Se você é fã de séries e só pode assinar um serviço de streaming, eu sempre recomendo a HBO Max. Afinal, costumeiramente a plataforma é a recordista de vitórias no Emmy, a mais importante premiação dos Estados Unidos. Foi assim em 2022, quando somou 38 troféus, contra os 26 da Netflix. Também foi assim em 2020: 30 a 21. E em 2019: 34 a 27. E em 2017: 29 a 20. Em 2018, deu empate (23 a 23), e em 2021, pela primeira vez em 17 anos, a HBO perdeu o trono — ganhou 19, enquanto a rival conquistou 44.
Por falar em trono, está na HBO Max a série dramática com mais Emmys: Game of Thrones, que faturou 59 ao longo de suas oito temporadas. Também dá para ver o seriado médico mais vitorioso, com 23 (embora a maioria tenha sido nas categorias técnicas); ER, o Plantão Médico. No ranking dos grandes campeões, a plataforma conta ainda com os dramas sobre mafiosos Família Soprano (21) e Boardwalk Empire (20) e a comédia Veep (17).
Por falar em comédia, na lista abaixo certamente vai faltar alguma série premiada, badalada ou de que você gostou muito. Tem uma que eu esqueci de propósito: Friends (1994-2004). Tentei rever recentemente e acho que envelheceu mal. Já Westworld (2016-2022) foi retirada do catálogo, após seu cancelamento, para reduzir custos com pagamentos de direitos autorais e de imagem ao elenco e à equipe dessa ficção científica.
As melhores séries da HBO Max
A lista abaixo conta com, na verdade, 51 séries (tem duas que agrupei no mesmo tópico, por suas semelhanças). Vale informar que alguns dos seriados citados não são produções da HBO, mas estão disponíveis nas plataformas. Clique nos links se quiser saber mais.
The Affair (2014-2019)
Noah (Dominic West) é casado e tem quatro filhos com Helen (Maura Tierney). Ele começa um caso com Alison (Ruth Wilson), que acabou de perder um bebê e está em crise com seu marido, Cole (Joshua Jackson). Na primeira temporada, os episódios são divididos entre a versão de Noah e a de Alison para o caso. Na segunda, entram os pontos de vista dos traídos. Um dos fãs de The Affair é o cineasta Carlos Gerbase, que escreveu o seguinte em sua coluna em GZH: "Desde que comecei a acompanhar a história do casal Noah e Helen Solloway, fiquei encantado com a complexidade da narrativa, que muda de acordo com o ponto de vista da personagem que a está contando. Em vários momentos, não há certeza sobre o que de fato aconteceu. Os criadores da série, Sarah Treem e Hagai Levi, conseguiram a proeza de traduzir em ficção audiovisual um dos principais dramas da vida contemporânea: a derrota das certezas". (5 temporadas, 53 episódios)
A Amiga Genial (2018-2023)
Mais de 10 milhões de leitores já foram seduzidos pelos romances da escritora italiana Elena Ferrante sobre a relação complexa de duas meninas, mais tarde transformadas em mulheres, que se conhecem em Nápoles na década de 1950. Na adaptação conduzida por Saverio Costanzo, filmada na Itália e com diálogos no dialeto napolitano, Elena e Lila são interpretadas, respectivamente, por Margherita Mazzucco e Gaia Girace. Alba Rohrwacher é a narradora. (3 temporadas, 24 episódios até agora — a quarta e última estreia neste ano)
Band of Brothers (2001)
A minissérie se baseia no livro homônimo de Stephen E. Ambrose e tem entre os produtores Steven Spielberg e Tom Hanks (que dirigiu o quinto capítulo). É uma dramatização da história da Companhia Easy, desde o seu treinamento nos Estados Unidos para a invasão da Normandia até a capitulação da Alemanha na Segunda Guerra Mundial. Vencedora de seis Emmys, Band of Brothers encontra o equilíbrio entre a grande História e as pequenas vidas de um grupo de soldados. O herói é o tenente Winters (personagem de Damian Lewis), que enfrenta o horror e faz o que é preciso fazer sem perder a sua noção do que seja humano ou correto. (10 episódios)
Barry (2018)
O personagem do título é um solitário ex-fuzileiro naval que trabalha como um assassino de aluguel. Quando vai até Los Angeles a fim de matar uma pessoa específica, ele passa a ter aulas de teatro e decide mudar de carreira. Pelo papel em Barry, Bill Hader (cocriador com Alec Berg) ganhou duas vezes o Emmy de melhor ator em comédia. (4 temporadas — a última estreia em 16 de abril —, 32 episódios no total)
Batman: A Série Animada (1992-1995)
Desenvolvida por Bruce Timm, Paul Dini, Eric Radomski e Tom Ruegger, é considerada uma das melhores adaptações do Homem-Morcego. Com uma estética influenciada pelos batfilmes de Tim Burton e pelos desenhos animados do Superman produzidos pelo Fleischer Studios nos anos 1940, o seriado conseguiu atrair o público adulto. Há vários episódios que podem ser considerados clássicos. Louco Amor apresentou a história da Arlequina, que veio ao mundo em Batman: A Série Animada. Em Um Sonho por Acaso, Bruce Wayne tem a vida aparentemente perfeita: seus pais estão vivos, ele é presidente da empresa de sua família e noivo de Selina Kyle. Mas quais são as consequências de ele não ser o Cavaleiro das Trevas? Por falar nisso, Eu Sou a Noite flagra o personagem em um momento de crise: no aniversário da morte de seus pais, ele reflete sobre o caminho que decidiu seguir e questiona se fez as escolhas certas. (4 temporadas, 85 episódios)
The Big Bang Theory (2007-2019)
A comédia criada por Chuck Lorre e Bill Prady fez um tremendo sucesso de público e ganhou um total de 10 Emmys, sendo quatro para Jim Parsons, como melhor ator no papel de Sheldon Cooper (personagem que acabou gerando um spinoff, O Jovem Sheldon). Sheldon divide o apartamento com Leonard Hofstadter (Johnny Galecki), seu colega no Instituto de Tecnologia da Califórnia. Ambos são nerds de carteirinha, como o engenheiro aeroespacial Howard Wolowitz (Simon Helberg, que merecidamente ganhou um prêmio Critics' Choice de coadjuvante) e o astrofísico Rajesh Koothrappali (Kunal Nayyar), e convivem com a vizinha Penny (Kaley Cuoco), uma garçonete e aspirante a atriz incapaz de diferenciar Star Trek de Star Wars, mas que sabe muito mais da vida prática e da vida social do que a turma de amigos. (12 temporadas, 279 episódios)
