Atenção: esta coluna foi atualizada após o anúncio de reajuste na mensalidadade da Netflix.
Já existem mais de 20 plataformas de streaming no Brasil — e logo mais chegam outras, como o Star+ (que terá obras produzidas pela Fox, recentemente comprada pela Disney, aí incluídos os filmes Deadpool, a franquia Alien, a série The Walking Dead e o desenho Os Simpsons) e o Discovery+.
Diante de tanta oferta, é natural que o público fique, por um lado, tentado pela quantidade de filmes e séries disponíveis; por outro, assustado pelo custo de sua diversão cultural.
Mas dá para assistir a muitas obras boas e premiadas, a muitas produções badaladas ou clássicas, sem gastar demais. Pensando em cinco perfis de espectador, montei abaixo combinações de streaming que saem em torno de R$ 50 mensais (excetuando despesas domésticas com internet e energia elétrica). As simulações foram feitas com os valores das assinaturas anuais, que não raro oferecem descontos generosos, e das promoções vigentes, como a do HBO Max, que vai até 31 de julho (veja, ao final, a lista com os preços). Por sermos quatro pessoas aqui em casa, optei pelo plano Multitela, no caso do HBO Max, e pelo Padrão, no da Netflix. Confira:
Se você quer ver os filmes do momento
Pela repercussão que vem gerando, Netflix é uma plataforma indispensável, e o Disney+ atende bem os lados família e aventura — na soma das assinaturas até julho, dava um pouco mais de R$ 56. Com o reajuste da Netflix, este combo passou para R$ 63, 22, ou seja, agora está quase 30% acima do teto orçamentário que originou esta coluna.
Pioneira e mais poderosa plataforma de streaming no mundo, a Netflix atrai cada vez mais astros do porte de Chris Hemsworth (Resgate) e Tom Holland (O Diabo de Cada Dia) e diretores renomados — até Steven Spielberg, que era tido como um crítico ferrenho do streaming, assinou um contrato para a produção de filmes. Em 2020, Martin Scorsese (com O Irlandês), Noah Baumbach (História de um Casamento) e Dois Papas (Fernando Meirelles) ajudaram a Netflix a liderar as indicações ao Oscar. Em 2021, a plataforma bateu seu próprio recorde de concorrentes ao prêmio da Academia de Hollywood, graças a filmes como Mank (de David Fincher), Os 7 de Chicago (Aaron Sorkin) e Destacamento Blood (Spike Lee), além de A Voz Suprema de Blues — a despedida do ator Chadwick Boseman, morto aos 43 anos — e Professor Polvo, que ganhou a estatueta dourada de melhor documentário. Aliás, há bons títulos desse gênero, como Diga Quem Sou, O Dilema das Redes e Três Estranhos Idênticos.
Um ponto de atenção é que, embora disponibilize toda a saga de Rocky e Creed, toda a franquia Indiana Jones ou as animações do Studio Ghibili, a memória não é, definitivamente, o forte da plataforma. Mas isso é compensado com um olhar atento para o cinema contemporâneo produzido longe de Hollywood. Seu catálogo inclui, por exemplo, o documentário brasileiro indicado ao Oscar Democracia em Vertigem, o britânico O que Ficou para Trás, premiado no Bafta, o senegalês Atlantique e o italiano Lazzaro Felice, que receberam troféus no Festival de Cannes, e os indianos Tribunal e O Discípulo, laureados em Veneza. Ah, e alguns filmes lançados pela Netflix tornam-se fenômenos midiáticos, como o francês Mignonnes, o polonês 365 dni e o estadunidense Estou Pensando em Acabar com Tudo.
O Disney+ tem cinco grandes trunfos. 1) É a única plataforma que exibe os desenhos animados da Disney, desde os clássicos Branca de Neve e os Sete Anões e Fantasia aos recentes Frozen e Raya e o Último Dragão. 2) É a casa das versões live-action dos sucessos do estúdio, como O Rei Leão, Malévola e Cruella. 3) É o endereço da Pixar, ganhadora de 23 Oscar com animações do porte de Toy Story, Monstros S.A., Wall-E, Up: Altas Aventuras, Divertida Mente e Viva: A Vida É uma Festa. 4) É onde estão quase todos os filmes de super-heróis da Marvel, como Pantera Negra e Viúva Negra. 5) É o universo pelo qual circulam os personagens da saga Star Wars. De quebra, oferece documentários da National Geographic sobre a vida animal, ciência e inovação, a exploração do espaço e mistérios da antiguidade. O que talvez não se encontre na Disney+, para além de uma produção mais globalizada, é um tanto de gravidade e um pouco de tristeza. Isso sem falar de tabus e temas polêmicos.
