Ainda é cedo para fechar a lista dos melhores filmes do ano — estão para estrear, por exemplo, Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (vai que é um arraso?), no dia 16, nos cinemas; Não Olhe para Cima (estrelado por Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Timothée Chalamet, Meryl Streep e Chris Evans), no dia 24, na Netflix; e A Filha Perdida (grande vencedor do Gotham Awards), no dia 31, na mesma plataforma.
Mas já dá para falar dos piores filmes que vi ao longo de 2021. Confesso a vocês que fugi de coisas como Venom 2: Tempo de Carnificina, mas ainda assim acabei exposto a um punhado de títulos que não recomendo.
Há aqueles que são ruins a ponto de aparecerem em vários rankings semelhantes (ou de simplesmente serem ignorados no balanço da temporada). Mas a presença de algumas obras cotadas ao Oscar pode surpreender — botem na conta das decepções. A ordem é puramente alfabética. Se quiserem saber mais sobre os filmes, cliquem nos links.
4x100: Correndo por um Sonho
A ficção de Tomas Portella sobre atletas olímpicas brasileiras foca mais nos patrocinadores do que nas velocistas interpretadas por atrizes como Fernanda de Freitas e Thalita Carauta. (Telecine)
Alerta Vermelho
Como disse meu colega Carlos Redel, o diretor Rawson Marshall Thurber apostou única e exclusivamente no carisma dos protagonistas — Dwayne Johnson, Gal Gadot e Ryan Reynolds. Mas o elenco não sai nunca do piloto automático, o roteiro não é coerente, as piadas não funcionam, e as cenas de ação, tirando a primeira, não empolgam. Tudo é artificial como aquela Argentina do final do filme. (Netflix)
Amor, Sublime Amor
Quem procurar um musical vibrante, com coreografias criativas, descobrirá que, em dado momento, a dança até desaparece em nome da abordagem mais realista empregada pelo cineasta. Vide as cenas de confronto entre as duas gangues rivais: se na primeira versão cinematográfica havia balé, simulação e certa delicadeza, agora a violência física cobre de hematomas e sangue o rosto dos personagens. Quem for ao cinema atraído pelo romance proibido entre Maria, a irmã do líder dos Sharks, bando formado por imigrantes de Porto Rico, e Tony, ligado aos Jets, que representam os brancos xenófobos e sem perspectivas, esbarrará na falta de química do casal (a estreante Rachel Zegler, esforçada, e Ansel Egort, enfarado). (Em cartaz nos cinemas)
Casa Gucci
Pela história e pelo elenco (Adam Driver, Lady Gaga, Al Pacino, Jared Leto, Jeremy Irons), tinha tudo para ser um arraso. Mas o filme de Ridley Scott sobre o assassinato do herdeiro da grife italiana Gucci não sabe que roupa vestir. (Em cartaz nos cinemas)
O Esquadrão Suicida
Depois dos geniais e realmente divertidos 15 minutos iniciais do filme de James Gunn com os anti-heróis da DC, vamos ficando anestesiados com tanta pancadaria, tanta rajada de balas, tantos corpos empilhados à mesma medida em que se tenta empilhar piadas, tanto prédio caindo, tanta câmera lenta, tanto flashback, tanto momento eu-queria-era-estar-fazendo-um-videoclipe-estiloso. (HBO Max)
Estados Unidos vs. Billie Holiday
O filme sobre a perseguição do governo estadunidense à cantora Billie Holiday poderia se chamar Lee Daniels vs Andra Day. A despeito de algumas passagens brilhantes, como a do sonho que transporta a protagonista para o cenário descrito na canção Strange Fruit, o diretor opera um roteiro convencional e uma bagunça estilística que, em suas demoradas duas horas e 10 minutos, prejudicam a atriz premiada com o Globo de Ouro e indicada ao Oscar. (Amazon Prime Video, Apple TV, Google Play e YouTube)
Eternos
O filme de super-herói da Marvel dirigido pela oscarizada Chloé Zhao, de Nomadland, é um abacaxi de US$ 200 milhões, com cenas de ação cheias de efeitos digitais não muito convincentes, piadas de salão em meio a momentos supostamente graves e uma música intrusiva e onipresente como de hábito no gênero, mas surpreendentemente piegas na maior parte do tempo. Ah, sim: os 157 minutos de duração parecem... eternos. (Em cartaz nos cinemas)