Big Little Lies (2017-2019)
Vencedora de oito Emmys, incluindo melhor minissérie, direção (Jean-Marc Vallée), atriz (Nicole Kidman), ator coadjuvante (Alexander Skarsgard) e atriz coadjuvante (Laura Dern), é a adaptação de David E. Kelley para o livro homônimo de Liane Moriarty. A história parte de um assassinato durante a festa de uma escola primária de uma pequena cidade dos EUA para exibir uma trama de traumas, intrigas e disputas. O roteiro mescla depoimentos de testemunhas à polícia com recursos de flashback para contextualizar tudo o que aconteceu antes do crime, exposto já no episódio de estreia sem revelar as identidades nem da vítima, nem do assassino. O elenco inclui Reese Witherspoon, Zoë Kravitz e Shailene Woodley. Big Little Lies fez tanto sucesso, que acabou ganhando uma segunda temporada. (2 temporadas, 14 episódios)
Boardwalk Empire (2010-2014)
Criada por Terence Winter, um dos roteiristas de Família Soprano, e produzida pelo cineasta Martin Scorsese, que dirigiu o primeiro episódio, a série é ambientada nos anos 1920, tendo como principal cenário Atlantic City, cidade litorânea no Estado de New Jersey. Seu protagonista, Enoch "Nucky" Thompson, inspirado em uma figura real e magistralmente interpretado por Steve Buscemi, é um dublê de político e gângster. Está envolvido tanto na venda ilegal de uísque — eram os tempos da Lei Seca nos EUA — quanto na especulação imobiliária. Transita entre cadáveres, melindrosas, marginais, corruptos e personagens históricos como Al Capone (Stephen Graham), Arnold Rothstein (Michael Stuhlbarg) e Lucky Luciano (Vincent Piazza). Com 20 Emmys conquistados, Boardwalk Empire: O Império do Contrabando deixou como legado uma coleção de personagens e atuações memoráveis: o ex-soldado James Darmody (Michael Pitt), a jovem viúva Margaret (Kelly Macdonald), o agente do FBI Nelson Van Alden (Michael Shannon), a dançarina Gillian (Gretchen Mol), o pistoleiro desfigurado Harrow (Jack Huston), o criminoso líder da comunidade negra Chalky White (Michael Kenneth Williams) e o violento mafioso Gyp Rosetti (Bobby Cannavale, prêmio de melhor ator coadjuvante). (5 temporadas, 56 episódios)
Chernobyl (2019)
Criada por Craig Mazin, apresenta uma versão ficcional do pior acidente nuclear da história, o da usina de Chernobyl, ocorrido entre 25 e 26 de abril de 1986 perto da cidade de Pripyat, na Ucrânia. Ao reconstituir suas consequências imediatas e as primeiras ações tomadas pelo governo soviético, a obra ganhou assustadora atualidade durante a pandemia: cenas e falas parecem refletir o que vimos e ouvimos desde o surgimento do coronavírus. Chernobyl arrebatou 10 prêmios Emmy, incluindo melhor minissérie, e concorria a outros nove, entre eles ator (Jared Harris, no papel do renomado químico Valery Legasov), atriz coadjuvante (Emily Watson, como a fictícia cientista Ulana Khomyuk) e ator coadjuvante (Stellan Skarsgård, que interpretou Boris Shcherbina, vice-presidente do Conselho de Ministros da URSS de 1984 a 1989, designado para supervisionar a gestão da crise). O elenco multifacetado — que inclui Jessie Buckley como a esposa grávida de um bombeiro e Paul Ritter como o engenheiro que comandou o fatídico teste na usina — permite enxergarmos as dimensões científica, política e humana do desastre. (5 episódios)
A Cidade É Nossa (2022)
Não chega a ser uma continuação de The Wire, ou A Escuta (leia logo abaixo). Mas esta minissérie também foi criada pelo ex-repórter policial David Simon (aqui, na companhia do escritor George Pelecanos); também se passa em Baltimore, cidade no Estado de Maryland que é, estatisticamente, uma das mais violentas no mundo; e também retrata a atuação da polícia local. Enquanto alguns tentam fazer alguma coisa contra o narcotráfico e o crime organizado, mesmo sabendo que suas chances estão entre mínimas e nenhuma, outros apostam na truculência e/ou enveredam para a corrupção. Dirigida por Reinaldo Marcus Green, do filme King Richard (2021), A Cidade É Nossa tem uma estrutura narrativa que requer atenção, com vários núcleos de personagens e alternâncias não muito claras entre o passado e o presente. Mas a recompensa é alta para quem curte histórias sobre os meandros policiais. O elenco é uma atração à parte: Jon Bernthal interpreta o sujo sargento Wayne Jenkins, figura central no força-tarefa do combate às armas. Wunmi Mosaku é Nicole Steele, uma advogada designada pela Justiça federal para apurar casos de desrespeito aos direitos civis. Jamie Hector faz Sean Suiter, um detetive de Homicídios que acaba se envolvendo com Jenkins. Josh Charles encarna Daniel Hersl, sobre o qual pesam várias denúncias de maus-tratos. E Dagmara Dominczyk está no papel de Erika Jensen, uma agente do FBI que investiga as ações de Jenkins e companhia. (6 episódios)
Dexter (2006-2013)
Dexter Morgan (Michael C. Hall, cinco indicações ao Emmy) é um legista da polícia de Miami que tem vida dupla. De dia, atua na investigação de crimes, analisando de borrifos de sangue a cadáveres desfigurados. À noite, faz justiça com as próprias mãos, encarnando um serial killer que mata criminosos impunes, tanto por falta de provas quanto por fugirem das autoridades. Criado por James Manos Jr. a partir dos romances escritos por Jeff Lindsay, o seriado tem coadjuvantes marcantes, como o assassino Trinity (John Lithgow), o promotor Miguel Prado (Jimmy Smits) e o falecido pai de Dexter, Harry (James Remar), que aparece em flashbacks ou operando como a consciência do filho, a quem distribui pílulas de sabedoria: "Nunca subestime a capacidade das pessoas de o decepcionarem". Falando nisso, para compensar o decepcionante final da série original, em 2021 o Paramount+ lançou Dexter: New Blood, com 10 episódios. (8 temporadas, 96 episódios)
