Chernobyl (em 2019), Watchmen (em 2020), O Gambito da Rainha (em 2021), The White Lotus (em 2022). Os últimos vencedores do Emmy de melhor minissérie refletem a força adquirida pelo formato, capaz de seduzir o público que gosta de histórias longas com hora para acabar — são quatro, cinco, sete, 10 episódios — e de atrair realizadores, atores e atrizes que querem desenvolver temas e personagens com mais tempo do que no cinema, mas sem ficarem presos a um contrato extenso como o de uma série.
A lista abaixo reúne 50 das melhores minisséries disponíveis atualmente em sete plataformas de streaming: Amazon Prime Video, Apple TV+, Disney+, Globoplay, HBO Max, Netflix e Star+. Misturei títulos que eu vi, dicas de amigos e obras premiadas.
Priorizei o século 21, e ficaram de fora produções que até podem ter sido pensadas como minisséries, mas ganharam pelo menos uma segunda temporada, casos de Belas Maldições (Good Omens), Heartstopper, Manhãs de Setembro, Pequenas Grandes Mentiras (Big Little Lies) e Round 6. Uma exceção é The White Lotus, porque essa virou o que os estadunidenses chamam de anthology series, com histórias independentes e personagens diferentes a cada leva de episódios (dito isso, American Horror Story poderia estar aqui, mas seu próprio criador, Ryan Murphy, já sugeriu uma interligação entre todas as tramas).
Clique nos links se quiser saber mais. E responda nos comentários: quantas você já viu? Eu começo: 31 do total (tem bônus ao final).
1) 12 Jurados (2019)
Falada em holandês, a minissérie belga gira em torno de Frie Palmers (Maaike Cafmeyer), mulher acusada de ter assassinado sua melhor amiga, em 2000, e sua própria filha, 16 anos depois. É uma série de tribunal, mas esse não é o único cenário da trama criada por Sanne Nuyens e Bert Van Dael. E 12 Jurados não se concentra apenas na investigação sobre os crimes: há múltiplos personagens e múltiplos enigmas. Enquanto depoimentos no julgamento e flashbacks reconstituem as circunstâncias das mortes de Brechtje Vindevogel, a melhor amiga, e Roos, a filha, descobrimos o passado de Frie e o papel desempenhado por seu ex-marido e pelo pai da primeira vítima, um ambientalista rico e famoso, somos apresentados aos dramas particulares de uma meia dúzia de jurados. Entre eles, estão a herdeira de um casal brutalmente assassinado, um fotógrafo que frequenta reuniões de viciados em sexo e um empreiteiro enrascado porque seu irmão e sócio contrata operários ilegais — inclusive um brasileiro. Mas talvez a grande personagem seja uma jurada substituta, Delphine (Maaike Neuville), mãe de três crianças e casada com um marido extremamente ciumento e abusivo. (10 episódios, Netflix)
2) Alias Grace (2017)
Baseada na obra homônima de Margaret Atwood (a mesma autora de The Handmaid's Tale/O Conto da Aia), a minissérie desenvolvida por Sarah Polley e dirigida por Mary Harron está ambientada no Canadá do século 19. Vinda da Irlanda, a jovem Grace (Sarah Gadon) vai trabalhar como empregada doméstica e acaba condenada pelo assassinato de seu patrão e da governanta da casa. Passados 16 anos do caso, um psiquiatra (Edward Holcroft) tenta desvendar o mistério e descobrir a verdade por trás da história. (6 episódios, Netflix)
3) American Crime Story: The Assassination of Gianni Versace (2018)
O ator venezuelano Édgar Ramírez interpreta o designer italiano Gianni Versace (1946-1997) nesta versão ficcionalizada de sua morte pelo assassino serial Andrew Cunanan (papel de Darren Criss), apresentada na segunda temporada da série American Crime Story. Ganhou sete troféus Emmy, incluindo melhor minissérie, direção (Ryan Murphy, pelo episódio The Man Who Would Be Vogue), ator (Criss) e figurinos contemporâneos. (9 episódios, Star+)
4) Areia Movediça (2019)
Tem alguma semelhança com 12 Jurados. Também foca um julgamento de um crime chocante: a protagonista, Maja (pronuncia-se Maia), uma estudante do Ensino Médio, é acusada de participar de uma chacina em uma escola bacana de Estocolmo, na Suécia, onde, entre outras vítimas, foram mortos o namorado e a melhor amiga dela. Como na minissérie belga, a sueca alterna a narrativa entre o presente e o passado — quando surgem indícios tanto a favor quanto contra a personagem principal. Em meio a temas como bullying, xenofobia e relacionamentos abusivos, a trajetória de Maja é recuperada desde a aproximação com Sebastian, um garoto negligenciado pelo pai rico. Eis o pano de fundo, ou quem sabe a verdadeira questão de Areia Movediça: o que os adolescentes fazem longe do olhar de pais que não querem vê-los. (6 episódios, Netflix)
5) O Assassino de Valhalla (2019)
Inspirada em um caso real, a minissérie do islandês Thordur Palsson trata da caçada da polícia a um serial killer — o primeiro do país — que está desfigurando os olhos das vítimas. A policial Kata (Nína Dögg Filippusdóttir, de Trapped), que começa a investigar o caso, recebe ajuda de Arnar (Björn Thors), um competente detetive islandês residente em Oslo, na Noruega. O Assassino de Valhalla é representante do chamado noir nórdico, em que a paisagem gelada é quase um personagem, segredos terríveis vêm à tona e armas não são muito vistas. (8 episódios, Netflix)
6) Band of Brothers (2001)
