O assassinato de George Floyd, 46 anos, por um policial branco, em 25 de maio, fez explodir novamente a tensão racial que marca os Estados Unidos. A violência do Estado ou da sociedade contra negros, como a registrada na cidade de Minneapolis, é um tema frequentemente abordado no cinema, na TV e no streaming. Confira 15 filmes, documentário e séries sobre a chaga do racismo entre os americanos.
No Calor da Noite (1967)
Ganhador de cinco Oscar, incluindo melhor filme e ator (Rod Steiger), este clássico de Norman Jewison foi lançado no calor da hora, a época em que se intensificaram os movimentos pelos direitos civis da população negra nos Estados Unidos. Em 1964, Martin Luther King Jr. recebera o Prêmio Nobel da Paz. Em 1965, o assassinato do líder Malcolm X gerou uma onda de revolta – em 1968, seria a vez de King ser morto por um racista. No filme, Sidney Poitier (primeiro negro a conquistar o Oscar de melhor ator, por Uma Voz nas Sombras, de 1963) encarna Virgil Tibbs, que é preso na estação de trem de uma cidadezinha do Mississippi sob acusação de ter assassinado um empresário. Acontece que Tibbs, além de inocente, é um detetive da polícia de Filadélfia.
Os Cinco do Central Park (2012)
Antes da minissérie Olhos que Condenam (2019), este documentário reconstituiu a história de cinco rapazes negros e latinos condenados injustamente pelo estupro de uma mulher branca no Central Park, em Nova York, em 1989. Os diretores Ken Burns, Sarah Burns e David McMahon revelam o mau trabalho da polícia e da promotoria no caso e retratam a parcialidade da imprensa. Talvez seja ainda mais pungente e revoltante do que a produção da Netflix, pois aqui somos expostos à dor verdadeira dos rapazes e ao preconceito que levou à injustiça.
Luta por Justiça (2019)
O filme dirigido por Destin Daniel Cretton conta a história de Walter McMillian, conhecido como Johnny D. (Jamie Foxx). Em uma noite de 1987, no Estado do Alabama, ele voltava do trabalho quando foi abordado pela polícia, sob a acusação de ter assassinado uma moça, branca, de 18 anos. Johnny D. é inocente, mas acaba preso e levado ao corredor da morte antes mesmo de seu julgamento, que, na falta de provas, é todo baseado no depoimento duvidoso e cheio de contradições de um homem branco.
Seu advogado é um jovem negro recém-formado em Harvard, Bryan Stevenson (Michael B. Jordan), que quer ajudar os prisioneiros sentenciados à morte que não têm ou não tiveram acesso a uma defesa apropriada. Um idealista vindo do Norte – abolicionista na época da Guerra Civil americana (1861-1865) –, Stevenson vai sentir na própria pele o peso do racismo estrutural dos Estados sulistas. E vai ouvir de Johnny D. uma declaração que parece continuar atual:
— Você acha que palavras bonitas vão te salvar no Alabama? Terno e gravata vão fazer diferença? A única roupa bonita para um negro é a que estou usando (o uniforme branco do corredor da morte). Aqui, você é culpado desde o momento em que nasce.
Watchmen (2019)
Não assisti na íntegra à série da HBO baseada nos quadrinhos de Alan Moore e Dave Gibbons, mas o primeiro episódio faz valer seu lugar na lista. Ali, Watchmen reencena um caso tão traumatizante quanto esquecido da história americana: o massacre da chamada Wall Street Negra, na cidade de Tulsa, no Oklahoma, em 1921. O rico distrito de Greenwood foi destruído por supremacistas brancos. O terrível recado dado aos negros foi retirado dos registros de história locais, estaduais e nacionais. Foi somente em 1996 que o Massacre de Greenwood virou alvo de uma investigação formal no Oklahoma.
Os filmes de Spike Lee
É difícil indicar apenas um título do mais conhecido dos cineastas negros. Sem medo da polêmica, Spike Lee abordou a questão racial em uma dezena de filmes, de Faça a Coisa Certa ( 1989), cujo roteiro, indicado ao Oscar, é sobre a tensão entre negros e italianos no Brooklyn, a Milagre em St. Anna (2008), história de quatro soldados negros encurralados na Toscana durante a II Guerra Mundial; de Febre da Selva (1991), drama sobre relacionamentos inter-raciais, a A Hora do Show (2000), paródia sobre o racismo em Hollywood; de Malcolm X (1992), cinebiografia do ativista assassinado em 1965, a 4 Little Girls (1997), documentário indicado ao Oscar sobre um atentado terrorista a uma igreja em 1963.
No ano passado, ele concorreu aos Oscar de melhor filme e direção (ganhou o de roteiro adaptado) por Infiltrado na Klan, história real de um policial negro que se infiltra na célula da Ku Klux Klan no Estado do Colorado. No próximo dia 12, estreia Destacamento Blood, obra que fez para a Netflix sobre um pelotão de soldados negros na Guerra do Vietnã.
Os filmes de Jordan Peele
Com apenas dois longas-metragens no currículo, o diretor já merece um lugar distinto nesta lista. Em Corra! (2017), Peele transforma em história de terror o namoro entre um fotógrafo negro e uma jovem branca. Em Nós (2019) – cujo título original, Us, também pode ser lido como a abreviação de United States (Estados Unidos) –, uma família negra que viaja para uma casa de veraneio passa a ser fustigada pela chegada de um grupo misterioso. Nesses dois trabalhos, o cineasta discute a perpetuação da escravidão, a normalização da agressão e as tentativas da sociedade americana de apagar e reinterpretar o próprio passado de exploração e violência.
Green Book (2018)
O vencedor do Oscar de melhor filme e melhor roteiro em 2019 entra na relação pelos motivos errados. Era para ser a história de um pianista de jazz, Don Shirley, que enfrentou o racismo em uma turnê pelo sul dos Estados Unidos, em 1962. Mas, pelas mãos do diretor Peter Farrelly, tornou-se a história de um homem branco, seu motorista e segurança, que ensina quase tudo ao negro. Não à toa, Mahershala Ali, que ganhou o Oscar de ator coadjuvante no papel de Shirley, pediu desculpas à família do músico.