A Escada (2022)
Dirigida pelo nova-iorquino Antonio Campos, filho do jornalista brasileiro Lucas Mendes e realizador do filme O Diabo de Cada Dia (2020), A Escada (The Staircase no original) é a versão ficcional de um rumoroso caso policial dos Estados Unidos. No dia 9 de dezembro de 2001, o escritor Michael Peterson (interpretado por Colin Firth) liga para a emergência. Sua esposa, Kathleen (papel de Toni Collette), está morrendo, deitada sobre uma poça de sangue aos pés da escada da mansão do casal na Carolina do Norte. Foi um acidente, segundo o marido, que terá de contratar um advogado caríssimo, David Rudolf (Michael Stuhlbarg), já que os promotores Jim Hardin (Cullen Moss) e Freda Black (Parker Posey) estão dispostos a provar que foi um assassinato. A família se divide: os filhos de Michael acreditam (ou fingem para si mesmos que acreditam) na inocência do pai, a filha de Kathleen se junta às tias no lado da acusação. (8 episódios)
A Escuta (2002-2008)
Com o título original de The Wire, a série criada por David Simon foi recentemente eleita a melhor série do século 21 segundo 206 críticos, acadêmicos e profissionais de TV ouvidos pela BBC. Ambientada em uma das cidades estatisticamente mais violentas do mundo (Baltimore, no Estado de Maryland, nos EUA), aborda o narcotráfico e sua relação com instituições locais: a polícia, a Justiça, os políticos, a imprensa, as escolas e o sistema portuário. Os policiais tentam fazer alguma coisa contra o crime organizado, sabendo, desde o começo, que as chances estão entre mínimas e nenhuma. Entre os personagens marcantes, estão o detetive Jimmy McNulty (Dominic West), um investigador hábil mas dado a atos de insubordinação e cheio de problemas pessoais, e Omar Little (Michael Kenneth Williams), que é gay, não leva desaforo para casa e vive de roubar traficantes para vender os seus produtos. (5 temporadas, 60 episódios)
Estação Onze (Station Eleven, 2021-2022)
Esta eu tentei ver, não embarquei, mas entra na lista porque foi adorada por muitos críticos e concorreu a sete Emmys, incluindo melhor direção, roteiro e ator (Himesh Patel). Patrick Somerville adaptou o romance homônimo da canadense Emily St. John Mandel em que os sobreviventes de uma gripe devastadora tentam reconstruir e reimaginar o mundo. A trama tem idas e vindas no tempo e se concentra bastante no cotidiano de uma companhia itinerante de teatro. Com Mackenzie Davis e Matilda Lawler. (10 episódios)
Euphoria (2019-)
Baseada em uma minissérie israelense homônima, foi desenvolvida por Sam Levinson e retrata as experiências pessoais de um grupo de alunos do Ensino Médio em relação a drogas, amizades, traumas, sexo, gênero, bullying, aceitação e inseguranças. A personagem principal é Rue Bennett (Zendaya), uma garota de 17 anos que, depois de uma overdose de oxicodona, está tentando ficar sóbria. Ela vira amiga de Jules (Hunter Schafer), uma menina trans recém-chegada na cidade que, em segredo, transa com homens mais velhos. Em paralelo, acompanhamos tipos como Nate Jacobs (Jacob Elordi), o garoto popular da escola, mas também um rapaz violento, com problemas com seu pai e com a própria sexualidade; a líder de torcida Maddy Perez (Alexa Demie); Cassie Howard (Sydney Sweeney), que teve uma fita de sexo vazada; e Kat Hernandez (Barbie Ferreira), que está acima do peso. Euphoria tornou-se um fenômeno desde o início, por apresentar adolescentes em cenas de nudez, sexo e uso de drogas, e também vem conquistando Emmys — Zendaya já levou duas vezes o troféu de atriz em drama, e Colman Domingo foi o melhor ator convidado na última premiação. (2 temporadas e 18 episódios até agora — a terceira será gravada neste ano)
Família Soprano (1999-2007)
Foram 112 indicações ao Emmy e 21 troféus conquistados, incluindo dois de melhor seriado dramático (2004 e 2007), três de melhor ator (James Gandolfini, em 2000, 2001 e 2003) e três de melhor atriz (Edie Falco, em 1999, 2001 e 2003). Pelo Sindicato dos Roteiristas dos Estados Unidos, foi eleita a série mais bem escrita de todos os tempos, à frente de clássicos como Além da Imaginação e Seinfeld. Criada por David Chase, Família Soprano desglamorizou a figura dos mafiosos, tornando-os muito mais humanos e medíocres. Sua sequência de abertura já indicava um rumo diferente: deixamos a costumeira Nova York e pegamos a ponte para New Jersey. Lá, moravam Tony Soprano, sua esposa, Carmela, seus filhos, Meadow e A.J., e parentes que faziam jus à rima com serpente. Tony usava uma empresa de coleta de lixo como fachada para seus negócios sujos, geralmente fechados na boate brega Bada Bing. Grandalhão, seco e cruel quando necessário, Tony é ele próprio uma fachada: apenas para a psiquiatra, a Dra. Melfi (Lorraine Bracco), fala sobre suas crises de consciência e seus ataques de pânico. (6 temporadas, 86 episódios)
Game of Thrones (2011-2019)
Com base nos romances escritos por George R.R. Martin, David Benioff e D.B. Weiss desenvolveram uma saga que se passa em um mundo imaginário inspirado nas sociedades feudais da Europa medieval e dividido em sete reinos. Criaturas fantásticas, como dragões e os Caminhantes Brancos, habitam Westeros, onde as estações do ano não são regulares — depois de um verão que durou nove anos, Game of Thrones começa com um ameaçador inverno à espreita. Nesse pano de fundo, transcorrem traições, batalhas e crimes que podem vitimar qualquer personagem, não importa o quão fundamental seja seu papel para a trama ganhadora de 59 Emmys.