A minissérie se baseia no livro homônimo de Stephen E. Ambrose e tem entre os produtores Steven Spielberg e Tom Hanks (que dirigiu o quinto capítulo). É uma dramatização da história da Companhia Easy, desde o seu treinamento nos Estados Unidos para a invasão da Normandia até a capitulação da Alemanha na Segunda Guerra Mundial. Vencedora de seis Emmys, Band of Brothers encontra o equilíbrio entre a grande História e as pequenas vidas de um grupo de soldados. O herói é o tenente Winters (personagem de Damian Lewis), que enfrenta o horror e faz o que é preciso fazer sem perder a sua noção do que seja humano ou correto. (10 episódios, HBO Max)
7) Bandidos na TV (2019)
Esta minissérie documental faz valer o dito do escritor Mark Twain (1835-1910): a verdade é mais estranha do que a ficção. O diretor britânico-paraguaio Daniel Bogado conta a história do apresentador de TV Wallace Souza, que se elegeu três vezes deputado estadual no Amazonas, em 1998, em 2002 e em 2006, graças a sua suposta luta contra o tráfico de drogas, mote de um programa sensacionalista e sangrento, o Canal Livre. Suposta porque, segundo um delator, Wallace comandava uma organização criminosa — a suspeita é de que ele próprio planejava os homicídios que alavancavam a audiência do programa. Bandidos na TV mostra a comoção causada junto à mídia e à opinião pública (dividida quanto à culpabilidade dos acusados), a sucessão de viradas na trama, as desconcertantes contradições dos principais personagens e as ramificações que acabam por pintar um retrato do país. (7 episódios, Netflix)
8) Black Bird (2022)
O protagonista desta minissérie baseada em uma história real é Taron Egerton, ator indicado ao Globo de Ouro por Rocketman, a cinebiografia do cantor Elton John. Ele interpreta James Keene, o Jimmy, um filho de policial (o último papel de Ray Liotta) e um promissor jogador de futebol americano que enveredou para o tráfico de drogas. Dono de um pequeno império em Chicago, ele acaba preso em uma operação do FBI. Enquanto isso, vemos o surgimento dos outros dois personagens importantes. Um é o detetive vivido por Greg Kinnear, que investiga o desaparecimento — e provável assassinato — de jovens mulheres. O outro é o principal suspeito, Larry Hall, um tipo excêntrico que adora participar de reencenações da Guerra Civil e é encarnado por Paul Walter Hauser (de Eu, Tonya e O Caso Richard Jewell). A combinação de seu físico roliço com a voz estridente e as costeletas suíças do personagem transformam Larry em um sujeito ora bizarro, ora patético, ora perigoso. Essas duas narrativas, a de Jimmy e a de Larry, são cruzadas pelo escritor policial Dennis Lehane, autor dos livros que inspiraram filmes como Sobre Meninos e Lobos, de Clint Eastwood, e Ilha do Medo, de Martin Scorsese. (6 episódios, Apple TV+)
9) Califado (2020)
A minissérie criada por Wilhelm Behrman destrincha como extremistas cooptam membros para o terrorismo. Pervin (Gizem Erdogan) se mudou para a Síria com o volátil marido Husam (Amed Bozam), para o companheiro engrossar as fileiras do Estado Islâmico e contribuir em um atentado terrorista na Suécia, país de origem de sua esposa. A fé que os levou até a cidade de Raqqa, no entanto, não contagia mais Pervin, que tenta de toda maneira voltar à Suécia e levar consigo a filha, ainda de colo, gerada em meio ao caos e à violência. (8 episódios, Netflix)
10) Chernobyl (2019)
Criada por Craig Mazin, apresenta uma versão ficcional do pior acidente nuclear da história, o da usina de Chernobyl, ocorrido entre 25 e 26 de abril de 1986 perto da cidade de Pripyat, na Ucrânia. Ao reconstituir suas consequências imediatas e as primeiras ações tomadas pelo governo soviético, a obra ganhou assustadora atualidade durante a pandemia: cenas e falas parecem refletir o que vimos e ouvimos desde o surgimento do coronavírus. Chernobyl arrebatou 10 prêmios Emmy, incluindo melhor minissérie, e concorria a outros nove, entre eles ator (Jared Harris, no papel do renomado químico Valery Legasov), atriz coadjuvante (Emily Watson, como a fictícia cientista Ulana Khomyuk) e ator coadjuvante (Stellan Skarsgård, que interpretou Boris Shcherbina, vice-presidente do Conselho de Ministros da URSS de 1984 a 1989, designado para supervisionar a gestão da crise). O elenco multifacetado — que inclui Jessie Buckley como a esposa grávida de um bombeiro e Paul Ritter como o engenheiro que comandou o fatídico teste na usina — permite enxergarmos as dimensões científica, política e humana do desastre. (5 episódios, HBO Max)
11) A Cidade É Nossa (2022)
Não chega a ser uma continuação de The Wire (2002-2008), ou A Escuta, recentemente eleita a melhor série do século 21 segundo 206 críticos, acadêmicos e profissionais de TV ouvidos pela BBC. Mas esta minissérie também foi criada pelo ex-repórter policial David Simon (aqui, na companhia do escritor George Pelecanos); também se passa em Baltimore, cidade no Estado de Maryland que é, estatisticamente, uma das mais violentas no mundo; e também retrata a atuação da polícia local. Enquanto alguns tentam fazer alguma coisa contra o narcotráfico e o crime organizado, mesmo sabendo que suas chances estão entre mínimas e nenhuma, outros apostam na truculência e/ou enveredam para a corrupção.