Se você procura filmes clássicos e autorais
Um pacote com Belas Artes à La Carte, Filme Filme, MUBI e Reserva Imovision ou Supo Mungam Plus sai em torno de R$ 50.
O Belas Artes à La Carte aposta no cinema autoral. Em julho, por exemplo, disponibilizou ou vai disponibilizar A Grande Ilusão (1937), do francês Jean Renoir, Rashomon (1950), do japonês Akira Kurosawa, O Senhor das Moscas (1963), do britânico Peter Brook, A Flauta Mágica (1975), do sueco Ingmar Bergman, e O Rei da Comédia (1983), do estadunidense Martin Scorsese. Também homenageia James Ivory (cinco filmes, incluindo Maurice e Retorno a Howard's End), Oliver Stone (três, incluindo JFK) e o brasileiro Paulo Thiago (três, incluindo Policarpo Quaresma, Herói do Brasil). Não deixa de olhar para o novo: neste mesmo mês, passa a exibir Maternal (2019), De Volta para Casa (2019) e O que Será? (2020), respectivamente, dos italianos Maura Delpero, Cristina Comencini e Francesco Bruno.
O Filme Filme tem como mantra fazer o usuário "passar mais tempo assistindo ao filme do que escolhendo". Por isso, aposta na tática do menos é mais. Lança poucos títulos por vez e mantém um catálogo enxuto, mas referenciado por festivais como os de Berlim, Cannes e Veneza: no último dia 7, por exemplo, estavam lá O Amante Duplo (de François Ozon), A Comunidade (Thomas Vinterberg), É Apenas o Fim do Mundo (Xavier Dolan), Martin Eden (Pietro Marcello), Mia Madre (Nanni Moretti), O Passado (Asghar Farhadi), Paterson (Jim Jarmusch) e Synonymes (Nadav Lapid). Também dava para ver Tudo pelo Poder, com George Clooney e Ryan Gosling, e Tese Sobre um Homicídio, estrelado por Ricardo Darín. É importante avisar que, por funcionar com uma ótica de cinema, todos os filmes permanecem na plataforma por tempo limitado — no caso, três meses, informa o serviço.
No MUBI, a curadoria elege sempre um filme do dia — entre os mais recentes, estavam Jeannette: A Infância de Joana D'Arc e Moça com Brinco de Pérola, Birdman e Redacted. Há sempre cineastas em destaque — por exemplo, a estadunidense Kelly Reichardt (de First Cow), o alemão Christian Petzold (de Barbara), a belga radicada na França Agnès Varda (de Os Catadores e Eu) e o chinês de Hong Kong Wong Kar-wai (de Amor à Flor da Pele). Entre as seleções temáticas, temos Sexo, Mentiras e Videotape: Ativismo Feminista Francês, Orgulho Sem Preconceito: Cinema LGBTQ+, De Volta à URSS: Documentários de Arquivo de Sergei Loznitsa e O Cinema Psicomágico de Alejandro Jodorowsky. Também promove jovens diretores brasileiros (como Alice Riff, do documentário Meu Corpo É Político, e Leonardo Mouramateus, de Antônio Um Dois Três) e exibe autores consagrados: O Sacrifício, de Tarkovski, Tudo Sobre Minha Mãe, de Almodóvar, Masculino-Feminino, de Godard, A Árvore da Vida, de Malick, Ventos da Liberdade, de Ken Loach, Paris, Texas, de Wim Wenders...
A Reserva Imovision foca nos principais festivais do mundo. Em maio, por exemplo, lançou quatro ganhadores da Palma de Ouro em Cannes: A Criança, dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, Entre os Muros da Escola, do francês Laurent Cantet, Tio Boonmee, que Pode Recordar suas Vidas Passadas, do tailandês Apichatpong Weerasethakul, e Eu, Daniel Blake, do inglês Ken Loach. O catálogo convida a uma volta ao mundo, conduzida ora por veteranos consagrados, ora por nomes da nova geração. Tem Adeus à Linguagem, do suíço Jean-Luc Godard, e A Bela e os Cães, da tunisiana Kaouther Ben Hania. Tem Amor, do austríaco Michael Haneke, e A Separação, do iraniano Asghar Farhadi. Recentemente, adicionou cinco títulos de Haneke (incluindo Violência Gratuita e Caché) e seis documentários sobre a luta contra o racismo (incluindo Eu Não Sou seu Negro e Libertem Angela Davis).
