Londres da década de 1960, uma adolescente de 16 anos que mora no subúrbio e tenta realizar o sonho de sua família — que é ser aceita em uma escola da elite — encara uma reviravolta na vida ao conhecer um playboy com o dobro de sua idade (Peter Sarsgaard).
O Expresso da Meia-Noite (1978)
De Alan Parker. Filme inspirado na história real de rapaz dos EUA que conhece o inferno em uma prisão da Turquia após ser preso por tráfico de drogas. A temporada na cadeia será especialmente traumática em razão de um carcereiro sádico que leva o filho pequeno para assistir a sessões de torturas. Das seis indicações ao Oscar, incluindo melhor filme e direção, ganhou as estatuetas de roteiro adaptado (do futuro cineasta Oliver Stone) e pela marcante trilha sonora original assinada por Giorgio Moroder.
Fale com Ela (2002)
De Pedro Almodóvar. Mulheres em coma e homens solitários. Touradas em Madri e coreografias de Pina Bausch. Cinema mudo e personagens que contam filmes. Caetano Veloso e Elis Regina. O cineasta espanhol congrega isso tudo e um pouco mais neste filme ganhador do Oscar de melhor roteiro original.
O que Ficou para Trás (2020)
De Remi Weekes. Um casal que fugiu da guerra civil no Sudão do Sul vivencia o terror em casa num subúrbio da Inglaterra. Assusta, intriga e emociona.
Lazzaro Felice (2018)
De Alice Rohrwacher. Prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes, o filme da diretora italiana faz a releitura do mito bíblico de Lázaro na fantástica jornada de um ingênuo e bondoso rapaz por diferentes tempos (esse personagem fascinante é vivido por Adriano Tardiolo). O tom de fábula é costurado por uma aguda crítica social, que ilumina as relações de poder e submissão em um pobre vilarejo.
Lua de Mel com a Minha Mãe (2022)
De Paco Caballero. A comédia espanhola não deixa de falar sobre coisas sérias, nem de passar sermão em maridos desatentos e filhos ingratos, mas investe mais alto na chave do humor. Tudo começa quando o jovem José Luís (Quim Gutiérrez) é abandonado no altar pela noiva. Para minimizar o prejuízo financeiro e para realizar um sonho materno, ele acaba aceitando viajar às Ilhas Maurício, na costa leste da África, tendo como "esposa" a própria mãe: Mari Carmen, divertida personagem vivida por Carmen Machi.
Má Educação (2004)
De Pedro Almodóvar. É o terceiro filme do espanhol na relação (e haverá um quarto logo abaixo). Acontece que a Netflix disponibilizou em 2022 um pacote com 12 títulos almodovarianos. Este aqui é um dos meus preferidos, a um só tempo uma crítica à hipocrisia e ao silêncio da Igreja em relação a padres pedófilos, uma homenagem ao cinema noir e um reflexo multifacetado da carreira do cineasta.
A Mão de Deus (2021)
De Paolo Sorrentino. O cineasta italiano recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza e disputou o Oscar, o Globo de Ouro e o Bafta de melhor filme internacional. Com toques autobiográficos, conta a história de Fabietto, 17 anos, que está prestes a ver seu ídolo Maradona jogar no Napoli, o time da sua cidade. "Mas a vida lhe reserva ainda outra surpresa, um forte empurrão para que se despeça da sua inocência", como escreveu em GZH a colunista Martha Medeiros.
Mignonnes (2020)
De Maïmouna Doucouré. O polêmico filme de diretora franco-senegalesa levanta o debate sobre a adultização e a sexualidade infantil: o que nossas crianças andam imitando? Qual é o papel dos pais e responsáveis?
Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988)
De Pedro Almodóvar. Ganhadora da Osella de Ouro de melhor roteiro no Festival de Veneza e indicada ao Oscar de filme internacional, esta comédia dramática projetou Almodóvar globalmente. Carmen Maura interpreta Pepa, uma dubladora de filmes que entra em crise depois de ser deixada pelo namorado. Em busca de algo para curar a fossa, ela se propõe a ajudar uma amiga que mantém uma relação com um terrorista. A situação se complica quando Pepa encontra a amante de seu ex-companheiro e, depois, passa a ser perseguida pela polícia. Com Antonio Banderas.