O primeiro episódio é um cartão de visitas do que aguarda o espectador: tem decapitação, intrigas palacianas, casamento forçado, outra decapitação, tentativa de infanticídio e incesto. Nesse cenário, destacam-se pelo menos três famílias. Os Stark comandam Winterfell, no Norte, e serão arrastados para a tragédia e o sofrimento a partir da nomeação de Lorde Ned (Sean Bean) para Mão do Rei (uma espécie de primeiro-ministro) em Porto Real, a capital. Os Lannister são seus rivais: o poderoso Tywin (Charles Dance) e seus filhos, Cersei (Lena Headey), esposa do monarca, Jaime (Nikolaj Coster-Waldau), espadachim membro da Guarda Real, e o anão Tyrion (Peter Dinklage), rejeitado pelo pai, apegado a prostitutas e gênio da política. Do outro lado do mar, há Viserys (Harry Lloyd) e sua irmã Daenerys (Emilia Clarke), os últimos descendentes da dinastia Targaryen, que tramam uma volta a Westeros. (8 temporadas, 73 episódios)
House (2004-2012)
O doutor Gregory House é dependente de analgésicos, socialmente intratável e tem um gosto especial para humilhar seus pacientes e seus comandados — faz piadas preconceituosas com o médico negro Eric Foreman (Omar Eppis), acusa Cameron (Jennifer Morrison) de usar sua beleza e diz que Chase (Jesse Spencer) só está na equipe por ter pai rico. Mas House também é o tipo do médico que você gostaria de encontrar em um pronto-socorro se precisasse de um milagre. Criado por David Shore, o personagem valeu a Hugh Laurie seis indicações ao Emmy, seis ao prêmio do Sindicato dos Atores (duas vitórias) e seis ao Globo de Ouro (outras duas). Segundo Shore, House carrega algo de Sherlock Holmes na rapidez de raciocínio e na compulsão para resolver enigmas — em geral, os episódios tratam da investigação da equipe médica sobre uma doença misteriosa. Como o detetive da Scotland Yard, o médico tem um melhor amigo — ou talvez alguém que o aguente -, o oncologista encarnado por Robert Sean Leonard, Wilson (cujo nome lembra um pouco Watson, não?). E o protagonista é dado a imitar solos de bateria da banda The Who (em inglês, quem). (8 temporadas, 177 episódios)
House of the Dragon (2022-)
Mistura de dragões que cospem fogo com intrigas palacianas à la Shakespeare, A Casa do Dragão é um derivado de Game of Thrones — na verdade, baseia-se no livro Fogo e Sangue, escrito pelo estadunidense George R.R. Martin como um preâmbulo para sua saga ambientada, sobretudo, no fictício continente de Westeros. Os personagens principais são o rei Viserys Targaryen (Paddy Considine), seu irmão, o príncipe Daemon (Matt Smith), e sua filha, a princesa Rhaenyra (Milly Alcock na fase adolescente, Emma D'Arcy na fase adulta). Como em GoT, todo o sangue, todo o sexo e toda a intriga (atenção para o personagem de Rhys Ifans, Ser Otto Hightower, um mestre no xadrez político) giram em torno da sucessão no trono. House of the Dragon ganhou o Globo de Ouro de melhor série dramática. (1 temporada até agora, 10 episódios)
I May Destroy You (2020)
A atriz e roteirista inglesa de pais ganeses Michaela Coel transforma-se em Arabella nesta autoficção que, apesar de lidar com um assunto doloroso, encontra espaço para o humor, o afeto e a diversão. Escritora de um livro de sucesso, ela corre contra o prazo e contra uma crise criativa para entregar o segundo romance a uma grande editora de Londres. Para espairecer, resolve sair para a balada com uns amigos. No dia seguinte, já de volta ao trabalho, Arabella vê sua memória assaltada por imagens de um estupro praticado por um homem desconhecido. A partir daí, I May Destroy You mostra como a violência sexual pode paralisar o presente, alterar o futuro e ressignificar o passado das vítimas. (12 episódios)
A Inglesa (2022)
Faroeste revisionista escrito e dirigido por Hugo Blick, com um esplêndido trabalho de direção de fotografia, edição, design de produção e música. Indicada ao prêmio do Sindicato dos Atores dos EUA, Emily Blunt encarna a inglesa do título, Lady Cornelia Locke, que, em 1890, viaja aos Estados Unidos em busca de vingança contra o homem que ela vê como responsável pela morte de seu filho. Nas terras áridas, por circunstâncias terríveis, ela conhece Eli Whipp (Shaske Spencer), indígena pawnee e ex-batedor da Cavalaria, que está a caminho do Nebraska para reivindicar as terras que lhe são devidas por seu serviço no exército. (6 episódios)
Irma Vep (2022)
Para falar sobre a minissérie escrita e dirigida pelo francês Olivier Assayas e protagonizada pela sueca Alicia Vikander, passo novamente a palavra ao cineasta e colunista de GZH Carlos Gerbase: "Metalinguística, às vezes confusa, algo irregular, muitas vezes desconcertante, mas sempre no registro de obra de arte, Irma Vep é programa obrigatório para quem gosta de cinema e de televisão de qualidade. (...) Irma Vep, um anagrama de vampire, é a personagem principal da série cinematográfica em 10 episódios Les Vampires, dirigida por Louis Feuillade em 1916. Ela não é uma vampira, não suga o sangue de ninguém. Vivida pela célebre atriz Musidora, faz parte de uma gangue de ladrões, veste um macacão negro colado ao corpo, que só deixa seus olhos de fora, e, mesmo com sapatos de salto alto, é capaz de esgueirar-se com extrema elegância pelos telhados de Paris. Está longe de ser uma heroína. É a precursora das vamps, termo depois adotado por Hollywood para designar mulheres 'do mal' que, usando as armas da sedução, destroem a vida de homens 'de bem'". (8 episódios)
Os Jovens Titãs em Ação (2013-)
Se você tem um pezinho no mundo nerd (ou está atolado nele, como eu), esta série de animação faz uma ponte maravilhosa entre crianças e adultos. As primeiras vão se divertir com o visual (coloridíssimo), o ritmo (por vezes frenético) e o humor (escrachado) das aventuras vividas por uma equipe de super-heróis da DC Comics: Robin, Estelar, Cyborg, Ravena e Mutano. Aos mais velhos, também há o apelo das piadas nonsense e das inúmeras referências a outros personagens dos quadrinhos (as aparições do Batman são hilárias). Aqui em casa, a Helena adora o Cyborg, um debochado de mão (biônica) cheia, a Aurora ama o Mutano, porque pode se transformar em qualquer animal, até nos que não existem, e eu sou fã do Robin – sua chatice é comovedora. (8 temporadas até agora, 372 episódios)
Lakers: Hora de Vencer (2022-)
