Neste 1º de maio, o mundo celebra o Dia do Trabalho ou Dia do Trabalhador. A data lembra uma greve iniciada em 1886, na cidade de Chicago, nos Estados Unidos, com o objetivo de conquistar melhorias como redução da jornada — que chegava a ser de 17 horas diárias!
Para marcar a ocasião, fiz uma lista com cinco filmes disponíveis no streaming ou em DVD daquele que talvez seja o mais proeminente cineasta a tratar da classe trabalhadora: o inglês Ken Loach.
E de trabalho ele tem muita experiência, afinal, segue na ativa mesmo com 84 anos, sempre fazendo obras em que concilia a ficção com o realismo, a denúncia social com a verdade dramática.
Pão e Rosas (2000)
Escrita por Paul Laverty (o roteirista de Ken Loach desde A Canção de Carla, de 1996), conta a história de duas imigrantes mexicanas ilegais que trabalham fazendo limpeza num prédio de Los Angeles. Exploradas pelo patronato, Maya (Pillar Padilla) e Rosa (Elpidia Carrillo) serão instigadas por Sam (Adrien Brody), jovem líder ativista, a se juntar a um movimento grevista. O elenco inclui Benício del Toro, Ron Perlman e Tim Roth. Foi lançado em DVD pela Europa Filmes.
Ventos da Liberdade (2006)
Aqui Loach mistura duas vertentes de sua filmografia: o engajamento sociopolítico com o resgate histórico. Na Irlanda, em 1920, trabalhadores do interior do país se organizam para enfrentar os esquadrões britânicos que chegam para sufocar o movimento pela independência. O diretor acompanha dois irmãos (Cillian Murphy e Pádraic Delaney) com visões antagônicas sobre a resistência armada e a adesão ao Exército Republicano Irlandês (IRA). Recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes e está disponível no Google Play.
A Parte dos Anjos (2012)
Um filme mais solar na carreira de Loach, uma comédia dramática ambientada em Glasgow, na Escócia. Seus personagens são jovens desajustados que andam à margem da sociedade e deparam com a oportunidade de uma redentora volta por cima. O protagonista é Robbie (Paul Brannigan, ator estreante, como quase todos os seus parceiros de elenco e como é típico na obra do cineasta). Pavio curto, bom de copo e de briga, o rapaz foi condenado a prestar serviços comunitários após espancar um sujeito. Seu tutor, o paternal Harry (John Henshaw), percebe no rapaz a habilidade extremamente aguçada para identificar sabores e procedências dos mais variados tipos de uísque, o que lhe coloca uma tentação no caminho da reabilitação. Ganhou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes e está em cartaz no Google Play e no YouTube.
Eu, Daniel Blake (2016)
Ao receber a Palma de Ouro no Festival de Cannes por este drama contundente, Ken Loach criticou o neoliberalismo "que leva milhões à miséria" e disse que "um outro mundo é necessário". No filme, ele faz um retrato crítico sobre o sistema de bem-estar social inglês, contando a história de um carpinteiro de meia-idade (encarnado por Dave Johns) que encara agruras para conseguir o benefício por invalidez após uma parada cardíaca o impedir de trabalhar. Enquanto vaga pelos meandros kafkianos da burocracia inglesa, Daniel Blake depara com uma mãe solteira (Haley Squires), expulsa de Londres pelo processo de gentrificação. Disponível em Netflix, Apple TV, Now, Google Play e YouTube.
Você Não Estava Aqui (2019)
Não há nada de sobrenatural, nada de efeitos especiais, mas este é um filme de terror. Retrata um monstro sem rosto, mas com vários logotipos reconhecíveis, que assola empregados e desempregados: a precarização do trabalho.
O assustador realismo da trama encenada em Newcastle, no norte da Inglaterra, é realçado pela escalação de atores estreantes ou desconhecidos; pela postura econômica da câmera, quase documental (a sensação é de que estamos nos intrometendo); e pelo uso parcimonioso da trilha sonora.
O protagonista é Ricky Turner (Kris Hitchen), um pai de família que, após ter atuado na construção civil e na jardinagem, setores em que chefes durões e colegas preguiçosos o incomodavam, resolve ser patrão de si mesmo. Vira motorista de uma empresa que faz entregas do comércio digital, sem carteira assinada.
— Aqui você não trabalha para nós. Aqui, trabalha conosco — diz a ele o gerente Maloney (o ex-policial Ross Brewster), em um canto da sereia que prenuncia uma jornada de problemas.
Talvez a pandemia tenha reforçado muitas das reflexões que o diretor Ken Loach propôs, na batida do que o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han batizara de sociedade do cansaço — que cobra o desempenho, a produtividade, a rapidez. Sempre demandado, sempre sobrecarregado — incluindo aí a exposição voluntária às redes sociais —, o indivíduo não tem mais sossego espiritual nem tempo para elaboração. Vive na correria, afoga-se em uma rotina de afazeres e alimenta a angústia de que uma hora todo aquele esforço será recompensado. Será?
Em cartaz no Telecine, na Apple TV, no Now, no Google Play e no YouTube.