Nada de Novo no Front (2022)
De Edward Berger. A primeira adaptação alemã do clássico de Erich Maria Remarque sobre a Primeira Guerra Mundial ganhou quatro troféus no Oscar: melhor filme internacional, fotografia, design de produção e música original. Merecia mais.
Ninfomaníaca: Volumes 1 e 2 (2013)
De Lars Von Trier. O díptico do controvertido cineasta dinamarquês é narrado em forma de flashback, como se fosse uma sessão de terapia em que Joe (Charlotte Gainbourg), uma mulher atormentada por seus desejos sexuais, conta sua perturbadora trajetória a um sujeito de vida pacata (Stellan Skarsgård) que a encontrou desmaiada na rua e a acolheu. O elenco inclui Stacy Martin (no papel da jovem Joe), Uma Thurman e Christian Slater.
Nunca Deixe de Lembrar (2018)
De Florian Henckel von Donnersmarck. A vida do artista alemão Gerhardt Richter, marcado, primeiro, pelas perseguições do nazismo e, depois, pelo cerceamento do regime comunista na Alemanha Oriental, inspirou este filme memorável. Não se deixe assustar pelos 188 minutos da duração (e evite ler as sinopses, pois algumas delas trazem revelações demais sobre a trama).
O Poço (2020)
De Galder Gaztelu-Urrutia. Esta distopia espanhola tem ecos de duas obras do sul-coreano Bong Joon-ho. Assim como ocorre nos vagões de O Expresso do Amanhã, o presídio vertical de O Poço separa os ricos dos pobres. Assim como em Parasita, o filme mistura humor com brutalidade ao encenar duelos de sobrevivência para os quais os mais abastados nem dão bola.
Rede de Ódio (2020)
De Jan Komasa. O diretor polonês aborda temas como haters, milícias digitais, fake news e a influência das mídias sociais no crescimento do extremismo político. Na trama, um jovem interpretado de forma assombrosa por Maciej Musialowski vai trabalhar em uma empresa de monitoramento das redes sociais, fachada para um escritório de difamação, de onde ataca primeiro uma influenciadora digital da área de fitness e depois um candidato a prefeito de Varsóvia.
Sementes Podres (2018)
De Kheiron. A comédia dramática é escrita, dirigida e protagonizada pelo franco-iraniano Kheiron. Seu papel é o do trapaceiro Wael, que vive aplicando golpes na companhia de Monique (a sempre charmosa Catherine Deneuve). Quando um desses golpes dá errado, Wael acaba incumbido de ser o mentor de adolescentes à beira de serem expulsos da escola.
Toc Toc (2017)
De Vicente Villanueva. Seis pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) marcam consulta no mesmo horário com um psiquiatra, mas ele se atrasa muito. Enquanto esperam no consultório, eles descobrem as peculiaridades de cada um, provocando risadas no espectador — que mais adiante perceberá as sutilezas desta comédia espanhola estrelada por Oscar Martínez e Rossy de Palma, entre outros atores.
Veronica (2017)
De Paco Plaza. Neste terror espanhol do mesmo diretor de Rec (2007), uma adolescente aluna de escola católica e sobrecarregada de tarefas domésticas (é ela quem de fato cuida dos três irmãos mais novos) compra um tabuleiro ouija para tentar contatar o pai falecido.
Viver Duas Vezes (2019)
De Maria Ripoll. Com sua filha e sua neta, Emilio embarca em uma louca jornada pela Espanha para encontrar a sua paixão da juventude antes que ele sucumba ao Alzheimer. Mais uma atuação memorável de Oscar Martínez.
Hollywood e independentes dos EUA
Adoráveis Mulheres (2019)
De Greta Gerwig. A diretora realçou o subtexto feminista na sétima adaptação cinematográfica do romance Mulherzinhas (1868), de Louisa May Alcott. Em um filme com atuações (Saoirse Ronan, Florence Pugh, Laura Dern, Meryl Streep...), música e vestuário arrebatadores, um dos grandes acertos foi a mudança na estrutura cronológica do livro. A narrativa se dá em dois tempos intercalados, o do presente e o de sete anos atrás. Os flashbacks comparam e opõem situações e emoções da narrativa corrente.