Dirigida por Reinaldo Marcus Green, do filme King Richard (2021), A Cidade É Nossa tem uma estrutura narrativa que requer atenção, com vários núcleos de personagens e alternâncias não muito claras entre o passado e o presente. Mas a recompensa é alta para quem curte histórias sobre os meandros policiais. O elenco é uma atração à parte: Jon Bernthal interpreta o sujo sargento Wayne Jenkins, figura central no força-tarefa do combate às armas. Wunmi Mosaku é Nicole Steele, uma advogada designada pela Justiça federal para apurar casos de desrespeito aos direitos civis. Jamie Hector faz Sean Suiter, um detetive de Homicídios que acaba se envolvendo com Jenkins. Josh Charles encarna Daniel Hersl, sobre o qual pesam várias denúncias de maus-tratos. E Dagmara Dominczyk está no papel de Erika Jensen, uma agente do FBI que investiga as ações de Jenkins e companhia. (6 episódios, HBO Max)
12) Collateral (2018)
Indicada ao Oscar de melhor atriz por Bela Vingança (2020) e Educação (2009), protagonista de Não me Abandone Jamais e coadjuvante em Shame e Drive (ambos de 2011), Carey Mulligan, por si só, justifica assistir à minissérie inglesa escrita pelo renomado dramaturgo David Hare — por sua vez, concorrente à estatueta dourada de roteiro adaptado por As Horas e O Leitor. Mulligan interpreta Kip Glaspie, uma detetive designada para o assassinato de um entregador de pizza que é baleado em um subúrbio de Londres. A partir daí, Hare lança mão de uma teia de personagens para discutir a atuação da polícia, do serviço secreto e do exército, o papel da Igreja e dos partidos políticos, o sistema de imigração e o caldo que levou ao Brexit. (4 episódios, Netflix)
13) Dois Irmãos (2018)
Diretor das belíssimas minisséries Hoje É Dia de Maria (2005) e Capitu (2008), infelizmente indisponíveis no streaming, Luiz Fernando Carvalho comanda a adaptação de Maria Camargo para o premiado romance homônimo de Milton Hatoum. A história de Dois Irmãos se passa em Manau, entre as décadas de 1920 e 1980, e é narrada por Nael (vivido por Irandhir Santos), filho de uma indígena que trabalha para uma família rica de ascendência libanesa. Os personagens principais são os gêmeos idênticos Omar e Yaqub (interpretados por Enrico Rocha e Lorenzo Rocha na infância, por Matheus Abreu na adolescência e por Cauã Reymond na fase adulta). De personalidades conflitantes, eles disputam desde cedo a atenção dos pais, Halim (Antonio Caloni/Antonio Fagundes) e Zana (Juliana Paes/Eliane Giardini), e, posteriormente, o amor da jovem Lívia (Monique Bourscheid/Bárbara Evans). A minissérie ganhou da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) os troféus de melhor diretor e melhor atriz (Juliana Paes). (10 episódios, Globoplay)
14) Dopesick (2021)
Com idas e vindas no tempo, mostra como a Purdue Pharma promoveu de forma agressiva e mentirosa o OxyContin, analgésico considerado responsável pela crise de opioides que provocou 500 mil mortes nos EUA a partir de 1999. Há cinco núcleos narrativos em Dopesick. O principal é o de Finch Creek, uma fictícia cidade onde moram o médico Samuel Finnix (Michael Keaton, premiado no Emmy, pelo Sindicato dos Atores dos EUA e no Globo de Ouro) e a jovem Betsy Mallum (Kaitlyn Dever), operária em uma mina de carvão. Em outras duas pontas, estão personagens reais. Dona da farmacêutica, a família Sackler vive em meio a intrigas e disputas por conta da ambição de Richard Sackler (Michael Stuhlbarg). E Rick Mountcastle (Peter Sarsgaard) e Randy Ramseyer são dois promotores públicos que querem investigar e levar a empresa ao tribunal. (8 episódios, Star+)
15) The Dropout (2022)
Forma com Inventando Anna (Netflix) uma espécie de díptico: ambas são mais ou menos contemporâneas; as duas protagonistas são mulheres brancas com autoconfiança, energia e talento para a mentira, trinômio que abriu portas no mundo dos negócios e na alta sociedade; ambas cultivam excentricidades — a jovem golpista Anna Sorokin (Julia Garner) tem um sotaque indetectável, Elizabeth Holmes (Amanda Seyfried, ganhadora do Emmy) emprega uma voz grave e baixa quando quer proferir uma frase de efeito); e as duas obras mostram como seus castelos de areia desmoronaram. Mas Inventando Anna é longa e enrolada demais, parecendo mais interessada na lenda do que na pessoa. The Dropout, embora recorra a flashbacks, vai direto ao ponto. O foco está na pressa de Elizabeth para conquistar algo, no seu narcisismo que ameaça vidas alheias, no seu desconforto para o convívio social. (8 episódios, Star+)
16) The English Game (2020)
Criada pelo autor de Downton Abbey, Julian Fellowes, é menos sobre o que o futebol apresenta e mais sobre o que representa. The English Game usa o gramado como cenário da luta de classes. A minissérie se passa na virada da década de 1870 para a de 1880. De um lado, temos Arthur Kinnaird (interpretado por Edward Holcroft), filho de um banqueiro de Londres e o capitão do Old Etonians, um time da elite que dominava o futebol à época. Do outro, está Fergus Suter (Kevin Guthrie), filho de um bêbado de Glasgow, na Escócia, e cérebro do Darwen, a equipe de uma fábrica de tecelagem para o qual foi contratado, literalmente, por debaixo dos panos — nos primórdios, o profissionalismo era proibido. O esporte tinha de ser amador, o que dava vantagem aos ricos, pois dinheiro é tempo: podiam se dar ao luxo de treinar sem terem trabalhado 10 horas ao dia. Enquanto sonham com o título da Copa da Inglaterra, tanto Fergus quanto Arthur precisam lidar com a sombra paterna. O escocês teve de ser adulto mais cedo, porque quer livrar a mãe e as irmãs do pai violento. O inglês vê Lorde Kinnaird menosprezar o futebol, tido como "coisa de meninos" — por consequência, não enxerga o filho como o adulto que é. (6 episódios, Netflix)
17) A Escada (2022)
