O jornalista Carlos Redel colabora com a colunista Juliana Bublitz, titular deste espaço.
— É muito louco ter essa liberdade de estar em um lugar diferente a cada dia. Às vezes, ficamos no mesmo lugar por vários dias e isso também é liberdade: gostar de um lugar e poder ficar. Então, o sentimento é de estar realizado, fazendo o que gosta — explica Caroline Cruz, 36 anos, nascida em Montenegro e formada em Direito.
Ela, ao lado do companheiro Flávio Bullerjahn, 35, administrador de empresas de São Sebastião do Caí, estão, neste momento, viajando pela Argentina, mais especificamente em Bariloche, buscando chegar ao Ushuaia. Ambos estão embarcados em seu veículo, uma Sprinter 415, do ano de 2014, a qual eles chamam carinhosamente de Mercedita — fazendo referência à Mercedes-Benz, fabricante.
A dupla tinha ideia, em 2020, de fazer um mochilão pela Europa, mas, com a chegada da pandemia, ambos tiveram que ficar trancados dentro de casa, em Santa Cruz do Sul, durante todo o mês que seria dedicado para viajar. Foi neste momento em que eles resolveram mudar o seu estilo de vida, tendo flexibilidade de trabalharem à distância.
— A gente percebeu que queria aproveitar mais a vida e não ficar só esperando as férias para rodar — explica Flávio.
Naquele mesmo ano, compraram a Mercedita em um leilão, pagando R$ 100 mil, e a levaram para uma empresa realizar as modificações necessárias para que eles habitassem o veículo. Foram gastos outros R$ 130 mil — e seis meses de trabalho para que a van ficasse como eles queriam e, no final de 2021, fizeram a primeira viagem, um teste: foram até o Rio de Janeiro.
Após dois meses, estavam de volta ao Rio Grande do Sul e decidiram se desfazer de suas coisas, como roupas e móveis e devolverem o apartamento que eles alugavam em Santa Cruz do Sul. A sua casa, então, seria na estrada. Criaram um perfil na redes sociais, o @leve.navan, e partiram para a sua primeira grande empreitada, pelo Brasil. Durante um ano, fizeram quase toda a costa do país, conhecendo 16 Estados.
Precisaram voltar para o solo gaúcho no final de 2022, por questões profissionais, e acabaram comprando um apartamento em Porto Alegre — este foi atingido pela enchente, o que atrasou o retorno da dupla para a estrada. Neste período de um ano e meio estacionados, eles realizaram melhorias na Mercedita, instalando, inclusive, um aquecedor para enfrentar os lugares frios da América do Sul.
Eis que, em agosto deste ano, colocaram a van para rodar novamente, mas com importantes mudanças. A primeira foi o destino: internacional, indo rumo ao Ushuaia, na Argentina, com ideia de, na volta, passar pelo Uruguai. A segunda, e mais fofa: a presença de Pitaia, a cachorrinha que foi adotada por Carol e Flávia no final do ano passado.
— Faz quatro meses que estamos na Argentina. E estamos bem felizes. Vamos passar o Natal aqui com amigos que a gente já conhecia e outros que conhecemos na estrada. Queremos ter uma vida mais leve — ressalta Caroline.
Perrengues bons
Caroline, Flávio e Pitaia estão bem contentes com a recepção dos hermanos e já contaram com a ajuda deles para resolver alguns pequenos problemas que apareceram na atual viagem deles. Porém, entre os perrengues que o estilo de vida trouxe, o mais marcante ocorreu na Bahia, quando a dupla estava indo para Caraíva.
— A gente estava no meio do nada, sem sinal de telefone, e a van parou de funcionar. Fomos pedir ajuda em uma fazenda de café. E a dona Marlene nos ofereceu internet e, depois, enquanto a gente esperava o guincho, ela fez almoço. Então, fomos super bem tratados. E o que era para ser perrengue ficou uma história que a gente adora contar — relembra Flávio.
Caroline completa:
— Acabamos no meio da plantação, vendo como era o processo do café enquanto esperávamos o tal do guincho (risos). Foi bem legal.
Segundo a dupla, este tipo de ajuda é recorrente. O próprio episódio do guincho, quando o prestador foi até a fazendo os rebocar, ele tinha conhecimentos mecânicos e acabou o próprio consertando e ensinando os viajantes a arrumar o problema.
— A gente constantemente se dá conta que as pessoas são boas — finaliza Flávio.