A sexta-feira 13 convida a ver filmes de terror. Portanto, fiz uma lista com 13 dos melhores ou mais perturbadores títulos que podem ser encontrados nas plataformas de streaming (aliás, queria indicar mais diretoras, mas obras como O Babadook, Boa Noite, Mamãe e A Cabeleireira estão indisponíveis). No bônus, um dos organizadores do Fantaspoa dá mais cinco dicas.
Todos os filmes foram produzidos nos últimos 10 anos e são assinados por diretores de 10 países: Argentina, Austrália, Áustria, Coreia do Sul, Espanha, Estados Unidos, França, Inglaterra, Noruega e Uruguai.
Alguns investem no sobrenatural, outros, na violência urbana. A casa mal-assombrada é um endereço bastante frequentado. Faz sentido: esse subgênero nos provoca medo porque ataca os personagens (e, por consequência, os espectadores) onde mais deveríamos nos sentir seguros. Da mesma forma, são recorrentes no elenco as crianças, normalmente associadas a qualidades como alegria, pureza e inocência, mas também capazes de assustar, fantasiar e ver coisas que os adultos não conseguem enxergar.
Ah, convém avisar: por serem arroz de festa, ficaram de fora vampiros, exorcistas e assassinos seriais como Freddy Krueger, Jason Voorhees e Michael Myers.
A Entidade (2012)
Neste filme assinado pelo estadunidense Scott Derrickson, Ethan Hawke encarna um escritor de livros sobre crimes reais que acaba de se mudar com a família. No sótão da nova casa, ele encontra uma caixa com filmagens antigas de mortes horripilantes e decide investigar os casos, colocando sua esposa e seus filhos em perigo. (Amazon Prime Video, Telecine, Google Play e YouTube)
A Autópsia (2016)
Exemplo bem acabado do terror claustrofóbico, este filme estadunidense tem direção do norueguês André Øvredal. Brian Cox e Emile Hirsch fazem pai e filho, ambos legistas com uma química (sem trocadilho) tocante. Eles ficam intrigados com o cadáver de uma mulher desconhecida, uma certa Jane Doe. A trama combina bem sustos e eventos sobrenaturais com interpretações sobre os pesadelos e monstros da vida real. (Google Play e YouTube)
O Homem nas Trevas (2016)
O diretor uruguaio Fede Alvarez filmou em Budapeste, na Hungria, este filme que se passa em Detroit, cidade dos Estados Unidos cada vez mais fantasmagórica diante da crise enfrentada pela indústria automobilística. Na trama, um trio de jovens ladrões (Dylan Minnette, Jane Levy e Daniel Zovatto) invade a residência de um veterano de guerra cego (Stephen Lang) para roubar o dinheiro de um processo vencido após uma tragédia familiar. Mas as coisas escapam — muito — ao controle. (Netflix, Google Play e YouTube)
Invasão Zumbi (2016)
Neste filme de zumbis do diretor sul-coreano Yeon Sang-ho, as criaturas que se multiplicam em um trem para Busan nos lembram: a qualquer momento, as circunstâncias (políticas, econômicas, sanitárias etc.) podem tornar irreconhecíveis as pessoas ao nosso redor. Estão sempre em xeque os laços sociais e afetivos que nos dão identidade e segurança. Gerou uma continuação que é infinitamente inferior. (Netflix, Google Play e YouTube)
Corra! (2017)
Os casos recentes de negros mortos por policiais brancos nos Estados Unidos, como George Floyd, Breonna Taylor, Andre Hill e Daniel Prude, recolocaram em evidência a obra de Jordan Peele.
Por meio do terror (é dele também Nós, de 2019), o diretor e roteirista discute o racismo, a perpetuação da escravidão, a normalização da agressão e as tentativas da sociedade estadunidense de apagar e reinterpretar o próprio passado de exploração e violência. Em Corra!, que lhe valeu o Oscar de melhor roteiro original, Daniel Kaluuya interpreta um fotógrafo negro que vai visitar a família da namorada, uma jovem branca vivida por Allison Williams. Na propriedade rural dos Armitage (Bradley Whitford e Catherine Keener), ele começa a ficar intrigado com estranhos acontecimentos e comportamentos. Mais não dá para contar, para não tirar o espanto. (Apple TV, NOW, Google Play e YouTube)
It: A Coisa (2017)
Uma das tantas adaptações para o cinema de obras do escritor Stephen King, It é a maior bilheteria de um filme de terror: US$ 700,3 milhões. A brutal cena inicial, em que conhecemos o malicioso Pennywise (Bill Skarsgård), abre as portas para um mundo de crianças e adolescentes negligenciados e marginalizados. O diretor argentino Andy Muschietti (que antes fizera o tocante Mama) revela com paciência os dramas pessoais dos integrantes do Clube dos Otários, que são mais perturbadores do que os monstros que aparecem em cena. (Google Play e YouTube)
A Maldição da Bruxa (2017)
Com o título original de Hagazussa, este filme do diretor austríaco Lukas Feigelfeld conta a história de Albrun (Aleksandra Cwen), uma jovem pastora vivendo sozinha em um refúgio nas montanhas durante o século 15. A morte súbita de sua mãe dá início a uma série de eventos estranhos. Tem 93% de avaliações positivas no Rotten Tomatoes. (Amazon Prime Video e YouTube)
A Casa do Medo: Incidente em Ghostland (2018)
Vale alertar que esta é uma dica pesada, pois seu diretor, o francês Pascal Laugier (de Mártires), especializou-se em filmes perturbadores, sempre com protagonistas femininas traumatizadas, sempre com crianças expostas ao terror, sempre com violência crua e tortura longa, sempre com enfoque no psicológico dos personagens e com reversões de expectativa na trama. Na trama estrelada por Crystal Reed e Taylor Hickson, uma mulher e suas duas filhas, logo na primeira noite na nova casa, têm de lidar com invasores. O que acontece a partir daí é puro pesadelo. (Telecine, Google Play e YouTube)
