Cartaz do Corujão I da RBS TV neste sábado (7), O Virgem de 40 Anos (2005) é uma das três comédias do século 21 que me fizeram chorar de tanto rir no cinema (as outras duas são o primeiro Borat, de 2006, e o primeiro Se Beber, Não Case!, de 2009). Eu continuo chorando, porque ainda não posso mostrar nenhum desses filmes para as nossas filhas, a Helena, 11 anos, e a Aurora, sete. Sim, mesmo que com restrições (sem tortura, por exemplo), elas veem terror, mas admito: somos puritanos em relação a humor carregado de conteúdo sexual.
No entanto, O Virgem de 40 Anos (The 40-Year-Old Virgin), que vai ao ar às 2h25min, na virada do sábado para o domingo, é muito mais do que um besteirol apimentado, como o título pode sugerir aos incautos. Tanto é que apareceu na tradicional lista dos 10 melhores filmes do ano elaborada pelo respeitado American Film Institute. Era como um estranho no ninho em uma temporada célebre por assuntos sérios — o terrorismo (Munique), a indústria do petróleo (Syriana), o racismo (um dos temas centrais de Crash), o preconceito sexual (O Segredo de Brokeback Mountain), a perseguição política (Boa Noite e Boa Sorte).
Claro que há humor rasteiro, porém, o filme dirigido por Judd Apatow e coescrito pelo ator Steve Carell tem uma sensibilidade incomum, no filão, para com seu protagonista. Ele é interpretado pelo próprio Carell, que até então era conhecido por papéis secundários no programa de TV Saturday Night Live e em filmes como O Âncora (2004) — e que a partir de 2005, com o sucesso de O Virgem de 40 Anos e a estreia da versão americana do seriado The Office, na pele do impagável chefe sem-noção Michael Scott, se tornaria um dos reis da comédia nos Estados Unidos. Com US$ 177,3 milhões arrecadados nas bilheterias, a comédia também deu impulso às carreiras dos atores Seth Rogen (que repetiria a parceria com Apatow em Ligeiramente Grávidos, de 2007, e Tá Rindo do Quê?, de 2009) e Elizabeth Banks (a Avery Jessup da série 30 Rock e a Effie Trinket da franquia cinematográfica Jogos Vorazes).
Tema sempre recorrente nas comédias adolescentes americanas, a primeira transa ganha uma abordagem diferente. Se pelo olhar juvenil é motivo de afobação, para um adulto de 40 anos é motivo de resignação.
O personagem de Carell é o introvertido Andy Stitzer, dono de uma enorme coleção de bonecos de super-heróis e empregado do estoque de uma loja de eletrônicos, onde pode se manter longe do contato com as pessoas. Como passou o tempo, Andy explica, a virgindade não o incomoda mais, embora ainda sonhe com um relacionamento — seu alvo é uma mãe solteira (Catherine Keener) que trabalha na loja em frente.
Quando os colegas descobrem o segredo de Andy, tomam como missão ajudá-lo a fazer sexo. E aí seremos brindados com piadas que podem corar os mais pudicos, o diálogo "Sabe como eu sei que você é gay?" (com Seth Rogen e Paul Rudd, o Homem-Formiga do universo cinematográfico da Marvel), uma ressignificação do hit oitentista Hello, de Lionel Richie, e uma das cenas mais antológicas das comédias contemporâneas — aquela da depilação. Tente não chorar.