Que filme é esse?!? Maravilhosooooooooo. Nota 10. Super indico. Super recomendo. Mega recomendo. Se eu pudesse fazer todo mundo assistir, eu faria. História triste e ao mesmo tempo linda. A força que essa mulher tem!
E por aí vai a aprovação de Mom (2017) em grupos de assinantes da Netflix no Facebook. E isso que o filme indiano tem a barreira da legenda – uma parcela significativa do público prefere cópias dubladas (não duvido que alguns pela praticidade: assim, podem "ver" um filme enquanto fazem outras coisas ou usam outras telas). Com o Dia das Mães chegando, resolvi tirar minhas próprias conclusões.
O apelo de Mom é semelhante ao das produções turcas Milagre na Cela 7 e Sadece Sen e do thriller de ação Resgate, que também são sucesso de público no catálogo do serviço de streaming. Seus personagens sofrem o diabo, como muitos de nós estamos sofrendo por causa do coronavírus, mas têm a chance da redenção e da desforra. Lutam por um final, se não feliz, pelo menos digno. Sua catarse é a nossa.
Desses quatro títulos, Mom é o que tem o enredo mais realista, o que também contribui para identificação do espectador – sobretudo da espectadora. O pano de fundo é a cultura do estupro: a nociva ideia de que os homens têm direito a posse do corpo feminino. A trama inspira-se em uma estatística universal (a de que a maioria dos agressores conhece a vítima) e nos recentes casos de estupro coletivo que trouxeram infâmia mundial para a Índia. Em 2012, por exemplo, uma estudante de 23 anos foi atacada em um ônibus de Nova Délhi por seis homens. Os ferimentos foram tão severos, que ela morreu 13 dias depois, no hospital. Em 2013, em Mumbai, quatro adultos e um adolescente violentaram uma fotojornalista de 22 anos.
No filme, a vítima é uma garota mais jovem, Arya (Sajal Ali), que, em uma festa, recusa primeiro a atenção de um colega de aula, Mohit, e, depois, a de um playboy marombado, Charles. Na companhia de mais dois homens e a bordo de uma SUV, eles raptam Arya, espancam-na, cometem estupro e depois a jogam na rua.
Os quatro agressores acabam presos, mas, em uma sequência de tribunal extremamente rápida na comparação com o andamento algo arrastado do filme (que tem duas horas e 18 minutos), são inocentados – é, você já viu essa história antes.
E já intui o que vai acontecer. Dirigido pelo estreante Ravi Udyawar, Mom aproxima Bollywood e Hollywood, conversando bastante com filmes americanos do tipo Desejo de Matar (1974) e Busca Implacável (2008) – aliás, os diálogos mesclam idiomas: uma frase em hindi, a seguinte em inglês, e vice-versa. Mas há diferenças cruciais. A violência não chega a ser explícita – não se vê o estupro, por exemplo –, embora sutileza não seja o forte (vocês entenderão vendo a cena em que um personagem visita outro na prisão). E, em vez de Charles Bronson ou Liam Neeson, o pai que parte pra briga é uma mãe.
Uma madrasta, na verdade. Devki, a protagonista, foi o 300º (isso mesmo: 300º) e último papel de Sridevi, considerada a primeira superestrela do cinema indiano, morta em 2018, aos 54 anos, vítima de um afogamento acidental na banheira de um hotel. A atriz magnetiza nosso olhar, mas há outros dois desempenhos cativantes. O galã Nawazuddin Siddiqui despiu-se da vaidade e carregou na maquiagem para servir de alívio cômico na pele do desengonçado detetive particular DK Kapoor, e Akshaye Khanna, uma versão indiana de Jason Statham, faz o policial durão Matthew Francis (a propósito: a julgar por Mom, os tiras de Nova Délhi não se fazem de rogados na hora de dar uma prensa).
Devki não é muito benquista por Arya, que a trata por "senhora". Não importa: se a justiça não é feita, busque-se a vingança. Seu plano revela-se ora surpreendentemente cruel, ora mirabolante demais – a inverossimilhança de algumas situações é compensada por um desenho de cena criativo e por uma montagem inteligente. Sua justificativa moral é expressa em uma pergunta que acaba estendida a nós:
— Se tiver de escolher entre o muito errado e o errado, qual você escolherá?
Mais três filmes sobre mamães coragem
A Troca (2008) – Angelina Jolie concorreu ao Oscar de melhor atriz no papel de Christine Collins, uma mãe solteira que, na Los Angeles de 1928, ao investigar o desaparecimento de seu filho, expõe a corrupção do governo e da polícia. Direção de Clint Eastwood.
O Quarto de Jack (2015) – Sob direção de Lenn Abrahamson, Brie Larson ganhou o Oscar por interpretar Joy, uma jovem que divide um quarto isolado com seu filho pequeno. Quando ele completa cinco anos, ela decide que é hora de lhe mostrar o mundo lá fora.
Fúria Feminina (2019) – No filme do diretor vietnamita Lê Van Kiet, a atriz Veronica Ngo interpreta Hai Phuong, uma cobradora de dívidas que vira uma tigresa quando a filha pré-adolescente é sequestrada por uma gangue de traficantes de pessoas.