Mank, que estreou recentemente na Netflix, já é um favorito ao Oscar 2021. Pode-se apostar que vai concorrer em pelo menos oito categorias:
Melhor filme — Por iluminar os bastidores nem sempre glamorosos de Hollywood, contar a história por trás do clássico Cidadão Kane (1941), dirigido por Orson Welles, e usar o passado para refletir a política atual (leia-se a política da desinformação, das fake news).
Diretor — David Fincher está fora de sua zona de conforto, o suspense e o policial de títulos como Seven (1995) e Zodíaco (2007), a exemplo de O Curioso Caso de Benjamin Button (2008) e A Rede Social (2010), que valeram suas únicas indicações.
Ator — Gary Oldman, no papel de Herman J. Mankiewciz, o roteirista de Cidadão Kane (a Academia de Hollywood adora cinebiografias: nas últimas 18 edições, premiou 12 personagens reais, incluindo o Winston Churchill de Oldman em O Destino de uma Nação).
Atriz e ator coadjuvante — Amanda Seyfried, encarnando Marion Davis, a esposa não oficial de William Randolph Hearst (papel de Charles Dance), o magnata da comunicação que inspirou o protagonista de Welles (seria a primeira vez de ambos no Oscar).
Roteiro — Escrito pelo pai do cineasta, Jack Fincher, morto em 2003.
Fotografia — Erik Messerschmit assina um majestoso e ao mesmo tempo fantasmagórico preto e branco, "cor" que costuma ser valorizada no Oscar (vide as recentes indicações de O Artista, Nebraska, Ida, Guerra Fria, Roma e O Farol).
Edição — Vencedor da estatueta dourada por A Rede Social e Millenium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres, ambos de Fincher, Kirk Baxter emula as fusões do cinema das décadas de 1930 e 1940.
Música original — Composta pela dupla Atticus Ross e Trent Reznor, em sua quarta colaboração com o diretor (ganharam o Oscar por A Rede Social), usando apenas instrumentos da época.
Se isso for confirmado no dia 15 de março, data do anúncio dos indicados, Mank vai se juntar a uma série de filmes sobre Hollywood que concorreram a vários Oscar. Confira:
Crepúsculo dos Deuses (1950)
Uma das obras-primas do genial e versátil Billy Wilder, conta a história de uma veterana atriz do cinema mudo que contrata um jovem roteirista para ajudá-la a reconquistar o estrelato.
11 indicações ao Oscar: melhor filme, diretor, ator (William Holden), atriz (Gloria Swanson), ator coadjuvante (Erich von Stroheim), atriz coadjuvante (Nancy Olson), roteiro (premiado), fotografia em preto e branco, edição, direção de arte (premiada) e música (premiada).
Disponível em Apple TV, Google Play e YouTube.
Los Angeles, Cidade Proibida (1997)
Sob direção de Curtis Hanson, Kevin Spacey, Guy Pearce e Russell Crowe são detetives que, ao investigar a chacina em um café, descobrem um esquema de prostituição de luxo envolvendo figurões da Hollywood dos anos 1950.
Nove indicações: melhor filme, diretor, atriz coadjuvante (Kim Basinger, premiada), roteiro adaptado (premiado), fotografia, edição, direção de arte, música original e som.
Disponível em Amazon Prime Video, Google Play e YouTube.
O Aviador (2004)
Não é exclusivamente sobre Hollywood, mas a indústria do cinema tem papel importante na cinebiografia de Martin Scorsese sobre o multimilionário americano Howard Hughes (1905-1976), interpretado por Leonardo DiCaprio.
Com 20 e poucos anos, Hughes inventou o conceito de superprodução hollywoodiana ao produzir e dirigir Anjos do Inferno (1930), que consumiu três anos de filmagem, US$ 4 milhões e as vidas de três pilotos. Ele também namorou atrizes famosas: Jean Harlow (encarnada pela cantora Gwen Stefani), Ava Gardner (Kate Beckinsale) e Katharine Hepburn (Cate Blanchett).
11 indicações: premiado nas categorias atriz coadjuvante (Cate Blanchett), fotografia, edição, direção de arte e figurinos, brigou ainda aos Oscar de melhor filme, diretor, ator, roteiro original, ator coadjuvante (Alan Alda) e edição de som.
Disponível na Netflix.
O Artista (2011)
O francês Michel Hazanavicius presta uma homenagem ao cinema mudo — o filme não tem diálogos, e a música é onipresente. Na década de 1920, o ator George Valentin é um astro, mas tem sua carreira ameaçada pela chegada do som. Enquanto isso, uma atriz que era eterna coadjuvante passa a brilhar.
