É batata: estreias da Netflix cheias de sexo tornam-se, logo nos primeiros dias, campeãs de audiência na plataforma de streaming. O que acontece com a recém lançada série Sex/Life — top 1 no Brasil na terça (29), na quarta (30) e nesta quinta-feira (1º) — já havia acontecido com o filme 365 dni e os seriados Desejo Sombrio, O Preço da Perfeição e Sexify, só para citar exemplos recentes (leia mais na lista ao final).
Além do eterno apelo carnal — thrillers eróticos, romances calientes e comédias picantes têm um público cativo e sempre em renovação —, essas obras com classificação indicativa 18 anos devem parte de seu sucesso à pandemia. Afinal, o distanciamento social inibiu muitos prazeres reais. Portanto, o negócio é virar voyeur. E, quem sabe, apimentar a vida a dois.
É esse ingrediente, a pimenta, que falta no casamento da personagem principal de Sex/Life, uma série estadunidense que se destaca pelo time feminino nos créditos de produção — foi criada por Stacy Rukeyser com base no livro de memórias 4 Homens em 44 Capítulos, de BB Easton (publicado no Brasil pela Editora Paralela), e teve os oito episódios da primeira temporada assinados por quatro diretoras: Jessika Borsiczky, Sheree Folkson, a alemã Samira Radsi e a canadense Patricia Rozema (dos filmes O Segredo do Quarto Branco, de 1990, e Palácio das Ilusões, de 1999). Como reflexo, as mulheres têm a voz e a visão na narrativa — isso inclui um desfile de homens sarados e pelados. O que não tem nada de ruim ou errado. Como escreveu Allison Nichols no site Tell-Tale TV, "é revigorante assistir a um programa onde o olhar feminino é priorizado e não há um estigma em torno de uma mulher que deseja sexo e atenção sexual de seu parceiro".
A protagonista é Billie Connelly, interpretada por Sarah Shahi, 40 anos, uma descendente de iranianos vista em seriados como The L World (era a Carmen de la Pica Morales), Fairly Legal (no papel principal) e Person of Interest (fez a Sameen Shaw em quase 50 episódios). Como a barra no título indica, Sex/Life trabalha com a oposição entre a satisfação dos desejos sexuais e a realização dos sonhos de constituir família. Somos apresentados a Billie em meio a suas memórias de noites quentes — "Houve uma época na minha vida em que eu me sentia livre. E o mundo era cheio de possibilidades", conta, prenunciando um momento de amasso em um canto de boate, onde um sujeito loiro de barba por fazer e jaqueta de couro começa a lamber o seio dela. Um corte na cena revela que aquilo era um sonho e nos leva para o presente da personagem: quem está com seu mamilo na boca é um bebê, o filho caçula de seu casamento com Cooper (Mike Vogel, de Under the Dome).
Trata-se de um raro momento de solução visual — pelo menos nos episódios iniciais — em Sex/Life, que investe em diálogos e monólogos bastante explícitos para estabelecer o conflito dramático: Billie reconhece que Cooper é "perfeito", mas sente falta do "selvagem e sensual" Brad (Adam Demos, da série UnREAL). Ainda mais que o marido parece dar mais bola para um jogo de futebol americano na TV do que para a vontade de transar da esposa. Frustrada, ela passa a escrever lembranças da vida com o ex-namorado — flashbacks mostram que, curiosamente (ou convenientemente), Brad, um dono de gravadora musical, é tão ou mais rico do que Cooper. Só que o atual companheiro acaba lendo o diário, e aí, para surpresa apenas de Billie ou de um espectador menos acostumado ao gênero, o ciúme transforma-se em tesão.
Isso tudo acontece no episódio de abertura, que tem muitas cenas quase explícitas, em posições variadas e em cenários que vão da mesa da cozinha de um casarão no Connecticut à piscina térmica de um terraço de Nova York. Entrementes, Billie reflete e conversa sobre seus dilemas amorosos e sexuais.
Vale assistir? A exemplo do que faz a própria série, aqui estão a voz e a visão de quatro críticas estrangeiras: "A principal falha de Sex/Life é sua incapacidade de equilibrar os elementos de seu conceito — as travessuras acrobáticas e a mulher-se-descobrindo; há muito do primeiro e não o suficiente do último", disse Roxana Hadadi no RogerEbert.com. "Em vez de questionar por que Billie sublimava suas necessidades em prol de um relacionamento, a série parece preocupada apenas em excitar os espectadores — e, apesar do atletismo e entusiasmo de Shahi e Demos, até isso cansa", afirmou Danette Chavez no The A.V. Club. "Tudo isso seria louvável se a escrita não fosse hilariantemente atroz. Pelo menos está aderindo à forma (das histórias pornô), o que significa que você pode avançar (as cenas) na maior parte do tempo", apontou Melanie McFarland no Salon.com. "É tão sexy quanto passar uma varinha ultravioleta por um quarto de motel barato que não muda de colchão há sete anos", definiu Wenlei Ma no News.com.au.
1 filme e 3 séries
Confira quatro lançamentos recentes que se tornaram líderes de audiência na Netflix:
365 dni (2020)
A versão de um best-seller da polonesa Blanka Lipinska romantiza o abuso sexual ao contar a história da diretora de vendas Laura e do mafioso Massimo. O cardápio retrógrado e machista inclui sequestro, cárcere privado, ameaça de estupro e quase todo tipo de situação que caracteriza um relacionamento tóxico.
Desejo Sombrio (2020)
Ex-RBD, a atriz Maite Perroni é a estrela deste seriado mexicano. Sua personagem, Alma, é uma advogada e professora universitária que começa a suspeitar da traição do marido, um respeitoso juiz, com sua assistente. Ao passar um fim de semana com sua melhor amiga, Brenda — recém-separada após episódios de infidelidade do ex-companheiro —, a protagonista tem uma noite ardente com um misterioso rapaz de 23 anos. As cenas picantes se fazem acompanhar por um enigma policial após a morte de Brenda.
O Preço da Perfeição (2020)
Uma jovem bailarina negra é aceita em uma prestigiada escola de dança estadunidense após uma tragédia fazer surgir uma vaga. No universo de sacrifícios, competitividade, inveja e crueldade do balé, a série encontra espaço para um bocado de cenas de sexo — que causaram controvérsia por serem consideradas "obscenas demais" e por envolverem personagens adolescentes.
Sexify (2021)
A sinopse desta série polonesa diz o seguinte: "Para criar um aplicativo de sexo e vencer uma competição de tecnologia na universidade, uma jovem inexperiente e suas amigas decidem explorar o assustador mundo da intimidade".