Talvez você nem tenha reparado, enquanto outros lamentam a cada adiamento de data: este será um ano com muito menos super-heróis do que as temporadas anteriores. O coronavírus já empurrou para 2021, por exemplo, a estreia de Os Eternos, da Marvel, e o segundo filme do Venom, da Sony. A aventura solo da Viúva Negra, que chegaria aos cinemas em 26 de abril, agora está marcada para 29 de outubro. Mulher Maravilha 1984, previsto inicialmente para 5 de junho, já sofreu dois reagendamentos: primeiro para agosto, depois, para outubro.
Bem, enquanto os heróis não voltam à ativa, os fãs podem matar a saudade revendo filmes ou descobrindo títulos estrelados pelos atores por trás dos personagens. E aqui está a proposta de hoje: mostrar o que eles e elas fazem quando não estão vestindo o uniforme.
Fazer uma lista completa seria uma guerra infinita – não faria nem por ultimato (pegaram as referências, né?). Portanto, tomei como limite o universo cinematográfico mais consolidado e mais bem-sucedido, o da Marvel. Confira as dicas – acho que podem surpreender. Afinal, muita gente não deve estar acostumada a ver Capitão América, Hulk, Viúva Negra, Thor, Nick Fury e Loki em cenas de nudez, sexo, drogas e até crimes.
Tom Hiddleston (Loki)
O ator inglês protagoniza o estonteante – e, por vezes, nauseante – filme No Topo do Poder (2015), dirigido por Ben Wheatley, baseado no romance High-Rise (1975), de J.G. Ballard, e em cartaz na Netflix. Hiddleston faz, brilhantemente, o papel de um médico que, na Londres dos anos 1970, se muda para uma gigantesca torre de condomínio, projetada para ser um mundo isolado do exterior – tem escola e mercado, por exemplo. O prédio simboliza a estratificação social, tipo o presídio vertical de O Poço.
Entre os excêntricos vizinhos, estão o Arquiteto (Jeremy Irons), a mãe solteira Charlotte (Sienna Miller), com quem o médico vai se envolver, o documentarista Wilder (Luke Evans) e sua esposa (Elisabeth Moss). Quando o elevador quebra, o paraíso entra em decadência, até se transformar em um inferno. Prepare-se para o caos, para o sexo e para a violência, tudo filmado com uma estranha combinação de elegância, humor e crueza.
Mark Ruffalo (Hulk)
Antes de interpretar o Golias Esmeralda, o ator americano já havia consolidado seu nome em obras mais independentes. É o caso de Minhas Mães e meu Pai (2010), que venceu o Globo de Ouro de comédia – embora não seja impreciso classificá-lo como drama – e concorreu a quatro Oscar, incluindo o de melhor filme. O elenco é estelar neste título dirigido por Lisa Cholodenko e em cartaz no Amazon Prime Video. Annette Bening (indicada ao Oscar de melhor atriz) e Julianne Moore fazem o papel do casal de lésbicas Nic e Jules. Elas conceberam os dois filhos (Josh Hutcherson e Mia Wasikowska) por inseminação artificial. A curiosidade dos jovens em saber quem foi o doador do esperma para suas mães os faz encontrar o dono de restaurante Paul (Mark Ruffalo, que disputou a estatueta de ator coadjuvante). A entrada em cena dele vai desestabilizar a peculiar harmonia familiar.
Scarlett Johansson (Viúva Negra)
A coragem artística da atriz americana se equipara à coragem física de sua personagem na Marvel. Scarlett gosta de se desafiar, como na ficção científica Sob a Pele (2013), de Jonathan Glazer, disponível no Amazon Prime Video. Trata-se de uma ficção científica silenciosa, sem muitas explicações e com ritmo lento, conduzido por closes longos e estáticos no rosto da protagonista, que volta e meia aparece nua. Ela é uma alienígena, Laura, que percorre cidades da Escócia caçando homens para serem devorados. Como? Bem, assista ao filme.
Samuel L. Jackson (Nick Fury)
A fama chegou para o ator americano, hoje com 71 anos, quando ele tinha mais de 45: o pistoleiro que recita supostas passagens da Bíblia em Pulp Fiction (1994), de Quentin Tarantino, lhe valeu uma indicação ao Oscar de coadjuvante. Mas um pouco antes, Jackson já havia roubado a cena. Tanto que foi premiado no Festival de Cannes por seu desempenho em Febre da Selva (1991), de Spike Lee. O filme é sobre as tensões raciais decorrentes do romance extraconjugal entre um arquiteto negro bem-sucedido (Wesley Snipes) e sua secretária (Annabella Sciorra), branca e de origem italiana. Jackson interpreta Gator Purify, o filho viciado em drogas de um pastor. Os dois personagens estrelam um dos momentos mais devastadores da trama – que, infelizmente, é rara de encontrar. Procure o DVD com algum amigo.
Chris Hemsworth (Thor)
Que o ator australiano tem veia cômica, isso Thor: Ragnarok (2017) e sua versão O Grande Lebowski do Deus do Trovão, em Vingadores: Ultimato (2019), já haviam nos mostrado. O que me surpreendeu foi o desprendimento – literalmente – dele em Férias Frustradas (2015), que revisita a cinessérie cômica dos anos 1980 e está no catálogo da Netflix. O protagonista do filme, na verdade, é Ed Helms (o Andy Bernard de The Office e o dr. Stu Price de Se Beber, Não Case!), no papel de Rusty Griswold, que decide levar sua esposa, Debbie (Christina Applegate), e seus dois filhos ao Walley World, um famoso parque de diversões. Mas, claro, tudo dá errado. Um dos responsáveis é o personagem de Hemsworth, Stone Crandall, um garanhão casado com a irmã de Rusty e bastante despudorado – digamos que, nesta comédia, encontramos outro sentido para o martelo de Thor!
Chris Evans (Capitão América)
Se nos filmes da Marvel ele construiu a imagem do herói nobre, idealista, certinho, em Entre Facas e Segredos (2019) o ator americano não é nada santo. Escrita e dirigida por Rian Johnson (que concorreu ao Oscar de melhor roteiro original) e disponível no Amazon Prime Video, esta comédia policial tem como ponto de partida a descoberta do corpo de Harlan Thrombey (Christopher Plummer), um famoso e milionário escritor. Tudo aponta para suicídio, mas o detetive particular Benoit Blanc (Daniel Craig, o 007) logo percebe que todos na mansão tinham motivos para querer Harlan morto: a filha, Linda (Jamie Lee Curtis), e seu marido, Richard (Don Johnson), o filho, Walter (Michael Shannon), o neto playboy, Ransom (Chris Evans), a nora que ficou pela mansão após a morte do marido, Joni (Toni Collette), e até sua enfermeira particular, Marta (Ana de Armas). Escrevi mais sobre o filme nesta coluna.