Um dos filmes mais vistos na Netflix em maio é A Mulher na Janela, estrelado por atores que costumam aparecer no Oscar: Amy Adams, Gary Oldman e Julianne Moore. Como o livro em que foi baseado, assinado por A.J. Finn, este — desastrado — suspense homenageia um clássico de Alfred Hitchcock (1899-1980): Janela Indiscreta, de 1954.
Na trama dirigida por Joe Wright, a protagonista, ao bisbilhotar os vizinhos do edifício em frente ao seu, testemunha um ato de violência e chama a polícia, mas ninguém acredita nela.
Celebrar Hitchcock é uma tradição cinematográfica. Sem contar as refilmagens, como o Psicose rodado por Gus Van Sant em 1998 ou a esquecível nova adaptação de Rebecca, a Mulher Inesquecível (2020), fiz uma lista aqui com mais seis títulos que fazem referência ou devem muito ao chamado Mestre do Suspense.
Paranoia (2007)
Vamos começar com esta modernização e adolescentização de Janela Indiscreta. Shia LaBeouf, em um de seus primeiros papéis de destaque, faz o protagonista, que está em prisão domiciliar e passa o tempo observando o comportamento estranho dos vizinhos — um deles parece ser um assassino serial. A direção é de D.J. Caruso, e o elenco inclui Sarah Roemer, David Morse, Viola Davis e Carrie-Anne Moss. (Telecine, Google Play e YouTube)
Vestida para Matar (1980)
Voltando um tanto mais no tempo, encontramos uma das obras em que o diretor Brian De Palma presta tributo ao cineasta: Vestida para Matar tem muitos elementos de Psicose (1960) — vou evitar spoilers pensando em quem não viu nenhum dos títulos. Angie Dickinson, Nancny Allen e Michael Caine fazem os papéis principais. (Foi lançado em DVD no Brasil pela Fox e está disponível na Apple TV)
Jogue a Mamãe do Trem (1987)
Também dá para fazer comédia em cima de Hitchcock: em Jogue a Mamãe do Trem, Danny DeVito (também diretor do filme) e Billy Crystal retomam a trama de Pacto Sinistro (1951). Os dois querem ser escritores, mas Owen (DeVito) não tem talento, e Larry (Crystal) passa por uma espécie de bloqueio. Ambos também gostariam de se ver livres de uma mulher: a mãe dominadora (Anne Ramsay indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante), no caso do primeiro, e a ex-esposa, no segundo. (Disponível no canal MGM do Amazon Prime Video)
Cidade dos Sonhos (2001)
Em Cidade dos Sonhos, David Lynch (indicado ao Oscar de melhor diretor) trabalha temas vistos em Um Corpo que Cai (1958), como identidade, imitação e dualidade, e faz um pesadelo carregado de erotismo, outra marca hitchcockiana. Na trama, Naomi Watts interpreta uma jovem atriz que viaja para Hollywood e se vê envolvida num mistério do qual faz parte uma mulher amnésica que escapou de um assassinato (Laura Harring). (Foi lançado em DVD no Brasil pela Europa Filmes)
Segredos de Sangue (2013)
Estrelado por Nicole Kidman, Mia Wasikowska e Matthew Goode, Segredos de Sangue teve o roteiro escrito por Wentworth Miller (ator principal da série Prison Break), que se inspirou em À Sombra de uma Dúvida (1943). No filme dirigido pelo sul-coreano Park Chan-Wook (o mesmo de Oldboy), o charmoso e carismático tio Charlie desperta a desconfiança da sobrinha, que acaba de perder o pai. (Foi lançado em DVD no Brasil pela Fox)
O Homem Invisível (2020)
A mais recente versão de O Homem Invisível não deve a Hitchcock a trama, mas o clima, o espírito.
Desde as cordas nervosas da trilha sonora até o apelo ao nosso voyeurismo, passando pela figura de uma protagonista que precisa provar sua inocência e por um vilão que conta com certa cumplicidade do espectador. Há até um MacGuffin, o importante objeto insignificante.
Escrevi mais sobre o filme dirigido por Leigh Whannell e estrelado por Elisabeth Moss nesta coluna aqui. (Telecine, Google Play e YouTube)