Águas Rasas (2016)
De Jaume Collet-Serra. Sob direção do cineasta espanhol, Blake Lively interpreta uma surfista estadunidense que enfrenta um enorme tubarão em praia deserta do México. Na falta do clássico Tubarão (1975), este filme se sai bem.
Ataque dos Cães (2021)
De Jane Campion. O faroeste tardio (se passa em 1925), silencioso (não espere um bangue-bangue) e desconstrutivo (esqueça a imagem mítica do caubói) tinha 12 indicações ao Oscar, mas, infelizmente, só levou a estatueta dourada de melhor direção. Benedict Cumberbatch, que concorria na categoria de ator, foi um dos grandes injustiçados.
Conta Comigo (1986)
De Rob Reiner. Adaptação de uma história escrita por Stephen King sobre quatro amigos de 12 anos que saem à procura do corpo de um adolescente, em uma jornada que transformará suas vidas para sempre. No elenco, River Phoenix, o irmão mais velho de Joaquin Phoenix, morto aos 23 anos por excesso de cocaína e morfina.
Corra! (2017)
De Jordan Peele. Por meio do terror (é dele também Nós, de 2019), o diretor e roteirista discute o racismo, a perpetuação da escravidão, a normalização da agressão e as tentativas da sociedade estadunidense de apagar e reinterpretar o próprio passado de exploração e violência. Em Corra!, que lhe valeu o Oscar de melhor roteiro original, Daniel Kaluuya interpreta um fotógrafo negro que vai visitar a família da namorada, uma jovem branca vivida por Allison Williams. Na propriedade rural dos Armitage (Bradley Whitford e Catherine Keener), ele começa a ficar intrigado com estranhos acontecimentos e comportamentos.
De Repente 30 (2004)
De Gary Winick. É uma deliciosa comédia inspirada em Quero Ser Grande (1988). No seu 13º. aniversário, Jenna Rink, que só tem um amigo, Matt, faz um pedido: virar adulta. No dia seguinte, ela acorda com 30 anos de idade (Jennifer Garner).
O Despertar de uma Paixão (2006)
De John Curran. Adaptação do romance O Véu Pintado, do escritor britânico W. Somerset Maugham (1874-1965), é um drama romântico com pano de fundo histórico em uma paisagem deslumbrante, evocando O Céu que nos Protege (1990) ou O Paciente Inglês (1996). Conta a história de um conturbado casal inglês, o sisudo bacteriologista Walter Fane (Edward Norton) e a fútil e mimada Kitty (Naomi Watts), em meio a uma epidemia de cólera na zona rural da China de 1925.
Os Donos da Rua (1991)
De John Singleton. É um filme duplamente histórico. Seu realizador tornou-se o primeiro negro indicado ao Oscar de melhor diretor. E também destronou Orson Welles (1915-1985) do posto de mais jovem concorrente da categoria. O cineasta de Cidadão Kane (1941) tinha 26 anos quando recebeu a distinção; Singleton, 24.
Drive (2011)
De Nicolas Winding Refn. Ganhador do prêmio de direção no Festival de Cannes, o cineasta dinamarquês faz um sofisticado exercício estilístico sobre um arquétipo recorrente em Hollywood (e interpretado por Ryan Gosling): o do homem calado e calejado, às vezes travestido de justiceiro, noutras de criminoso, não raramente mocinho e bandido na mesma persona.
O Enfermeiro da Noite (2022)
De Tobias Lindholm. Estrelado por Jessica Chastain e Edddie Redmayne, é um filme de serial killer diferente de todos os filmes de serial killer. O Enfermeiro da Noite não adota a perspectiva do assassino em série Charles Cullen, não glamoriza o personagem, não pede que tenhamos algum tipo de empatia por ele, não tenta justificar seus crimes nem compartilhar a culpa com a família, a sociedade, o Estado (ainda que na história de Cullen, como esta versão ficcional mostra, leis estaduais e políticas corporativistas tenham contribuído para que ele seguisse matando) e não exibe seus atos de violência — no máximo, como na cena de abertura, vemos a apreensão de seu rosto dar lugar ao que parece ser um esgar de satisfação enquanto uma equipe médica, fora de quadro, luta para salvar um paciente.