Halloween Kills
O filme de David Gordon Green vira o fio em relação à crueldade e à indestrutibilidade do psicopata Michael Myers. E acrescenta à equação a previsibilidade. O medo dá lugar ao sono. (Exibido nos cinemas e ainda inédito no streaming)
Hypnotic
Nada é verossímil e, ao mesmo tempo, tudo é previsível neste suspense sobre uma mulher (Kate Siegel) que, ao buscar ajuda com um hipnoterapeuta, acaba envolvida em um pesadelo. (Netflix)
Intrusion
O arquiteto Henry (Logan Marshall-Green) e sua esposa, Meera (Freida Pinto), se mudam para uma casa de sonhos no meio do nada. Mas a casa sofre uma invasão. Aí, Meera, com bastante atraso em relação ao espectador, começa a descobrir que todos a seu redor guardam segredos. A cada minuto, o filme vai desabando. (Netflix)
Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio
Sob direção de Michael Chaves, a nova aventura do casal de investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren (interpretados por Patrick Wilson e Vera Farmiga) não tem duas das virtudes dos filmes anteriores: a exploração pacienciosa e aflitiva do cenário e o desenvolvimento dos personagens. Sobrou um terror genérico. (HBO Max)
Liga da Justiça de Zack Snyder
Tem que ser muito fã de Zack Snyder para aguentar as quatro horas de muita breguice, muita câmera lenta e muita computação gráfica, embaladas em uma abordagem supostamente madura dos super-heróis — o diretor confunde sinistro com adulto. (HBO Max)
A Mulher na Janela
O filme de Joe Wright reúne ingredientes saborosos — uma protagonista inconfiável, vizinhos estranhos, um mistério policial —, uma coleção de homenagens a Alfred Hitchcock, em especial a Janela Indiscreta (1954), e um elenco estelar: Amy Adams, Gary Oldman, Julianne Moore. Mas há muitos problemas, inclusive de bastidores. (Netflix)
Noite Passada em Soho
Se você ainda não viu o filme de Edgar Wright, aviso que a explicação para sua presença na lista recorre a spoilers. (Em cartaz nos cinemas)
Sem Remorso
Nem tudo o que Michael B. Jordan toca se transforma em ouro. Com direção de Stefano Sollima, a adaptação de um thriller do escritor Tom Clancy revela-se bastante genérica, da trama às cenas de ação, e sem surpresas (a derradeira reviravolta é antevista a quilômetros de distância). (Amazon Prime Video)
Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis
Falando em genérico, no dia seguinte eu já havia esquecido a estreia do super-herói de artes marciais da Marvel, interpretado por Simu Liu em um filme de Destin Cretton que tem mais monstros digitais do que combates coreografados. (Disney+)
Sonhos de uma Vida
O filme de Sally Potter só não vira Sonos de uma Vida porque há três Javier Bardem em cena. Mas as variações de personagens e de cenários não tornam menos cansativa uma obra fértil na exposição (intensificada pelo estilo de atuação do astro espanhol) de melancolia, dor, choro, doença, humilhação, raiva, incompreensão, mágoa, ameaça, morte, luto... (Amazon Prime Video)
Stardust
Apesar do conselho do meu colega William Mansque, acabei assistindo a esta "cinebiografia" de David Bowie. Olha, não ter músicas de Bowie é o menor dos problemas. (Telecine e Apple TV)
Tempo
O trailer matou o mais recente filme de M. Night Shyamalan. Mas o diretor também fez sua parte, ao inventar explicações desnecessárias no final de sua versão para a história em quadrinhos Castelo de Areia. (Apple TV, Google Play e YouTube)
Bônus: Dave Chappelle: Encerramento
Não é um filme, mas assim como Bo Burnham: Inside vai aparecer na minha lista final dos melhores de 2021, a relação dos piores tem um lugar cativo para este show de humor homofóbico, transfóbico e misógino que muita gente achou genial. (Netflix)