Inspirada no livro Showtime, do jornalista Jeff Pearlman, foi criada por Max Borenstein — um dos roteiristas dos filmes com Godzilla e coautor da série The Terror (2018-2019) — e Jim Hecht. Lakers: Hora de Vencer reconstrói a história do Los Angeles Lakers a partir de sua aquisição, em 1979, por Jerry Buss (interpretado por John C. Reilly), um excêntrico homem de negócios que quer transformar o basquete em um espetáculo tanto dentro como fora das quadras. O elenco de personagens inclui os jogadores Earvin "Magic" Johnson (encarnado por Quincy Isaiah), Kareem Abdul-Jabbar (Solomon Hughes) e Norm Nixon (DeVaughn Nixon, filho do ex-atleta) e os treinadores Jerry West (Jason Clarke) e Pat Riley (Adrien Brody). A primeira temporada começa pelo que parece ser o fim da jornada: a descoberta, em 1991, de que Magic Johnson era soropositivo, o que provocou o interrompimento de sua carreira, após cinco títulos conquistados em nove finais da NBA, a liga norte-americana de basquete. O primeiro episódio tem direção do cineasta Adam McKay (e o segundo, do ator Jonah Hill), que imprime seu estilo. Os atores quebram a quarta parede, falando diretamente com o público (apesar de já ser bem conhecido, o recurso ainda pode ser desconcertante e fascinante), textos se sobrepõem às imagens, e há aquela característica mistura de comédia ácida, drama e comentário sócio-político-econômico — na estreia, um tema forte foi o racismo (como visto também no documentário Briga na NBA, da Netflix). (1 temporada até agora, 10 episódios)
Landscapers (2021)
Como aponta a sequência de abertura de Landscapers, o roteirista Ed Sinclair e o diretor Will Sharpe vão enfatizar os aspectos fantasiosos — ou seriam delirantes? Ou seriam mentirosos? — da vida do casal Susan e Christopher Edwards (interpretados magistralmente por Olivia Colman e David Thewlis). Eles são protagonistas de um célebre e chocante caso policial da Inglaterra (o assassinato, em 1998, dos pais de Susan), são duas pessoas atrapalhadas e machucadas que compartilham o gosto por filmes antigos de Hollywood e astros do cinema como Gary Cooper e Gérard Depardieu, e que procuram construir um mundo no qual possam sobreviver. (4 episódios)
The Last of Us (2023-)
Aclamada pela crítica e pelos fãs do game em que se baseia, a série escrita por Craig Mazin e Neil Druckmann (criador do jogo) tem início em 2003, quando a população da Terra é praticamente dizimada por um fungo. Vinte anos depois, Joel (Pedro Pascal, também visto em Game of Thrones e protagonista de The Mandalorian), um sujeito que só se preocupa com a própria sobrevivência, recebe, a contragosto, a missão de levar uma adolescente, Ellie (Bella Ramsey), em uma travessia pelos Estados Unidos. De temperamento difícil, a garota pode representar a última esperança da humanidade. Embora a trama não fuja muito do que já se viu em muitos filmes e seriados pós-apocalípticos, há pelo menos um episódio de The Last of Us que já se tornou antológico: o terceiro, Long, Long Time, estrelado por Nick Offerman e Murray Bartlett. (1 temporada até agora, 9 episódios)
The Leftovers (2014-2017)
Esta eu nunca vi, mas alguns amigos meus são apaixonados. Criado por Damon Lindelof e Tom Perrotta (autor do livro em que a série se baseia), gira em torno dos habitantes da fictícia cidade de Mapleton, em Utah, três anos depois do fatídico dia 14 de outubro, quando 140 milhões de pessoas — 2% da população do mundo — sumiram sem deixar nenhum rastro. No elenco, estão Justin Theroux, Amy Brenneman, Liv Tyler e Christopher Eccleston. (3 temporadas, 28 episódios)
Mad Men (2007-2015)
Quatro vezes ganhadora do Emmy de melhor série dramática, a obra criada por Matthew Weiner tem início na Nova York de 1960, em meio à Era de Ouro da propaganda. O protagonista, o sedutor Don Draper (Jon Hamm), é um publicitário de sucesso na Madison Avenue, endereço das principais agências, que têm entre os clientes marcas famosas como Kodak, Hershey's, Jaguar e Hilton. Sua aparente boa vida esconde algum segredo do passado. O dia a dia no trabalho e na família de Draper — casado com a ex-modelo Betty (January Jones), mãe de seus três filhos — reflete os acontecimentos e as transformações sociais da época: a morte da atriz Marilyn Monroe, os assassinatos do presidente dos EUA John F. Kennedy e do ativista Martin Luther King Jr., a chegada do homem à Lua... No cenário machista de Mad Men, destacam-se personagens femininas, como Peggy Olson (Elisabeth Moss), que quer ser a primeira redatora da empresa, e a gerente Joan Holloway (Christina Hendricks), que tem um caso com um dos donos da agência, Roger Sterling (John Slattery), desde que era sua secretária. (7 temporadas, 92 episódios)
Mare of Easttown (2021)
Fascinada com o "quem foi" da minissérie criada por Brad Inglesby, Kate Winslet ressaltou que embarcou no projeto porque "não é só a história de um crime". De fato, o crime descoberto no primeiro capítulo é chocante e misterioso, mas serve sobretudo como catalisador dos dramas pessoais e familiares em cidadezinha dos EUA. A morte traz à tona relações e segredos guardados em vida, imagem reforçada pela ambientação numa estação fria, que obriga os personagens a se esconderem atrás de casacos, mantas e gorros. E — até o final — todos têm o que ocultar ou algo do que não gostam de falar. Praticamente perfeita, Mare of Easttown venceu os Emmys de atriz (Winslet, também premiada no Globo de Ouro, ator coadjuvante (Evan Peters), atriz coadjuvante (Julianne Nicholson) e design de produção. (7 episódios)
Mildred Pierce (2011)
O cineasta Todd Haynes (de Longe do Paraíso e Carol) assina esta nova e marcante adaptação do romance lançado em 1941 por James M. Cain que deu origem ao filme Alma em Suplício (1945). A história se passa durante a Grande Depressão nos EUA. Mildred (Kate Winslet, arrasadora como de hábito) é uma mulher jovem recém divorciada que abre seu próprio restaurante e se apaixona por outro homem, Monty Beragon (Guy Pearce), enquanto tenta ganhar o amor de sua filha mais velha, a mimada e narcisista Veda (Evan Rachel Wood). Conquistou cinco Emmys, incluindo melhor atriz e ator coadjuvante. (5 episódios)
The Newsroom (2012-2014)
