"Parece que estamos presos no Dia da Marmota", disse o presidente do Banrisul, Claudio Coutinho, em entrevista à coluna da Marta Sfredo em GaúchaZH, na última sexta-feira (26). Ele expressou um sentimento comum a muitas pessoas que estão trabalhando em home office devido ao distanciamento social, adotado para conter o coronavírus: o de que todos os dias são iguais aos outros, como no filme Feitiço do Tempo (1993).
Nessa comédia dirigida por Harold Ramis (morto em 2014), o ator Bill Murray interpreta um arrogante meteorologista da TV que fica preso em uma armadilha temporal, na cidadezinha de Punxsuatawney, na Pensilvânia (Estados Unidos), condenado a reviver indefinidamente o mesmo dia até que mude suas atitudes. As 24 horas que ele tem de repetir são as do Dia da Marmota – Groundhog Day, no original –, uma data festiva em que, segundo a crença dos moradores locais, o pequeno mamífero teria o poder de prever a duração do inverno.
Disponível no Google Play, Feitiço do Tempo tornou-se um clássico tanto pela comicidade quanto pela discussão filosófica (o peso da rotina, nossa capacidade de mudar comportamentos etc) e pela abordagem dos paradoxos das viagens no tempo.
Virou também uma referência: quando surge algum filme em que os personagens precisam ou são obrigados a reviver os acontecimentos de um determinado período de tempo, citamos as desventuras de Bill Murray.
Comédias parecidas já foram feitas, tipo Como se Fosse a Primeira Vez (2004), com Adam Sandler e Drew Barrymore, Questão de Tempo (2013) e Nu (2017). Mas a ideia também pode ser aplicada a obras mais soturnas ou, no mínimo, dramáticas. Aqui estão seis filmes e duas séries em que o Dia da Marmota não nos faz rir.
Corra, Lola, Corra (1998)
O frenético filme dirigido pelo alemão Tom Tykwer (o mesmo de Paraíso, Perfume e Cloud Atlas, e hoje meio sumido) tornou-se uma obra cultuada. Na trama, a protagonista (interpretada por Franka Potente) dispõe de apenas 20 minutos para tentar salvar a vida do namorado, que esqueceu no metrô de Berlim uma bolada de dinheiro pertencente ao chefe de uma quadrilha de contrabandistas. Lola vai correr três vezes saindo do mesmo ponto de partida, mas em cada uma delas minúsculas variações de tempo afetam o destino final de todos. O canal por assinatura Max exibe o filme na segunda-feira que vem (6), às 8h50min.
Contra o Tempo (2011)
Na estreia de Duncan Jones, filho de David Bowie, como diretor, Jake Gyllenhaal interpreta um soldado americano que integra um programa experimental: sua consciência é "carregada" no cérebro de um homem oito minutos antes de ele morrer em um atentado a bomba no trem em que viaja. A cada nova recarga, ele precisa tentar descobrir qual dos passageiros plantou a bomba e como o ataque realmente ocorreu. Terá sessões sexta-feira (3), às 13h35min, e no dia 8, às 9h15min, no HBO Plus.
No Limite do Amanhã (2014)
Doug Liman assina esta ficção científica estrelada por Tom Cruise e Emily Blunt. O astro de Missão: Impossível faz o papel de um soldado lutando contra a invasão de uma misteriosa raça extraterrestre. Após morrer em uma explosão, com o corpo contaminado pelo sangue alienígena, ele acorda outra vez no mesmo dia em que embarcou para a frente de batalha. Disponível no Google Play.
A Morte te Dá Parabéns (2017)
Mistura de terror e comédia realizada por Christopher B. Landon, gerou uma sequência, lançada em 2019 e com a mesma dobradinha entre o diretor e a atriz Jessica Rothe. No original – assumidamente inspirado em Feitiço do Tempo –, ela encarna uma universitária arrogante e egoísta que é assassinada por um mascarado no fim do dia de seu aniversário. A protagonista, então, passa a reviver o mesmo dia em looping, tentando, no processo, descobrir a identidade de seu assassino – simultaneamente, vai aprendendo a ser uma pessoa melhor. Em cartaz na Netflix.
Boneca Russa (2019)
No seriado de humor sinistro da Netflix, Nadia (Natasha Lyonne), uma engenheira de software, fica presa em um looping fatal no dia do seu aniversário de 36 anos. A cada morte que sofre, ela vê um pedaço da sua alma se partindo em duas peças – em uma analogia às bonecas russas. Nadia pega essas duas partes e tenta ligar os pontos.
A Gente se Vê Ontem (2019)
Com produção de Spike Lee e direção de Stefon Bristol, mescla ficção científica sobre viagens no tempo a uma discussão sobre o racismo nos Estados Unidos. Na história, a genial C.J (Eden Duncan-Smith) e seu melhor amigo, Sebastian (Dante Crichlow), têm tudo para virarem os novos Einsteins, com suas pesquisas sobre máquinas no formato de mochilas capazes de voltar ao passado. Contudo, após o irmão da garota ser assassinado pela polícia, sua missão ganha um novo e urgente objetivo: salvar a vida do jovem a qualquer custo. O filme pode ser visto na Netflix.
The Obituary of Tunde Johnson (2019)
Roteirista da série cômica Todo Mundo Odeia o Chris, Ali LeRoi dirige este drama sobre um adolescente negro e gay que é morto em um incidente de brutalidade policial. Na manhã seguinte, ele acorda para experienciar novamente o dia de sua morte – é como se essa fosse a trágica rotina imposta aos jovens na sua condição.
Black Mirror (2011-)
Na fantástica série criada por Charlie Brooker (em cartaz na Netflix), não são poucos os episódios em que os personagens se veem ou não percebem que estão repetindo passos. Sem dar spoilers, pode-se dizer que há traços do Dia da Marmota em White Bear, da primeira temporada, White Christmas, da segunda, San Junipero, da terceira, Hang the DJ, da quarta, e no filme interativo Bandersnatch.
Corra para assistir, Lola!