Encontros e Desencontros (2003)
De Sofia Coppola. É a perdida tradução de Lost in Translation, comédia dramática que valeu à estadunidense o Oscar de roteiro original. Ela também concorreu nas categorias de melhor filme e direção. Indicado ao Oscar de ator, Bill Murray interpreta Bob Harris, um ator de cinema que está no Japão para estrelar um comercial de uísque. Scarlett Johansson é Charlotte, jovem formada em Filosofia que vai a Tóquio para acompanhar o marido, fotógrafo de bandas de rock. Casado, Bob atravessa a crise dos 50 anos, Charlotte vive a dos 20. Como não conseguem dormir — não bastasse o desamparo, estranham o fuso horário —, certa noite eles acabam se esbarrando no bar de um hotel luxuoso. Sofia escreveu a história inspirada em sua própria experiência. Quando tinha 20 e poucos anos, viajava ao Japão por conta de sua grife de roupas, a Milk Fed. Tímida, percebeu que, naquela terra estrangeira, teria de encontrar a si mesma. Foi lá que superou a angústia de carregar um sobrenome famoso e o trauma de ter sido destruída pela crítica por seu papel em O Poderoso Chefão: Parte III (1990), do pai, Francis Ford Coppola.
Era uma Vez em... Hollywood (2019)
De Quentin Tarantino. Ambientada em 1969, esta fábula cruza os caminhos de um ator decadente (Leonardo DiCaprio) e um dublê (Brad Pitt, Oscar de coadjuvante), ambos personagens fictícios, com o da atriz Sharon Tate (Margot Robbie), assassinada pela seita de Charles Manson.
Estou Pensando em Acabar com Tudo (2020)
De Charlie Kaufman. De carro, um casal de namorados (Jesse Plemons e Jessie Buckley) convida o público a embarcar em uma viagem verborrágica e a desvendar um quebra-cabeças sobre memórias reinventadas, afetos partidos e relacionamentos abusivos.
O Estranho Sem Nome (1973)
De Clint Eastwood. É um dos filmes que imortalizaram Eastwood no gênero do faroeste. O próprio diretor interpreta o protagonista contratado para proteger uma cidadezinha no Arizona, Lago, de bandidos que prometem aterrorizar seus moradores. Ele impõe algumas condições, como pintar o local de vermelho e rebatizá-lo como Hell (Inferno).
A Filha Perdida (2021)
De Maggie Gyllenhaal. Baseado no romance homônimo escrito por Elena Ferrante, o filme disputou os Oscar de roteiro adaptado (assinado pela própria diretora estreante), melhor atriz (Olivia Colman) e atriz coadjuvante (Jessie Buckley).
Forrest Gump: O Contador de Histórias (1994)
De Robert Zemeckis. Conquistou seis Oscar: melhor filme, direção, ator (Tom Hanks), roteiro adaptado, edição e efeitos visuais (aqueles que fazem o protagonista contracenar com políticos e celebridades do passado). A trilha sonora é um legítimo cancioneiro dos Estados Unidos.
Gladiador (2000)
De Ridley Scott. Superprodução que praticamente ressuscitou o gênero épico, traz Russell Crowe no papel de Maximus, general que, por causa de intrigas e traições, é transformado em escravo e obrigado a lutar como gladiador no Coliseu romano. Ganhou cinco Oscar, incluindo melhor filme e ator, e disputou outras sete categorias, como direção e ator coadjuvante (Joaquin Phoenix).
Glass Onion: Um Mistério Knives Out (2022)
De Rian Johnson. Na sequência de Entre Facas e Segredos (2019), um grupo de amigos com fama de "disruptores" recebe um convite para passar um fim de semana em uma ilha na Grécia.
