O calendário dos fãs de cinema está sempre cheio de comemorações. Se em 2021 celebramos, por exemplo, os 100 anos de O Garoto (Charles Chaplin), os 90 de Drácula (Tod Browning), os 80 de Cidadão Kane (Orson Welles), os 50 de Laranja Mecânica (Stanley Kubrick) e os 40 de Um Tiro na Noite (Brian De Palma) — além dos 10 anos de Drive e de Melancolia, assinados pelos dinamarqueses Nicolas Winding Refn e Lars von Trier —, em 2022 teremos obras de Antonioni, Bergman, Buñuel e Truffaut fazendo aniversário redondo. Isso sem falar de títulos essenciais que são mais recentes, como Cães de Aluguel (1992), de Quentin Tarantino, Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles, e Amor (2012), de Michael Haneke.
A falta de tempo para festejar devidamente não é o único problema: as principais plataformas de streaming, vocês sabem, têm memória curta. Portanto, muitos clássicos estão indisponíveis (menos mal que vários podem ser encontrados em DVD). É o caso do agora centenário Nanook, o Esquimó (1922), de Robert Flaherty, o primeiro documentário em longa-metragem conhecido. Mas até filmes com apenas 10 anos de vida já foram confinados a um limbo digital, à espera de um merecido resgate. Estão nessa situação o documentário premiado no Festival de Berlim O Ato de Matar (2012), de Joshua Oppenheimer, Christine Cynn e um indonésio anônimo, e Indomável Sonhadora (2012), de Benh Zeitlin, pelo qual a atriz Quvenzhané Wallis tornou-se a primeira criança negra a concorrer no Oscar, assim como a primeira pessoa nascida no século 21.
Nesta coluna, selecionei 77 filmaços que atingem uma idade vistosa em 2022. Dividi em duas categorias: os que podem e os que não podem ser vistos no streaming. Não são os únicos, obviamente. Uma segunda lista poderia começar com Dr. Mabuse (1922), do austríaco Fritz Lang, um filme mudo com quase cinco horas de duração em cartaz no Telecine, e fechar, na Apple TV, com Tabu (2012), do português Miguel Gomes, que meu colega Daniel Feix descreveu assim: "Raros são os filmes que, ao mesmo tempo, evocam a atmosfera romântica dos clássicos e emanam uma sensação de frescor própria do universo contemporâneo". Entre os indisponíveis, alguém vai dizer que acabei esquecendo O Último dos Moicanos (1992), do estadunidense Michael Mann. Mas faltaram muitos outros, como Viver (1952), do japonês Akira Kurosawa.
Aliás, aproveito para deixar claro que, para montar as listas, combinei os critérios da relevância com o gosto pessoal e estabeleci esse limite de 77 obras (aleatório, eu sei, mas sonoro). Isso explica presenças de títulos talvez obscuros e ausências como a de Vingadores (2012), a oitava maior bilheteria da história, com US$ 1,5 bilhão, mas um modelo da mistura de galhofa e destruição que pauta boa parte do Universo Cinematográfico Marvel. Falando nisso, em humor, dilapidação e sucesso de público, não entrou na relação, mas bem que Os Trapalhões na Serra Pelada (1982), de J.B. Tanko, poderia ser recuperado: com 5 milhões de espectadores, é uma dos 20 mais vistos do cinema nacional.