A Supo Mungam Plus junta cineastas renomados a jovens realizadores, clássicos a novidades. Pode-se, igualmente, viajar mundo afora — e seguindo passos femininos: diretoras são muito presentes. Dá para ir de O Piano, da neozelandesa Jane Campion, vencedor de três Oscar, a Juventude, primeiro filme de ficção dirigido por uma mulher do Djibuti, Lula Ali Ismaïl. No caminho, tem homenagens à tcheca Vera Chytilová (1929-2014) e à belga Chantal Akerman (1950-2015) e obras recentes como Wendy e Lucy, da estadunidense Kelly Reichardt, O Chão Sob meus Pés, da austríaca Marie Kreutzer, e Zana, da kosovar Antoneta Kastrati.
Se você prefere séries (1)
Juntar HBO Max, dona de um catálogo primoroso e líder de indicações ao prêmio Emmy 2021, Globoplay, cheia de grandes produções brasileiras, e Apple TV+, que tem Ted Lasso, fica por menos de R$ 50.
O HBO Max agrega conteúdos de diferentes estúdios e canais, como Warner (incluindo New Line, Looney Tunes e DC), HBO, TNT e Cartoon Network. Traduzindo em títulos, temos uma coleção incrível de séries premiadas (ou em vias de ser): Band of Brothers, Barry, Boardwalk Empire, Chernobyl, Família Soprano, The Flight Attendant, Game of Thrones, Hacks, I Know This Much Is True, I May Destroy You, Lovecraft Country, Mare of Easttown, Roma, True Detective, Watchmen, The Wire...
O Globoplay tem um pacote de séries estrangeiras aclamadas, como The Big Bang Theory, The Good Doctor, Grey's Anatomy, The Handmaid's Tale, Killing Eve, Mad Men, Modern Family, Ray Donovan e Wynona Earp. Mas o carro-chefe são as produções nacionais, muitas delas bancadas pela Globo. A lista também é enorme: 1 Contra Todos, Aruanas, Cine Holiúdy, Felizes para Sempre?, A Grande Família, Justiça, Os Maias, Os Normais, Segunda Chamada, Sessão de Terapia, Sob Pressão, Tapas & Beijos...
O catálogo da Apple TV+ é mais enxuto. Inclui a aventura distópica See, com Jason Momoa, Dickinson, uma recriação da vida da poetisa Emily Dickinson (1830-1886), o suspense Servant, produzido por M. Night Shyamalan, o drama The Morning Show, que reúne Jennifer Aniston, Reese Witherspoon e Steve Carell, e a comédia Ted Lasso, que já rendeu vários prêmios ao ator Jason Sudeikis.
Se você prefere séries (2)
Outra opção é fazer um combo com Netflix e HBO Max (R$ 53,85) ou com Amazon Prime Video e Apple TV+ (R$ 57,52).
Com 129 indicações ao Emmy (uma a menos do que o HBO Max), a Netflix tem uma grande variedade: dramas premiados (The Crown, O Gambito da Rainha), produções badaladas (Bridgerton, Lupin), queridinhas do público (Cobra Kai, Emily em Paris), novos clássicos (Breaking Bad, Fargo), sucessos europeus (La Casa de Papel, Dark), produções brasileiras (Bom Dia, Verônica, Sintonia), comédias elogiadas (Arrested Development, Brooklyn Nine-Nine), humor sobre o luto (After Life, O Método Kominsky), erotismo (Desejo Sombrio, Sex/Life), adaptações de quadrinhos (Lúcifer, The Umbrella Academy), ficções científicas (Black Mirror, Stranger Things), policiais para dar a volta ao mundo e uma coleção sempre renovada de documentários sobre crimes reais.
O Amazon Prime Video conta com Black-ish, The Boys, Fleabag, Good Omens, Homecoming, O Homem do Castelo Alto, Invencível, Jack Ryan, The Office, This Is Us, Transparent e The Underground Railroad, e também com produções latino-americanas como Dom (Brasil), El Candidato (México) e La Jauría (Chile).
