Nestes tempos de distanciamento social, séries de mistério, de suspense ou policiais da Netflix, como a recém-lançada 12 Jurados, são uma boa pedida para passar o tempo em casa: nos intrigam, nos envolvem e fazem a gente não arredar os olhos da TV (ou do computador, ou do smartphone, ou do tablet...). Melhor ainda quando são curtas, coisa de uma temporada, de seis a 10 episódios – que podem ser vencidos em um único fim de semana.
Tipo as seis recomendações que faço aqui, todas da Europa e com seis idiomas diferentes – a Bélgica está duplamente representada, mas o elenco fala holandês em um seriado e majoritariamente francês em outro. As outras línguas são as nativas de Inglaterra, Islândia, Polônia e Suécia.
Se bobear, começando nesta sexta-feira você consegue assistir a duas ou três até domingo. Afinal, uma delas dura menos de quatro horas. Faça suas escolhas!
12 Jurados (Bélgica, 2019)
Recém lançada pela Netflix, esta eu nem terminei de ver, mas já recomendo. Falado em holandês, o seriado belga tem 10 episódios e gira em torno do que a imprensa fictícia chama de julgamento do século: uma mulher, Frie Palmers, é acusada de ter assassinado sua melhor amiga, em 2000, e sua própria filha, 16 anos depois. É, como o nome diz, uma série de tribunal, mas esse não é o único cenário da trama criada por Sanne Nuyens e Bert Van Dael. E, também como o nome diz, a história não se concentra apenas na investigação sobre os crimes. Há múltiplos personagens e múltiplos enigmas.
Enquanto depoimentos e flashbacks reconstituem as circunstâncias das mortes de Brechtje Vindevogel, a melhor amiga, e Roos, a filha, enquanto descobrimos o passado de Frie e o papel desempenhado por seu ex-marido e pelo pai da primeira vítima, um ambientalista rico e famoso, somos apresentados aos dramas particulares de uma meia dúzia de jurados. Entre eles, estão a herdeira de um casal brutalmente assassinado, um fotógrafo que frequenta reuniões de viciados em sexo e um empreiteiro enrascado porque seu irmão e sócio contrata operários ilegais– inclusive um brasileiro. Mas talvez a grande personagem seja uma jurada substituta, Delphine, mãe de três crianças e casada com um marido extremamente ciumento e abusivo.
Areia Movediça (Suécia, 2019)
Tem alguma semelhança com 12 Jurados. Com seis episódios, também foca um julgamento de um crime chocante: a protagonista, Maja (pronuncia-se Maia), uma estudante do Ensino Médio, é acusada de participar de uma chacina em uma escola bacana de Estocolmo, na Suécia, onde, entre outras vítimas, foram mortos o namorado e a melhor amiga dela. Como na série belga, a sueca alterna a narrativa entre o presente e o passado – quando surgem indícios tanto a favor quanto contra a personagem principal. Em meio a temas como bullying, xenofobia e relacionamentos abusivos, a trajetória de Maja é recuperada desde a aproximação com Sebastian, um garoto negligenciado pelo pai rico. Eis o pano de fundo, ou quem sabe a verdadeira questão de Areia Movediça: o que os adolescentes fazem longe do olhar de pais que não querem vê-los.
Trapped (Islândia, 2015)
Pulando de um país nórdico para outro, chegamos à Islândia. Mais precisamente, a Siglufjörður, cidadezinha ao norte que serve de cenário para os 10 episódios da história fechada contada na primeira temporada – uma segunda trama, também com 10 capítulos, foi lançada em 2019. As condições climáticas do país e suas paisagens geladas são personagens à parte na série criada por Baltasar Kormákur. Tanto é que os créditos de abertura intercalam sobrevoos do característico relevo islandês, com suas montanhas e seus glaciares, e imagens microscópicas de um corpo humano, com seus sulcos e seus poros. O inverno tem papel de destaque: primeiro, uma nevasca isola Siglufjörður do resto do país. Mais adiante, seus mil e poucos habitantes serão ameaçados pela possibilidade de uma avalanche.