Dirigida pelo nova-iorquino Antonio Campos, filho do jornalista brasileiro Lucas Mendes e realizador do filme O Diabo de Cada Dia (2020), é a versão ficcional de um rumoroso caso policial dos Estados Unidos (que já havia gerado uma série documental). No dia 9 de dezembro de 2001, o escritor Michael Peterson (interpretado por Colin Firth) liga para a emergência. Sua esposa, Kathleen (papel de Toni Collette), está morrendo, deitada sobre uma poça de sangue aos pés da escada da mansão do casal na Carolina do Norte. Foi um acidente, segundo o marido, que terá de contratar um advogado caríssimo, David Rudolf (Michael Stuhlbarg), já que os promotores Jim Hardin (Cullen Moss) e Freda Black (Parker Posey) estão dispostos a provar que foi um assassinato. A família se divide: os filhos de Michael acreditam (ou fingem para si mesmos que acreditam) na inocência do pai, a filha de Kathleen se junta às tias no lado da acusação. (8 episódios, HBO Max)
18) Felizes para Sempre? (2015)
É uma releitura da minissérie Quem Ama Não Mata (1982), pelo mesmo autor, Euclydes Marinho. O cineasta Fernando Meirelles dirige a trama, agora ambientada em Brasília para mostrar as relações entre sexo e poder. Em foco, os dilemas de cinco casais de uma mesma família. Entre os personagens da minissérie, está a restauradora de arte Marília (Maria Fernanda Cândido), que vive um casamento socialmente perfeito com Cláudio (Enrique Díaz) — em casa, eles mal se falam. A crise conjugal vai acabar por levá-los ao encontro da prostituta de luxo Denise (Paolla Oliveira), a Danny Bond, que é bissexual. Em outra ponta, o engenheiro Hugo (João Miguel), irmão de Cláudio, vê seu casamento sólido com a cirurgiã plástica Tânia (Adriana Esteves) começar a ruir quando perde o emprego e descobre ser estéril. O desejo, a mentira, a ambição e a traição culminam em um crime passional, e todos os personagens têm motivos para matar ou morrer. (10 episódios, Globoplay)
19) Fosse/Verdon (2019)
Bob Fosse (1927-1987) é mais lembrado no Brasil como o diretor de Cabaret (1972), filme que lhe rendeu o Oscar de melhor direção. Nos Estados Unidos, onde é comum que os adolescentes montem musicais no colégio, sua fama como um dos mais inovadores coreógrafos da Broadway persiste até hoje. Menos sorte teve sua terceira esposa, a bailarina Gwen Verdon (1925-2000). Uma das maiores estrelas do teatro estadunidense nos anos 1950 e 1960, ela não conseguiu alcançar o mesmo brilho no cinema, apesar da extensa filmografia. Perdeu tempo e oportunidades para se dedicar a Nicole, a filha que teve com Fosse, e também para mantê-lo vivo e operante durante o maior tempo possível, mesmo depois de separados. Essa clássica história da grande mulher por trás do grande homem é contada na minissérie criada por Thomas Kail e Steven Levenson e estrelada por Sam Rockwell e Michelle Williams (ganhadora do Emmy de melhor atriz). (8 episódios, Star+)
20) O Gambito da Rainha (2020)
Desenvolvida por Scott Frank e Allan Scott a partir de um romance escrito por Walter Tevis, é uma das minisséries mais premiadas dos últimos anos: recebeu 11 Emmys, dois Globos de Ouro, o troféu do Sindicato dos Atores e o prêmio da Associação dos Diretores. A atriz Anya Taylor-Joy dá xeque-mate no espectador como uma órfã que se torna jogadora de xadrez nos Estados Unidos da década de 1960. Beth Harmon tem de enfrentar mais do que grandes campeões e o preconceito contra as mulheres: precisa lidar com seus próprios traumas e vícios — no caso, em remédios e em álcool. (7 episódios, Netflix)
21) Holo, meu Amor (2020)
Criada por Lee Sang-yeop e Ryu Yong-jae, este dorama sul-coreano mistura romance e ficção científica. A sinopse diz o seguinte: por causa de seu distúrbio de cegueira facial — ou seja: todo rosto é o rosto de um estranho —, Han So-yeon (Ko Sung-hee, de Enquanto Você Dormia) decidiu viver em reclusão. Mas seu caminho vai se cruzar com o de Go Nan-do (Yoon Hun-min), um programador que desenvolveu uma inteligência artificial avançadíssima, a tal de Holo — que tem a mesma aparência de seu criador. Ela vê a possibilidade de amar, e ele, Nan-do, vê uma cobaia. (12 episódios, Netflix)
22) O Homem das Castanhas (2021)
Não se deixe enganar pelo nome simpático: a minisssérie dinamarquesa baseada no romance homônimo de Soren Sveistrup (também autor das histórias da série The Killing e do filme Boneco de Neve) é um típico exemplar do noir nórdico, cru e violento quando necessário. Em Copenhague, nos dias atuais, uma jovem mãe é brutalmente assassinada. Seu corpo é encontrado em um parque, sem uma das mãos. Próximo do corpo há um pequeno boneco feito de castanhas. Essa é a principal pista para a investigadora Naia Thulin (Danica Curcic), uma mãe solteira que agora conta com um novo parceiro policial, o instável Mark Hess (Mikkel Boe Folsgaard). Paralelamente, acompanhamos o difícil recomeço da ministra Rosa Hartung (Iben Dorner) — um ano antes, sua filha adolescente desapareceu. (6 episódios, Netflix)
23) I May Destroy You (2020)
A atriz e roteirista inglesa de pais ganeses Michaela Coel transforma-se em Arabella nesta autoficção que, apesar de lidar com um assunto doloroso, encontra espaço para o humor, o afeto e a diversão. Escritora de um livro de sucesso, ela corre contra o prazo e contra uma crise criativa para entregar o segundo romance a uma grande editora de Londres. Para espairecer, resolve sair para a balada com uns amigos. No dia seguinte, já de volta ao trabalho, Arabella vê sua memória assaltada por imagens de um estupro praticado por um homem desconhecido. A partir daí, I May Destroy You mostra como a violência sexual pode paralisar o presente, alterar o futuro e ressignificar o passado das vítimas. (12 episódios, HBO Max)
24) Iluminadas (2022)
A parceria entre a atriz californiana Elisabeth Moss e o ator baiano Wagner Moura é um dos atrativos para a adaptação do romance de Lauren Beuker assinada por Silka Luisa. É uma mescla de suspense policial com ficção científica. Kirby, personagem de Moss, trabalha no arquivo do jornal Chicago Sun-Times. Anos após ser quase assassinada, ela ainda sente os efeitos do trauma, o que inclui aparentes lapsos de memória e uma percepção cambiante da realidade. Quando uma mulher aparece morta, Kirby, que nunca desistiu de procurar o homem que a atacou, mesmo quando a polícia e a imprensa não deram bola, percebe uma relação entre os dois casos e ajudará o repórter Dan Velazquez (Wagner Moura) a investigar o caso. (8 episódios, Apple TV+)
25) Inacreditável (2019)