Um Lugar Silencioso (2018)
O estadunidense Jon Krasinski, o eterno Jim do seriado The Office, dirige e estrela — ao lado da esposa, Emily Blunt — este exasperante filme sobre uma família que tenta sobreviver a uma misteriosa e mortal ameaça alienígena. Para isso, o casal e seus filhos precisam manter absoluto silêncio, pois as criaturas invasoras são guiadas pelo mais sensível ruído. Graças ao barulho que fez na bilheteria (US$ 340 milhões, 20 vezes o seu custo), Um Lugar Silencioso teve uma continuação lançada em 2021. (Paramount+, Google Play e YouTube)
Midsommar (2019)
Diretor do elogiado Hereditário (2018), o estadunidense Ari Aster subiu a régua no seu filme seguinte. Transformou a separação de um casal (papéis de Florence Pugh e Jack Reynor) em uma história de terror, ambientada, ao contrário do habitual, sob o sol. Em Midsommar, personagens e espectadores vivem uma intensa experiência sensorial em meio a um ritual pagão na Suécia. (Amazon Prime Video, Google Play e YouTube)
Saint Maud (2019)
Uma jovem enfermeira (Morfydd Clark) acredita falar com Deus, se flagela nas horas vagas e encara como missão religiosa cuidar de uma coreógrafa com câncer. Estreante em longas, a diretora e roteirista inglesa Rose Glass não tem pudores para lançar mão da violência gráfica quando necessária neste filme que acerta em tudo — da duração enxuta à nervosa trilha sonora. (Apple TV, Google Play e YouTube)
Host (2020)
O filme de terror do britânico Rob Savage capta, literalmente, o espírito de seu tempo: durante a pandemia, um grupo de amigas resolve apimentar suas reuniões via Zoom com uma sessão espírita virtual. Mas algo dá bastante errado. (Netflix)
O que Ficou para Trás (2020)
Primeiro longa-metragem do diretor e roteirista inglês Remi Weekes, é um filme de casa mal-assombrada, de fantasmas e de sustos, mas esses elementos clássicos estão mesclados a um drama real e atual. É o dos refugiados, vindos de países em guerra ou onde sofrem perseguição política, religiosa, étnica etc. — encarnados, em cena, pelos personagens de Sope Dirisu e Wunmi Mosaku, que escaparam do Sudão do Sul para experienciar o terror num subúrbio da Inglaterra. (Netflix)
Bônus: as dicas do João Pedro Fleck (Fantaspoa)
Um dos organizadores do Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre, o Fantaspoa, João Pedro Fleck é um fã de filmes de terror. Ele fez cinco recomendações que complementam muito bem a lista acima (os textos são meus, caso você tenha queixas a fazer):
A Bruxa (2015)
Dirigido pelo estadunidense Robert Eggers (que depois faria O Farol), o filme se passa na Nova Inglaterra do século 17, quando uma família cristã excomungada cai em desgraça após o filho caçula, um bebê, desaparecer à beira de uma floresta. Foi o primeiro papel de destaque da atriz Anya Taylor-Joy, a protagonista da minissérie O Gambito da Rainha. (Telecine, Google Play e YouTube)
Aterrorizados (2017)
A abertura deste filme argentino de eventos paranormais assinado por Demián Rugna é apavorante: em um bairro residencial de Buenos Aires, a noite de um casal é atrapalhada por barulhos de alguma obra em uma casa vizinha. Tão cedo um dos personagens e todos os espectadores não vão esquecer da cena do banheiro. Não à toa, Aterrorizados chamou atenção do cineasta mexicano Guillermo del Toro, autor de O Labirinto do Fauno e A Forma da Água. (Google Play e YouTube)
Clímax (2018)
Diz a sinopse deste filme dirigido pelo franco-argentino Gaspar Noé e que traz no elenco Sofia Boutella: "Nos anos 1990, um grupo de dançarinos urbanos se reúne em um isolado internato, localizado no coração de uma floresta, para um importante ensaio. Ao fazerem uma última festa de comemoração, eles notam a atmosfera mudando e percebem que foram drogados quando uma estranha loucura toma conta deles. Sem saberem o porquê ou por quem, os jovens mergulham em um turbilhão de paranoia e psicose. Enquanto para uns parece o paraíso, para outros é como uma descida ao inferno". (Netflix e YouTube)
O Homem Invisível (2020)
O diretor australiano Leigh Whannell mostra como as histórias de terror podem se adaptar aos tempos. Na sua versão para o clássico escrito por H.G. Wells em 1897, o foco não está no cientista que descobre a fórmula da invisibilidade nem nos dilemas éticos e morais que revestem a trama, como a intoxicação pelo poder e os riscos trazidos pela impunidade. E, em vez de um, temos uma protagonista: pelo olhar da personagem de Elisabeth Moss, o Homem Invisível transforma-se em um símbolo dos relacionamentos tóxicos. (Telecine, Google Play e YouTube)
O Poço (2020)
Realizada pelo espanhol Galder Gaztelu-Urrutia e protagonizada por Iván Massagué, esta distopia tem ecos de duas obras do sul-coreano Bong Joon-ho. Assim como ocorre nos vagões de O Expresso do Amanhã, o presídio vertical de O Poço separa os ricos dos pobres. Assim como em Parasita (2019), o filme mistura humor com brutalidade ao encenar duelos de sobrevivência para os quais os mais abastados nem dão bola. Pelas mesmas características, veio bem a calhar seu lançamento no momento de pico da pandemia de covid-19. (Netflix)