Dedicada ao gênero do terror e a suas vertentes, a plataforma de streaming Darkflix exibirá entre sexta-feira (22) e segunda (25), de graça, 13 filmes do movimento chamado New French Extremity — o Novo Extremismo Francês.
O termo foi cunhado pelo crítico James Quandt para classificar o cinema transgressivo que teve início na década de 1990 e se estende até hoje. A ideia era contestar as obras de horror produzidas em Hollywood, apostando em violência extrema, obscenidade, tortura psicológica e muito sangue, mas também buscando fazer reflexões amargas e críticas sociais. Frequentemente há mulheres atrás e na frente das câmeras, e raramente há entidades sobrenaturais: os personagens são gente como a gente, acuados por demônios interiores ou "monstros" humanos. O corpo costuma ser não apenas o alvo das agressões, mas o próprio centro da trama.
Separei seis destaques da mostra. Para assistir, é preciso fazer um cadastro gratuito no site da Darkflix ou baixar o aplicativo, disponível para os sistemas iOS e Android.
Desejo e Obsessão (2001), de Claire Denis
O casal June e Shane Brown (interpretados por Tricia Vessey e Vincent Gallo) chega a Paris em lua-de-mel. Na cidade, Shane, um homem atormentado por estranhas compulsões, procura dois velhos conhecidos: Léo, um cientista banido dos círculos oficiais por conta de uma polêmica experiência com a libido humana, e sua esposa, Coré, bela e predatória. A diretora Claire Denis é uma das mais prestigiadas do cinema francês, autora de filmes premiados ou exibidos nos três principais festivais, como Bom Trabalho (Berlim), Chocolate (Cannes) e Minha Terra, África (Veneza).
Irreversível (2002), de Gaspar Noé
Ultrajante, polêmico e hiperviolento, o filme é uma viagem sem volta: ninguém sai ileso depois de assistir ao estupro da personagem encarnada pela atriz italiana Monica Bellucci e a um sujeito esmagar o rosto de outro com um extintor de incêndio. A trama é contada de trás para frente, à maneira de Amnésia (2000). Em uma boate gay barra-pesada, Marcus (Vincent Cassel) e Pierre (Albert Dupontel) buscam um cafetão chamado Le Ténia (Jo Prestia). Aos poucos, as peças vão se encaixando, e as cenas explosivas vão dando lugar a uma triste felicidade.
Alta Tensão (Haute Tension, 2003), de Alexandre Aja
Interpretadas por Cécile de France e Maïwenn, duas jovens amigas estão a caminho da casa de campo da família de uma delas com o objetivo de aproveitar a tranquilidade do ambiente para estudar. Mas um homem cruel invade a casa durante a noite. O diretor Alexandre Aja é o mesmo de Predadores Assassinos (2019) e de Oxigênio (2021).
Fronteiras do Pavor (2007), de Xavier Gens
Em Paris, durante os motins contra a eleição de um candidato conservador à presidência da França, um grupo de adolescentes criminosos planejam fugir da cidade para Amsterdã levando o dinheiro de um roubo. Quando um deles é baleado, o bando acaba se separando, e uma dupla vai se hospedar em uma pousada onde logo percebem que há algo de errado com seus anfitriões: são nazistas canibais.
Mártires (2008), de Pascal Laugier
Realizador de O Homem das Sombras (2012) e de Incidente em Ghostland (2018), Pascal Laugier é um diretor francês especializado em filmes perturbadores, sempre com protagonistas femininas traumatizadas, sempre com crianças expostas ao terror, sempre com violência crua e tortura longa, sempre com enfoque no psicológico dos personagens e reversões de expectativa na trama. Em Mártires, Lucie (interpretada por Mylène Jampanoi), 15 anos após uma terrível experiência de aprisionamento e prolongada tortura, parte em uma sangrenta busca por vingança contra seus opressores, tendo ao lado uma amiga de infância, Anna (Morjana Alaoui), que também sofreu abusos.
Raw (2016), de Julia Ducournau
Julia Ducournau é a sensação do cinema francês em 2021. Com Titane, tornou-se a segunda mulher na história a ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes. E o título foi escolhido para representar o país na briga por uma vaga no Oscar de melhor filme internacional. Em Raw (Grave, no original), ela acompanha a jornada de uma estudante de Veterinária vegetariana que se torna canibal, papel vivido por Garance Marillier. O filme se filia à tradição do body horror, o terror corporal.
"Eu sou muito, muito interessada em corpos. Gosto muito de filmá-los e gosto de usar os corpos dos meus personagens para falar sobre a sua psique", disse Ducournau em entrevistas à época do lançamento de Raw (lançado no Brasil com seu título em inglês, que significa cru). "O que adoro na gramática do terror corporal é que, se você desligar o som da TV e assistir ao filme, não só ainda entende o enredo, como também entende o que está acontecendo dentro do personagem e como ele se sente, porque é retratado em sua pele e em seu corpo."
Os outros filmes da mostra
- Sombrio (1998), de Philippe Grandrieux
- Calvário (2004), de Fabrice du Welz
- Eles (2006), de David Moreau e Xavier Palud
- A Invasora (2007), de Alexandre Bustillo e Julien Maury
- Enquanto Eles Dormem (2010), de Caroline du Potet e Éric du Potet
- Vingança (2017), de Coralie Fargeat
- Clímax (2018), de Gaspar Noé