Se você quer um pouco de tudo
Uma combinação de Disney+, Amazon e MUBI custa menos de R$ 50. No Disney+, além dos filmes já citados, estão as séries da Marvel WandaVision, Falcão e o Soldado Invernal e Loki e seriados Star Wars, como The Mandalorian. No Amazon, além das séries já mencionadas, há um respeitável catálogo de cinema. Entre os filmes adicionados recentemente, estão, Dor e Glória, de Pedro Almodóvar, Era Uma Vez em Hollywood, de Quentin Tarantino, Yesterday, de Danny Boyle, Réquiem para um Sonho, de Darren Aronofsky, e o cult Bagdad Café, de Percy Adlon. As produções originais do Amazon Studios incluem, nas safras 2020 e 2021, Sem Remorso, com Michael B. Jordan, A Guerra do Amanhã, com Chris Pratt, e quatro indicados ao Oscar: O Som do Silêncio, Uma Noite em Miami, Borat: Fita de Cinema Seguinte e o documentário Time.
Também sai por menos de R$ 50 se trocar Amazon por Apple TV+, que, entre os filmes, oferece On the Rocks, parceria da diretora Sofia Coppola com o ator Bill Murray, Cherry: Inocência Perdida, parceria dos irmãos Anthony e Joe Russo com o astro Tom Holland, o desenho animado Wolfkwalkers, que disputou o Oscar, e o documentário Boys State, que quase concorreu.
Por exatos R$ 49,90, o pacote Globoplay + Telecine combina memória e atualidade. No Globoplay, além das séries citadas, vale destacar a coleção com 50 títulos marcantes do cinema brasileiro, de Rio 40 Graus (1955) a Bacurau (2019), passando por obras essenciais de Glauber Rocha e Héctor Babenco e documentários do mestre Eduardo Coutinho. O Telecine é uma das portas de entrada no streaming para filmes lançados no cinema, como O Farol, O Homem Invisível, Jojo Rabbit, Parasita, Predadores Assassinos e Retrato de uma Jovem em Chamas. E tem uma seleção de clássicos, como A Bela da Tarde, Amor, Sublime, Amor, Cidade de Deus, Crepúsculo dos Deuses, Ladrões de Bicicleta, Nosferatu, Pulp Fiction e Taxi Driver.
Um pouquinho mais caro, R$ 54,17, tem o combo MUBI, Disney+ e HBO Max, que, além das séries destacadas, conta com a saga Harry Potter, filmes e desenhos animados de super-heróis da DC e personagens como Pernalonga e Patolino. Trinta e cinco dias após a estreia nos cinemas, a plataforma vira a casa de lançamentos como Em um Bairro de Nova York e Invocação do Mal 3. Outros filmes vão direto para o streaming, como Nem um Passo em Falso, de Steven Soderbergh.
Mais uma opção por menos de R$ 50, agora para quem não abre mão da Netflix mas também quer se aventurar por clássicos e autorais: junte com Belas Artes à La Carte ou Filme Filme.
Enfim: dá para montar vários combos bacanas com R$ 50 ou menos por mês. Agora que você conhece melhor as plataformas, use as tabelas abaixo para simular.
Assinaturas mensais
- Amazon Prime Video: R$ 9,90
- Apple TV+: R$ 9,90
- Belas Artes à La Carte: R$ 9,90
- Disney+: R$ 27,90
- Filme Filme: R$ 7,50
- Globoplay: R$ 22,90
- HBO Max: R$ 27,90
- MUBI: R$ 27,90
- Netflix: R$ 39,90
- Reserva Imovision: R$ 24,50
- Supo Mungam Plus: R$ 23,90
- Telecine: R$ 37,90
Planos anuais, promoções e combos
- Amazon Prime Video: R$ 7,72
- Apple TV+: R$ 9,90
- Belas Artes à La Carte: R$ 9,07
- Disney+: R$ 23,32
- Filme Filme: R$ 6,75
- Globoplay + Telecine: R$ 49,90
- HBO Max: R$ 13,95
- MUBI: R$ 16,90
- Netflix: R$ 39,90
- Reserva Imovision: R$ 17,64
- Supo Mungam Plus: R$ 16,50