As pessoas que associam super-heróis ao público infantil vão ficar chocadas com Deadpool (2016), cartaz da Tela Quente desta segunda-feira (15), na RBS TV. Além de o protagonista se regozijar nos momentos de violência extremamente gráfica — e que incluem matar os inimigos, ao contrário do código moral que costuma pautar o gênero —, há um festival de piadas pesadas sobre sexo e sangue. Não à toa, o filme estrelado pelo canadense Ryan Reynolds e pela brasileira Morena Baccarin será exibido bem tarde, às 23h50min.
Deadpool é um fenômeno de audiência, tanto nos quadrinhos quanto no cinema. Nasceu nos gibis da Marvel em 1991, pelas mãos do roteirista Fabian Nicieza e do desenhista Rob Liefeld. Era um vilão dos Novos Mutantes, um dos grupos derivados dos X-Men, e já trazia na sua origem o tom de paródia. Nitidamente inspirado no personagem da DC Exterminador — ambos são exímios espadachins —, tinha inclusive um nome "civil" parecido: Wade Wilson no seu caso, Slade Wilson no do arqui-inimigo dos Jovens Titãs.
O mercenário assassino com poderes regenerativos ganhou força a partir de 1998, quando Joe Kelly (texto) e Ed McGuinness (arte) passaram a produzir histórias cheias de humor nonsense, referências satíricas à cultura pop e quebras da quarta parede (aquela hora em que o personagem fala diretamente com o público). No Brasil, chegou a estrelar três revistas mensais simultâneas, rivalizando com gigantes como Batman e Homem-Aranha: Deadpool Clássico (março de 2016 a julho de 2019), Deadpool (novembro de 2016 a fevereiro de 2019) e Deadpool Extra (janeiro de 2017 a agosto de 2018), todas editadas pela Panini.
Essa overdose de quadrinhos estava, claro, ligada ao sucesso dos filmes. Dirigido por Tim Miller, o Deadpool da Tela Quente arrecadou US$ 782,6 milhões ao redor do mundo, tornando-se, à época, a maior bilheteria de uma obra com classificação indicativa R-rated da Motion Pictures Association of America (MPAA) — nos Estados Unidos, menores de 17 anos só poderiam ir ao cinema acompanhados pelos pais ou responsáveis. No Brasil, o Ministério da Justiça estabeleceu a classificação 16 anos. A primeira posição no ranking foi tomada justamente por Deadpool 2 (2018), de David Leitch, com US$ 785 milhões. O atual líder é Coringa, de 2019, com quase US$ 1,1 bilhão. Será que o futuro Deadpool 3, que fará parte do Universo Cinematográfico Marvel (depois que a Disney adquiriu franquias da Fox), vai bater esse recorde?
Apesar das restrições, Deadpool também conquistou a garotada — aliás, impulsivo e tagarela, ele não deixa de ser uma criança em corpo de adulto. Se a pandemia não tivesse barrado os bailes de Carnaval, certamente veríamos moleques com a fantasia do personagem. Muitos deles podem ter visto Era uma Vez um Deadpool (2018), uma versão de Deadpool 2 sem palavrões e com menos violência, para ampliar a faixa etária do público. Os cortes no longa são comentados pelo próprio anti-herói, que sequestra o ator Fred Savage, conhecido pela série Anos Incríveis (1988-1993), e o obriga a ser ouvinte de sua história.
Com tino para a comédia, Ryan Reynolds é o principal "culpado" pelo sucesso de Deadpool. O carismático ator já tinha alguma experiência nos filmes de super-herói. Vivera o próprio Wade Wilson, mas ainda como vilão, em Wolverine (2009) e protagonizara Lanterna Verde (2011), um fiasco de crítica e de recepção junto aos fãs que acabou rendendo uma das mais geniais cenas pós-créditos da história, em Deadpool 2.
Reynolds entrou no clima de zombaria e de escracho do personagem, o que é fundamental para o espectador curtir Deadpool. No filme, o ex-militar Wade Wilson descobre que tem câncer. Motivado pela ideia de se curar para voltar à mulher que ama, Vanessa (Morena Baccarin, do recente Destruição Final: O Último Refúgio), aceita participar de um programa de criação de supersoldados.
O tratamento funciona contra o tumor, mas Wilson fica com o rosto deformado — "como se um abacate fizesse sexo com outro abacate mais velho", define seu amigo Weasel (T.J. Miller). Frustrado, o protagonista decide se vingar do chefe do programa, Ajax (Ed Skrein), vira um vigilante mascarado e, com medo da rejeição de Vanessa, finge estar morto e vai morar com uma idosa cega chamada Al (Leslie Uggams). É uma coadjuvante que injeta na trama mais doses de humor, assim como ocorre com as participações de dois integrantes dos X-Men, Colossus (o sérvio Stefan Kapicic) e sua aprendiz Míssil Adolescente Megassônico (Brianna Hildebrand).