Inspirada em uma história real, a minissérie desenvolvida por Susannah Grant, Michael Chabon e Ayelet Waldman narra as dificuldades enfrentadas por vítimas de estupro, constantemente questionadas sobre seus relatos. Na trama, uma jovem (Kaitlyn Dever) é acusada de falsa denúncia de violência sexual, mas, mais de uma década depois, duas investigadoras (Toni Collette e Merrit Weaver) descobrem que outras jovens sofreram o mesmo que ela. (8 episódios, Netflix)
26) O Inocente (2021)
Oriol Paulo e Pablo Vallejo adaptaram para a Espanha um romance do escritor estadunidense Harlan Coben. Mario Casas interpreta Mateo Vidal, o Mat, estudante de Direito que, em uma briga de bar, mata acidentalmente um rapaz. Após quatro anos na prisão, ele reconstrói sua vida e reencontra a mulher que conhecera na festa após ser libertado, Olivia (Aura Garrido). Os dois se casam e estão para se tornarem pais, mas um belo dia ele recebe uma mensagem perturbadora enviada pelo celular dela. O que consta na mensagem? Qual é a relação entre Mat e uma freira que se suicidou em pleno orfanato? Por que o corpo dessa religiosa atrai a atenção da polícia federal? O que Olivia esconde quando se tranca no banheiro? Quem é Anibal? As tramas que correm em paralelo em O Inocente vão preenchendo o quebra-cabeças e reprisando os temas de Coben: o peso do passado e o preço dos segredos. (8 episódios, Netflix)
27) Irma Vep (2022)
Para falar sobre a minissérie escrita e dirigida pelo francês Olivier Assayas e protagonizada pela sueca Alicia Vikander, passo a palavra ao cineasta e colunista de GZH Carlos Gerbase: "Metalinguística, às vezes confusa, algo irregular, muitas vezes desconcertante, mas sempre no registro de obra de arte, Irma Vep é programa obrigatório para quem gosta de cinema e de televisão de qualidade. (...) Irma Vep, um anagrama de vampire, é a personagem principal da série cinematográfica em 10 episódios Les Vampires, dirigida por Louis Feuillade em 1916. Ela não é uma vampira, não suga o sangue de ninguém. Vivida pela célebre atriz Musidora, faz parte de uma gangue de ladrões, veste um macacão negro colado ao corpo, que só deixa seus olhos de fora, e, mesmo com sapatos de salto alto, é capaz de esgueirar-se com extrema elegância pelos telhados de Paris. Está longe de ser uma heroína. É a precursora das vamps, termo depois adotado por Hollywood para designar mulheres 'do mal' que, usando as armas da sedução, destroem a vida de homens 'de bem'". (8 episódios, HBO Max)
28) Landscapers (2021)
Como aponta a sequência de abertura de Landscapers, o roteirista Ed Sinclair e o diretor Will Sharpe vão enfatizar os aspectos fantasiosos — ou seriam delirantes? Ou seriam mentirosos? — da vida do casal Susan e Christopher Edwards (interpretados magistralmente por Olivia Colman e David Thewlis). Eles são protagonistas de um célebre e chocante caso policial da Inglaterra (o assassinato, em 1998, dos pais de Susan), são duas pessoas atrapalhadas e machucadas que compartilham o gosto por filmes antigos de Hollywood e astros do cinema como Gary Cooper e Gérard Depardieu, e que procuram construir um mundo no qual possam sobreviver. (4 episódios, HBO Max)
29) The Looming Tower (2018)
Adaptação do livro O Vulto das Torres: A Al-Qaeda e o Caminho até 11/9, de Lawrence Wright, vencedor do prêmio Pulitzer em não-ficção, a minissérie retrata a crescente ameaça de Osama bin Laden e a rivalidade entre a CIA e o FBI — que pode ter deixado uma brecha para a tragédia. É estrelada por Jeff Daniels, Michael Stuhlbarg (ambos indicados ao Emmy), Tahar Rahim, Wrenn Schmidt e Bill Camp. (10 episódios, Amazon Prime Video)
30) Maid (2021)
Depois de sair de casa no meio da madrugada, Alex (Margaret Qualley), 25 anos, busca um serviço social atrás de algum benefício que garanta a ela e à pequena Maddy (Rylea Nevaeh Whittet) um teto e alimentação. Quando relata à assistente social que fugiu de casa por medo do companheiro Sean (Nick Robinson), a profissional rebate questionando se a jovem fez um boletim de ocorrência. Alex diz que não, pois nunca foi agredida pelo ex. E também rejeita ser encaminhada para um abrigo, pois "detestaria tirar a vaga de alguém que sofreu agressão de verdade". Para piorar, a relação com a mãe, Paula (Andie MacDowell, mãe de Qualley na vida real), não é boa. Assim começa a minissérie criada por Molly Smith Metzler, que retrata o abuso psicológico a que muitas mulheres são submetidas. "É sobre feridas que não ficam visíveis através de hematomas", escreveu a colunista Martha Medeiros em GZH. (10 episódios, Netflix)
31) A Maldição da Residência Hill (2018) / Missa da Meia-Noite (2021)
As duas minisséries foram desenvolvidas e dirigidas pelo estadunidense Mike Flanagan, filiam-se ao gênero do terror e estão disponíveis na mesma plataforma. Em A Maldição da Residência Hill, ele adapta o clássico romance de terror A Assombração da Casa da Colina (1959), de Shirley Jackson. A trama alterna duas linhas de tempo: na vida adulta, cinco irmãos continuam lidando com os traumas das experiências paranormais vividas na infância em uma mansão que os pais, Hugh (Henry Thomas) e Olivia (Carla Gugino), iriam reformar para depois vender por um preço mais alto. Eles são Steven (Michiel Huisman), escritor de livros sobre casas mal-assombradas, Shirley (Elizabeth Reaser), que prepara corpos para serem enterrados, Theodora (Kate Siegel, esposa do diretor), psicóloga infantil, e os gêmeos Luke (Oliver Jackson-Cohen), um dependente químico, e Nell (Victoria Pedretti), a mais atormentada quando pequena — por conta da Moça do Pescoço Torto. Cada um deles representa os estágios do luto: negação, raiva, barganha/negociação, depressão e aceitação. (10 episódios, Netflix)
Em Missa da Meia-Noite, Flanagan cruza as trajetórias de dois personagens. Paul Hill (em grande atuação de Hamish Linklater) é um padre que chega à Ilha Crockett, comunidade fictícia e minúscula (tem somente 127 habitantes), para substituir o monsenhor Pruitt, afastado temporariamente por causa de um problema de saúde. Sua chegada coincide com o retorno de Riley Flynn (encarnado por Zach Gilford), que viu sua carreira no mundo das startups ruir quando, ao dirigir embriagado, matou uma adolescente. Ele passou quatro anos na prisão e tenta recomeçar sua vida, contando com o apoio da mãe, Annie (Kristin Lehman), mas enfrentando a relutância do pai, o pescador Ed (Henry Thomas), reencontrando sua namorada dos tempos de escola, a professora Erin Greene (Kate Siegel), e revendo, todas as noites, o fantasma da garota atropelada. Esse não é o único evento fantástico na ilhazinha, mas não convém avançar muito na trama, em que o diretor e roteirista costura, através de longos e belos monólogos, sua educação no catolicismo, seu subsequente ateísmo e sua paixão pelo horror. (7 episódios, Netflix)