O anfitrião é o bilionário do ramo da tecnologia Miles Bron (Edward Norton), personagem que parodia Elon Musk, dono da fábrica de carros Tesla, dos foguetes SpaceX e do Twitter. Bron propõe uma brincadeira de detetive à turma formada pelos personagens de Daniel Craig (o detetive Benoit Blanc, ainda mais debochado), Janelle Monaé, Kathryn Hahn, Leslie Odom Jr., Kate Hudson, Jessica Henwick, Dave Bautista e Madelyn Cline. Depois que todos desembarcam na ilha, as interações vão trazendo à tona segredos, mágoas e rabos-presos - e possibilitando a Johnson satirizar o mundo dos ricos -, até que um crime acontece e uma cebola precisa ser descascada.
Guerra ao Terror (2008)
De Kathryn Bigelow. Retrata o perigoso cotidiano de um esquadrão antibombas do exército dos Estados Unidos durante o mais recente conflito no Iraque. No elenco, estão Jeremy Renner e Anthony Mackie, hoje super-heróis da Marvel (o Gavião Arqueiro e o Falcão, respectivamente). Bigelow tornou-se a primeira mulher a ganhar o Oscar de direção, em 2010, e também levou o troféu de melhor filme. O curioso é que ela derrotou seu ex-marido, James Cameron, que era favorito nas duas categorias, por Avatar.
História de um Casamento (2019)
De Noah Baumbach. Ambos indicados ao Oscar, Adam Driver e Scarlett Johansson equilibram força e fragilidade como um casal que espelha dúvidas e angústias nossas: o que fazer do amor quando um relacionamento acaba? O quanto nos dispomos a viver a vida com o outro — a viver a vida do outro? O que justifica um fim? As palavras duras que dizemos um ao outro são a verdade ou um exagero temperado pela ira e pelo ressentimento? Como proteger os filhos se estamos em guerra?
Identidade (2021)
De Rebecca Hall. Na Nova York dos anos 1920, duas mulheres que cresceram se reencontram na vida adulta: Irene (Tessa Thompson) se identifica como negra e está casada com um médico negro (que sonha em se mudar para o Brasil, um país onde, segundo ele, não há racismo); Clare (Ruth Negga) se passa por branca e tem um marido rico e preconceituoso. Foi uma ausência inexplicável nas indicações ao Oscar de 2022.
Ilha do Medo (2010)
De Martin Scorsese. É uma das seis parcerias do diretor com o ator Leonardo DiCaprio. Aqui, ele interpreta um policial do FBI que, em 1954, ao lado de seu novo parceiro (Mark Ruffalo), investiga em um hospital psiquiátrico a fuga de uma paciente que matou seus próprios filhos.
Os Intocáveis (1987)
De Brian De Palma. Na Chicago dos anos 1930, o agente do FBI Eliot Ness (Kevin Costner) e seus companheiros (entre eles, Andy Garcia e Sean Connery, indicado ao Oscar de ator coadjuvante) empreendem uma caçada ao gângster Al Capone (Robert De Niro, assustador). Mestre da narrativa visual (vide os planos-sequência, a câmera lenta, a montagem que repartia a tela em duas, o foco dividido), De Palma orquestra, com a imprescindível música de Ennio Morricone, um tiroteio antológico na estação de trem. Quase todas as suas marcas estão ali, incluindo o caráter referencial: tendo um carrinho de bebê como condutor do nosso olhar, a ação presta tributo à sequência da escadaria de Odessa em O Encouraçado Potemkin (1926), clássico de Sergei Eisenstein.
O Irlandês (2019)
De Martin Scorsese. Indicado a 10 Oscar, incluindo melhor filme e direção, é um parque temático de Scorsese. Estão lá a violência endêmica da sociedade estadunidense; o tormento espiritual, a culpa católica e a busca por algum tipo de redenção; o corpo e a alma, o pecado e a fé. Estão lá os gângsteres, não mitologizados nem glamorizados, mas os homens que precisam sujar as mãos. Estão lá os "bons companheiros" do cineasta, três dos atores que ele mais dirigiu: Robert De Niro, Harvey Keitel e Joe Pesci (concorrente ao Oscar de coadjuvante, assim como Al Pacino).
Joias Brutas (2019)
De Ben Safdie e Josh Safdie. Adam Sandler tem um dos melhores desempenhos de sua carreira na pele de um joalheiro de Nova York endividado por causa do vício em jogos de azar. Mas o que mais se destaca é o trabalho dos irmãos diretores, que constroem uma atmosfera opressiva e asfixiante em torno desse personagem.
