Seinfeld, que tem as nove temporadas disponíveis no Amazon Prime Video, é tido por muitos fãs e críticos (incluindo eu) como o melhor seriado cômico de todos os tempos. Mas, ao longo de seus quase 10 anos de vida – estreou em 5 de julho de 1989 e acabou em 14 de maio de 1998 –, ganhou apenas uma vez o Emmy, a principal premiação da televisão americana.
O troféu foi para a quarta temporada (1992-1993) – que também rendeu o primeiro dos três prêmios de melhor ator coadjuvante para Michael Richards (intérprete do maluco Kramer).
Há uma história que atravessa os 24 episódios, até o final de duas partes: a história de como Jerry Seinfeld (ele próprio) conseguiu convencer a rede de TV norte-americana NBC a produzir uma "série sobre nada" – trama que introduz no seriado a futura noiva de George Costanza (Jason Alexander), a tragicômica Susan (Heidi Swedberg).
Com carta-branca para fazer piada de todos e com tudo, Seinfeld conquistou de vez a audiência dos EUA quando, no final de janeiro de 1993, trocou de dia. Saiu das noites de quarta para as de quinta, na sequência do campeão de popularidade Cheers (ao qual depois acabaria sucedendo no nobre horário das 21h).
Toda dirigida por Tom Cherones (sumido da TV desde 2009), essa quarta temporada é mesmo uma coleção de episódios clássicos. Pelo menos sete deles costumam figurar em listas dos melhores de Seinfeld.
The Bubble Boy – À espera de Jerry e Elaine (Julia Louis-Dreyfus, que depois brilharia à frente da série cômica Veep), George acaba brigando com um garoto que mora dentro de uma bolha.
The Contest – Depois que George é flagrado pela mãe se masturbando, o quarteto faz um concurso de abstinência. A palavra "masturbação" nunca é citada, e a expressão master of your domain (mestre do seu domínio) entrou para a cultura pop americana. O episódio valeu a Larry David o Emmy de melhor roteiro.
The Pick – Após enviar cartões de Natal para todo mundo, Elaine percebe que a foto dela, tirada por Kramer, exibe um de seus mamilos. Enquanto isso, Jerry namora uma modelo que pensa tê-lo visto "cutucando" o nariz. Aqui, Seinfeld parodia o filme O Homem Elefante, de David Lynch.
The Outing – Uma jornalista estagiária publica uma matéria retratando Jerry e George como um casal gay. A frase "Not that there's anything wrong with that" ("Não que haja algo errado com isso") virou moda nos EUA.
The Implant – Jerry chama Elaine para descobrir se são falsos os seios da namorada (Teri Hatcher, a metade feminina do seriado Lois & Clark). É dela outra citação famosa: "They're real, and they're spectacular!" ("Eles são reais e são espetaculares!").
The Junior Mint – Jerry não lembra o nome da namorada, só sabe que rima com uma parte do corpo feminino ("Mulva!", aposta George). No hospital, ele e Kramer assistem à cirurgia do namorado de Elaine e deixam cair uma jujuba dentro do corpo dele.
The Handicap Spot – Por insistência de Kramer, George estaciona o carro de seu pai em uma vaga para deficientes físicos, o que acaba por ferir uma mulher. É a estreia do pai de George, o irascível Frank Costanza.
Nos extras da edição em DVD, duas coisas chamam atenção nos sempre divertidos erros de gravação. Primeiro, a capacidade de Julia Louis-Dreyfus de perder a concentração – ela é a primeira a sair do sério. Segundo, a irritação de Michael Richards quando os colegas esquecem as falas e caem na risada. Nos discos da terceira temporada, o eterno Cosmo Kramer já havia comentado que, na hora em que entra no estúdio, nunca larga o papel. Nas cenas perdidas mostradas neste novo DVD, o ator não só reclama como chega a quase sacudir seus parceiros.
Mas nem ele é infalível. A diferença é que, enquanto os outros riem dos próprios erros, Richards parece ficar envergonhado quando é ele quem compromete uma cena.