Mas o que realmente desestabiliza o local é a descoberta, por um pescador, de um tronco humano (daí a ligação entre topografia e anatomia na sequência de abertura). Três policiais – o detetive Andri, Hinrika e Ásgeir – precisam deixar de lado um pouco seus problemas particulares para se dedicarem a uma série de dúvidas e especulações: de quem é o corpo? A vítima pode ser um passageiro ou tripulante de um ferry da Dinamarca que está atracado em Siglufjörður? E o assassino, também está a bordo ou é alguém da cidade? Existe alguma relação entre o crime e um incêndio ocorrido sete anos atrás, que matou uma irmã da ex-esposa de Andri? Qual a conexão com um empreendimento comercial, um porto que chineses querem construir para encurtar a rota para a América do Norte? Escrevi mais sobre Trapped neste link.
Não Fale com Estranhos (Inglaterra, 2020)
Descendo da Islândia para a Inglaterra, paramos em uma outra cidadezinha, agora fictícia, Cedarfield, onde se passa a adaptação de um romance homônimo do escritor americano Harlan Coben. Pai de família, o advogado Adam Price é abordado por uma bela e misteriosa jovem de boné, que diz saber de algo que ele desconhece. Trata-se de um segredo que estaria sendo escondido pela esposa de Adam, a professora Corrine, mãe de seus dois filhos adolescentes: dois anos atrás, quando o casamento não ia tão bem, ela teria forjado uma gravidez. Adam enxota a moça misteriosa que o abordara no intervalo de um jogo do time de futebol de um dos garotos, mas o estrago já está feito. A semente da dúvida e da desconfiança foi plantada. Agora Adam vai investigar o passado – e isso é apenas a ponta do iceberg que começa a ser revelado no primeiro dos oito episódios de Não Fale com Estranhos. Clique aqui para ler mais sobre a minissérie.
Silêncio na Floresta (Polônia, 2020)
Harlan Coben também é o autor do romance adaptado por esta minissérie polonesa de seis episódios. O fiapo de trama que aparece na descrição da Netflix é suficiente para nos envolver: em 1994, um acampamento de verão para adolescentes vira palco de um crime brutal. Vinte e cinco anos depois, a polícia pede ajuda ao promotor Pawel Kopinski para identificar um corpo. Qual a relação entre uma coisa e a outra?
A exemplo de Não Fale com Estranhos, há um mistério policial que conecta a vida dos personagens, quase todos com alguns esqueletos no armário. Há também tramas correndo em paralelo e resgate de acontecimentos do passado. A narrativa se divide entre o hoje e 25 anos atrás – a propósito, essa alternância de tempo, a ambientação e as revelações de segredos familiares remetem a Dark, mas aqui não há qualquer traço de ficção científica. Para saber mais sobre o quebra-cabeças de Silêncio na Floresta, clique aqui.
Noite Adentro (Bélgica, 2020)
Nossa volta pela Europa só poderia retornar ao ponto de partida. Mas, em vez do holandês de 12 Jurados, o francês é o idioma predominante deste enxuto seriado apocalíptico – seus seis episódios levam menos de quatro horas para serem vistos. E é barbada assistir, porque o seriado criado por Jason George e inspirado no romance de ficção científica The Old Axolotl, do polonês Jacek Dukaj, cativa desde o embarque. A premissa é tão simples quanto mirabolante: sempre associado à vida e à energia, o sol começou a matar as pessoas. Portanto, a tripulação e os passageiros de um avião precisam voar sempre em direção ao oeste, fugindo da alvorada sob o manto noturno.
O avião é um microcosmo. Temos homens e mulheres, cristãos e muçulmanos, militares e contrabandistas, trabalhadores braçais e influenciadores digitais, idosos e até uma criança. Cada episódio revela segredos dos tripulantes e dos passageiros, lança novos desafios a eles (desde como voar gastando o mínimo de combustível até descobrir que os alimentos também podem sofrer os efeitos nocivos do sol) e reflete questões da pandemia. Leia a íntegra do comentário de Noite Adentro clicando aqui.