Uma prisão invisível, no formato de um domo, surge ao redor de uma pequena cidade dos Estados Unidos, isolando a população local do resto do mundo. Essa é a premissa de Under the Dome, série exibida originalmente entre 2013 e 2015, mas inspirada no livro de Stephen King de 2009, que ecoa curiosamente a realidade mais de uma década após sua criação.
Nas três temporadas, que chegaram nesta terça-feira (19) ao Globoplay, os personagens passam por diferentes fases dentro do isolamento. Da interrupção repentina de seu cotidiano à incerteza sobre o que está acontecendo e o que vem pela frente, os sentimentos não estão muito longe do que a humanidade enfrenta em meio à pandemia de coronavírus.
No início, há negação: personagens se chocam diretamente contra a misteriosa redoma e até perdem a vida em suas tentativas de sair do confinamento. Há aqueles que procuram organizar a comunidade para encontrar formas racionais de solucionar a situação, enquanto outros aumentam as tensões do espaço disputando os recursos cada vez mais esparsos à medida que o isolamento se estende ou criam teorias infundadas sobre a origem do domo.
Mas mesmo com tantas similaridades, a produção de Brian K. Vaughan conta com elementos de fantasia e mistério que afastam a trama o suficiente dos dias atuais para ela não ser incômoda, passando por civilizações alienígenas, romances e outros dramas paralelos à questão principal.
Em abril, o próprio Stephen King reconheceu que, para parte do público, suas histórias podem não ser são a opção mais agradável para 2020:
— Eu escuto as pessoas dizendo: "Nossa, é como se estivéssemos vivendo uma história de Stephen King" — disse ele em entrevista à National Public Radio. — E minha única resposta a isso é "desculpe-me".
Em suas redes sociais, o escritor ainda pediu para as pessoas manterem a calma, quando começaram a surgir comparações entre a crise da covid-19 e seu romance pós-apocalíptico A Dança da Morte, que retrata uma peste nos anos 1980. King ressaltou que a realidade não é tão assustadora quanto os produtos de sua imaginação.
Ainda assim, este pode ser exatamente o motivo para assistir a uma série como Under the Dome na atual conjuntura. Como escreve a professora de filosofia da Universidade de Chicago Agnes Callard, em um artigo no New York Times, a ficção não precisa ser necessariamente escapista.
"Por que estamos lendo ficção apocalíptica? Porque estamos assistindo filmes apocalípticos?", questiona. "Porque nós não queremos escapar. Nós queremos estar aqui, agora. Mesmo que doa".