32) O Mar da Tranquilidade (2021)
A ficção científica escrita e dirigida por Choi Hang-yong se passa em um futuro próximo, no qual, informam as notícias de TV, "a média anual de chuvas caiu novamente. Rios em grandes cidades do mundo revelam leitos secos, e o nível do mar está caindo, representando desafios para usinas de dessalinização. O Conselho Mundial de Recursos Hídricos prevê que a água do mundo será reduzida em 40% nos próximos 10 anos". Acompanhamos, então, as aventuras, os dramas e as descobertas de uma missão espacial sul-coreana enviada à Lua, tendo como guias a doutora Song, pesquisadora interpretada com gravidade — sem trocadilho — por Bae Doona, e o comandante Han (Gong Yoo, de Invasão Zumbi). O objetivo será recuperar amostras de uma substância que pode representar a salvação da humanidade - ou acelerar sua extinção. Em meio a dilemas éticos e morais e a obstáculos político-econômicos que refletem a corrida da ciência contra a pandemia, O Mar da Tranquilidade oferece uma atmosfera de suspense construída a partir da combinação de uma ambientação fantástica (os passeios na Lua são deslumbrantes), personagens misteriosos e/ou carismáticos e uma narrativa que vai e volta no tempo — o ritmo, contudo, pode ser lento para alguns espectadores. (8 episódios, Netflix)
33) Mare of Easttown (2021)
Fascinada com o "quem foi" da minissérie criada por Brad Inglesby, Kate Winslet ressaltou que embarcou no projeto porque "não é só a história de um crime". De fato, o crime descoberto no primeiro capítulo é chocante e misterioso, mas serve sobretudo como catalisador dos dramas pessoais e familiares em cidadezinha dos EUA. A morte traz à tona relações e segredos guardados em vida, imagem reforçada pela ambientação numa estação fria, que obriga os personagens a se esconderem atrás de casacos, mantas e gorros. E — até o final — todos têm o que ocultar ou algo do que não gostam de falar. Praticamente perfeita, Mare of Easttown venceu os Emmys de atriz (Winslet, também premiada no Globo de Ouro, ator coadjuvante (Evan Peters), atriz coadjuvante (Julianne Nicholson) e design de produção. (7 episódios, HBO Max)
34) Marianne (2019)
Criada e dirigida por Samuel Bodin, a minissérie francesa de terror gira em torno da jovem romancista Emma Larsimon (Victoire Du Bois), que, após receber uma visita inesperada de uma antiga amiga, volta a sua cidadezinha natal, onde passa a ser atormentada por eventos sobrenaturais e personagens como Madame Daugeron (Mireille Herbstmeyer). (8 episódios, Netflix)
35) Mildred Pierce (2011)
O cineasta Todd Haynes (de Longe do Paraíso e Carol) assina esta nova e marcante adaptação do romance lançado em 1941 por James M. Cain que deu origem ao filme Alma em Suplício (1945). A história se passa durante a Grande Depressão nos EUA. Mildred (Kate Winslet, arrasadora como de hábito) é uma mulher jovem recém divorciada que abre seu próprio restaurante e se apaixona por outro homem, Monty Beragon (Guy Pearce), enquanto tenta ganhar o amor de sua filha mais velha, a mimada e narcisista Veda (Evan Rachel Wood). Conquistou cinco Emmys, incluindo melhor atriz e ator coadjuvante. (5 episódios, HBO Max)
36) Nada Ortodoxa (2020)
Mais do que contar a história de Esther Shapiro (Shira Haas), jovem de 19 anos nascida em uma comunidade judaica de Nova York, a minissérie criada por Anna Winger faz uma reflexão sobre os sentimentos de pertencimento e de se encontrar no mundo. "Espero que seja um pouco catártico para quem sente necessidade de lutar por sua individualidade", disse a roteirista em entrevistas. Esty, como a protagonista é chamada pela avó, cresceu sob preceitos conservadores. Quando atinge a maioridade, é obrigada a se casar com Yanky (Amit Rahav). As coisas não dão certo, e ela acaba decidindo fugir para Berlim, em busca de uma vida nova. (4 episódios, Netflix)
37) My Name (2021)
Na trama dirigida pelo sul-coreano Kim Jin-min, acompanhamos Ji-woo (Han So-hee), uma jovem que sofre bullying na escola e que sempre precisa ser escoltada por policiais e seguranças por conta do sumiço do pai mafioso, Dong-hoon (Yoon Kyung-ho). Quando ele é morto, a protagonista parte em busca de vingança, em uma jornada cheia de reviravoltas, cenas de ação e sangue. (8 episódios, Netflix)
38) The Night Manager (2016)
Com direção da dinamarquesa Susanne Bier — vencedora do Oscar de melhor filme por Em um Mundo Melhor (2010) e premiada no Emmy por esta minissérie —, é a adaptação de O Gerente Noturno, romance do escritor inglês John Le Carré. Tom Hiddleston interpreta Jonathan Pine, um ex-soldado britânico que hoje gerencia um hotel de luxo no Cairo, no Egito. Ele é recrutado pela agente Angela Burr (Olivia Colman) para se infiltrar no círculo de Richard Roper (Hugh Laurie), um mercador de armas. Os três atores foram laureados no Globo de Ouro. (6 episódios, Amazon Prime Video)
39) The Night Of (2016)
Filho de imigrantes paquistaneses em Nova York, o jovem universitário Nasir Khan, o Naz (Riz Ahmed), pega "emprestado" do pai o táxi para ir a uma festa. No meio do caminho, em duas ocasiões pessoas tentam embarcar no carro como passageiro. Mais tarde, uma infração de trânsito, um objeto levado da cena de um crime e uma testemunha ocular vão tornar Naz o suspeito número 1. É esse o resumo do primeiro e fabuloso episódio da minissérie criada pelo escritor Richard Price e pelo cineasta Steven Zaillian. Trata-se de um retrato minucioso e muito humano das delegacias de polícia, do sistema judicial e dos presídios estadunidenses. À trama de suspense — a certa altura não saberemos se Naz é uma ovelha ou um lobo —, adiciona conotações culturais, políticas e sociais, refletindo o estado de ânimo nova-iorquino para com os muçulmanos pós-11 de Setembro e mostrando penitenciárias como fábricas de bandidos. À excelência do roteiro e da direção, soma-se a do elenco. Ahmed ganhou o Emmy de melhor ator, categoria em que também competia John Turturro, no papel do advogado de porta de cadeia John Stone. Bill Camp concorreu a coadjuvante na pele do detetive Dennis Box, assim como Michael Kenneth Williams, que faz o presidiário Freddy Knight. Todos trazem uma série de nuances a seus personagens, aumentando o envolvimento do espectador com uma história por si só cheia de matizes sobre o certo e o errado, o bom e o mau, a justiça e a lei, as percepções e as evidências. (8 episódios, HBO Max)
