Comédia é um gênero difícil. Tanto de fazer (deve-se saber escrever piadas, acertar o timing — o ritmo — das cenas, encontrar o tom da interpretação...) quanto de indicar.
Uns gostam de pastelão, outros preferem sofisticação, e o estado de espírito do espectador também pesa na hora de assistir a um filme humorístico, assim como a companhia influencia — risadas alheias têm o poder da multiplicação, atraindo as nossas.
Bem, acho que todo mundo está precisando relaxar e, se possível, rir um pouco neste momento de agravamento da pandemia no Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul. Por isso, vou me arriscar recomendando sete filmes que provocaram algumas das mais gostosas gargalhadas da minha vida (não são os únicos: faltou, por exemplo, A História do Mundo: Parte I, do genial Mel Brooks). Todos estão disponíveis em plataformas de streaming. Tomara que funcionem com vocês. Se já tiverem visto e gostado, não tem problema: todos valem a pena ver de novo, né?
Um Convidado Bem Trapalhão (1968)
Mais do que na série de filmes da Pantera Cor-de-rosa, é em Um Convidado Bem Trapalhão (The Party) que o inglês Peter Sellers mostra-se um incomparável ator cômico — a despeito do lance politicamente incorreto de escalá-lo para encarnar um indiano. Na trama dirigida por Blake Edwards, um magnata de Hollywood vai dar uma festa para estrelas encantadoras, modelos deslumbrantes, poderosos produtores e até um filhote de elefante. Mas, por uma falha de convite, Hrundi V. Bakshi (Sellers), um figurante com uma queda por desastres, também aparece. O que se sucede é uma coleção de cenas impagáveis: Hrundi perde o sapato numa passagem de água, Hrundi entope a privada no banheiro, Hrundi joga um frango na cabeça de uma mulher... Disponível no canal MGM do Amazon Prime Video.
A Vida de Brian (1979)
Depois de sacanear a lenda do Rei Arthur em Monty Python em Busca do Cálice Sagrado (1975), o grupo inglês realizou a sátira bíblica A Vida de Brian (Monty Python's Life of Brian). No filme dirigido por Terry Jones, um pobre coitado judeu (papel de Graham Chapman), que nasceu no mesmo dia e hora de Jesus, une-se a um grupo de rebeldes para derrubar o Império Romano e acaba confundido com o salvador. Até acabar na cruz, tenta, sem sucesso, provar aos seus seguidores que é um falso messias. A turma de Jones, Chapman, Terry Gilliam, Eric Idle, John Cleese e Michael Palin faz piadas sobre católicos, judeus e protestantes e se divide em hilariantes papéis, interpretando centuriões romanos, leprosos e um impagável esquadrão suicida. A canção Always Look On the Bright Side of Life (sempre olhe para o lado bom da vida), entoada por crucificados, tornou-se clássica. Disponível na Netflix.
Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu! (1980)
O título brasileiro é muito mais eficaz e engraçado do que o original, Airplane!. O personagem principal é um piloto (Robert Hays) com medo de voar e um problema de alcoolismo que segue sua ex-namorada em um voo e precisa assumir o controle da aeronave quando a tripulação sofre intoxicação alimentar. Esta paródia surreal dos filmes de desastre, cheia de trocadilhos verbais e visuais, foi a primeira parceria entre os diretores e roteiristas Jim Abrahams, David Zucker e Jerry Zucker. Depois, trabalhando juntos ou separados, eles nos brindaram com outras pérolas do gênero, como Top Secret: Superconfidencial (1984), Corra que a Polícia Vem Aí (1988) e Top Gang: Ases Muito Loucos (1991). Pena que só Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu! está disponível, no Amazon Prime Video.
Quem Vai Ficar com Mary? (1998)
Por causa de um acidente embaraçoso no banheiro, o tímido estudante Ted (Ben Stiller) acaba perdendo a chance de ir ao baile com a garota mais popular e bonita do colégio, Mary (Cameron Diaz). Treze anos depois, ele contrata um detetive (Matt Dillon) para encontrá-la, só que ele também vai se apaixonar pela mulher. Com direção dos irmãos Bobby e Peter Farrelly (que depois faria o oscarizado Green Book) e marcada por piadas de cunho sexual, There's Something About Mary fez um tremendo sucesso de público e também de crítica. Confesso que não revejo faz muito tempo, mas não esqueço das risadas que dei quando vi no cinema. Disponível no Telecine, no Google Play e no YouTube.
