Produção de baixo orçamento e lançamento modesto no circuito norte-americano, Moonlight – Sob a Luz do Luar ganhou corpo circulando por festivais e alcançando recepção entusiasmada de críticos e espectadores. Estreia na quinta-feira no Brasil e chega neste domingo à cerimônia do Oscar concorrendo em oito categorias, entre elas a de melhor filme e direção. Entre os mais de cem prêmios que já recebeu está o Globo de Ouro de melhor drama.
São atributos que fazem do longa-metragem de Barry Jenkins o mais forte concorrente do celebrado La La Land – Cantando Estações, com 14 indicações. E são estes, simbolicamente, filmes que representam abordagens extremas do poder da arte cinematográfica, tanto como entretenimento escapista de um colorido musical como na forma de um denso manifesto social e político.
Nesta 89ª edição do Oscar estão em evidência, após dois anos de ausência, atores, atrizes e diretores negros, bem como filmes que iluminam a chaga do racismo que ainda arde na sociedade americana – e sobre a qual a era Donald Trump ameaça jogar sal.
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Moonlight, entretanto, não tem no racismo seu motor dramático. O tema está presente no ambiente de degradação social da periferia da ensolarada e cosmopolita Miami, onde nasce e cresce o protagonista da trama, Chiron, jovem que terá sua vida narrada em três atos: infância (vivido por Alex Hibbert), adolescência (Ashton Sanders) e jovem adulto (Trevante Rhodes).
Mas o foco do diretor e também roteirista Barry Jenkins está na excruciante jornada que o personagem cumprirá para superar severas adversidades com sua fragilidade física e emocional – e, com incontornável perseverança, seguir em frente moldando sua identidade em território hostil.
Chiron não conhece o pai. Vive com a mãe, Paula (Naomie Harris, indicada a atriz coadjuvante), que se prostitui para bancar o vício em crack e, sob permanente torpor, faz do filho para-raios de fúria e frustração. O menino mirrado também é presa fácil para surras e humilhações na rua e na escola. Acaba acolhido pelo traficante local, Juan (Mahershala Ali, indicado como coadjuvante) e sua mulher, Teresa (papel da cantora Janelle Monáe). É nesse providencial arremedo de harmonia doméstica que Chiron encontra alívio do turbilhão de caos que o destino lhe reservou. Consegue respirar para encarar um processo que se mostrará ainda mais penoso: a descoberta de sua identidade sexual diante da atração que sente por seu único amigo, aproximação que será traumática.
Moonlight tem com matriz um texto do dramaturgo Tarell Alvin McCraney que nunca foi encenado ou publicado. Essa peculiaridade gerou diferentes interpretações. Jenkins concorreu e ganhou o prêmio do Sindicato dos Roteiristas na categoria de roteiro original (A Chegada levou o de texto adaptado). Mas a Academia julgou tratar-se de uma adaptação, mesmo que não exista uma outra obra contando essa história.
Com apenas US$ 5 milhões, Jenkins construiu Moonlight como uma obra dramaturgicamente vigorosa na sua combinação de densidade e leveza. Cada capítulo, com sua própria textura de fotografia, trilha sonora e nuanças das relações afetivas que se constroem e se rompem, representa um round da dura luta de Chiron contra a negligência, a violência e a intolerância. É um combate solitário, por vezes contra si mesmo, e que costuma deixar muita gente pelo caminho. Essa luta utópica deveria ser de todos, mas são os Chirons da vida que se lançam nela movidos também pelo instinto de sobrevivência.
Assista ao trailer:
Diretor tem chance de fazer história
Nascido em Miami, Flórida, Barry Jenkins pode consagrar-se neste domingo, aos 37 anos, como o primeiro cineasta negro a receber o Oscar de melhor direção – concorre também como roteirista. Moonlight – Sob a Luz do Luar é seu segundo longa-metragem, após Medicine for Melancholy (2008), inédito no Brasil, e cinco curtas.
Embora o favoritismo na categoria seja de Damien Chazelle (com La La Land – Cantando Estações), que já levou o prêmio do Sindicato dos Diretores, um fiel termômetro para o Oscar e o Globo de Outro, entre outros troféus, a Academia pode surpreender movida por este sentimento de quebrar uma barreira e fazer história. E Jenkins não é exatamente um azarão na festa, pois já foi reconhecido como o melhor diretor da temporada por importantes associações de críticos dos EUA, entre elas a National Board of Review. Antes dele, apenas outros três diretores negros disputaram o Oscar: John Singleton (Boyz n the Hood, 1991), Lee Daniels (Preciosa, 2009) e Steve McQueen (12 Anos de Escravidão, 2013, eleito o melhor filme em 2014).
8 indicações ao Oscar:
Filme
Direção
Ator coadjuvante
Atriz coadjuvante
Roteiro adaptado
Fotografia
Montagem
Trilha sonora
MOONLIGHT - SOB A LUZ DO LUAR
De Barry Jenkins
Drama, EUA, 2016, 111min, 16 anos
Estreia nesta quinta-feira no circuito.
Cotação: 4/5
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