Com 96% de críticas positivas no site Rotten Tomatoes — e 95% de aprovação do público —, Em um Bairro de Nova York (In the Heights), que recém estreou nos cinemas brasileiros e que deve entrar no catálogo da plataforma de streaming HBO Max, a partir de 29 de junho, é um dos filmes que abrem a temporada de especulações sobre o Oscar 2022.
Claro que é cedo e que muitos filmes a serem lançados também são apostas, como House of Gucci, dirigido por Ridley Scott e estrelado por Al Pacino, Lady Gaga e Adam Driver, Nightmare Alley, thriller de Guillermo del Toro com um superelenco (Bradley Cooper, Cate Blanchett, Rooney Mara, Toni Collette), os novos trabalhos de Paul Thomas Anderson (Soggy Bottom) e Wes Anderson (The French Dispatch), quem sabe a versão de Denis Villeneuve para o clássico romance de ficção científica Duna, ou Eternos, aventura da Marvel assinada por Chloé Zhao (do oscarizado Nomadland), sem falar na refilmagem de Amor, Sublime Amor por Steven Spielberg.
Mas Em um Bairro de Nova York tem alguns trunfos a seu favor. Pesam o nome de Lin-Manuel Miranda, o mesmo criador do estrondoso sucesso Hamilton, o clima alegre e vibrante — nestes tempos de covid-19, estamos precisando de energia positiva —, a celebração da cultura dos latino-americanos (a população que mais cresce nos Estados Unidos) e a tradição de o Oscar valorizar musicais, venham da Broadway ou não.
O primeiro longa-metragem falado a conquistar a principal estatueta foi justamente um musical, The Broadway Melody (1929), de Harry Beaumont. Sua vitória abriu caminho na produtora MGM para obras como O Mágico de Oz (1939), Agora Seremos Felizes (1944) e Cantando na Chuva (1952) — que, pasme, não concorreu ao troféu mais cobiçado. Alguns anos depois, Ziegfeld: O Criador de Estrelas (1936), de Robert Z. Leonard, venceria nas categorias de melhor filme, atriz (Luise Rainer) e direção de dança. E, na cerimônia de 1945, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas cometeu o pecado de premiar O Bom Pastor, de Leo McCarey, em vez de Pacto de Sangue, de Billy Wilder.
Veja, a seguir, uma lista com 10 musicais que concorreram ao Oscar de melhor filme (com uma única exceção) e que estão disponíveis em plataformas de streaming:
Sinfonia de Paris (1951)
Após a Segunda Guerra Mundial, um soldado dos Estados Unidos (Gene Kelly) resolve tentar a sorte como pintor em Paris. Ele é descoberto por uma mulher rica (Nina Foch), que tem outros interesses além de seus quadros, e se apaixona por Lise (Leslie Caron), que está noiva de outro homem, por quem ela tem uma dívida de gratidão por causa da guerra. Ganhou seis Oscar, incluindo melhor filme e roteiro original, e foi indicado também nas categorias de direção (Vincente Minnelli) e edição. (Google Play e YouTube)
Amor, Sublime Amor (1961)
Inspirado na eterna história de Romeu e Julieta, de Shakespeare, Arthur Laurents, Leonard Bernstein e Stephen Sondheim criaram para a Broadway West Side Story, que deu origem a um dos maiores vencedores do Oscar. No musical, os adolescentes Tony e Maria vivem um romance em meio ao conflito entre duas gangues rivais nas ruas da Nova York dos anos 1950: os Jets, majoritariamente brancos, e os Sharks, oriundos de Porto Rico. Dirigido por Robert Wise e Jerome Robbins, Amor, Sublime Amor ganhou 10 estatuetas, incluindo melhor filme, direção e atriz coadjuvante — Rita Moreno, que vai participar da nova adaptação, assinada por Steven Spielberg e com estreia marcada para dezembro. (canal MGM do Amazon Prime Video, Telecine, Google Play e YouTube)
Minha Bela Dama (1964)
Um professor esnobe (Rex Harrison) conhece uma florista (Audrey Hepburn) e aposta com um amigo que pode transformá-la em uma dama. Mas a tarefa se mostra mais difícil do que ele imaginava. Esta versão de um musical da Broadway baseado na peça Pigmalião (1913), de George Bernard Shaw, conquistou oito Oscar, incluindo melhor filme — derrotando, entre outros, Zorba, o Grego, Dr. Fantástico e Mary Poppins (leia abaixo) —, direção (George Cukor) e ator (Harrison). (Telecine)
Mary Poppins (1964)
Na Londres de 1910, um banqueiro rígido e severo com os filhos escreve um anúncio no jornal em busca de uma governanta. Trazida pelo vento em um guarda-chuva voador, uma babá com poderes mágicos (Julie Andrews) aparece para transformar a triste rotina da família. O filme de Robert Stevenson ganhou cinco Oscar, incluindo melhor atriz, e disputou outras oito categorias — entre elas, a principal e a de direção. (Disney+)