Uma das marcas registradas das obras escritas por Aaron Sorkin são os diálogos absurdamente velozes, reflexo da própria personalidade do roteirista. A metralhadora verbal é uma das armas de The Newsroom, que retrata com muito realismo e paixão as delícias, as dores e os dilemas do jornalismo. A série acompanha o dia a dia de uma emissora de TV lidando com episódios reais do noticiário recente (como o caso WikiLeaks ou o atentado à maratona de Boston) e com as mudanças na profissão, como aquelas provocadas pela revolução digital. Jeff Daniels interpreta o âncora republicano, Will McAvoy. Emily Mortimer é a produtora MacKenzie McHale. Alison Pill encarna Maggie Jordan, que começa como estagiária. Dev Patel faz o papel do repórter Neal Sampat. Olivia Munn é Sloan Sabbith, a analista financeira do News Night, e Sam Waterston, Charlie Skinner, presidente da divisão de notícias da emissora comandada por Leona Lansing (Jane Fonda). (3 temporadas, 25 episódios)
The Night Of (2016)
Filho de imigrantes paquistaneses em Nova York, o jovem universitário Nasir Khan, o Naz (Riz Ahmed), pega "emprestado" do pai o táxi para ir a uma festa. No meio do caminho, em duas ocasiões pessoas tentam embarcar no carro como passageiro. Mais tarde, uma infração de trânsito, um objeto levado da cena de um crime e uma testemunha ocular vão tornar Naz o suspeito número 1. É esse o resumo do primeiro e fabuloso episódio da minissérie criada pelo escritor Richard Price e pelo cineasta Steven Zaillian. Trata-se de um retrato minucioso e muito humano das delegacias de polícia, do sistema judicial e dos presídios estadunidenses. À trama de suspense — a certa altura não saberemos se Naz é uma ovelha ou um lobo —, adiciona conotações culturais, políticas e sociais, refletindo o estado de ânimo nova-iorquino para com os muçulmanos pós-11 de Setembro e mostrando penitenciárias como fábricas de bandidos. Ahmed ganhou o Emmy de melhor ator, categoria em que também competia John Turturro, no papel do advogado de porta de cadeia John Stone. Bill Camp concorreu a coadjuvante na pele do detetive Dennis Box, assim como Michael Kenneth Williams, que faz o presidiário Freddy Knight. Todos trazem uma série de nuances a seus personagens, aumentando o envolvimento do espectador com uma história por si só cheia de matizes sobre o certo e o errado, o bom e o mau, a justiça e a lei, as percepções e as evidências. (8 episódios)
Nossa Bandeira É a Morte (2022-)
Faz uma abordagem do universo dos bucaneiros e dos corsários muito mais cômica (ainda que tenha momentos dramáticos e algum derramamento de sangue) do que aquela vista na franquia cinematográfica Piratas do Caribe (2003-2017). Os responsáveis por Nossa Bandeira É a Morte têm experiência em cruzar a comédia com outros gêneros. David Jenkins, o criador, é o mesmo do seriado People of Earth (2016-2017), sobre um grupo de apoio a pessoas que foram abduzidas por alienígenas. Taika Waititi, que dirige o piloto, é produtor executivo e interpreta o Barba Negra, traz no currículo O que Fazemos nas Sombras (2014), um falso documentário sobre o mundo dos vampiros, Thor: Ragnarok (2017), uma versão mais humorística do Deus do Trovão, e Jojo Rabbit (2019), que, sem esquecer dos horrores do nazismo, satiriza Hitler. A obra é inspirada em um personagem real, Stede Bonnet (vivido por Rhys Darby), um aristocrata de Barbados, no Caribe, que abandonou seus privilégios, sua esposa e seus filhos para viver uma vida de pirata. Sem traquejo para a truculência — ele se autointitula Pirata Cavalheiro e chega a ler histórias para seus subordinados dormirem —, Stede precisa provar sua capacidade para o cargo. Em pelo menos um episódio, o quinto, sua bagagem cultural fará toda a diferença. (1 temporada até agora, 10 episódios)
Objetos Cortantes (2018)
Baseada em livro de Gillian Flynn, a autora de Garota Exemplar, a minissérie Sharp Objects tem como protagonista a repórter policial Camille Preaker (Amy Adams), que volta à sua cidade natal para fazer a cobertura jornalística do assassinato de duas pré-adolescentes. Durante a investigação do caso, Camille, que acabou de sair de uma temporada numa clínica psiquiátrica, se identifica com as jovens vítimas e relembra fatos de seu passado para entender o quebra-cabeça psicológico que se apresenta à sua frente. Nesse processo, ela terá de confrontar seus traumas e o zelo exagerado da mãe, Adora (papel de Patricia Clarkson). A direção é do canadense Jean-Marc Vallée, o mesmo de Big Little Lies e dos filmes C.R.A.Z.Y. (2005) e Clube de Compras Dallas (2013), morto no final de 2021. (8 episódios)
The Office (2005-2013)
Desenvolvida por Greg Daniels com base no homônimo seriado britânico de Ricky Gervais e Stephen Merchant, a versão estadunidense de The Office deixou como legado um dos maiores personagens das comédias: Michael Scott, o chefe sem noção encarnado por Steve Carell (seis vezes indicado ao Emmy). No escritório da fábrica de papel Dunder Mifflin, Michael sintetiza vários problemas do mundo corporativo, mas, ao fazer isso, acaba por lembrar como somos imperfeitos. Não raro, nossa reação a suas atitudes passa da vergonha alheia à mais sincera ternura. Tanto melhor que ele está rodeado de outros tipos memoráveis, como o excêntrico Dwight (Rainn Wilson), o isentão Jim (John Krasinski), a insegura Pam (Jenna Fischer), a rígida Angela (Angela Kinsey), Stanley (Leslie David Baker), o rei da má vontade, e Toby (Paul Lieberstein), que, à frente do RH, é o alvo preferido do protagonista. (9 temporadas, 201 episódios)
Olive Kitteridge (2014)
Não apenas em sala de aula mas também no ambiente familiar, a professora Olive dá ordens e mantém um olhar amargurado, que afeta principalmente seu marido, um farmacêutico pacato, e o filho. Essa é a protagonista de Olive Kitteridge, adaptação de um romance homônimo de Elizabeth Sprout dirigida pela cineasta Lisa Cholodenko, de Minhas Mães e Meu Pai (2010). Foi um arraso no Emmy, levando oito prêmios: melhor minissérie, direção, atriz (Frances McDormand), ator (Richard Jenkins), ator coadjuvante (Bill Murray), roteiro (Jane Anderson), elenco e edição. (8 episódios)
Pacificador (2022-)
