O festival de decisões discutíveis da Warner e da DC Comics em relação ao filme Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa só podia dar no que deu.
Decepcionada com a bilheteria abaixo do esperado, a produtora resolveu, poucos dias após sua estreia nos cinemas, renomeá-lo para Arlequina e as Aves de Rapina (nos Estados Unidos, ficou Harley Quinn: Birds of Prey).
Acho que, desde o começo, esse deveria ser o nome do filme. Afinal, quem é a personagem popular – a Arlequina ou as Aves de Rapina? Quem está com todo o destaque no cartaz do filme? E, mais importante, quem é a protagonista da trama? Arlequina é, inclusive, a narradora da história!
Houve mais escolhas controversas que contribuíram para o baixo desempenho comercial.
O primeiro foi a classificação indicativa: Arlequina tem um forte apelo junto ao público adolescente, mas o filme não é recomendado para essas garotas e esses garotos – no Brasil, a idade mínima é 16 anos. Pesam contra, por exemplo, cenas de violência e uso de drogas (a protagonista cheira cocaína, acidentalmente, é verdade, mas a coisa surte efeito).
O segundo foi a época do lançamento: por que estrear na semana de entrega do Oscar? Aqui no Brasil, foi comum ver amigos correndo para colocar em dia os filmes indicados ao prêmio – e não para ver a Arlequina. Pior: Margot Robbie, a estrela de Aves de Rapina, estava envolvida com o Oscar, pois concorria à estatueta de atriz coadjuvante por O Escândalo.
Enfim: eis um caso de marketing para estudo.
A ironia é que o filme é bem melhor do que a porcaria da qual foi derivado, Esquadrão Suicida (2016), mas dificilmente alcançará a mesma bilheteria, de US$ 746 milhões.
Só quem deve estar feliz são os haters, aqueles marmanjos que há tempos vêm reclamando porque, na nova caracterização, Arlequina não é tratada como um símbolo sexual. O mundo dos super-heróis (e dos quadrinhos em geral), vocês sabem, é bastante machista e misógino.