55 filmes para ver em casa
1) Nosferatu (1922), de F.W. Murnau: adaptação clandestina do Drácula (1897) de Bram Stoker, é um dos títulos fundadores do Expressionismo Alemão. (Telecine)
2) Monstros (1932), de Tod Browning: também conhecido por seu nome original, Freaks, se passa em um circo que explora artistas com deformidades, anões, irmãs siamesas etc. e virou obra de culto no gênero do terror. (HBO Max)
3) Scarface: A Vergonha de uma Nação (1932), de Howard Hawks: versão ficcional da trajetória do gângster Al Capone (1899-1947), aqui batizado de Tony Camonte e interpretado por Paul Muni. (Apple TV, Google Play e YouTube)
4) Bambi (1942), de David Hand, James Algar e Samuel Armstrong: o quinto longa de animação da Disney segue impactando, tanto pelo visual sublime quanto pelo tom trágico. (Disney+)
5) Casablanca (1942), de Michael Curtiz: Humphrey Bogart, Ingrid Bergman e Paul Henreid vivem um dos mais famosos triângulos amorosos de todos os tempos. Venceu os Oscar de melhor filme, direção e roteiro. (HBO Max e, para aluguel ou compra, Amazon Prime Video, Apple TV, Google Play e YouTube)
6) Cantando na Chuva (1952), de Stanley Donen e Gene Kelly: certamente um dos melhores musicais de Hollywood — e sobre Hollywood: retrata a transição do cinema mudo para o falado. (HBO Max e, para aluguel ou compra, Amazon Prime Video, Apple TV, Google Play e YouTube)
7) Luzes da Ribalta (1952), de Charles Chaplin: o palhaço Calvero, que trocou a fama pela bebida, se envolve com uma jovem dançarina suicida. É o único filme em que Chaplin contracena com Buster Keaton, seu rival de cinema mudo. (MUBI)
8) Matar ou Morrer (1952), de Fred Zinnemann: no dia do seu casamento com a personagem de Grace Kelly, o xerife encarnado por Gary Cooper (Oscar de melhor ator) descobre que terá de lidar sozinho com a gangue do criminoso Frank Miller. (Telecine e, para aluguel ou compra, Amazon Prime Video, Apple TV, Google Play e YouTube)
9) O Anjo Exterminador (1962), de Luis Buñuel: misteriosamente, após um luxuoso jantar oferecido por um casal de burgueses ricos, nenhum dos convidados consegue deixar a mansão. É um dos clássicos surrealistas do cineasta espanhol. (Belas Artes à La Carte)
10) O Eclipse (1962), de Michelangelo Antonioni: é o encerramento da Trilogia da Incomunicabilidade do cineasta italiano, sucedendo A Aventura (1960) e A Noite (1961). (Telecine)
11) Jules e Jim: Uma Mulher para Dois (1962), de François Truffaut: outro célebre triângulo amoroso em tempos de guerra, agora vivido por um escritor austríaco, um boêmio francês e a Catherine de Jeanne Moreau. (Telecine)
12) Lawrence da Arábia (1962), de David Lean: épico vencedor de sete Oscar, incluindo melhor filme e direção, sobre o oficial inglês que, na Primeira Guerra Mundial, uniu tribos árabes para enfrentar os turcos. (disponível para aluguel ou compra e Amazon Prime Video, Apple TV e YouTube)
13) O Pagador de Promessas (1962), de Anselmo Duarte: a adaptação da peça de Dias Gomes conquistou o maior prêmio do cinema brasileiro: a Palma de Ouro no Festival de Cannes. (Globoplay)
14) O Processo (1962), de Orson Welles: a história de Joseph K. (papel de Anthony Perkins), o personagem de Franz Kafka que é preso, acusado e julgado por um crime nunca revelado, serviu na medida para a criatividade do cineasta de Cidadão Kane, que teve aqui uma rara satisfação ao comandar, sem interferência, o corte final — chegou a dizer, mais de uma vez, que se tratava de sua obra-prima. (Telecine)
15) 007 Contra o Satânico Dr. No (1962), de Terence Young: a gênese da mais longeva franquia cinematográfica, a do agente secreto James Bond, papel do eterno Sean Connery. (disponível para aluguel ou compra em Amazon Prime Video, Apple TV, Google Play e YouTube)