O Virgem de 40 Anos (2005)
The 40-Year-Old Virgin é muito mais do que um besteirol apimentado, como o título pode sugerir aos incautos. Tanto é que apareceu na tradicional lista dos 10 melhores filmes do ano elaborada pelo respeitado American Film Institute. Era como um estranho no ninho em uma temporada célebre por assuntos sérios — o terrorismo (Munique), a indústria do petróleo (Syriana), o racismo (um dos temas centrais de Crash), o preconceito sexual (O Segredo de Brokeback Mountain), a perseguição política (Boa Noite e Boa Sorte).
Tema sempre recorrente nas comédias adolescentes americanas, a primeira transa ganha uma abordagem diferente pelas mãos (sem trocadilho!) do diretor Judd Apatow e do ator Steve Carell (que naquele mesmo ano começaria a interpretar o chefe sem-noção Michael Scott na série The Office). Se pelo olhar juvenil é motivo de afobação, para um adulto de 40 anos é motivo de resignação. O elenco de apoio — Seth Rogen, Elizabeth Banks, Catherine Keener, Paul Rudd — é um dos trunfos do filme, que tem uma das cenas mais antológicas das comédias contemporâneas: aquela da depilação. Tente não chorar. Disponível na Netflix, no Amazon Prime Video, no Google Play e no YouTube.
Borat (2006)
Ninguém fica imune na primeira jornada empreendida por este falso repórter da TV pelos Estados Unidos (a segunda, Borat: Fita de Cinema Seguinte, acabou de vencer o Globo de Ouro de melhor musical ou comédia). Quem cruza o caminho do personagem criado e interpretado pelo inglês Sacha Baron Cohen sofre humilhações ou diz coisas das quais deveria se envergonhar — imaginando que tudo o que dissessem só seria ouvido no distante Cazaquistão, alguns entrevistados de Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América (Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan) soltam o freio e revelam uma série de preconceitos.
Logo na abertura, o filme dirigido por Larry Charles— ex-roteirista do seriado Seinfeld —diz a que veio: o protagonista mostra seu pobre vilarejo natal (refletindo a visão estereotipada que muitos norte-americanos têm dos países do Leste Europeu e da Ásia Central), seus hobbies (como fotografar às escondidas mulheres urinando) e uma das "tradições" da região, a infame Corrida do Judeu (a propósito: Cohen é judeu). As piadas — ou ofensas? — antissemitas, escatológicas, misóginas, racistas e homofóbicas se multiplicam quando o repórter e seu produtor, Azamat Bagatov (Ken Davitian), desembarcam em Nova York. Os dois estrelam uma sequência impossível de ser "desvista", cujo estopim são fotos da atriz e modelo Pamela Anderson, paixão repentina, platônica e avassaladora de Borat. Disponível no Google Play e no YouTube.
Se Beber, Não Case! (2009)
Diz a matéria de apresentação em Zero Hora de The Hangover (em inglês, A Ressaca): "Um tigre no banheiro, um dente a menos, um bebê a mais — esses são apenas os primeiros e menores dos problemas que três amigos reunidos em Las Vegas para uma despedida de solteiro enfrentam depois de acordar de uma noite de farra descontrolada". Os três amigos são o bonitão Phil (Bradley Cooper), o reprimido Stu (Ed Helms) e o meio abobado Alan (Zach Galifianakis). A grande encrenca deles é descobrir onde foi parar o noivo desaparecido— que os sequelados padrinhos não sabem como, onde ou quando perderam. Com uma participação especial da lenda do boxe Mike Tyson, o filme do diretor Todd Phillips (o mesmo de Coringa) deu início a uma trilogia que arrecadou US$ 1,4 bilhão. Disponível no Google Play e no YouTube.