"O amor não é paciente, gentil e humilde. O amor é confuso, horrível, egoísta e ousado." É assim que Ellie Chu, a personagem principal de Você nem Imagina, descreve o sentimento celebrado no Dia dos Namorados. De fato, estar apaixonado ou amar alguém não é bolinho: a gente também sofre um pouco. Por isso, minha lista de filmes para a contagem regressiva até o 12 de junho não tem só comédia romântica, não – embora eu seja um fã assumido do gênero. Ah, e se você preferir, este texto tem uma versão em vídeo, é só clicar ali em cima ou aqui.
Você nem Imagina (2020)
O filme mais novo da lista é também o que retrata os mais jovens personagens. Dirigido por Alice Wu e lançado em maio pela Netflix, tem como protagonista Ellie Chu (Leah Lewis), uma adolescente chinesa que mora em uma cidadezinha nos Estados Unidos. Ela é apaixonada por Aster Flores (Alexxis Lemire), uma garota que namora, mas meio que por inércia, o cara mais popular do colégio. Inteligente e habilidosa com as palavras, Ellie costuma ser paga pelos colegas para fazer trabalhos escolares, mas certa vez é contratada para outro tipo de texto: Paul Munsky (Daniel Diemer), filho de fabricantes de salsicha e reserva do time de futebol americano, quer que ela escreva uma carta de amor justamente para Aster. É a chance de Ellie, mesmo que às escuras, se aproximar da luz de seu dia. Parece uma situação típica de comédias românticas adolescentes, mas a diretora aborda tudo com soluções mais inesperadas – incluindo doses de melancolia e pungência – e muita sensibilidade.
Questão de Tempo (2013)
Subindo um pouco a faixa etária dos personagens, chegamos a Questão de Tempo – esta, sim, uma comédia romântica típica de seu realizador, o neozelandês Richard Curtis, roteirista de Quatro Casamentos e um Funeral e Um Lugar Chamado Notting Hill e diretor de Simplesmente Amor. Temos um protagonista masculino com humor autodepreciativo, uma personagem feminina que exala doçura, o amigo que pode dizer verdades inconvenientes, diálogos temperados com a fina mas às vezes cruel ironia britânica, dilemas morais capazes de colocar tudo por água abaixo, uma trilha sonora pop e, fundamentalmente, um convite para que abracemos o implausível – porque, nos universos conspirados por Curtis, o amor é soberano à razão, às convenções, à ciência. No caso, um jovem, Tim Lake (Domhnall Gleason), descobre que os homens de sua família conseguem viajar no tempo. Então, ele volta ao passado para tentar conquistar Mary (Rachel McAdams, em química tocante com Gleason). Em cartaz no Globoplay, o filme também tem como atração uma participação de Margot Robbie antes de a atriz australiana atrair os olhos do mundo como a esposa de Leonardo DiCaprio em O Lobo de Wall Street, lançado pouco tempo depois.
O Casamento do meu Melhor Amigo (1997)
Falando em viagem no tempo, que tal voltar para 1997, ano do lançamento deste clássico do cineasta australiano P.J. Hogan? No filme que será exibido nos dias 12 (às 10h40min) e 18 (às 8h15min) pelo canal Max Up, Julia Roberts e Dermot Mulroney interpretam dois ex-namorados, Julianne e Michael, que firmaram um pacto: se estivessem solteiros aos 28 ,se casariam. Acontece que, perto da fatídica data, ele liga para ela com um convite que cai como uma bomba: vai se casar com Kimberly (Cameron Diaz).
A trilha sonora, cheia de canções pop dos anos 1960 (Wishin' and Hopin', The Way You Look Tonight, What the World Needs Now Is Love...), é um personagem à parte. Há cenas musicais que se tornaram antológicas, como aquela em que à mesa de um jantar, puxados por George (Rupert Everett), o amigo gay, os convidados entoam I Say a Little Prayer. Mas a minha preferida é quando, em um bar karaokê, Julia Roberts, sabendo que fulana canta mal, empurra ela para a interpretação de I Just Don't Know What to Do with Myself. A ideia é sacanear a imagem de perfeitinha da noiva, mas a personagem de Cameron Diaz é tão honesta na sua desafinação, que encanta todo mundo.
Moonlight (2016)
Nem só de comédia romântica nos alimentamos. Vencedor dos Oscar de melhor filme, roteiro adaptado e ator coadjuvante (Mahershala Ali), este drama dirigido pelo americano Barry Jenkins acompanha três fases da vida do protagonista: na infância, quando é apelidado de Little (Alex Hibbert), na adolescência, quando o chamam pelo nome, Chiron (Ashton Sanders), e como um jovem adulto, quando se apresenta como Black (Trevante Rhodes). Sua trajetória é acidentada, marcada pela negligência da mãe, pelo uso de drogas, pela pobreza, pela violência, pelo racismo estrutural e pelo preconceito – a sexualidade que o personagem está descobrindo e que mal compreende é rejeitada por sua comunidade. Como o emprego de três nomes indica, Moonlight é uma história sobre busca da identidade. Mas também é uma linda história de amor – sufocado e sofrido, mas que perdura e sobrevive. Em cartaz no Netflix, foi o primeiro filme com elenco todo negro e o primeiro LGBT+ a conquistar a principal estatueta dourada da Academia de Hollywood.
Elsa e Fred (2005)
O amor não tem gênero e também não tem idade. Tremendo sucesso de público quando exibido nos cinemas de Porto Alegre, o filme do diretor argentino Marcos Carnevale tem como protagonistas os quase octogenários Alfredo (Manuel Alexandre), o Fred, e Elsa (China Zorrilla, absolutamente cativante) – encarnados por Christopher Plummer e Shirley MacLaine na refilmagem americana de 2014 (disponível no Google Play). Recém viúvo, ele se muda para o apartamento da filha e não demora a esbarrar na vizinha Elsa. Suas personalidades são distintas: Fred é melancólico e hipocondríaco, Elsa foge dos remédios e está sempre na rua, radiando alegria. Mas da diferença também pode nascer o amor, como reforça esta bela homenagem ao cinema do gênio italiano Federico Fellini (1920-1993), duplamente referenciado: o título remete a Ginger e Fred, e Elsa alimenta o sonho de reproduzir a cena de A Doce Vida em que Anita Ekberg, com um vestido de gala preto, banha-se na Fontana di Trevi, em Roma, sob o olhar embasbacado de Marcello Mastroianni.