Nomadland, o grande vencedor do Oscar — melhor filme, diretora (Chloé Zhao) e atriz (Frances McDormand) — estreou na quinta-feira (29) apenas nos Estados onde os cinemas já voltaram a funcionar. Na mesma situação, estão Judas e o Messias Negro (ator coadjuvante e canção original) e Minari (atriz coadjuvante). Bela Vingança (roteiro original) só entra em cartaz no dia 13 de maio.
Mas os filmes premiados em 16 das 23 categorias do Oscar podem ser vistos em casa. Estão disponíveis em plataformas de streaming como Amazon Prime Video, Disney+ e Netflix.
E a seleção inclui títulos imperdíveis, como Meu Pai, O Som do Silêncio, o documentário Professor Polvo e os curtas Dois Estranhos e Se Algo Acontecer... Te Amo.
Colette (curta documentário)
Dirigido por Anthony Giacchino, acompanha uma ex-integrante da Resistência Francesa em sua viagem, 74 anos depois da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha, onde visita o campo de concentração em que seu irmão foi morto pelos nazistas. (YouTube, no canal do jornal britânico The Guardian)
Dois Estranhos (curta de ficção)
Ambientado em Nova York, o filme dos diretores Travon Free e Martin Desmond Roe sobre o desenhista de quadrinhos Carter (Joey Badass) mostra-se um Feitiço do Tempo (1993) para a era George Floyd. Ou Breonna Taylor. Ou Eric Garner. Ou outros tantos homens e mulheres negros dos Estados Unidos mortos por policiais brancos. Preste atenção a situações e falas nas cenas de violência, no formato de uma poça de sangue, no refrão entoado por Bruce Hornsby na canção que Carter escuta nos fones de ouvido: são detalhes que dão contundência ao curta. (Netflix)
Druk: Mais uma Rodada (filme internacional)
Nesta comédia dramática dinamarquesa, quatro professores de colégio em crise de meia-idade resolvem testar uma teoria: a de que nascemos com falta de álcool no organismo. Assim, Martin (o ótimo ator Mads Mikkelsen) e seus amigos passam a beber logo no início do dia. O diretor Thomas Vinterberg não é moralista nem faz apologia: mostra as consequências positivas na vida dos personagens e também as negativas. E entrega ao público um final ambíguo e antológico. (Apple TV, Now, Google Play e YouTube)
Mank (design de produção e fotografia)
Com um olhar entre o cínico e o nostálgico, o diretor David Fincher revisita a Hollywood dos anos 1930 e os bastidores do clássico Cidadão Kane (1941), sem deixar de refletir sobre a política atual (leia-se a política da desinformação). O personagem do título é o roteirista Herman J. Mankiewciz (papel de Gary Oldman), contratado para escrever o filme de Orson Welles inspirado no megaempresário da comunicação William Randolph Hearst (Charles Dance). A recriação de época é majestosa, e a fotografia em preto e branco oscila do onírico ao fantasmagórico. (Netflix)
Meu Pai (melhor ator e roteiro adaptado)
À primeira vista, a estreia do dramaturgo e romancista francês Florian Zeller pode causar sensação de déjà vu: mais um filme sobre como perda da memória, demência, Alzheimer etc afetam os relacionamentos familiares e/ou amorosos. O protagonista, o octogenário Anthony (interpretado por Anthony Hopkins), acha que sua filha, Anne (Olivia Colman), está o abandonando em Londres para ir morar em Paris com um homem.
Mas daí Anthony surpreende-se com a presença de um sujeito lendo o jornal na sala de seu belo apartamento, e depois o personagem não reconhece mais a filha — nem nós reconhecemos, pois é a atriz Olivia Williams quem surge como Anne. É então que Meu Pai começa a se mostrar um filme sobre memória, demência, Alzheimer etc diferente de todos, é então que Meu Pai começa a justificar os Oscar de melhor ator (o segundo na carreira de Hopkins) e roteiro adaptado — que transforma uma peça de teatro em uma experiência que só o cinema pode oferecer. (Apple TV, Now e Google Play)
Professor Polvo (documentário)
Multipremiado, o filme de Pippa Ehrlich e James Reed retrata a história de aproximação entre um homem — o documentarista sul-africano Craig Foster — e um animal da espécie Octopus vulgaris (a mais comum, como o nome científico sugere) em uma floresta de algas. Para além de oferecer imagens fabulosas captadas no fundo do mar — e algumas surpresas registradas na superfície da água —, Professor Polvo tem muito a nos ensinar, não só sobre a natureza animal, mas também a humana. (Netflix)
Se Algo Acontecer... Te Amo (curta de animação)
Os diretores Will McCormack e Michael Govier começa mostrando um casal separado dentro da própria casa. Aos poucos, graças a um inteligente e emotivo jogo de sombras, vamos entendendo o que os levou àquela condição e o profundo sentido do título. Contar mais seria dar spoiler de uma animação bastante comovente. (Netflix)
O Som do Silêncio (edição e som)
O conflito dramático proposto pelo diretor Darius Marder é, por si só, atraente. Ruben (Riz Ahmed), o baterista de uma dupla de rock pesado formada com sua namorada, a cantora Lou, descobre que está perdendo a audição. Se continuar se expondo a ruídos como os de um show de rock, ficará totalmente surdo. A edição e o trabalho de som nos ajudam a entender a condição do protagonista, subitamente perdido em um mundo mudo. O filme às vezes suprime vozes, às vezes simula a estática, às vezes assume o ponto de vista do personagem, às vezes nos mostra o que ele não está escutando. (Amazon Prime Video)
Soul (longa de animação e trilha sonora)
Sob direção de Pete Docter e Dana Murray, o primeiro protagonista negro da Pixar conquistou o 11º Oscar de melhor longa de animação para o estúdio. Joe Gardner é um frustrado professor de música nova-iorquino — seu sonho sempre foi seguir a carreira de pianista de jazz. Quando surge uma chance, cai em um buraco, e sua alma vai despertar no pós-vida, de onde tentará voltar. (Disney+)
Tenet (efeitos visuais)
Apesar de confuso, o mais recente filme de Christopher Nolan tem mesmo o mérito de fazer cair o queixo com suas cenas de ação — em especial aquelas que são revertidas. Não à toa, a certa altura uma cientista aconselha: "Não tente entender. Apenas sinta". Na trama, John David Washington interpreta um agente secreto que, com ajuda do personagem encarnado por Robert Pattinson, precisa desbaratar o plano maligno de um magnata russo (Kenneth Branagh). (Apple TV, Now, Google Play e YouTube)
A Voz Suprema do Blues (figurino e maquiagem/ cabelos)
Baseado em uma peça de teatro e dirigido por George C. Wolfe, se passa quase todo dentro de um estúdio musical na Chicago de 1927, recriando os bastidores da gravação de Black Bottom, um dos sucessos da cantora Ma Rainey (1886-1939), considerada a mãe do blues. Interpretada por Viola Davis, Ma vive um duplo atrito: com os donos do estúdio, brancos, e com o ambicioso trompetista encarnado por Chadwick Boseman. No fundo, a cantora e o músico brigam contra o mesmo adversário: a opressão racial, a apropriação cultural, a exploração da mão de obra e do talento negros pela sociedade branca. (Netflix)