40) Ninguém Tá Olhando (2019)
Talvez fosse para ser uma série, mas como morreu na primeira temporada — apesar de ter vencido o Emmy Internacional de melhor comédia —, vou considerar como uma minissérie. É é assinada por Daniel Rezende (diretor dos filmes Bingo, o Rei das Manhãs, Turma da Mônica: Laços e Turma da Mônica: Lições) e estrelada pela hoje ex-youtuber Kéfera Buchmann. Ninguém Tá Olhando transforma o mundo dos anjos em uma espécie de repartição pública, cheia de burocracia e tédio. Recém contratado, Ulisses (papel de Victor Lamoglia) vai questionar o sistema enquanto se envolve com a personagem de Kéfera, a humana Miriam, que mistura crenças e erros na vida. Em cartaz na Netflix. (8 episódios, Netflix)
41) Objetos Cortantes (2018)
Baseada em livro de Gillian Flynn, a autora de Garota Exemplar, a minissérie Sharp Objects tem como protagonista a repórter policial Camille Preaker (Amy Adams), que volta à sua cidade natal para fazer a cobertura jornalística do assassinato de duas pré-adolescentes. Durante a investigação do caso, Camille, que acabou de sair de uma temporada numa clínica psiquiátrica, se identifica com as jovens vítimas e relembra fatos de seu passado para entender o quebra-cabeça psicológico que se apresenta à sua frente. Nesse processo, ela terá de confrontar seus traumas e o zelo exagerado da mãe, Adora (papel de Patricia Clarkson). A direção é do canadense Jean-Marc Vallé, dos filmes C.R.A.Z.Y. (2005) e Clube de Compras Dallas (2013), morto no final de 2021. (8 episódios, HBO Max)
42) Olhos que Condenam (2019)
A cineasta Ava DuVernay dramatiza um dos maiores erros da polícia e da Justiça nos EUA: o caso dos Cinco do Central Park. No Harlem, em Nova York, os adolescentes negros Raymond, Kevin, Korey, Yusef e Antron brincam e jogam basquete até serem apanhados por policiais. Acabarão acusados e condenados pelo estupro de uma mulher branca que corria no parque na noite de 19 de abril de 1989. Olhos que Condenam ganhou os Emmys de melhor elenco e de melhor ator (Jharrel Jerome, no papel de Korey Wise). (4 episódios, Netflix)
43) Olive Kitteridge (2014)
Não apenas em sala de aula mas também no ambiente familiar, a professora Olive dá ordens e mantém um olhar amargurado, que afeta principalmente seu marido, um farmacêutico pacato, e o filho. Essa é a protagonista de Olive Kitteridge, adaptação de um romance homônimo de Elizabeth Sprout dirigida pela cineasta Lisa Cholodenko, de Minhas Mães e Meu Pai (2010). Foi um arraso no Emmy, levando oito prêmios: melhor minissérie, direção, atriz (Frances McDormand), ator (Richard Jenkins), ator coadjuvante (Bill Murray), roteiro (Jane Anderson), elenco e edição. (8 episódios, HBO Max)
44) Pam & Tommy (2022)
Reconstitui um dos primeiros e mais célebres vazamentos de vídeo íntimo de celebridades, ocorrido entre 1995 e 1997: uma transa entre a atriz e modelo Pamela Anderson (vivida por Lily James), estrela do seriado Baywatch, e o roqueiro Tommy Lee (Sebastian Stan), baterista da banda Mötley Crüe. Na era das redes sociais, da fama instantânea e do compartilhamento de tudo, pode ser difícil medir o impacto da divulgação daquelas cenas de sexo. Mas Pam & Tommy é muito eficiente em contextualizar o espectador e retratar como, em um ambiente machista e moralista, a invasão de privacidade transformou Pamela de queridinha a pária e alvo do deboche. (8 episódios, Star+)
45) Scenes from a Marriage (2021)
O diretor e roteirista israelense Hagai Levi encarou o desafio de modernizar a célebre série de televisão criada pelo cineasta sueco Ingmar Bergman. Na nova versão de Cenas de um Casamento (1973), Oscar Isaac e Jessica Chastain interpretam Jonathan e Mira, que estão juntos há 10 anos e têm uma filhinha. Ele é professor de filosofia e passa a maior parte do tempo em casa. Ela trabalha na área de tecnologia e responde pela maior parte do orçamento familiar. Como no original, Jonathan e Mira são procurados para dar uma entrevista na condição de um casal considerado exemplar. Mas logo nos primeiros minutos da conversa, começam a aparecer fissuras e ressentimentos. Não é à toa que cada um dos episódios mostra, no início, bastidores da produção: é como se o realizador quisesse reforçar o caráter de personagem assumido pelos integrantes de um relacionamento. (5 episódios, HBO Max)
46) Os Últimos Dias de Ptolomy Grey (2022)
Samuel L. Jackson protagoniza a adaptação do romance escrito por Walter Mosley. O personagem é um idoso que vive em um apartamentinho lotado de objetos dos quais não se recorda. De vez em quando, tem lampejos de memória, especialmente de Sensia (Cynthia Kaye McWilliams), o amor de sua vida. Seu único contato com o mundo externo é Reggie (Omar Benson Miller), que o leva ao médico e ao banco. Mas um dia Reggie acaba substituído pela adolescente Robyn (Dominique Fishback), com quem Ptolemy tem uma relação difícil no começo. Quando ele se submete a um tratamento revolucionário que permite a recuperação de suas memórias por um período curto, mistérios de seu passado e presente são desvendados. (6 episódios, Apple TV+)
47) The Underground Railroad: Os Caminhos para a Liberdade (2021)
Concebida por Barry Jenkins, diretor e roteirista de Moonlight, vencedor do Oscar de melhor filme em 2017, é a adaptação do romance homônimo escrito por Colson Whitehead e ganhador, também em 2017, do prêmio Pulitzer. A trama se passa na metade do século 19, antes da Guerra Civil nos EUA (1861-1865), que tinha como principal causa a escravização da população negra — a maioria dos Estados do Sul queria manter, o Norte era contra. Sua protagonista é Cora (interpretada pela sul-africana Thuso Mbedu, do filme A Mulher Rei), uma jovem escrava que, após relutar, tenta fugir de uma fazenda na Geórgia na companhia do íntegro Caesar (Aaron Pierre). Os dois buscam a Underground Railroad do título, uma rota de fuga que de fato existiu, mas não da maneira que é apresentada na minissérie. No seu encalço, partirá o caçador Arnold Ridgeway (Joel Edgerton), tendo ao lado um surpreendente ajudante: Homer (Chase W. Dillon), um menino negro. É uma das mais belas e contundentes obras já feitas para o streaming ou a televisão. (10 episódios, Amazon Prime Video)