A série é um derivado do filme O Esquadrão Suicida (2021). Criada e dirigida por James Gunn, mostra o que levou o anti-herói interpretado por John Cena a se dedicar à paz mundial com tamanho afinco, que está disposto a tudo para defendê-la, incluindo matar quem estiver pela frente. Não morri de amores, mas meu colega e amigo Carlos Redel adorou: "Com a melhor abertura de uma série do ano — sério, é impossível pular —, Pacificador é uma obra ímpar, cheia de sarcasmo e cenas grotescas, mas ainda assim é puro coração". (1 temporada até agora, 8 episódios)
Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez (2022) / PCC: Pode Secreto (2022)
Séries documentais sobre crimes e produções brasileiras ainda são poucas na HBO Max. Aqui estão duas que combinam as duas coisas. Dirigida por Tatiana Issa e Guto Barra, Pacto Brutal foca na luta da mãe de Daniella Perez, a autora de novelas Gloria Perez, para levar à Justiça os assassinos da atriz, em um crime que chocou o Brasil no final de 1992. O documentário não dá voz aos responsáveis pelo homicídio, o ator Guilherme de Pádua, que fazia par romântico com Daniella na trama de De Corpo e Alma, e a então esposa dele, Paula Thomaz. PCC: Poder Secreto foi criada por Gustavo Mello a partir do livro Irmão: Uma História do PCC, de Gabriel Feltran e tem roteiro de Guilherme César e direção do cineasta Joel Zito Araújo. Ex-integrantes, familiares, agentes carcerários e autoridades policiais prestam depoimento sobre a facção criminosa Primeiro Comando da Capital, o PCC. A minissérie também explora as ramificações no mundo da música. (Pacto Brutal tem 5 episódios, e PCC, 4 episódios)
Plantão Médico (1994-2009)
Com ritmo trepidante, ER levou o público para dentro de um pronto-socorro, além de acompanhar os dramas pessoais dos médicos. Na série criada pelo escritor Michael Crichton, destacaram-se atores como Anthony Edwards (inicialmente o residente-chefe Mark Grene), George Clooney (o pediatra Doug Ross), Noah Wyle (que começa como o estudante John Carter), Sherry Stringfield (a doutora Susan Lewis), Eriq La Salle (o cirurgião Peter Benton) e Julianna Margulies (a enfermeira Carol Hathaway). (15 temporadas, 331 episódios)
Roma (2005-2007)
Coproduzida pela HBO, dos EUA, e pela BBC, do Reino Unido, filmada na Itália e com cada temporada orçada em US$ 100 milhões, mostra a história da formação do Império Romano pelos olhos de dois soldados, entre os anos 52 antes de Cristo e 30 a.C. O certinho e casado Lucius Vorenus (vivido por Kevin McKidd) e o brigão e mulherengo Titus Pullo (Ray Stevenson) são nossos guias nos conturbados últimos anos do governo de Júlio César (Ciarán Hinds). Os dois acabam conquistando a simpatia de César e se envolvem nas suas reuniões com Cleópatra (Lyndsey Marshal), Marco Antônio (James Purefoy), Brutus (o ótimo Tobias Menzies), Otaviano e outras figuras notórias daquele período.
Roma foi criada por Bruno Heller, John Milius e William J. MacDonald. Embora mantenha a mania hollywoodiana de imprimir sotaque britânico a papéis de época, evita uma série de lugares-comuns. Por exemplo: as ruas não são limpas e organizadas como se via no cinema de antigamente, mas fétidas e tumultuadas. E, ao contrário do que poderia imaginar o espectador de filmes como Calígula (1979) e Gladiador (2000), há bem menos violência e sexo — a força do seriado são suas intrigas políticas. Ao todo, ganhou sete prêmios Emmy — os principais foram os de direção de arte (nas duas temporadas) e fotografia (na segunda). (2 temporadas, 22 episódios)
Scenes from a Marriage (2021)
O diretor e roteirista israelense Hagai Levi encarou o desafio de modernizar a célebre série de televisão criada pelo cineasta sueco Ingmar Bergman. Na nova versão de Cenas de um Casamento (1973), Oscar Isaac e Jessica Chastain interpretam Jonathan e Mira, que estão juntos há 10 anos e têm uma filhinha. Ele é professor de filosofia e passa a maior parte do tempo em casa. Ela trabalha na área de tecnologia e responde pela maior parte do orçamento familiar. Como no original, Jonathan e Mira são procurados para dar uma entrevista na condição de um casal considerado exemplar. Mas logo nos primeiros minutos da conversa, começam a aparecer fissuras e ressentimentos. Não é à toa que cada um dos episódios mostra, no início, bastidores da produção: é como se o realizador quisesse reforçar o caráter de personagem assumido pelos integrantes de um relacionamento. (5 episódios)
A Sete Palmos (2001-2005)
Criada por Alan Ball, roteirista vencedor do Oscar por Beleza Americana, Six Feet Under (título original) acompanha o cotidiano dos Fisher, donos de uma casa funerária em Los Angeles. Após a morte do pai, os irmãos Nate (Peter Krause) e Dave (Michael C. Hall) assumiram o negócio e tentam tocá-lo em meio a pencas de problemas pessoais. Nate tem uma conturbada relação com a maluquinha Brenda (Rachel Griffiths), com quem vai e volta no decorrer da série, e é o único da emocionalmente instável família que não parece viver anestesiado pelo formol. Gay enrustido, Dave se esforça para sair do armário. Já a mãe deles, Ruth (Frances Conroy), e a irmã caçula, Claire (Lauren Ambrose), buscam um rumo em meio a surtos de depressão e euforia. Cada episódio começa com uma morte, trágica ou comicamente absurda, e o defunto que chega à funerária para ser preparado e seus familiares têm participação na trama. (5 temporadas, 63 episódios)
Succession (2018-)
Embora desprovida daquilo que conhecemos como cenas de ação, a série criada por Jesse Armstrong tem personagens que estão sempre andando na corda bamba e sempre esgrimindo com diálogos afiados. Não à toa, já ganhou três vezes o Emmy de melhor roteiro (no total, soma 13 troféus na premiação). Trata-se de um retrato impiedoso e sarcástico, mas com espaço para o afeto, da família de Logan Roy (Brian Cox), dono do quinto maior conglomerado de mídia e entretenimento — a Waystar Royco comanda jornais, canais de TV, sites, estúdios de cinema, cruzeiros, parques temáticos etc. Como o título indica, a sucessão na empresa deflagra os atritos, as mancadas e as puxadas de tapete neste "ninho de serpentes", a definição dada pelo tio Ewan. Estamos diante de uma fauna com traços shakespearianos — aliás, a peça Rei Lear é uma inspiração assumida. Há o empresário tirano, o primogênito que parece o bobo da corte por conta das asneiras ditas, o filho covarde que finge ser corajoso, o genro que procura ser querido por todos mas que sabe ser abusivo, o primo pobre que quer ascender, a filha que procurou trilhar outro caminho... Ao acompanhar a movimentação desses tipos, Succession consegue mexer com sentimentos conflitantes que podemos ter em relação aos super-ricos: raiva, inveja ou um certo alívio por não estarmos em seu lugar. (3 temporadas e 29 episódios até agora — a quarta estreia no dia 26 de março)