16) Amargo Pesadelo (1972), de John Boorman: quatro homens de negócios de Atlanta (Burt Reynolds, Jon Voight, Ned Beatty e Ronny Cox) tiram o fim de semana para praticar canoagem e acabam se defrontando com o rosto violento dos Estados Unidos. (HBO Max e, para aluguel ou compra, Amazon Prime Video, Apple TV, Google Play e YouTube)
17) O Poderoso Chefão (1972), de Francis Ford Coppola: o ponto de partida na saga da família mafiosa Corleone, trilogia que somou 29 indicações ao Oscar e conquistou nove estatuetas. (HBO Max e, para aluguel ou compra, Amazon Prime Video, Apple TV, Google Play e YouTube)
18) Solaris (1972), de Andrei Tarkovski: um psicólogo (Donatas Banjonis) viaja para uma estação espacial na órbita do fictício planeta Solaris depois que uma missão científica foi paralisada porque a tripulação entrou em crise emocional. (Belas Artes à La Carte)
19) Blade Runner: O Caçador de Androides (1982), de Ridley Scott: talvez um dos filmes mais cultuados de todos os tempos, traz Harrison Ford na pele de um detetive que, numa San Francisco futurista, precisa caçar um grupo de replicantes — androides rebeldes. (HBO Max e, para aluguel ou compra, Amazon Prime Video, Apple TV, Google Play e YouTube)
20) O Enigma do Outro Mundo (1982), de John Carpenter: espinafrada pela crítica à época de seu lançamento, esta mistura de ficção científica e terror sobre desconfiança e paranoia foi logo redescoberta e acabou se tornando muito influente. (disponível para aluguel ou compra em Amazon Prime Video e Apple TV)
21) A Escolha de Sofia (1982), de Alan J. Pakula: premiado com o Oscar de melhor atriz (Meryl Streep), o título virou expressão: invoca a imposição de se tomar uma decisão difícil sob pressão e enorme sacrifício pessoal. (disponível para aluguel ou compra em Amazon Prime Video, Apple TV, Google Play e YouTube)
22) E.T.: O Extraterrestre (1982), de Steven Spielberg: o conto de fadas sobre a amizade entre o menino Elliot (interpretado por Henry Thomas) e um alienígena que se perde nas florestas da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, liderou por 10 anos o topo das bilheterias. (Star+, Amazon Prime Video e, para aluguel ou compra, Apple TV, Google Play e YouTube)
23) O Rei da Comédia (1982), de Martin Scorsese: é um dos filmes do cineasta nova-iorquino que inspiraram Coringa (2019). Robert De Niro interpreta um aspirante a comediante que se revela perigosamente obcecado por seu ídolo (Jerry Lewis). (Globoplay)
24) Tootsie (1982), de Sydney Pollack: após fracassar em teste para uma novela, um ator perfeccionista (Dustin Hoffman) disfarça-se de mulher para conseguir um papel na mesma produção. Recebeu 10 indicações ao Oscar, incluindo melhor filme, direção e ator, mas só venceu na categoria de atriz coadjuvante (Jessica Lange). (HBO Max)
25) Cães de Aluguel (1992), de Quentin Tarantino: seis bandidos que não se conhecem são reunidos para roubar diamantes, mas algo dá muito errado. A violência gráfica, a narrativa não linear, os diálogos cheios de referências à cultura pop e de palavrões e o uso singular da trilha sonora tornaram-se marcas tarantinescas. (HBO Max, Star+ e Telecine)
26) Drácula de Bram Stoker (1992), de Francis Ford Coppola: nesta suntuosa e sensual adaptação, Gary Oldman dá vida ao Drácula, Anthony Hopkins interpreta o professor Van Helsing, Winona Ryder faz a reencarnação da amada do vampiro, e Keanu Reeves é o noivo dela. (Netflix)
27) Os Imperdoáveis (1992), de Clint Eastwood: este faroeste crepuscular ganhou os Oscar de melhor filme, direção, ator coadjuvante (Gene Hackman) e edição, além de concorrer a outras cinco estatuetas, incluindo a de melhor ator (o próprio Eastwood). (HBO Max e, para aluguel ou compra, Amazon Prime Video, Apple TV, Google Play e YouTube)
