
O Apple TV+ anunciou nesta terça-feira (6) a renovação para uma segunda temporada da série O Estúdio (The Studio, 2025), uma deliciosa comédia sobre os bastidores de Hollywood. Nesta quarta (7), a plataforma de streaming lançou o oitavo episódio, que envolve a premiação do Globo de Ouro — o décimo e último desta primeira leva vai ao ar no dia 21 de maio.
Esta é pelo menos a quinta série recente que retrata as engrenagens da indústria cinematográfica. Disponível na Netflix, Hollywood (2020) acompanha a jornada de um grupo de aspirantes a atores e cineastas nos anos posteriores à Segunda Guerra Mundial. The Offer (2022), no Paramount+, detalha o desenvolvimento e a produção do clássico O Poderoso Chefão (1972). Sugar (2024), também do Apple TV+, tem como protagonista um detetive fã de cinema noir que é contratado por um lendário produtor para sua neta desaparecida. A Franquia (2024), na plataforma Max, tira sarro dos filmes de super-herói.
E todas essas sucederam outros seriados, como o saudoso Action (1999) — alguém tinha de resgatá-lo do limbo digital —, Entourage (2004-2011) e BoJack Horseman (2014-2020), e muitos filmes: de Crepúsculo dos Deuses (1950) a Babilônia (2022), de O Dia do Gafanhoto (1975) a Era uma Vez em... Hollywood (2019), de O Jogador (1992) a O Artista (2011).

Compreende-se, portanto, que O Estúdio possa despertar uma sensação de déjà vu no espectador acostumado a esse subgênero.
Mas a série é imperdível se você gosta de olhar o que acontece por trás das câmeras; se você curte testemunhar as desventuras e os infortúnios de diretores, produtores, roteiristas e atores, lidando ora com problemas técnicos, ora com decisões estapafúrdias dos chefões; se você adora participações especiais de estrelas que interpretam a si próprias e se você ri de piadas que fazem referências a clássicos eternos, cineastas amaldiçoados, sucessos de público ou desastres de bilheteria.
Qual é a história de "O Estúdio"?

O Estúdio foi criada por Seth Rogen, Evan Goldberg, Peter Huyck, Alex Gregory e Frida Perez. Rogen e Goldberg são parceiros de longa data — assinaram juntos É o Fim (2013) e A Entrevista (2014), escreveram o roteiro de Superbad: É Hoje (2007) — e também dirigem os 10 episódios da primeira temporada da série.
Indicado ao Emmy e a Globo de Ouro de ator coadjuvante pela minissérie Pam & Tommy (2022), Seth Rogen também encarna o personagem principal. Trata-se de Matt Remick, um produtor que, logo no primeiro capítulo, é alçado ao cargo de chefe do fictício Continental Studios, substituindo a demitida Patty Leigh (Catherine O'Hara, bicampeã do Emmy de melhor atriz em comédia por Schitt's Creek), sua mentora.
Quem anuncia sua promoção é o CEO com cabeleira, bigode e figurino dos anos 1970 divertidamente interpretado por Bryan Cranston, seis vezes ganhador do Emmy de ator dramático por Breaking Bad. O nome do sujeito é uma das tantas citações ouvidas em O Estúdio: também se chama Griffin Mill o protagonista de O Jogador, sátira de Robert Altman sobre um executivo de Hollywood pressionado por fracassos de audiência e por bilhetes com ameaças anônimas.

O diálogo entre Griffin Mill e Matt Remick ilustra a personalidade dos dois personagens e o conflito a ser encarado pelo protagonista. Griffin pergunta a Matt por que ele deveria promovê-lo, mas interrompe a resposta do subordinado para berrar com a secretária, reclamando pelo suco verde que ainda não veio. Depois, diz a Matt que só tem uma restrição quanto a ele:
— Ouvi dizer que você realmente gosta de fazer filmes artísticos e pretensiosos e que você tem obsessão de fazer atores e diretores gostarem de você, em vez de estar obcecado em fazer esse estúdio ganhar o máximo de dinheiro possível.
— Isso não poderia estar mais longe da verdade — retruca Matt. — Eu sou tão voltado para os resultados financeiros quanto qualquer um nesta cidade.
A conversa termina com uma bomba: Matt, que ainda acredita na integridade artística em uma indústria cada vez mais superficial e ancorada em propriedade intelectual (leia-se: franquias, continuações, prólogos etc), é incumbido por Griffin de desenvolver uma superprodução com o Jarrão do Kool Aid, a marca de suco em pó conhecida no Brasil como Ki-Suco.

Começa aí a atrapalhada odisseia de Matt Remick no comando do Continental, uma jornada na qual frequentemente sua dignidade e seu amor pelo cinema vão perder batalhas para sua ambição ou seu instinto de sobrevivência na selva de Los Angeles. Também terá de lidar com temas delicados em Hollywood, como racismo e representatividade — vide o brilhante sétimo episódio, Casting, que tem algumas piadas impagáveis.
Matt tem como um aliado mais ou menos honesto o seu melhor amigo, Sal Saperstein (vivido pelo engraçado Ike Barinholtz). Volta e meia vai bater de frente com a diretora de marketing, Maya (Kathryn Hahn, a Agatha Harkness do Universo Marvel). E a todo instante interage com feras reais da fauna hollywoodiana: de Martin Scorsese a Charlize Theron, de Zac Efron a Olivia Wilde, de Anthony Mackie a Zöe Kravitz.
O episódio em plano-sequência

Os episódios de O Estúdio costumam brincar com a metalinguagem. O quarto, The Missing Reel, por exemplo, usa clichês do cinema noir durante a investigação de Matt e Sal para encontrar um rolo perdido do filme à la Chinatown (1974) que Olivia Wilde está dirigindo, tendo Zac Efron como ator.
O segundo episódio, chamado de The Oner, é simplesmente sensacional (aliás, dos oito lançados até agora, somente o quinto, The War, é realmente ruim: pode até ser pulado). Matt e Sal vão ao set de um drama romântico dirigido por Sarah Polley e estrelado por Greta Lee — ambas encarnando a si mesmas. O chefe do estúdio quer assistir à complexa filmagem de um plano-sequência que envolve a movimentação da personagem de Lee pelo jardim e pelo interior de uma mansão com piscina.
E todo o episódio, que é cheio de deslocamentos e quiproquós, também foi feito em um único plano-sequência, sem cortes entre as cenas. Não será surpresa se ganhar prêmios de direção, roteiro (repare em como elementos introduzidos com aparente despretensão são retomados comicamente mais adiante), direção de fotografia e até de atriz convidada. Eu votaria em Sarah Polley, só pela piada fulminante que remete a sua carreira como cineasta e a seu ativismo político.
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