Mad Men não é grandiosa como Game of Thrones, não fez história como Breaking Bad e não é popular como The Walking Dead. Mas talvez não exista, nesta era de ouro da televisão norte-americana, série tão charmosa quanto a que narra a aventura do impostor Don Draper (Jon Hamm) pelo universo da publicidade ao longo dos anos 1960.
Mais do que isso, bem mais. Entre as produções que recriam o ambiente de séculos passados (Roma, The Tudors), as que voltam ao início do século 20 (Downton Abbey, Boardwalk Empire) e as séries históricas da contemporaneidade (The Americans, Masters of Sex), não é fácil vislumbrar algo mais eficiente na reconstrução de uma época.
Sexo, drogas e publicidade: conheça as referências de Mad Men
Mad Men começou em 2007, com episódios situados no princípio da década dos Beatles e de Yuri Gagarin. Nos anos seguintes, transformou escritórios da Madison Avenue, em Nova York, em um microcosmo representativo das mudanças comportamentais verificadas enquanto JFK era assassinado em Dallas e Che Guevara, na Bolívia, e o movimento pelos direitos civis se espalhava por todo o território dos EUA. Neste fim de semana, o canal americano AMC exibirá o primeiro dos sete últimos capítulos da série (no Brasil, a exibição será às 21h de segunda-feira, na HBO). É a parte 2 da sétima temporada, que retrata o ocaso daqueles anos revolucionários e que foi batizada pela rede AMC de O Fim de uma Era.
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Mad Men é citada no especial 21 Clássicos do Século 21
Qual será o fim de Don Draper? É o que ficou no ar ao final da sexta temporada e que mobiliza a atenção dos fãs desde o início da sétima, em 2014. A lembrar: aos poucos, e para poucos, o publicitário se abriu sobre sua real identidade (ele nasceu Dick Whitman e se apropriou do nome de um colega militar morto na Guerra da Coreia) e foi pagando a conta pelo abuso de bebida e pelo excesso de pretensão e confiança que quase o afastou definitivamente da agência da qual ele já foi a alma.
Don é a alma de Mad Men - chegou a ser apontado o homem mais influente do mundo, pela revista Ask Men, à frente de diversas personalidades reais. Trata-se de um dos grandes personagens de seu tempo, brilhantemente construído e, mais ainda, encarnado pelo galã de olhos claros e ternos bem cortados da foto abaixo. A série, todavia, não se restringe a ele. Com estrutura dramática folhetinesca, Mad Men apresenta um desfile de bons personagens e conflitos consistentes, embalados em uma aura de glamour que potencializa sua capacidade de impressionar. É uma dupla volta no tempo: a atmosfera de realidade inventada, quase utópica, faz parecer que estamos diante de uma produção da era de ouro de Hollywood.
A série criada por Matthew Weiner reconstrói o espírito de uma época com atenção a detalhes cotidianos, incluindo as mudanças das comunicações (da presença da TV na sala de casa à valorização das contas das companhias aéreas na agência) e a gradual consciência quanto aos malefícios do cigarro (não é óbvia a forma como o deslumbramento do início dá lugar ao debate sobre sua presença na propaganda). Parece banal? É a observação aguçada do que é ordinário que torna Mad Men extraordinária.
É claro que Don Draper não é alguém comum. O interesse pelo corriqueiro é coisa da dramaturgia contemporânea, esta que adora um flerte com o real. Quando se bebia champanhe em taça coupe, idealizar era regra. Era sonhando que a realidade ficava mais próxima.
Mad Men
7ª temporada - Parte 2.
Nos EUA, o episódio de abertura vai ao ar no domingo. No Brasil, pode ser visto na segunda-feira, às 21h, no canal HBO.