28) Instinto Selvagem (1992), de Paul Verhoeven: foi o filme que transformou Sharon Stone em um dos maiores símbolos sexuais do cinema. (Apple TV, Google Play e YouTube)
29) Malcolm X (1992), de Spike Lee: a cinebiografia do controverso líder do movimento negro nos Estados Unidos rendeu a Denzel Washington o Urso de Prata de melhor ator no Festival de Berlim e uma indicação ao Oscar. (Amazon Prime Video e MUBI)
30) Perfume de Mulher (1992), de Martin Brest: na sua oitava indicação, finalmente Al Pacino faturou um Oscar. O título também concorreu nas categorias melhor filme, direção e roteiro adaptado. (Star+)
31) Retorno a Howard's End (1992), de James Ivory: o drama ambientado na Inglaterra do começo do século 20 foi indicado a nove Oscar, incluindo melhor filme e direção, e conquistou três: atriz (Emma Thompson), roteiro adaptado e direção de arte. (Belas Artes à La Carte)
32) Traídos pelo Desejo (1992), de Neil Jordan: vencedor do Oscar de roteiro original e indicado nas categorias de melhor filme, diretor, ator (Stephen Rea), ator coadjuvante (Jaye Davidson) e edição, a trama sobre o sequestro de um soldado inglês pelo IRA tem um dos mais marcantes plot twists do cinema. (Belas Artes à La Carte)
33) Adaptação (2002), de Spike Jonze: um emblemático filme do surrealista roteirista Charlie Kaufman, que aqui se coloca como o protagonista em crise, às voltas com a tentativa de adaptar um romance e um irmão gêmeo. O papel duplo valeu a Nicolas Cage uma indicação ao Oscar de melhor ator. (Apple TV)
34) Amarelo Manga (2002), de Cláudio Assis: Recife serve de cenário para personagens como um açougueiro (Chico Diaz) que, apesar de louvar sua mulher evangélica (Dira Paes), mantém uma amante, o homossexual Dunga (Matheus Nachtergaele) e um necrófilo (Jonas Bloch) fascinado pela dona de um bar (Leona Cavalli). Ganhou sete prêmios no Festival de Brasília. (Globoplay)
35) O Chamado (2002), de Gore Verbinski: estrelada por Naomi Watts e Brian Cox e baseada em um filme japonês, a trama sobre uma misteriosa fita de vídeo parece terror adolescente, mas é muito mais sofisticada e perturbadora. (Telecine)
36) Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles: frequente em listas internacionais dos melhores filmes da história, concorreu a quatro Oscar: direção, roteiro adaptado (Bráulio Mantovani), fotografia (César Charlone) e edição (Daniel Rezende). (Globoplay e Telecine)
37) Dez (2002), de Abbas Kiarostami: uma taxista leva 10 passageiros por Teerã, mostrando a situação da mulher iraniana. (Telecine)
38) Edifício Master (2002), de Eduardo Coutinho: o mestre do documentário visita os condôminos de um tradicional prédio de Copacabana, no Rio, e nos apresenta as fascinantes histórias de pessoas comuns. (Amazon Prime Video, Globoplay e Telecine)
39) Estrada para Perdição (2002), de Sam Mendes: no seu papel mais soturno, Tom Hanks interpreta um assassino a mando de um mafioso irlandês (Paul Newman) na Chicago de 1931. Um Daniel Craig pré-007 faz o instável e malvado filho do gângster. Uma história violenta e sensível sobre pais e filhos. (Star+)
40) Fale com Ela (2002), de Pedro Almodóvar: o cineasta espanhol recebeu o Oscar de melhor roteiro original com a trama sobre dois homens que desenvolvem uma estranha amizade enquanto cuidam de duas mulheres que estão em coma profundo. (MUBI e, para aluguel ou compra, Apple TV, Google Play e YouTube)
