Os resultados do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), divulgados no início desta semana pelo Ministério da Educação, deixam lições importantes e muitos desafios para os gestores educacionais do país. O principal deles — e, certamente, o mais preocupante — está relacionado à prova de redação. Apenas 12 alunos, num universo de 3,2 milhões de candidatos, alcançaram a nota máxima nesta habilidade fundamental para a aprendizagem e para o futuro profissional dos jovens brasileiros. O Enem, como se sabe, é a principal porta de entrada para estudantes do Ensino Médio nas universidades públicas do país e até em algumas do Exterior.
Nunca na história desta prova seletiva tão poucos chegaram à ambicionada nota mil na redação. Além disso, dos 12 contemplados com o conceito máximo, apenas um deles é egresso de escola pública — o que evidencia, mais uma vez, as disparidades entre o ensino público e o privado. Outro aspecto merece atenção especial em nosso Estado: não há gaúchos entre os alunos que conquistaram os primeiros lugares.
não se pode ignorar que o decepcionante resultado das redações também foi motivado pela histórica falta de base acadêmica no Ensino Fundamental e Médio
A redação do Enem exige dos candidatos competências indispensáveis para comunicação escrita, entre as quais a compreensão do tema proposto, domínio da língua portuguesa, interpretação de informações e construção de uma proposta de intervenção. Ou seja, para alcançar boa nota o estudante precisa estar bem informado, precisa saber argumentar e defender seus pontos de vista por escrito, de preferência escrevendo com simplicidade e objetividade, sem vícios de linguagem e erros gramaticais. Ninguém precisa ser gênio para desenvolver tais competências.
Então, por que tão poucos chegam à excelência desejada? Numa época de leitura escassa e excesso de telas, é tentador atribuir a incapacidade dissertativa dos jovens unicamente às deformações da tecnologia. No Enem, essa questão foi considerada. A banca de correção foi orientada a ser rigorosa com o repertório utilizado por cada candidato e a descontar pontos dos alunos que fizeram uso dos chamados “modelos pré-prontos”, vendidos por R$ 50 no comércio da internet. Providência sensata: o uso de modelos decorados costuma gerar textos incoerentes.
Mas não se pode ignorar que o decepcionante resultado das redações também foi motivado pela histórica falta de base acadêmica no Ensino Fundamental e Médio. O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes vem apontando, a cada edição, uma brutal inferioridade dos estudantes brasileiros na relação com países que investem mais na educação. Os testes mostram que nossos estudantes, em sua maioria, têm dificuldade para compreender e interpretar textos. Nas escolas públicas, principalmente, muitos alunos chegam à 5ª série lendo com dificuldade, sem compreender o significado de histórias, legendas de filmes e até de placas de rua.
A baixa qualidade do ensino básico é uma mazela histórica, mas que certamente pode ser corrigida. Para tanto, é impositivo que o país efetivamente priorize a educação e invista muito mais na formação de professores, como finalmente se propõe a fazer agora o Ministério da Educação com o programa Mais Professores, lançado na última terça-feira, com o propósito de atrair e valorizar docentes.