Se mãe já é uma figura bacana na vida real, na ficção, incrementada com doses extras de sensibilidade e bravura, ela vira uma super-heroína.
O estilo mãe coragem, que move montanhas em nome dos filhos, inclui a personagem de Anna Magnani, em Belíssima (1951), de Luchino Visconti, que faz de tudo para que sua filha se torne estrela de cinema (veja mais abaixo onde assistir aos filmes indicados — ou não, dependendo do seu estado de espírito — para este Dia das Mães).
Em Um Lugar no Coração (1984), de Robert Benton, Sally Field sofre para manter a família unida em meio à crise da Grande Depressão. Araci Esteves encarna a guerreira de Anahy de Las Misiones (1997), de Sérgio Silva, e sobrevive à Guerra dos Farrapos levando a prole ao seu lado. Pelo bem-estar da família, Kathleen Turner encarna uma serial killer e elimina os desafetos de seus próximos no bizarro Mamãe É de Morte (1994), de John Waters.
Também exemplos de brio, algumas mães das telas representam as mães modernas e independentes. Cher, em Minha Mãe É uma Sereia (1990), filme de Richard Benjamin ambientado nos anos 1960, vive à frente de seu tempo vagando de cidade em cidade com as duas filhas.
Julia Roberts foi oscarizada por Erin Brockovich (2000), de Steven Soderbergh, no qual sustenta três crianças e ainda arruma tempo para brigar com a empresa que contamina a água de uma cidade. A atriz tem pelo menos mais três filmes em que se destaca no papel de mãe.
Reverência aos serviços prestados por uma velha matriarca é o tema do espanhol Mamãe Faz 100 Anos (1980), de Carlos Saura. Já no italiano Parente... É Serpente (1993), de Mario Monicelli, a anciã causa desconforto aos filhos ingratos quando os comunica que ela e o marido não podem mais morar sozinhos. Quando a mãe é uma jararaca e vira um estorvo, tem rebento que tenta dar cabo dela, como Danny DeVito na comédia Jogue a Mamãe do Trem (1987), que o próprio ator dirigiu.
Aquele que é o pior drama para uma mãe, a perda de um filho, foi retratado com grande emoção em Tudo Sobre Minha Mãe (1999), que valeu a Pedro Almodóvar o Oscar, o Globo de Ouro e o Bafta, todos na categoria de melhor filme internacional, e o troféu de direção no Festival de Cannes.
Por falar em Oscar, Minhas Mães e Meu Pai (2010), de Lisa Cholodenko, concorreu a quatro estatuetas douradas: melhor filme, roteiro original, atriz (Annette Bening) e ator coadjuvante (Mark Ruffalo). As lésbicas Nic e Jules conceberam os dois filhos por inseminação artificial. A curiosidade dos jovens em saber quem foi o doador do esperma para suas mães os faz encontrar o dono de restaurante Paul.
Entre os títulos mais recentes, vale destacar dois dramas baseados em histórias reais — ambos requerem um pacote de lenços ao lado do sofá para enxugar as lágrimas (ainda que os dois filmes sejam temperados por doses de doçura e humor). No italiano 18 Presentes (2020), de Franco Amato, uma mulher grávida e com câncer terminal deixa 18 presentes emocionantes para a filha que vai nascer — um para cada aniversário, até que fique adulta. No argentino O Caderno de Tomy (2020), de Carlos Sorín, uma arquiteta internada por causa de um grave tumor no ovário decide escrever um diário para ser lido em um futuro breve pelo filho de três ou quatro anos.
Se você quiser ver filmes mais pesados ainda, há Zana (2019), de Antoneta Kastrati, e Quo Vadis, Aida? (2020), de Jasmila Zbanic, que falam sobre o que é ser mãe no contexto de uma guerra civil — as tramas se passam, respectivamente, no Kosovo e na Bósnia e Herzegovina. Já o indiano Mom (2017), de Ravi Udyawar, mostra que mãe é quem vinga: a protagonista é uma madrasta que sai no encalço dos estupradores da enteada.
Mas se o negócio é relaxar e se divertir, então a melhor pedida é o delicioso musical Mamma Mia! (2007), dirigido por Phyllida Lloyd, baseado em canções do ABBA e protagonizado por Meryl Streep. Ela interpreta Donna, a dona de um hotel nas ilhas gregas que, ao preparar o casamento de sua filha, descobre que três ex-namorados foram convidados — um deles é o pai da noiva.
Ou então veja Minha Mãe É uma Peça 3 (2019), de Susana Garcia, o divertido encerramento da trilogia em que o saudoso ator Paulo Gustavo encarnou Dona Hermínia. Na pele, nas sapatilhas e com os bobs da personagem, ele personificou as mães que não largam do pé dos filhos apesar de já estarem bem crescidos, as mães que brigam por causa da tampa não devolvida de um pote de plástico, as mães que se metem na decoração da casa da prole e até na criação dos netos. Mas também as mães que não medem esforços para defender os rebentos, as mães que derramam seu amor sobre nós, as mães que, ora, só pedem um pouquinho de retribuição por tudo o que já fizeram pela gente.
O que e onde ver
- Belíssima (1951), de Luchino Visconti: Telecine
- Mamãe Faz 100 Anos (1980), de Carlos Saura: saiu em DVD pela Platina Films
- Um Lugar no Coração (1984), de Robert Benton: Google Play e YouTube
- Jogue a Mamãe do Trem (1987), de Danny DeVito: MGM e, para aluguel, Apple TV
- Minha Mãe É uma Sereia (1990), de Richard Benjamin: MGM
- Parente... É Serpente (1993), de Mario Monicelli: saiu em DVD pela Versátil
- Mamãe É de Morte (1994), de John Waters: saiu em DVD pela Spectra Nova
- Anahy de Las Misiones (1997), de Sérgio Silva: Amazon Prime Video e Belas Artes à La Carte
- Tudo Sobre Minha Mãe (1999), de Pedro Almodóvar: Amazon Prime Video e MUBI
- Erin Brockovich (2000), de Steven Soderbergh: HBO Max
- Mamma Mia! (2007), de Phyllida Lloyd: Globoplay e Star+
- Minhas Mães e Meu Pai (2010), de Lisa Cholodenko: Amazon Prime Video e Globoplay
- Mom (2017), de Ravi Udyawar: Netflix
- Minha Mãe É uma Peça 3 (2019), de Susana Garcia: Globoplay e Telecine
- Zana (2019), de Antoneta Kastrati: Filmicca
- 18 Presentes (2020), de Franco Amato: Netflix
- O Caderno de Tomy (2020), de Carlos Sorín: Netflix
- Quo Vadis, Aida? (2020), de Jasmila Zbanic: Globoplay e Telecine