Em 2010, o planeta teve a atenção despertada para a Islândia, quando o vulcão Eyjafjallajökull entrou em erupção e provocou colapso na malha aérea da Europa, com o cancelamento de mais de 900 voos. Embora a notícia fosse negativa, a propaganda involuntária despertou a curiosidade de muitos e, desde então, o turismo vem aumentando 30% ao ano no país.
Ao ler em uma reportagem, no início de 2015, que a natureza da Islândia tem paisagens que lembram Nova Zelândia, Noruega e Patagônia, decidi que havia chegado a hora de conhecê-la. Afinal, estão entre as mais belas paisagens naturais que conheci.
No último mês de agosto, embarquei disposta a conferir o que é que esse país de 323 mil habitantes, próximo à Groenlândia e ao Círculo Polar Ártico, tem de tão especial para atrair mais de um milhão de turistas ao ano. E constatei que a Islândia (Iceland) é, realmente, a "terra do gelo", mas não apenas isso! Encontrei natureza exuberante, com geleiras, lagoas, cascatas, gêiseres e formações vulcânicas, além de belas paisagens urbanas em Reykjavik e Akureyri.
O cartão-postal da Islândia é Jökulsárlón (foto acima), um lago de icebergs que se desprenderam da geleira Vatnajökull, o maior glaciar da Europa. Os blocos de gelo azulado flutuam na água, bem próximos da areia negra da praia. Quem tem coragem de enfrentar o frio é recompensado com a visão de uma paisagem ainda mais incrível, pois icebergs invadem as areias. Jökulsárlón também é ponto de partida para passeios ao coração do Vatnajökull. Localizado em meio a vulcões ativos, é a maior calota de gelo do mundo fora dos polos, ocupando uma área de 8 mil quilômetros quadrados, 10% de todo território islandês. Embarcando em um veículo 4x4, alcançamos o centro do glaciar, onde o branco da neve se confunde com o das nuvens.
Para conhecer outros encantos da "terra do gelo", é preciso seguir a Ring Road, rodovia de 1.350 quilômetros que contorna o país. De pista única em cada sentido, mas com pouco movimento e bem sinalizada, é ideal para apreciar a paisagem de belas fazendas com pastos verdes cobertos de grandes sacos brancos de feno para alimentar ovelhas e cavalos.
Ao longo do caminho, as quedas d'água são atrações constantes. Uma das mais visitadas é Gullfoss (foto abaixo), que carrega as águas provenientes de um lago do glaciar Langjökull. Embora algumas sejam avistadas desde a rodovia, como Skógafoss, uma das maiores cascatas da Islândia, e Seljalandsfoss, que cai 60 metros sobre uma falésia, não se pode deixar de contemplar de perto, com ar puro, muito verde e pouca gente.
Para chegar a Hraunfossar, conjunto de pequenas cascatas que caem sobre o Rio Hvítá, é preciso percorrer uma pequena trilha. Mais uma oportunidade para desfrutar momentos de sossego em um lugar selvagem e deserto, curtindo o relaxante som da água caindo.
O melhor destino da Europa em 2015
Quarta maior cidade da Islândia, Akureyri é uma cidade de 17 mil habitantes que normalmente recebe os visitantes com muito frio, chuva e vento. Mesmo assim, foi eleita pela Lonely Planet como o melhor destino da Europa em 2015, graças à atmosfera tranquila combinada com o agito urbano. O clima não impede um passeio pelas ruas para observar as antigas e pitorescas casas de madeira. Alguns belos casarões, construídos por ricos comerciantes dinamarqueses, foram transformados em cafés, restaurantes e hotéis.
Localizada ao norte da ilha, é um bom ponto de partida para a caçada à aurora boreal. Mas esse incrível espetáculo cobra seu preço! É preciso encarar a temperatura negativa do inverno e 20 horas de escuridão (nessa estação, o sol nasce às 11h e se põe às 15h), sem nenhuma garantia de, efetivamente, presenciar o raro fenômeno natural. Como viajei no verão, não foi desta vez... Mas está na minha lista de sonhos de consumo.
