Grávida e com câncer terminal, ela deixa 18 presentes emocionantes para a filha que vai nascer – um para cada aniversário, até que fique adulta.
A sinopse do filme italiano 18 Presentes, em cartaz na Netflix, promete um dramalhão. Os comentários em um grupo do Facebook que reúne usuários da plataforma de streaming alertam: "Se você não está preparado para chorar, não assista", "Se você não está muito bem, passe longe deste filme", "Tô chorando até agora", "Amei... e morri chorando!", "Desidratada!". Saber que o roteiro é baseado em uma história real admite supor que os fatos serão edulcorados em nome de uma chuva de lágrimas.
Mas, assim como um filme de terror que evita os sustos fáceis, 18 Presentes consegue se desviar da pieguice. Evidentemente, não se trata de obra fria, que sufoca, com as escolhas estéticas, a força de seu drama inspirador. Só que o diretor Franco Amato autoriza-se a embaralhar um pouco a narrativa, a investir na carpintaria cinematográfica, a fazer com que as imagens falem mais alto do que possíveis declarações embebidas no sentimentalismo barato.
O preço que Amato nos cobra é o de abraçar o realismo mágico. Aliás, o cenário é de sonho: uma cidadezinha na Itália, Maserada sul Piave, onde, a julgar pelas tomadas aéreas, cada quadra corresponde a uma única casa, ornada em cima pelo característico telhado ocre e embaixo por um generoso jardim. Em um desses sobrados, mora Elisa (Vittoria Puccini), envolvida com o marido, o treinador de futebol Alessio (Edoardo Leo), nos preparativos para o quarto do bebê que está para chegar. Será uma menina, o que ela descobre na mesma consulta médica em que recebe o diagnóstico de câncer.
O dia do nascimento de Anna é o mesmo da morte de Elisa. Daí que, à medida que cresce, a menina passa a rejeitar os presentes desejados pela mãe. O que ela queria era sua presença.
No aniversário de 18 anos, uma revoltada Anna (Benedetta Porcarola, da série Baby) acaba sofrendo um acidente e, num passe de mágica, é salva por Elisa.
A mãe não reconhece a filha que está por vir, mas Anna ganha a oportunidade de, em segredo, conviver com Elisa. É uma jornada de estranhamento e de intimidade. De aprendizado mútuo: a mãe vai entender que talvez uma bateria seja um presente mais atraente do que um piano para uma menina, a filha vai compreender que o amor materno pode perdurar no território da memória, cimentado por palavras encontradas em cadernos, por lembranças compartilhadas pelo pai e, ora, pelos 18 regali do título original.
No caminho, Franco Amato nos oferta pelo menos duas cenas belíssimas e comoventes. Em uma delas, Elisa ensina Anna a preparar uma receita caseira de biscoito de maçã. As duas cozinham abraçadas, em um momento de extrema cumplicidade. A segunda cena remete a outra característica materna, a proteção, mas de modo inverso: Anna, que pratica saltos ornamentais, ajuda Elisa, que não sabe nadar, a se ambientar em uma piscina. Debaixo d'água, a mãe convida a própria filha a ouvir a si mesmo dentro da barriga. No filme, a piscina é como se fosse um útero, no qual a jovem mergulha profundamente em busca de algo inalcançável, a menos que ela se permita respirar a saudade, a herança e o amor deixados pela mãe.