O Lado Bom da Vida (2012)
De David O. Russell. A comédia dramática que rendeu a Jennifer Lawrence o Oscar de melhor atriz concorreu em outras sete categorias: melhor filme, direção, ator (Bradley Cooper), atriz coadjuvante (Jacki Weaver), ator coadjuvante (Robert De Niro), roteiro adaptado e edição. A trama acompanha a aproximação de Tiffany e Pat, dois adultos mentalmente instáveis.
Um Limite Entre Nós (2016)
De Denzel Washington. Na adaptação da peça do dramaturgo August Wilson, Washington e Viola Davis (ganhadora do Oscar de melhor atriz coadjuvante) repetem os mesmos papéis que viveram no palco. A trama é ambientada nos anos 1950, na cidade de Pittsburgh, nos EUA. O personagem principal é um lixeiro que amarga na maturidade a frustração de não ter sido um jogador de beisebol, apesar do reconhecido talento, em razão de, na sua juventude, a presença de negros na liga profissional ser restrita.
A Lista de Schindler (1993)
De Steven Spielberg. O empresário alemão Oskar Schindler (Liam Neeson) decide usar mão-de-obra judia para abrir uma fábrica na Polônia. Testemunha do Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial, ele faz da indústria um refúgio. Absolutamente pungente, ganhou sete Oscars: melhor filme, direção, roteiro adaptado, fotografia, edição, direção de arte e música original. Indicado ao prêmio de ator coadjuvante, Ralph Fiennes está aterrador como um oficial nazista.
Meia-Noite em Paris (2011)
De Woody Allen. Tributo à efervescência da Cidade Luz nos anos 1920, época em que circularam por seus cafés alguns dos mais ilustres intelectuais e artistas do século passado. É entre eles que deseja viver um escritor estadunidense (Owen Wilson) que passeia pela Paris de hoje. O sujeito tanto quer que, de forma mágica, consegue entrar na turma. No elenco, Rachel McAdams, Marion Cotillard e Léa Seydoux.
Mosul (2020)
De Matthew Michael Carnahan. Um filme de guerra estadunidense muito incomum — o conflito contra o Estado Islâmico é visto e falado pela perspectiva dos iraquianos.
Não Olhe para Cima (2021)
De Adam McKay. Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Cate Blanchett e Timothée Chalamet estrelam a comédia do negacionismo. Na trama, dois astrônomos tentam alertar as autoridades, a imprensa e a população sobre a iminente destruição da Terra por um cometa.
Passageiro Acidental (2021)
De Joen Penna. Se você curte filmes que nos jogam contra a parede e perguntam "o que você faria?", convido a tomar assento no voo dirigido por este brasileiro radicado nos EUA. Toni Collette, Daniel Dae Kim e Anna Kendrick interpretam três astronautas que descobrem um intruso em meio a uma viagem de dois anos rumo a Marte. Trata-se de um problema muito sério: não há oxigênio para quatro pessoas a bordo.
The Perfection (2019)
De Richard Shepard. Charlotte (Allison Williams), uma jovem que era um prodígio do violoncelo, teve de abandonar a música quando sua mãe adoeceu. Anos depois, ela resolve procurar seu antigo mentor, que agora tem uma nova pupila. A partir daí, o filme toma rumos inesperados. E por vezes bizarros e violentos.
Pinóquio de Guilermo Del Toro (2022)
De Guillermo Del Toro. A mais recente versão do clássico de Carlo Collodi ganhou todos os prêmios possíveis para um filme de animação: o Oscar, o PGA Awards, o Bafta, o Globo de Ouro, o Critics' Choice e o Annie Awards.
O Plano Perfeito (2006)
De Spike Lee. Assaltantes vestidos com uniformes de pintor invadem um movimentado banco em Nova York e fazem reféns. A polícia chega ao local esperando resolver a situação rapidamente, mas os detetives vividos por Denzel Washington e Chiwetelk Ejiofor se surpreendem com a inteligência e a frieza do líder dos bandidos (Clive Owen). O elenco de luxo inclui Jodie Foster, Willem Dafoe e Christopher Plummer. Como este é um filme de Spike Lee, saiba que não será apenas um filme de assalto.