41) Herói (2002), de Zhang Yimou: na China antiga, o espadachim sem nome encarnado por Jet Li narra ao rei suas aventuras. As histórias têm como locações lagos, montanhas, florestas e desertos. Em cada um desses lugares, o vento, a água, o sol, as folhas e as árvores participam da ação — que também conta com os figurinos como um personagem à parte. Disputou o Oscar de melhor filme internacional. (Google Play e YouTube)
42) Homem-Aranha (2002), de Sam Raimi: mesmo depois do Batman de Christopher Nolan e do surgimento do Universo Cinematográfico Marvel, mesmo depois do Homem-Aranha 2 e de Logan, é até hoje reverenciado como um dos melhores filmes de super-herói. (Globoplay, Netflix, Paramount+ e Telecine)
43) As Horas (2002), de Stephen Daldry: em 1923, nos arredores de Londres, a escritora Virginia Woolf escreve as primeiras páginas de Mrs. Dalloway. Em 1951, em Los Angeles, a dona de casa Laura Brown lê Mrs. Dalloway. Em 2001, em Nova York, a editora Clarissa Vaughan vive um dia de Mrs. Dalloway. Nicole Kidman levou o Oscar de melhor atriz, mas Julianne Moore e Meryl Streep também mereciam. (Apple TV)
44) Irreversível (2002), de Gaspar Noé: ninguém saiu ileso do cinema após assistir à brutal cena de estupro da personagem interpretada pela italiana Monica Bellucci. (Telecine)
45) Minority Report (2002), de Steven Spielberg: no mesmo ano em que lançou o ótimo Prenda-me se For Capaz, o cineasta estadunidense assinou esta ficção científica ambientada em 2054. Graças a um trio de videntes mutantes, os precogs, a polícia tem a capacidade de zerar a criminalidade, ao prender futuros contraventores e assassinos antes que eles cometam seus crimes. Tanto o filme quanto o conto que o originou, escrito por Philip K. Dick, são espelhos de seu tempo (a Guerra ao Terror pós-11 de Setembro, no primeiro caso, e a época do macarthismo, no segundo), discutindo a relação entre medidas autoritárias e autonomia individual. (HBO Max e Globoplay)
46) A Última Noite (2002), de Spike Lee: foi o primeiro filme pós-11 de Setembro a mostrar o Ground Zero, o local onde ficavam as torres gêmeas do World Trade Center. O protagonista vivido por Edward Norton personifica a perda da ilusão da invulnerabilidade, o medo pelo futuro de Nova York e o desejo de ficar perto de quem ama: seu pai (Brian Cox), sua namorada (Rosario Dawson) e seus amigos (Barry Pepper e Phillip Seymour Hoffman). (Star+)
47) Amor (2012), de Michael Haneke: premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes e o Oscar de melhor filme internacional, retrata a reta final do casamento de Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva), octogenários que vivem com conforto num amplo apartamento em Paris. Apaixonados um pelo outro, eles também são devotados à música clássica. Até que a ex-professora de piano sofre um derrame que dá início ao seu progressivo definhamento. (Reserva Imovision)
48) A Caça (2012), de Thomas Vinterberg: às vésperas do Natal em uma cidadezinha, Lucas (Mads Mikkelsen, prêmio de melhor ator no Festival de Cannes), professor no jardim de infância, é injustamente acusado de abusar sexualmente de uma garotinha, o que o torna alvo de perseguição por toda a comunidade. (Amazon Prime Video)
49) Elena (2012), de Petra Costa: trata-se do poético inventário de um prolongado luto. Ao recriar os passos da sua irmã mais velha, Elena, e tentar compreender os caminhos, os desvios e o atalho por ela tomados, a diretora mineira revive uma dor que trazia entranhada desde os sete anos. (Netflix)
50) Ferrugem e Osso (2012), de Jacques Audiard: o diretor francês contrapõe beleza e selvageria para mostrar como se encontram os personagens Stéphanie (Marion Cotillard) e Ali (Matthias Schoenaerts). Ele é um ex-boxeador desempregado que precisa cuidar do filho de cinco anos. Ela é uma adestradora de orcas que enfrenta um momento divisor em sua vida. (Apple TV, Google Play e YouTube)
