Quando se contrata uma estrela de Hollywood cuja principal característica seja o seu carisma para um projeto, é evidente que esta qualidade será explorada durante a produção, agregando um certo charme ao filme. E vários são os nomes em alta na indústria cinematográfica que carregam consigo este diferencial como principal valor, não precisando entregar grandes capacidades dramáticas. Isto porque este diferencial rende boas bilheterias, pois boa parte do público está atrás de uma boa e despretensiosa diversão — especialidade deste tipo de artista.
Mas, e se juntar três atores extremamente carismáticos, todos no auge de suas carreiras, em uma mesma produção? Afinal, se um já dá certo, três é o triplo de diversão, certo? Bem, fazer sucesso é uma conta matemática simples e, com certeza, não foi o caso de Alerta Vermelho, nova (e mais cara) superprodução da Netflix que estreia nesta sexta-feira (12) no catálogo do serviço de streaming. Ao reunir os astros Dwayne The Rock Johnson, Ryan Reynolds e Gal Gadot, o filme se escorou totalmente no poder magnético de suas estrelas, mas deixou todo o resto descoberto. E, com isso, afetou até mesmo a principal qualidade de seus protagonistas de luxo.
Na trama, o espectador acompanha a jornada de John Hartley (Johnson), um agente do FBI que está em busca de um famoso ladrão de arte chamado Nolan Booth (Reynolds). Porém, após ambos serem tapeados, a dupla se vê forçada a trabalhar em conjunto para deter Sarah Black (Gadot), uma gatuna mais bem-sucedida e mais inteligente que o seu concorrente direto e que está muito próxima de cometer o seu maior roubo, os ovos de ouro que pertenceram a Cleópatra. E, assim, a história bebe na fonte de aventuras como Indiana Jones. Porém, sem a liga que fez com que as suas inspirações ficassem guardadas com carinho na memória do público.
No liquidificador
Diretor e roteirista do filme, Rawson Marshall Thurber tem em seu currículo duas comédias como seus maiores trunfos — Com a Bola Toda e Família do Bagulho. O cineasta enveredou para o cinema de ação justamente ao lado de The Rock, com Arranha-Céu: Coragem Sem Limite, no qual copiou elementos de Duro de Matar e os transformou em uma produção genérica, apesar de pomposa. Agora, ele repete o feito com Alerta Vermelho, puxando partes que funcionaram de outros longas-metragens — inclusive, características de personagens — para bater tudo em um liquidificador e transformar isso em sucesso. Mas fazer um bom filme não é apenas recortar e colar. E nem adianta tentar inserir piadinhas dentro do longa reforçando a própria falta de originalidade.
Assim, temos um Dwayne Johnson que praticamente repete o seu personagem da franquia Velozes e Furiosos, o Hobbs. Já Reynolds, que vem sendo ele próprio na maioria das produções que estrela, tenta repetir a divertida tagarelice de Deadpool na aventura. Mas sem um bom roteiro, as piadinhas soam enfadonhas e, em vez de fazer graça, torna-se cansativo. Gal Gadot, mesmo sem ser muito exigida — afinal, é um filme escorado em carisma, lembra? — demonstra as suas limitações artísticas e reforça que o seu lance, realmente, é ser a Mulher-Maravilha.
Claro que o filme, mesmo que aposte suas fichas em seu trio protagonista — e são muitas, pois cada um dos três recebeu cerca de US$ 20 milhões de cachê —, o filme ainda tenta ter outros atrativos. A história, por exemplo, se passa em diversos países, mas isso fica restrito apenas ao drone sobrevoando a paisagem, uma vez que o longa, nitidamente, foi quase que inteiramente gravado em estúdio — o que pode se creditar, também, à pandemia de covid-19, que interrompeu a produção. Porém, essa artificialidade incomoda em diversos momentos, principalmente na sequência final, que se passa na floresta — amazônica, claro — ou então quando os protagonistas acabam saindo de um alçapão para o meio de uma tourada — porque estavam na Espanha, obviamente.
As cenas de ação, por sua vez, raramente convencem. Ao mirar na mistura de momentos engraçados com perseguições e pancadaria, o filme não acerta em nenhum dos alvos, deixando as situações beirando ao embaraçoso. E isso acontece, principalmente, porque o filme não acerta o seu tom. Ele anda na linha entre se levar a sério e se assumir como uma sátira, mas, com essa indecisão, não consegue encontrar o seu propósito. Com isso, o longa vai acumulando reviravoltas previsíveis e, com uma constante queda durante os seus quase 118 minutos de duração, ele encontra no final uma pequena melhora, mas não é o suficiente para justificar ter embarcado nesta viagem.
Vale lembrar que Alerta Vermelho entrou em pré-produção ainda em 2019 e seria distribuído pela Universal Pictures, que acabou, provavelmente, tomando o título do filme como um verdadeiro alerta e vendeu os direitos para a Netflix. No serviço de streaming, possivelmente, o longa encontrará o seu público, aquele que está atrás de uma diversão rápida e barata para passar o tempo, mesmo que ela tenha custado US$ 200 milhões.