O Poderoso Chefão (1972) e O Poderoso Chefão: Parte II (1974)
De Francis Ford Coppola. Preciso explicar? (Uma pena que a terceira parte, lançada originalmente em 1990 e reeditada pelo cineasta em 2020, não esteja disponível.)
Prenda-me se For Capaz (2002)
De Steven Spielberg. Três dos nomes mais importantes de Hollywood reuniram-se pela primeira (e até agora única) vez: o diretor e os atores Leonardo DiCaprio e Tom Hanks. O filme é inspirado na vida real de Frank Abagnale Jr., um rapaz que, nos anos 1960, criou um mundo de fantasia para superar o sofrimento pela separação dos pais. Primeiro, ele se faz passar por professor no colégio. Depois, vai fingir ser um piloto de avião, o pediatra da emergência de um hospital e o procurador-geral do Estado da Louisiana. No caminho, desconta milhões em cheques falsos, conquista muitas mulheres e atrai a atenção de um policial do FBI.
À Procura da Felicidade (2006)
De Gabriele Muccino. Neste filme ambientado na São Francisco dos anos 1980, Will Smith (indicado ao Oscar) aceita um estágio não remunerado em uma corretora da bolsa de valores na esperança de ser contratado e, assim, poder sustentar o filho pequeno — que é vivido pelo filho do próprio ator. Eu choro sempre que vejo.
Queen & Slim (2019)
De Melina Matsoukas. Daniel Kaluuya e Jodie Turner-Smith protagonizam este filme que mistura, de forma tão envolvente quanto controversa, o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) com a história do casal de criminosos Bonnie & Clyde.
A Rede Social (2010)
De David Fincher. O cineasta reconta a juventude de Mark Zuckerberg (interpretado por Jesse Eisenberg) e os primórdios do Facebook. Venceu os Oscars de roteiro adaptado, edição e música original.
Rush: No Limite da Emoção (2013)
De Ron Howard. Retrata a rivalidade, nos anos 1970, entre os pilotos de Fórmula-1 Niki Lauda, austríaco discreto interpretado pelo alemão Daniel Brühl, e James Hunt, inglês baladeiro encarnado pelo australiano Chris Hemsworth. As cenas de corrida são excelentes.
Se a Rua Beale Falasse (2018)
De Barry Jenkins. O diretor do oscarizado Moonlight (2016) adapta livro de James Baldwin. O filme aborda o racismo nos EUA mostrando a jornada de um mulher grávida (Kiki Layne) para provar a inocência do marido ( Stephan James), acusado injustamente de ter cometido um crime. Valeu o Oscar de atriz coadjuvane para Regina King.
Taxi Driver (1976)
De Martin Scorsese. Segunda das 10 parcerias já realizadas entre o diretor e o ator Robert De Niro, ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, concorreu em quatro categorias do Oscar — melhor filme, ator, atriz coadjuvante (Jodie Foster, que tinha apenas 13 anos quando atuou) e música original (em uma indicação póstuma de Bernard Herrmann, o mesmo de Cidadão Kane e Psicose) — e influenciou títulos como Um Dia de Fúria (1993) e Coringa (2019).
Tick, Tick... Boom! (2021)
De Lin-Manuel Miranda. O musical é sobre o processo criativo do compositor de um dos maiores sucessos da Broadway, Rent (1994), mas o filme se concentra na história de seu maior fracasso, Superbia, que nunca chegou a estrear. No papel de Jonathan Larson, Andrew Garfield disputou o Oscar de melhor ator.
A Voz Suprema do Blues (2020)
De George C. Wolfe. Recria os bastidores da gravação de Black Bottom, um dos sucessos da cantora Ma Rainey (1886-1939), considerada a mãe do blues. Os personagens de Viola Davis e Chadwick Boseman (ambos indicados ao Oscar) duelam, mas no fundo lutam contra o mesmo adversário: a opressão racial, a apropriação cultural, a exploração da mão de obra e do talento negros pela sociedade branca.