51) Holy Motors (2012), de Leos Carax: o prestigiado diretor francês acompanha a jornada de um homem (Denis Lavant) que, a bordo de uma limusine, visita durante um dia algumas de suas várias vidas paralelas, transitando por gêneros: drama, ficção científica, policial, grotesco (com a presença da atriz Eva Mendes), romance e musical (com participação da cantora Kylie Minogue). (Globoplay)
52) O Lugar Onde Tudo Termina (2012), de Derek Cianfrance: Ryan Gosling é um motociclista que pilota em globos da morte, Eva Mendes faz sua ex-namorada, que teve um filho seu, e Bradley Cooper encarna um policial neste drama que tem pelo menos duas viradas desconcertantes. (HBO Max, Google Play e YouTube)
53) O Mestre (2012), de Paul Thomas Anderson: vencedor do Leão de Prata de melhor direção no Festival de Veneza, o filme investiga o surgimento de uma seita à la cientologia após a Segunda Guerra Mundial. Valeu indicações ao Oscar para Joaquin Phoenix (melhor ator), Amy Adams (atriz coadjuvante) e Philip Seymour Hoffman (ator coadjuvante). (Google Play e YouTube)
54) Moonrise Kingdom (2012), de Wes Anderson: indicado ao Oscar de roteiro original, conta a história de Suzy Bishop e Sam Shakusky, ambos com 12 anos, que se descobrem subitamente apaixonados e decidem fugir para seu idílio em uma diminuta ilha. Um exemplo bem acabado das marcas autorais do cineasta estadunidense, incluindo o elenco estelar: Bruce Willis, Bill Murray, Frances McDormand, Edward Norton e Tilda Swinton. (Amazon Prime Video, Google Play e YouTube)
55) No (2012), de Pablo Larraín: o prolífico cineasta chileno — entre 2015 e 2021, assinou cinco longas e uma minissérie, além de cocriar a antologia Feito em Casa — disputou o Oscar de filme internacional com a trama sobre um publicitário (Gael García Bernal) contratado para atuar na campanha do plebiscito de 1988 que decidiria a permanência ou não do general Augusto Pinochet na presidência. (Telecine, Apple TV e YouTube)
22 filmes que merecem resgate
1) Ser ou Não Ser (1942), de Ernst Lubitsch: na Varsóvia ocupada pela Alemanha Nazista durante a Segunda Guerra, uma trupe de atores usa suas habilidades dramáticas e de disfarce para enganar as tropas invasoras.
2) Barravento (1962), de Glauber Rocha: no seu primeiro longa-metragem, o diretor baiano acompanha um ex-pescador (Antonio Pitanga) que volta à aldeiazinha onde nasceu para tentar livrar o povo do domínio religioso. No elenco, a gaúcha Luiza Maranhão, a deusa negra do Cinema Novo.
3) A Rotina Tem seu Encanto (1962), de Yasujiro Ozu: foi o último filme do diretor que é considerado um dos maiores do Japão e do mundo, e que morreu um mês após a estreia.
4) Aguirre: A Cólera dos Deuses (1972), de Werner Herzog: baseada na expedição de conquistadores espanhóis no Peru do século 16, é primeira parceria do diretor alemão com o ator Klaus Kinski, cuja relação conturbada, mas bem-sucedida, inspiraria o documentário Meu Melhor Inimigo (1999).
5) Cabaret (1972), de Bob Fosse: o musical ganhou oito Oscar, incluindo melhor direção e atriz (Liza Minnelli).
6) O Discreto Charme da Burguesia (1972), de Luis Buñuel: premiado com o Oscar de melhor filme internacional, faz uma crítica ácida e surrealista à hipocrisia da sociedade, representada por um grupo de amigos que tenta, sucessivamente, reunir-se para um jantar. (Telecine)
7) Gritos e Sussurros (1972), de Ingmar Bergman: um dos mais densos dramas assinados pelo cineasta sueco, valeu o Oscar de melhor fotografia a seu parceiro Sven Nykvist — também foi indicado a melhor filme, direção, roteiro original e figurino.
