Expediente tão antigo quanto o próprio cinema, reciclar roteiros já filmados nem sempre é sinal de preguiça dos produtores, como mostram clássicos do porte do Ben-Hur (1959) de William Wyler e do Scarface de Brian de Palma (1983), ambos releituras bem-sucedidas. Mas esses são do grupo das exceções que confirmam a regra dos remakes que nada acrescentam ao filme original - e não raro conseguem piorá-lo aos olhos de quem já conhece a história.
Em cartaz nos cinemas, Elsa e Fred é um recente exemplo da prospecção que Hollywood faz, quando a fonte local parece pouco inspiradora, sobre títulos estrangeiros com reconhecido sucesso de público ou de crítica. A matriz aqui é o filme argentino de 2005 dirigido por Marcos Carnevale, que se tornou um fenômeno em Porto Alegre - ficou em cartaz 28 semanas na rede Guion, somando 20 mil espectadores.
Como atrativos, a nova versão tem nos créditos o diretor inglês Michael Radford (de O Carteiro e o Poeta) e dois grandes atores, Shirley MacLaine e Christopher Plummer. O cenário foi trocado da espanhola Madri para a americana New Orleans, onde Elsa, espevitada senhora de 75 anos, vê chegar ao apartamento vizinho o octogenário Fred, viúvo recente que gasta as horas diante da televisão, como numa contagem regressiva para o fim da linha. Ela toma para si a missão de tirar o charmoso e rabugento senhor do marasmo, acendendo em ambos a faísca de uma derradeira paixão.
Seguindo passo a passo o longa original, Elsa e Fred também destaca na trama o clássico A Doce Vida (1960), de Federico Fellini - o sonho de juventude de Elsa é conhecer Roma e posar como a esfuziante Anita Ekberg na antológica cena com Marcello Mastroianni na Fontana di Trevi.
O resultado é terno e simpático, mas parece diluir um tanto da agridoce trama original sobre as questões da chamada terceira idade na pressa e no pragmatismo típicos da cultura norte-americana.
O cinema argentino segue na pauta de Hollywood. Está em produção o remake de O Segredo dos Seus Olhos (2009), vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro. Se neste o protagonista é o personagem de Ricardo Darín, a nova versão, dirigida por Billy Ray, terá como destaque a personagem vivida por Julia Roberts. É esperar para ver no que vai dar esse novo ponto de vista.
ELSA E FRED
De Michael Radford
Comédia, EUA, 2014. Duração: 94 minutos. Classificação: 10 anos.
Em cartaz no Cinemark Barra e no GNC Moinhos.
Cotação: bom
Veja do trailer de "Elsa e Fred":
* Segundo Caderno