Talvez o único senão em Divertida Mente (2015), que será exibido na Temperatura Máxima deste domingo (11), às 12h30min, na RBS TV, seja quanto ao título brasileiro. Trocadilhos são bem-vindos, mas este promete um filme mais humorístico e descompromissado do que realmente é. Afinal, trata-se de uma obra da Pixar, célebre por abordar, no meio de aventuras cheias de cor e de riso, temas como perda e luto, obsolescência e exclusão, a longa construção da memória e o processo por vezes doloroso de reatamento dos laços afetivos.
Assim escreveu a psicanalista Ana Laura Giongo em Zero Hora à época da estreia do 15º longa-metragem de animação do estúdio estadunidense: "Divertida Mente tem por título original Inside Out. Se fosse assim traduzido, teríamos uma pista mais precisa do que vamos assistir: uma visão de 'dentro para fora', ou 'ao avesso', do que se passa na mente. É uma animação infantil por ser dirigida aos pequenos, mas que, com seu argumento consistente — baseado em conceitos das neurociências e da psicanálise —, também toca profundamente os adultos, que podem se remeter à experiência 'infantil' que deu forma a suas vidas".
Divertida Mente foi mais um sucesso de público, de crítica e de prêmios da Pixar. Arrecadou US$ 858,8 milhões — entre as obras do estúdio, ocupa o sexto lugar de um ranking encabeçado por Os Incríveis 2 (2018), com US$ 1,2 bilhão. Tem 98% de avaliações positivas no Rotten Tomatoes. Ganhou o Oscar de melhor longa de animação (concorreu também na categoria de roteiro original), o Bafta (da Academia Britânica), o Globo de Ouro e o troféu da Associação dos Produtores dos EUA.
O filme é dirigido por Pete Docter, o mesmo de Monstros S.A. (2001), Up: Altas Aventuras (2009) e Soul (2020) — este, coassinado por Kemp Powers. Como roteirista, Docter também esteve envolvido no nascimento da tetralogia Toy Story (1995-2019) e na criação de Wall-E (2008).
O principal cenário é a mente de uma menina de 11 anos, Riley, abalada pela mudança da família (ela e os pais) do frio Estado de Minnesota para a ensolarada Califórnia. Dentro de sua cabeça, veremos o embate entre seus diferentes estados de espírito, batizados, na versão brasileira, de Alegria, Tristeza, Medo, Raiva e Nojinho. A Alegria tenta manter as rédeas, só que a distância das amigas e de passatempos como o hóquei no gelo falam alto, permitindo que o Medo e a Tristeza se sobreponham.
Esses personagens nos levam a viagens pelas memórias e pelos sonhos de Riley. Deparamos até com o amigo imaginário da guria, agora jogado no limbo. A jornada é colorida e, claro, cômica por muitas vezes. Mas também há paradas atemorizantes ou melancólicas.
De volta ao texto da psicanalista Ana Laura Giongo: "Divertida Mente coloca em cena o trabalho de inscrição das memórias que vêm a constituir nossa estrutura psíquica. A Alegria tenta garantir um destino que exclua as memórias tristes e acaba por produzir uma confusão de sentimentos. A relação entre Alegria e Tristeza retrata a forma como nossa cultura lida com a tristeza: ela tem de ficar 'presa', é inútil e incômoda. Assim, uma das riquezas do filme é dar à tristeza um lugar de valor: um sentimento necessário, que permite refletir e dar sentido à experiência vivida".