Time (2021)
É possível que o espectador brasileiro calejado pelo noticiário a respeito da violência, da precariedade, da corrupção e da desesperança nos presídios não se impressione com esta série britânica da BBC. Mas esse conhecimento não deve dessensibilizar o público perante os dramas vividos pelos personagens principais — interpretados por Sean Bean e Stephen Graham— e pelos coadjuvantes ao longo dos três episódios escritos por Jimmy McGovern e dirigidos por Lewis Arnold. Bean encarna um professor que atropelou e matou um homem, e agora precisa encarar um ambiente marcado pela privação e pela intimidação. Graham faz um guarda que enfrenta um drama pessoal que não cabe ser revelado aqui. Assista à série e se ponha no lugar dele: o que você faria? (3 episódios)
Top of the Lake (2013-2017)
A cineasta Jane Campion, de O Piano (1993) e Ataque dos Cães (2021), criou com Gerard Lee e dirigiu boa parte desta série policial ambientada em seu país, a Nova Zelândia, e estrelada por Elisabeth Moss (premiada com o Globo de Ouro). Ela vive a detetive Robin Griffin, que, por conta de tragédias pessoais, se transformou em uma pessoa pouco social, que tenta reverter os próprios problemas buscando justiça às vítimas de crimes cruéis. A primeira temporada mostra o desaparecimento de uma garota de 12 anos que está grávida e tem, entre os coadjuvantes, David Wenham (o chefe da delegacia, Al Parker), Peter Mullan (Matt Mitcham, o líder informal da cidade, temido pelo povo) e Holly Hunter (GJ, uma líder espiritual que chega a Laketop com um grupo de mulheres perturbadas). (2 temporadas, 13 episódios)
True Blood (2008-2014)
Outra criação de Alan Ball, que adaptou livros da escritora Charlaine Harris. A história se passa em uma pequena cidade da Louisiana, Bon Temps — o sotaque sulista é um dos charmes da série. Anna Paquin interpreta Sookie Stackhouse, garçonete que tem a habilidade de ouvir os pensamentos de outras pessoas. Sua vida é virada de cabeça para baixo quando conhece Bill Compton (Stephen Moyer), um galante vampiro que mora em uma estrada local. Aliás, nesse universo, os vampiros conseguiram deixar de serem monstros lendários para se tornarem cidadãos comuns, graças a cientistas japoneses, que inventaram um sangue sintético. (7 temporadas, 80 episódios)
True Detective (2014-2019/2023)
A série criada por Nic Pizzolatto estreou sem maior badalação e conquistou público e crítica com sua peculiar estrutura narrativa — que ferve em ritmo lento influências da literatura do gênero e do fantástico, como Robert W. Chambers, de O Rei de Amarelo, temas como pedofilia e bruxaria e referências à série Twin Peaks (1990-1991), do cineasta David Lynch —e, sobretudo, pelo desempenho de seus protagonistas: Matthew McConaughey e Woody Harrelson. Os dois atores vivem tipos recorrentes nas tramas policiais: dois tiras que são como água e azeite e combinam seus perfis antagônicos numa convivência em alta tensão descarregada sobre um objetivo comum. Respectivamente, interpretam o enigmático Rustin Cohle e o vulcânico Martin Hart, detetives que solucionaram um crime em 1995 e que estão, em 2012, dando explicações a dois investigadores da região de Nova Orleans. Algo saiu dos trilhos nestes 17 anos, arrastando as vidas de Cohle e Hart por caminhos tortos, e um serial killer está nas ruas indicando que o caso supostamente resolvido pela dupla pode ter ficado com muitas pontas soltas. Depois dessa primeira temporada, que venceu cinco categorias do Emmy, incluindo melhor direção (Cary Joji Fukunaga), houve mais duas, com histórias e elencos diferentes: Colin Farrell e Vince Vaughn na segunda, Mahershala Ali e Stephen Dorff na terceira. Em breve, estreia a quarta de True Detective, com Jodie Foster como protagonista. (3 temporadas até agora, 24 episódios)
Veep (2012-2019)
Para os fãs de Seinfeld (1989-1998), Julia Louis-Dreyfus será a eterna Elaine, papel que lhe valeu um Emmy de atriz coadjuvante. Mas foi na pele de Selina Meyer, a atrapalhada vice-presidente dos EUA, que ela alcançou a glória: foram seis triunfos na categoria de melhor atriz em comédia! Criado por Armando Iannucci e Simon Blackwell, Veep também ganhou três vezes o troféu de melhor série cômica e premiou duas vezes como ator coadjuvante Tony Hale, que faz o assessor da vice. (7 temporadas, 65 episódios)
Watchmen (2019)
Damon Lindelof pega elementos da clássica HQ de Alan Moore e Dave Gibbons (a chuva de lula, personagens como Ozymandias e Dr. Manhattan) e cria uma trama central totalmente nova e absolutamente atual. Os novos heróis, como a Sister Night (Regina King) e o Looking Glass (Tim Blake Nelson), lidam com a violência contra negros nos EUA. O inimigo é uma organização racista, a Sétima Kavalaria. Desde a abertura, que reencena o Massacre de Tulsa, em 1921, durante anos apagado da história oficial, Watchmen mostra como os traumas da escravidão passam de geração a geração. Foram 11 troféus no Emmy, incluindo melhor minissérie, atriz (Regina King), ator coadjuvante (Yahya Abdul-Mateen II) e trilha sonora (Trent Reznor e Atticus Ross). (9 episódios)
The White Lotus (2021-)
A série criada por Mike White consegue conjugar de modo brilhante comédia cáustica, dramas empáticos, mistério policial e crítica social — o alvo na primeira temporada, ambientada em um resort de luxo no Havaí, é o privilégio branco, a elite que jamais cede seu lugar ou estende a mão sem querer nada em troca. Na segunda temporada, que se passa na Sicília, agrega-se temas como casamento, sexo, competição masculina, traição e autoengano. The White Lotus já faturou 10 Emmys, incluindo melhor minissérie, direção, roteiro, ator coadjuvante (Murray Bartlett, o antológico gerente de hotel Armond) e atriz coadjuvante (Jennifer Coolidge, a rica sem-noção e carente Tanya). A partir da segunda leva de episódios, passará a competir nas categorias de série dramática, novamente com força: ganhou os troféus de melhor elenco e atriz coadjuvante (Coolidge) do Sindicato dos Atores dos EUA. (2 temporadas até agora, 13 episódios)