A Noviça Rebelde (1965)
É um dos clássicos de todos os tempos, volta e meia referenciado. No fim dos anos 1930, pouco antes da Segunda Guerra Mundial, uma noviça (Julie Andrews, novamente) que vive num convento, mas não consegue se adaptar às regras religiosas, vai trabalhar como governanta de um capitão viúvo (Christopher Plummer) com sete filhos, levando alegria de novo à casa. Concorreu a 10 Oscar e ganhou cinco, incluindo melhor filme e direção (Robert Wise, novamente). (Disney+)
A Bela e a Fera (1991)
Desenho animado também pode, ora. Afinal, neste clássico dirigido há 30 anos por Gary Trousdale e Kirk Wise os personagens começam a cantar e a dançar de uma hora para outra, a história é narrada através de canções e há coreografias animadas — literalmente! E envolvendo até objetos como um candelabro e um relógio. A obra da Disney também cumpre o requisito de ter disputado o Oscar de melhor filme — foi a primeira animação a alcançar essa façanha (depois vieram Up: Altas Aventuras e Toy Story 3, ambas da Pixar). Faturou os prêmios de melhor música (Alan Menken) e melhor canção (Menken e, postumamente, Howard Ashman). (Disney+)
Chicago (2002)
Versão de um musical de Bob Fosse lançado nos palcos da Broadway em 1975, que por sua vez é baseado em uma peça de 1926 assinada por Maurine Dallas Watkins, Chicago venceu seis dos 13 Oscar pelos quais brigou — incluindo melhor filme e atriz coadjuvante. Este último prêmio foi para Catherine Zeta-Jones, no papel da dançarina que mata o marido e vira celebridade na cidade estadunidense dos anos 1920. Sinceramente, foi um crime ter derrotado As Horas e O Pianista. A direção é de Rob Marshall (que disputou a estatueta da categoria), e o elenco conta com Richard Gere, Renée Zellwegger (indicada a melhor atriz), Queen Latifah e John C. Reilly, ambos concorrentes aos prêmios de coadjuvantes. (Telecine e YouTube)
Dreamgirls (2006)
É a exceção à regra. A adaptação de um musical da Broadway inspirado no surgimento, em 1959, do trio The Supremes — que revelou a cantora Diana Ross — não foi indicada a melhor filme, mas disputou oito categorias. Venceu em atriz coadjuvante, com a estreante Jennifer Hudson, egressa do programa de TV American Idol, que acabou ofuscando Beyoncé, a protagonista, e mixagem de som. Eddie Murphy foi indicado como ator coadjuvante ao interpretar um cantor decadente que contrata as três artistas para serem suas backing vocals. (Netflix, Google Play e YouTube)
Os Miseráveis (2012)
Assinada pelo britânico Tom Hooper, trata-se da versão para o cinema de um musical baseado no clássico romance de Victor Hugo sobre o homem que, na França do século 19, ficou preso durante quase 20 anos por ter roubado um pão — personagem de Hugh Jackman no cinema. O filme revelou o talento, por assim dizer, de Russell Crowe como cantor, foi indicado a oito estatuetas e faturou três, incluindo melhor atriz coadjuvante, para Anne Hathaway. (Amazon Prime Video, Telecine, Google Play e YouTube)
La La Land (2016)
Na trama escrita e dirigida por Damien Chazelle, Emma Stone e Ryan Gosling vivem uma atriz e um pianista que tentam fazer sucesso na competitiva Los Angeles ao mesmo tempo em que tentam fazer o namoro dar certo. Muito bonito, mas um pouco chatinho, é um dos recordistas de indicações ao Oscar: foram 14. Venceu seis, incluindo melhor direção e atriz. (Telecine, Google Play e YouTube)
Bônus
- Cantando na Chuva (1952), de Stanley Donen e Gene Kelly: indicado aos Oscar de atriz coadjuvante (Jean Hagen) e música (Telecine, Google Play e YouTube)
- O Fantasma da Ópera (2004), de Joel Schumacher: indicado aos Oscar de fotografia, direção de arte e canção (Google Play e YouTube)
- Caminhos da Floresta (2014), de Rob Marshall: indicado aos Oscar de atriz coadjuvante (Meryl Streep), design de produção e figurino (Disney+)
Ausências sentidas no streaming
- Gigi (1958), de Vincente Minnelli: ganhador de nove Oscar, incluindo melhor filme e direção
- Vendedor de Ilusões (1962), de Morton DaCosta: Oscar de melhor música
- Oliver! (1968), de Carol Reed: seis Oscar, incluindo melhor filme e direção
- Um Violinista no Telhado (1971), de Norman Jewison: três Oscar (fotografia, som e música)
- Cabaret (1972), de Bob Fosse: oito Oscar, incluindo melhor direção, atriz (Liza Minnelli) e ator coadjuvante (Joel Grey)
- Moulin Rouge! (2001), de Baz Lurhmann: Oscar de direção de arte e de figurino