Melhores filmes latino-americanos
Amores Brutos (2000)
De Alejandro González-Iñárritu. Vencedor de três prêmios paralelos no Festival de Cannes e indicado ao Oscar de melhor filme internacional, narra três histórias paralelas na Cidade do México. Um acidente de automóvel entrelaça os destinos de um jovem que participa de lutas clandestinas com cães (Gael García Benal), uma modelo de sucesso e um dublê de mendigo e justiceiro. O título deu projeção internacional ao cineasta que depois venceria o Oscar de direção com Birdman (2014) e O Regresso (2015).
A História Oficial (1985)
De Luis Puenzo. Primeira produção argentina a ganhar o Oscar de melhor filme estrangeiro, retrata a vida de uma professora de história (Norma Aleandro) que, após o final do regime militar, tenta descobrir quem é a mãe biológica de sua filha adotada.
Crimes de Família (2020)
De Sebastian Schindel. Cecilia Roth brilha neste retrato da tradicional família hipócrita, que cultiva na aparência os vínculos afetivos e dorme sob a proteção de Cristo, mas é capaz de mentir, burlar, ameaçar, corromper.
Ninguém Sabe que Estou Aqui (2020)
De Gaspar Antillo. Neste filme chileno, Jorge García, o Hurley da série Lost, dá show em um solo silencioso no papel de um ex-cantor mirim que virou um ermitão.
A Noite do Fogo (2021)
De Tatiana Huezo. Observa o cotidiano de um povoado mexicano violentado pelo narcotráfico sob o olhar de três amigas, na infância e na adolescência. Um dos meus filmes preferidos dos últimos anos.
O Patrão: Radiografia de um Crime (2014)
De Sebastian Schindel. Baseado em uma história real, registra o calvário do humilde e analfabeto Hermógenes, que assassinou o dono do açougue do qual era gerente. Por quê?
Roma (2018)
De Alfonso Cuarón. Filmado em preto e branco, faz um tributo às mulheres que criaram o diretor no começo dos anos 1970 no bairro homônimo da Cidade do México. Venceu três Oscar — longa internacional, direção e fotografia (também assinada por Cuarón) — e disputou outros sete, incluindo melhor filme, atriz (Yalitza Aparicio) e atriz coadjuvante (Marina De Tavira).
Uma Mulher Fantástica (2017)
De Sebastián Lelio. Vencedor do Oscar de melhor filme internacional, representando o Chile, acompanha a trajetória de Marina, uma mulher trans que precisa enfrentar o preconceito da família de seu recém-falecido namorado.
O Suplente (2022)
De Diego Lerman. Lucio Garmendia (papel de Juan Minujín) é um professor universitário que, após ser preterido para uma cátedra, vai ministrar a aula de Literatura em um colégio público de Ensino Médio situado em uma área degradada da Grande Buenos Aires, a Isla Maciel. Chegando lá, ele depara com uma turma dispersa, desanimada e até desgastada (um estudante dorme a sono solto sobre a mesa, já que passa a noite trabalhando). Mas não temos aqui aqueles típicos discursos edificantes, aqueles monólogos capazes de tocar e transformar a classe imediatamente.
Vamos Consertar o Mundo (2022)
De Ariel Winograd. Um bem-sucedido produtor de TV (em cativante interpretação de Leonardo Sbaraglia) precisa aprender a ser pai de um menino de nove anos. É uma daquelas comédias dramáticas que os argentinos sabem fazer tão bem.
Bônus
Bo Burnham: Inside (2021), de Bo Burnham. É um filme? É um especial de comédia? É um musical? É um monólogo? É um registro documental sobre a vida durante a pandemia? Inside é — parafraseando uma das canções do próprio comediante estadunidense — um pouco de tudo o tempo todo. E não poderia ficar de fora de uma lista com as melhores atrações da Netflix.
Se Algo Acontecer... Te Amo (2020), de Will McCormack e Michael Govier. Curta-metragem também pode. Premiado com o Oscar, começa mostrando um casal separado dentro da própria casa. Aos poucos, graças a um inteligente e emotivo jogo de sombras, vamos entendendo o que os levou àquela condição e o profundo sentido do título.