Figura incontornável quando se ilumina as ações que reconfiguraram o mundo em meio à mortandade da II Guerra, Winston Churchill (1874–1965) é personagem recorrente no cinema e na televisão. Se a sua importância política e estratégica nos rumos do conflito é notória, à dramaturgia interessa sobretudo o tipo imponente, o líder capaz de incendiar corações e mentes com sua poderosa oratória, de tomar decisões sob intensa pressão e, pelo caminho, de patrolar adversários combinando humor ferino e temperamento vulcânico.
Em cartaz a partir desta quinta-feira (11) no Brasil, O Destino de uma Nação é o segundo filme da temporada a ter como protagonista o primeiro-ministro britânico. Se em Churchill (2017), o diretor Jonathan Teplitzky apresentou Brian Cox encarnando o político acuado às vésperas do Dia D, em 1944, relutante com o desembarque dos aliados na Normandia, em O Destino de uma Nação o chamado leão britânico aparece rugindo alto.
Joe Wright, cineasta com mais estofo, conduz a trama ambientada em maio de 1940. Ao 65 anos, Churchill, reencarnado no ator inglês Gary Oldman, vive seu renascer na política – ele saiu chamuscado da I Guerra (1914–1919) ao coordenar operações militares desastradas. Diante de um quadro sombrio na Europa, com a Alemanha expandindo sua ocupação de territórios – naquele mês de maio, invadiu a França – o rei George VI convoca Churchill, que vinha há tempos dando o alerta contra Hitler, para o cargo de premiê.
No parlamento tem quem defenda um acordo com os alemães para poupar a ilha da mira do tirano. Mas Churchill bate na mesa. Começa organizando a espetacular operação de resgate das tropas britânicas encurraladas no norte da França – tema de outro bom filme da temporada, Dunkirk. Em seguida, vai à tribuna para imortalizar os discursos que elevam a moral dos súditos do rei, nos quais evocou sangue, trabalho, suor e lágrimas para a tenaz resistência: “Nunca nos renderemos”.
Oldman, excelente ator que é, compõe um Churchill vigoroso dentro de suas múltiplas facetas: inseguro, hesitante, colérico, diplomático, bufão, refinado, apaixonado. São essas sutilezas de registros, perceptíveis além da maquiagem pesada e da reconstituição de trejeitos do personagem, combinadas a seu talento dramatúrgico, que colocam Oldman em destaque nesta época de premiações. Já ganhou, entre outros troféus, o Globo de Ouro de melhor ator em drama e deve aparecer entre os indicados ao Oscar.
Neste modelo do chamado “filme de gabinete”, a exemplo do Lincoln de Steven Spielberg, com o oscarizado Daniel Day-Lewis, em que o grande tema está sobre os ombros do protagonista, um ator como Oldman deixa a lição de história ainda mais saborosa.
O Destino de Uma Nação
De Joe Wright
Cinebiografia, Grã-Bretanha, 2017, 125min, 12 anos.