Ratched, que estreia nesta sexta-feira (18) na Netflix, é uma série baseada em uma obra da literatura, mas a maioria das pessoas vai associá-la a um título do cinema: Um Estranho no Ninho (1975), a versão do cineasta Milos Forman para o romance escrito por Ken Kesey, vencedora dos prêmios Oscar de melhor filme, diretor, ator (Jack Nicholson), atriz (Louise Fletcher) e roteiro adaptado.
O seriado é o que os americanos chamam de prequel, um neologismo surgido de sequel (sequência). Em vez desta última, estamos diante de uma história que antecede a original.
Criada por Ryan Murphy, o mesmo das séries Nip/Tuck, Glee, American Horror Story e a recente Hollywood, Ratched acompanha os primeiros passos no sistema de saúde mental da enfermeira que é a vilã de Um Estranho no Ninho (disponível no Google Play). O papel de Mildred Ratched é interpretado por Sarah Paulson, atriz que integra o elenco fixo de American Horror Story – do mesmo programa, vem Finn Wittrock, e a série também conta com a presença de Sharon Stone.
A premissa é semelhante à de outros dois seriados relativamente recentes. Hannibal (2013-2015) foca na relação entre o investigador do FBI Will Graham (Hugh Dancy) e o brilhante psiquiatra Hannibal Lecter (Mads Mikkelsen), o serial killer canibal dos livros de Thomas Harris e dos filmes Caçador de Assassinos (1986), O Silêncio dos Inocentes (1991) – ganhador de cinco Oscar, Hannibal (2001), Dragão Vermelho (2002) e Hannibal – A Origem do Mal (2007).
Em cartaz no Globoplay, Bates Motel (2013-2017) é sobre a adolescência de Norman Bates, o perturbado protagonista do clássico Psicose (1960), de Alfred Hitchcock. Os papéis principais são vividos por Freddie Highmore e Vera Farmiga – como a mãe ciumenta e controladora, Norma.
Estender para a TV ou o streaming o sucesso do cinema é uma prática recorrente nos Estados Unidos. Na década de 1970, houve, por exemplo, a comédia ácida M.A.S.H. e as ficções científicas Planeta dos Macacos e Fuga do Século XXIII (Logan's Run). Nascida do filme homônimo realizado por Robert Altman em 1970 (que, por sua vez, baseou-se em uma obra literária), Palma de Ouro no Festival de Cannes, a série M.A.S.H. era sobre médicos militares na Guerra da Coreia. Os protagonistas eram os capitães Franklin Pierce (Alan Alda) e John McIntyre (Wayne Rogers). Foi longeva – durou de 1972 a 1983 – e multipremiada: 14 Globos de Ouro e oito Emmys.
Um dos derivados de maior popularidade foi Buffy, a Caça-Vampiros (título autoexplicativo, né?), que teve sete temporadas inspiradas no filme homônimo de 1992 e que gerou ela própria um spinoff, Angel (1999-2004).
Um caso de aclamação crítica é Fargo, quatro temporadas desde 2014, as três primeiras disponíveis na Netflix. É oriunda do filme de mesmo nome lançado em 1996 pelos irmãos Joel e Ethan Coen e vencedor dos Oscar de melhor roteiro original e melhor atriz (Frances McDormand). O que ambas as produções têm em comum, além do nome e da ambientação no gelado interior dos EUA, é o humor macabro.
O ponto de partida é um crime, muitas vezes desastrado, que desencadeia uma série de eventos tragicômicos. Na primeira temporada, por exemplo, o bandido Lorne Malvo (Billy Bob Thornton), ao chegar a uma pequena cidade de Minnesota, começa a espalhar violência, direta ou indiretamente, envolvendo "gente comum" como o simplório vendedor de seguros Lester Nygaard (Martin Freeman).
Quanto mais os dois tentam se livrar de policiais como Molly Solverson (Allison Tolman), mais a situação piora. O elenco é um dos grandes acertos desta comédia de erros: passaram pela série nomes como Kirsten Dunst, Ted Danson, Ewan McGregor, Mary Elizabeth Winstead, Colin Hanks e o casal do filme Estou Pensando em Acabar com Tudo, Jessie Buckley e Jesse Plemons.
Recentemente, surgiram duas séries que se passam muitos anos depois dos filmes que as inspiraram. O Exorcista (2016-2017), em cartaz no Amazon Prime Video, faz uma releitura moderna do clássico de horror dirigido por William Friedkin em 1973. Cobra Kai (2018), que a Netflix adicionou recentemente a seu catálogo, retoma, três décadas depois, o duelo entre Daniel LaRusso e Johnny Lawrence, encarnados pelos mesmos atores, Ralph Macchio e William Zabka, de Karatê Kid (1984).