8) Pra Frente, Brasil (1982), de Roberto Farias: após ser confundido com um ativista político, um pacato cidadão da classe média (Reginaldo Faria) é preso e torturado por agentes federais durante a euforia do milagre econômico brasileiro e da Copa do Mundo de 1970.
9) Aconteceu Perto da sua Casa (1992), de Rémy Belvaux, André Bonzel e Benoît Poelvoorde: falso documentário sobre uma equipe de filmagem que acompanha um assassino serial. Tornou-se uma obra cultuada.
10) Fervura Máxima (1992), de John Woo: um policial se junta a um agente secreto para tentar capturar um gângster sinistro neste que é um dos pontos altos na carreira de John Woo, mestre das cenas de ação.
11) O Jogador (1992), de Robert Altman: um executivo (Tim Robbins) de um estúdio de Hollywood recebe ameaças de morte de um roteirista que ele rejeitou. Mas qual deles? Uma crítica mordaz à indústria do cinema, ganhou os troféus de melhor direção e ator no Festival de Cannes.
12) O Sucesso a Qualquer Preço (1992), de James Foley: Al Pacino, Jack Lemmon, Ed Harris e Alan Arkin são quatro corretores de imóveis ameaçados de demissão se não ficarem em primeiro ou segundo lugar entre os vendedores do mês. Uma delícia amarga para quem adora diálogos bem escritos e interpretados.
13) Arca Russa (2002), de Alexandr Sokurov: ao longo de um único plano-sequência de 97 minutos, um aristocrata francês do século 19 viaja pelo Museu Hermitage, em São Petersburgo, e encontra figuras históricas dos últimos 200 anos.
14) Dolls (2002), de Takeshi Kitano: baseado no tradicional teatro de bonecos bunraku, o drama sobre três histórias de paixão que terminam em tragédia é narrado como uma sucessão de quadros poéticos.
15) Femme Fatale (2002), de Brian De Palma: thriller erótico que reúne algumas das obsessões do cineasta estadunidense, como a desconstrução e reconstrução de uma mesma cena sob diferentes pontos de vista.
16) O Filho (2002), de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne: um carpinteiro (Olivier Gourmet, melhor ator no Festival de Cannes) em um centro de reabilitação se recusa a aceitar um adolescente como seu aprendiz.
17) Kamchatka (2002), de Marcelo Piñeyro: a ditadura militar argentina vista pelos olhos de um menino de 10 anos (Matías del Pozo), filho de um advogado (Ricardo Darín) e de uma cientista (Cecilia Roth).
18) Longe do Paraíso (2002), de Todd Haynes: ambientado no final da década de 1950, o melodrama sobre sexualidade, racismo e hipocrisia rendeu a Julianne Moore a Copa Volpi de melhor atriz no Festival de Veneza e uma indicação ao Oscar.
19) Para Sempre Lilya (2002), de Lukas Moodysson: sofrimento e aniquilação da esperança — é isso o que encontramos na história de uma guria de 16 anos cheia de sonhos e vida a contrastar com o ambiente de edifícios fúnebres e bases de submarino desertas de uma cidade russa.
20) O Pianista (2002), de Roman Polanski: a história de um sobrevivente do Holocausto deu o Oscar de diretor para Polanski e de ator para Adrien Brody.
21) Tiros em Columbine (2002), de Michael Moore: venceu o Oscar de melhor documentário ao investigar a chacina em uma escola dos EUA e a obsessão do país por armas de fogo.
22) 8 Mulheres (2002), de François Ozon: esta comédia detetivesca com ares de musical kitsch reúne no elenco algumas das maiores atrizes do cinema francês de todos os tempos: Danielle Darrieux, Catherine Deneuve, Fanny Ardant, Isabelle Huppert e Emanuelle Béart. O elenco, que se completa com Ludivine Sagnier, Firmine Richard e Virginie Ledoyen, ganhou um troféu especial no Festival de Berlim.