Paisagem vulcânica
Um elemento impactante muito presente na paisagem islandesa é a rocha vulcânica, que forma esculturas naturais, como na praia de Reynisdrangar. Segundo uma lenda local, as grandes rochas que surgem do oceano a pouca distância da costa de areia negra são corpos petrificados de gigantes mitológicos (trolls).
Na região de Myvatn, a intensa atividade vulcânica produziu um labirinto natural de estranhas esculturas de lava, cobrindo uma área com dois quilômetros de diâmetro, conhecida como Dimmuborgir. Caminhando na Fortaleza Negra, a imaginação voa, identificando variadas figuras. Na mesma região, o movimento das placas tectônicas formou uma fenda que permite colocar um pé na placa europeia e, outro, na americana. No interior dessa fenda, surgiu uma cova com piscinas naturais de água quente, a Grjótagjá.
A mais conhecida fronteira geológica entre a Europa e a América, contudo, está localizada a poucos quilômetros da capital, no Parque Nacional Thingvellir (que aparece na foto de Odete, acima). Ali, as placas tectônicas dos dois continentes, dois paredões que brotam do chão, são separadas por alguns metros apenas, formando um caminho percorrido por muitos turistas. Nesse parque, há uma bandeira sinalizando o local onde foi criada a primeira assembleia popular da Islândia e do mundo, o Thingvellir, no ano 933. O parlamento islandês reuniu-se ali durante quase nove séculos, até ser transferido para Reykjavik. Esse também foi o local da proclamação da independência, em 1944.
A Lagoa Azul
Também próxima da capital, a Lagoa Azul (Bláa Iónio) é uma das atrações mais visitadas do país. A piscina natural geotérmica com água azul parece uma miragem em meio à paisagem de rocha negra. Mesmo nos dias muito frios, há quem se aventure e mergulhe na água que brota a 37ºC, em meio à fumaça que se forma pela condensação. A aparência azul e leitosa da água é resultado da grande quantidade de silício, substância que contém supostas propriedades medicinais.
A Islândia conta com regiões geotérmicas que geram outros fenômenos naturais, como poças de barro fervente em Námaskaro, e gêiseres, em Haukadalur. A mais conhecida das nascentes termais eruptivas do país, Geysir, e que passou a denominar o fenômeno em todo o mundo, começou a perder sua atividade no início do século 20, mas o gêiser Strokkur entra em erupção em intervalos de cinco a 10 minutos, lançando colunas de água quente e vapor a até 20 metros de altura.
Toque urbano
A Islândia não é feita apenas de paisagens e fenômenos naturais. Reykjavik, a capital mais setentrional do mundo, tem 120 mil habitantes e um skyline formado por casinhas baixas e coloridas.
A mais bela vista da cidade está no alto da torre da catedral luterana, cujo projeto arquitetônico foi inspirado no fluxo da lava vulcânica escorrendo. Em frente, está a estátua de Leif Ericson, viking islandês que pisou no continente americano (Canadá) quatro séculos antes de Cristóvão Colombo.
Localizada no sudoeste da ilha, a três horas de Londres e cinco horas de Nova York, Reykjavik fica cheia de turistas europeus, americanos e canadenses, que caminham tranquilamente pelas ruas, na claridade prolongada do verão, época em que o sol se ausenta apenas entre 23h e 4h, quando muito.
Na região do antigo porto, há ótimos restaurantes com cardápio variado, incluindo carnes de baleia e cavalo, um pouco estranhas ao paladar dos brasileiros. Na orla, estão algumas das atrações mais fotografadas da capital, como Sólfar, escultura de um barco viking estilizado em alumínio, e Harpa (foto acima), construção moderna com estrutura de vidro multicolorido, sede da Ópera e da Orquestra Sinfônica islandesa, que abriga cinemas, lojas e cafés, com vista privilegiada da baía e das montanhas. O melhor horário para visitação dessa região é no fim do dia, quando os vidros do edifício e o metal da escultura refletem o sol que se põe.
*Leitora do Viagem, Odete Pinzetta já conheceu mais de 85 países, de roteiros convencionais aos mais exóticos