Sempre é difícil fechar a minha lista dos melhores filmes do ano. Não por falta de candidatos, mas pelo excesso. É que sou um otimista: acho que há muita coisa boa sendo feita no cinema ou no streaming. Tanto é que, embora de vez em quando espinafre uma série, um show de comédia ou o novo segmento de uma franquia de terror aqui na coluna, na maior parte do tempo procuro trazer recomendações.
Bem, ainda faltam estreias importantes na temporada, como A Crônica Francesa, de Wes Anderson, Ataque dos Cães, de Jane Campion, Pig, dirigido por Michael Sarnoski e estrelado por Nicolas Cage, Titane, de Julia Ducournau, vencedora da Palma de Ouro no Festival de Cannes, Marighella, de Wagner Moura, Belfast, de Kenneth Branagh, Passing, de Rebecca Hall, A Lenda do Cavaleiro Verde, de David Lowery, a nova versão de Steven Spielberg para o musical Amor, Sublime Amor... Mas já dá para montar uma seleção de respeito com os títulos lançados em 2021 no Brasil — ou, pelo menos, exibidos pela primeira vez no país de 1º de janeiro para cá.
A ordem é puramente alfabética. Vale destacar que os cineastas representam mais de 10 países e que sete dos 21 indicados foram dirigidos por mulheres. Clique nos links se quiser saber mais sobre alguns filmes.
Agente Duplo
Indicado ao Oscar, o documentário da chilena Maite Alberdi começa como comédia, vira trama detetivesca e termina com uma denúncia sobre o abandono de idosos por suas famílias. (Globoplay)
A Artista e o Ladrão
O diretor norueguês Benjamin Ree conta a intrigante história de aproximação entre uma jovem pintora tcheca radicada em Oslo e um dependente químico que roubou de uma galeria de arte um de seus quadros mais valiosos. (MUBI e Google Play)
Bela Vingança
Vencedora do Oscar de roteiro original, a inglesa Emerald Fenell ataca com sarcasmo a cultura do estupro. Carey Mulligan disputou o Oscar de melhor atriz. (Apple TV, NOW, Google Play e YouTube)
Bo Burnham: Inside
Mas é um filme? Ou é um especial de comédia? Ou um musical? Ou um registro documental sobre a vida durante a pandemia? Inside é — parafraseando o próprio comediante estadunidense — um pouco de tudo o tempo todo. (Netflix)
O Discípulo
Premiado no Festival de Veneza, o indiano Chaitanya Tamhane foca na música de seu país, mas extrapola fronteiras ao refletir sobre inquietações presentes em muitos ramos de atividade: o que fazer quando nossos sonhos esbarram em nossas limitações? A técnica pode compensar a falta de talento? Ao herdar ou mesmo assumir aspirações paternas e maternas, não estamos nos condenando a comparações e sufocando vocações? É possível fazer aquilo de que se gosta e, mais do que isso, ser reconhecido e recompensado? (Netflix)
Dois Minutos Além do Infinito
Dirigido pelo estreante Junta Yamaguchi, este filme amador japonês é capaz de fazer cineastas renomados, como Christopher Nolan e Sam Mendes, chorarem no cantinho. Trata-se de uma espantosa e bem-humorada combinação do tema da viagem no tempo com a técnica do plano-sequência. (Exibido no Fantaspoa — ganhou o prêmio de melhor direção — e sem previsão de estreia)
Duna
Se você estava se guardando para voltar ao cinema quando a tela grande, o som alto e a experiência de imersão realmente fizessem a diferença, o diretor franco-canadense Denis Villeneuve oferece um espetáculo visual e sonoro na sua adaptação do clássico de ficção científica publicado em 1965 pelo escritor Frank Herbert. (Em cartaz nos cinemas)
Druk: Mais uma Rodada
O dinamarquês Thomas Vinterberg não é moralista nem faz apologia da bebida nesta comédia dramática vencedora do Oscar de filme internacional. E entrega ao público um final paradoxal e antológico. (Telecine, Apple TV, Google Play e YouTube)
Duas Tias Loucas de Férias
Sob direção do estadunidense Josh Greenbaum e sem medo de brincarem com o sexo ou o absurdo, Kristen Wiig e Annie Mumolo interpretam duas solteironas do Meio-Oeste que se envolvem em uma trama de crime e romance na Flórida. Jamie Dornan, o Christian Gray de 50 Tons de Cinza e o assassino serial da série The Fall, mostra seu desprendimento para o humor. (HBO Max)
First Cow: A Primeira Vaca da América
O diretor do oscarizado Parasita sentiu inveja deste faroeste às avessas realizado pela estadunidense Kelly Reichardt: no Oregon de 1820, um cozinheiro e um imigrante chinês tentam sobreviver e, se possível, prosperar à sombra de um inglês rico. (MUBI, Apple TV, Google Play e YouTube)
A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas
A animação de Mike Rianda e Jeff Rowe tem aventura, drama, crítica social e, claro, muito humor, tanto para os baixinhos quanto para os grandinhos, graças a referências como as citações musicais de Kill Bill. (Netflix)
O Grande Salto
O filme escrito e dirigido pelo iraniano Karim Lakzadeh merece vários adjetivos, alguns até antagônicos: lindo, triste (raras vezes um "Eu te amo" provocará tamanho choque), gracioso, filosófico, aventureiro, metafórico, político. Na trama, uma mulher recebe a notícia de que seu filho, dado como morto, está vivo. Então, ela parte em uma jornada pelo país, na companhia do cunhado e de três excêntricos artistas de circo. (Exibido no Fantaspoa e sem previsão de estreia)
Judas e o Messias Negro
O diretor Shaka King reconstitui a história de traição — engendrada pelo FBI — que levou à execução de um líder dos Panteras Negras, Fred Hampton (Daniel Kaluuya, Oscar de ator coadjuvante). (HBO Max, Apple TV e Google Play)
Jumbo
Esqueça Romeu e Julieta ou os relacionamentos de Ryan Gosling com uma boneca inflável (A Garota Ideal) e de Joaquin Phoenix com uma assistente virtual de computador (Ela). O mais proibido, insólito e bonito romance é de Jumbo, filme escrito e dirigido pela belga Zoé Wittock e estrelado pela francesa Noémie Merlant. (Exibido no Fantaspoa — foi eleito o melhor filme internacional — e sem previsão de estreia)
Meu Pai
O filme do francês Florian Zeller nos leva para um mergulho na mente do octogenário protagonista desafiado pela degeneração da memória. Ganhou os Oscar de melhor ator (Anthony Hopkins) e roteiro adaptado. (Apple TV e YouTube)
Nem um Passo em Falso
O diretor Steven Soderbergh volta a trabalhar com os atores Don Cheadle e Benicio del Toro num policial que também fala de questões sociais, políticas e econômicas. (HBO Max)
Nomadland
Chinesa radicada nos EUA, Chloé Zhao colecionou prêmios, como o Leão de Ouro no Festival de Veneza, o Oscar de melhor filme e melhor direção, o Bafta, o Globo de Ouro e o troféu da Associação dos Produtores, ao acompanhar o cotidiano de uma mulher (Frances McDormand, Oscar de melhor atriz) que, após o colapso econômico de uma cidade industrial, precisa morar dentro de uma van e passa a conviver com nômades de verdade. (Telecine)
Quo Vadis, Aida?
A bósnia Jasmila Zbanic reconstitui o Massacre de Srebrenica, em 1995, e alerta: nunca podemos fechar os olhos para os traumas do passado. (Telecine, Google Play e YouTube)
A Risada
O filme do diretor e roteirista canadense Martin Laroche surpreende desde a abertura, pois é estranho uma obra chamada A Risada começar com uma cena de dor e de morte. Logo depois, vemos um número de dança. E, na sequência, acontece um massacre durante uma fictícia guerra civil no Canadá. O que emerge, literalmente, da cova é uma atuação fabulosa da atriz Léane Labrèche-Dor e uma história robusta e surreal sobre como encarar a vida. (Exibido no Fantaspoa e sem previsão de estreia)
Saint Maud
O filme de estreia da diretora e roteirista inglesa Rose Glass é de 2019, mas só chegou em 2021 ao Brasil.
Em uma cidadezinha litorânea da Inglaterra, uma jovem enfermeira (Morfydd Clark) acredita falar com Deus, se flagela nas horas vagas e encara como missão religiosa cuidar de uma coreógrafa com câncer (Jennifer Ehle). Saint Maud mistura a dor física com a dor psicológica e explora a relação entre sanidade mental e devoção religiosa. E acerta em tudo: na opressiva direção de fotografia, na nervosa trilha sonora, na enxuta duração e na exposição de violência quando necessária. (Apple TV, Google Play e YouTube)
O Tigre Branco
Indicado ao Oscar de melhor roteiro adaptado, o filme do estadunidense de família iraniana Ramin Bahrani foi o "o Parasita de 2021": ambos são ambientados na Ásia, ambos retratam o abismo profundo entre os ricos e os pobres e ambos mostram personagens ambíguos agarrando uma rara chance de ascensão com todos os dentes e sem pudores. (Netflix)
Bônus: Uma Canção para Latasha/Dois Estranhos
Dois curtas concorrentes ao Oscar e tristemente aparentados. No documentário Uma Canção para Latasha, Sophia Nahli Allison reconstitui de forma poética a vida de uma adolescente negra assassinada pela dona de um mercadinho em Los Angeles, em 1991. Premiado como melhor curta de ficção, Dois Estranhos, de Travon Free e Martin Desmond Roe, é um Feitiço do Tempo inspirado em casos como os de George Floyd, Breonna Taylor e Eric Garner. (Ambos estão em cartaz na Netflix)