Primeiro filme da Marvel com uma mulher no papel principal, o de super-heroína, Capitã Marvel pode ser considerado um símbolo da ascensão das mulheres na indústria cinematográfica. Sua protagonista, a atriz Brie Larson, 29 anos, liderou uma verdadeira campanha pela inclusão feminina dentro e fora das telas. Seu envolvimento e sua retórica feminista, no entanto, desagradaram parte do público.
Mesmo antes de assumir a missão de interpretar a personagem dos quadrinhos, Larson, que ganhou a estatueta de melhor atriz por O Quarto de Jack (2016), em que faz o papel de uma mulher vítima de estupro, já levantava a bandeira do respeito às mulheres. Envolveu-se em polêmicas por isso e acabou se tornando um constante alvo de ataques.
O mais recente foi uma petição que pede que a atriz "deixe o papel" de Capitã Marvel "para provar que ela é uma aliada da justiça social e garanta que uma mulher não branca (no original, woman of color) e gay interprete a personagem". O responsável pelo abaixo-assinado, no entanto, confude a personagem Monica Rambeau, que apareceu no filme como a carismática filha de Maria Rambeau, com Carol Danvers.
Embora Monica Rambeau tenha sido a primeira personagem nos quadrinhos a reivindicar o nome de Capitã Marvel, a Carol Danvers que Brie Larson levou aos cinemas corresponde a Ms. Marvel, que é branca e já existia anos antes da nova super-heroína ser adicionada ao universo da companhia.
Relembre outros episódios envolvendo Brie Larson:
Sem aplausos para o melhor
Brie Larson deu a primeira grande mostra de seu posicionamento contundente na cerimônia do Oscar 2017. Convidada a apresentar a entrega dos prêmios, missão dada por ter ganho a estatueta de melhor atriz em 2016 pelo filme O Quarto de Jack, ela teve de anunciar o Oscar de melhor ator a Casey Affleck — na época, ele estava envolvido em acusações de assédio feitas por mulheres da indústria do cinema. Quando anunciou o nome de Affleck como vencedor, Larson deu um breve e inconsistente sorriso. Quando o ator segurou a estatueta, ela não bateu palmas, contrariando o protocolo da cerimônia. A atitude da atriz virou notícia no mundo inteiro, mas ela nunca comentou a situação.
Atacando o "homem branco"
Durante um evento em Los Angeles dedicado a refletir sobre a presença das mulheres na indústria cinematográfica, Brie Larson usou de uma expressão que incomoda muita gente: "homem branco". Fez isso para levantar a questão da representatividade, e utilizou como exemplo o filme Uma Dobra no Tempo, dirigido por Ava Duvernay e composto por elenco multirracial. "Eu não preciso que um homem branco de 40 anos me diga o que não funcionou no filme A Dobra do Tempo. O filme não foi feito para ele. Eu quero saber o que significou para as mulheres de cor, mulheres birraciais, adolescentes de cor", argumentou a atriz.
Cadê as mulheres nas coletivas?
Antes de "Capitã Marvel" estrear, a atriz deu uma entrevista à revista Marie Claire americana dizendo que sentia falta de jornalistas mulheres nas coletivas de imprensa. Larson disse que estava cansada de ser perguntada sobre o filme apenas pelos homens — também gostaria de saber o que as mulheres acham da personagem. As declarações foram dadas na edição de fevereiro deste ano.
"Cerca de um ano atrás, comecei a prestar atenção em como era o ambiente dos eventos de imprensa e aos críticos que escrevem sobre filmes. Notei que a grande maioria era de homens brancos", disse Larson. A percepção foi posta à prova com um estudo que ela mesma encomendou, confirmando sua suposição. "Dali em diante, decidi garantir que meus eventos com a imprensa sejam mais inclusivos", determinou.
Tomates podres
As declarações da atriz motivaram uma espécie de ataque ao filme no site Rotten Tomatoes, um dos maiores portais de crítica cinematográfica. Uma enxurrada de avaliações negativas foi enviada antes de Capitã Marvel chegar às salas de cinema, o que confirmou a implicância do público masculino com a atriz — grande parte dos comentários desmerecendo Larson vinha de homens.
Esses dois comentários sintetizavam a frustração do público masculino com a postura de Larson a favor de minorias sociais: "A partir do momento em que Brie começou a fazer campanha contra os homens brancos, perdi interesse no filme. Por que pagaria para ver um filme com uma mulher que odeia homens brancos? Ela pode chafurdar em sua vida cheia de ódio”, escreveu um homem identificado como Aaron G. "De alguma forma sinto que o inimigo não é o Skull, e sim eu, já que Brie Larson foi bem clara que não quer pessoas como eu nos eventos de imprensa", reclamou outro homem, identificado como J P.
A situação, no entanto, não é nova para a Marvel. Pantera Negra, o primeiro filme de super-herói que tem um negro como protagonista e se passa em um reino onde negros são maioria, sofreu o mesmo ataque.