10 indicações: venceu como melhor filme, diretor, ator (Jean Dujardin), figurino e música original e concorreu também nas categorias atriz coadjuvante (Bérénice Bejo), roteiro original, fotografia, edição e direção de arte.
Disponível em Amazon Prime Video, Google Play e YouTube.
Birdman (2014)
O mexicano Alejandro González Iñárritu acompanha, em um único plano sequência, ou seja, sem cortes aparentes, a jornada de um ator de Hollywood que ficou famoso por interpretar um super-herói mas agora está no ostracismo. Esse personagem é encarnado por Michael Keaton, que, justamente, ganhou fama ao viver o Batman. Agora, ele quer montar um espetáculo na Broadway.
Nove indicações: ganhou como melhor filme, diretor, roteiro original e fotografia e disputou as categorias de ator, ator coadjuvante (Edward Norton), atriz coadjuvante (Emma Stone), edição de som e mixagem de som.
Disponível em Netflix, Google Play e YouTube.
La La Land: Cantando Estações (2016)
Na trama bonita mas chatinha — ou chatinha mas bonita, tanto faz — dirigida por Damien Chazelle, Emma Stone, no papel de uma aspirante a atriz, e Ryan Gosling, como um pianista de jazz, vivem desencontros amorosos e musicais enquanto perseguem o sucesso em Los Angeles.
14 indicações: levou os Oscar de direção, atriz, fotografia, direção de arte, música original e canção (categoria em que competiu duplamente) e brigou também por melhor filme, ator, roteiro original, edição, figurino, edição de som e mixagem de som.
Disponível em Netflix, Telecine, Apple TV, Google Play e YouTube.
Era Uma Vez em Hollywood (2019)
Quentin Tarantino reinventa um dos crimes mais chocantes do mundo do cinema ao cruzar o caminho da atriz Sharon Tate, interpretada por Margot Robbie, com o de dois personagens fictícios, um ator decadente encarnado por Leonardo DiCaprio e seu dublê e faz-tudo, papel de Brad Pitt.
10 indicações: melhor filme, diretor, ator, ator coadjuvante (Pitt, premiado), roteiro original, fotografia, direção de arte (premiada), figurino, edição de som e mixagem de som.
Disponível em HBO Go, Apple TV, Google Play e YouTube.
Outros títulos
- O Dia do Gafanhoto (1975), de John Schlesinger — Em 1930, um diretor de arte (William Atherton) faz de tudo para ajudar Faye Greener (Karen Black), uma atriz jovem mas pouco talentosa e fria com ele. Faye, por sua vez, atormenta o introvertido aposentado vivido por Donald Sutherland, Homer Simpson — sim! Matt Groening tirou do romance homônimo de Nathanael West o nome do patriarca de Os Simpsons. Outro personagem marcante é Adore, um menino criado como menina para ser a nova Shirley Temple, encarnado por Jackie Earle Haley. Duas indicações ao Oscar: ator coadjuvante (Burgess Meredith) e fotografia.
- Barton Fink: Delírios de Hollywood (1991), de Joel e Ethan Coen — Em 1941, um dramaturgo de Nova York (John Turturro) aceita uma proposta para escrever roteiros de cinema em Los Angeles. Três indicações: ator coadjuvante (Michael Lerner), direção de arte e figurino. Disponível no Google Play e no YouTube.
- O Jogador (1992), de Robert Altman — Tim Robbins faz um executivo de estúdio pressionado por fracassos de audiência e por bilhetes com ameaças anônimas. Três indicações: melhor diretor, roteiro adaptado e edição.
- Boogie Nights: Prazer Sem Limites (1997), de Paul Thomas Anderson — Um retrato sobre o mundo pornô da Los Angeles dos anos 1970. Três indicações: ator coadjuvante (Burt Reynolds), atriz coadjuvante (Julianne Moore) e roteiro. Disponível no Google Play e no YouTube.
- Cidade dos Sonhos (2001), de David Lynch — Uma jovem atriz (Naomi Watts) viaja para Hollywood e se vê enredada em uma trama surreal que inclui uma mulher com amnésia (Laura Harring), um diretor de cinema (Justin Theroux) e uma série de personagens excêntricos ou ameaçadores. Uma indicação: melhor diretor.
- Ave, César! (2016), de Joel e Ethan Coen — Comédia musical/policial sobre Eddie Mannix (1891-1963), um produtor especialista em resolver os problemas das celebridades na Hollywood dos anos 1950. Com Josh Brolin, George Clooney, Tilda Swinton e Scarlett Johansson. Uma indicação: melhor direção de arte. Disponível no Google Play e no YouTube.