48) WandaVision (2021)
Diante da minissérie criada por Jac Schaeffer, precisamos conhecer o passado cinematográfico dos personagens para compreender que há algo de muito estranho acontecendo, e precisamos conhecer o passado da TV dos EUA para compreender as referências, que não têm nada de gratuitas: acrescentam camadas, criam expectativas, intensificam o suspense. No primeiro episódio, Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen), a Feiticeira Escarlate, e o androide Visão (Paul Bettany) são apresentados como um típico casal dos subúrbios estadunidenses. No caso, Westview, onde os demais 3 mil e poucos moradores desconhecem os superpoderes dos vizinhos. As cenas são em preto e branco, e o tom de comédia romântica é acentuado pelas risadas da plateia, a claque, e pela duração (menos de meia hora). É uma alusão aos clássicos I Love Lucy (1951- 1957) e The Dick Van Dyke Show (1961- 1966). A partir daí, WandaVision vai avançando no tempo, nos costumes e nos mistérios. (9 episódios, Disney+)
49) Watchmen (2019)
Damon Lindelof pega elementos da clássica HQ de Alan Moore e Dave Gibbons (a chuva de lula, personagens como Ozymandias e Dr. Manhattan) e cria uma trama central totalmente nova e absolutamente atual. Os novos heróis, como a Sister Night (Regina King) e o Looking Glass (Tim Blake Nelson), lidam com a violência contra negros nos EUA. O inimigo é uma organização racista, a Sétima Kavalaria. Desde a abertura, que reencena o Massacre de Tulsa, em 1921, durante anos apagado da história oficial, Watchmen mostra como os traumas da escravidão passam de geração a geração. Foram 11 troféus no Emmy, incluindo melhor minissérie, atriz (Regina King), ator coadjuvante (Yahya Abdul-Mateen II) e trilha sonora (Trent Reznor e Atticus Ross). (9 episódios, HBO Max)
50) The White Lotus (2021)
A série criada por Mike White consegue conjugar de modo brilhante comédia cáustica, dramas empáticos, mistério policial e crítica social — o alvo é o privilégio branco, a elite que jamais cede seu lugar ou estende a mão sem querer nada em troca. A trama começa em um saguão de aeroporto, onde descobrimos que alguém foi assassinado no White Lotus, um resort de luxo no Havaí. Aí, a história recua uma semana no tempo para acompanhar a chegada de um grupo de novos hóspedes, que inclui o milionário mimado Shane (Jake Lacy), recém casado com Rachel (Alexandra Daddario), uma jornalista em crise existencial, e a família da empresária Nicole (Connie Britton). Essa turma será recepcionada pelos empregados do resort. Entre esses, destaca-se Armond (Murray Bartlett), o gerente com um bigode tipo o do Tom Selleck, que define a classe trabalhadora aos olhos dos ricos: precisa ser invisível, mas estar sempre pronta para servir. Ganhou 10 prêmios no Emmy, incluindo melhor minissérie, direção, roteiro, ator coadjuvante (Murray Bartlett) e atriz coadjuvante (Jennifer Coolidge). (6 episódios, HBO Max)
Bônus
O Auto da Compadecida (1999): entra como bônus por ter sido produzida no século 20. Antes de virar o filme homônimo assistido por 2,1 milhões de pessoas, esta minissérie dirigida pelo pernambucano Guel Arraes replicou o colorido e farsesco Nordeste das histórias do paraibano Ariano Suassuna, com seu universo que remete às canções medievais, à commedia dell'arte e à literatura de cordel. O enredo é um típico imbróglio picaresco: o loroteiro João Grilo (Matheus Nachtergaele) e o tramposo Chicó (Selton Mello) lutam pelo pão de cada dia num vilarejo do sertão, envolvendo-se em confusões com personagens arquetípicos, como o pequeno burguês sovina (o padeiro vivido por Diogo Vilela) e sua esposa infiel (Denise Fraga), o padre venal (Rogério Cardoso), o bispo autoritário (Lima Duarte) e o facínora (no caso, um cangaceiro brilhantemente interpretado por Marco Nanini). O elenco ainda conta com Fernanda Montenegro no papel de Nossa Senhora Compadecida e Luís Melo como o tinhoso em pessoa. (4 episódios, Globoplay)
Too Old to Die Young (2019): esta eu já tentei assistir, achei arrastada além da conta, mas como reúne um dos meus roteiristas preferidos de quadrinhos (o estadunidense Ed Brubaker) e o diretor de um dos meus filmes do coração, Drive (o dinamarquês Nicolas Winding Refn), entra na lista como um lembrete para ganhar nova chance. Na trama de Muito Velho para Morrer Jovem, Miles Teller encarna Martin, um policial que está cada vez mais envolvido no submundo do crime de Los Angeles. O elenco de personagens inclui assassinos de cartéis do México, mafiosos russos e soldados da Yakuza. (10 episódios, Amazon Prime Video)
Recursos Desumanos (2020): a presença do ex-jogador de futebol Eric Cantona como protagonista justifica que esta minissérie baseada em romance de Pierre Lemaitre e dirigida por Ziad Doueiri apareça pelo menos no bônus. Nos gramados, o francês desenvolveu uma persona na qual coabitavam a genialidade, o temperamento explosivo e a defesa apaixonada dos ideais humanistas. Foi assim que perdeu a chance de disputar a Copa do Mundo de 1998, na França. É que, em 1995, quando atuava no Manchester United, o atacante foi suspenso por nove meses (o que tirou seu espaço na seleção nacional) após aplicar uma voadora em um torcedor do Crystal Palace. O motivo? Era um hooligan fascista e xenófobo.
Cantona encerrou a carreira em 1997, aos 30 anos, e logo começou a atuar, como em Elizabeth (1998), indicado ao Oscar de melhor filme. Interpretou a si próprio em À Procura de Eric (2009), de Ken Loach. Recursos Desumanos é sua primeira minissérie, e o papel casa bem com a sua imagem: Alain Delambre é um homem de 57 anos desgastado e ressentido pelos quatro anos de desemprego. Ex-gerente de RH, só arranja biscates, em que seu caráter ebuliente não colabora. Até que um dia surge uma oportunidade que envolve o esquisito plano de uma multinacional para testar a lealdade do conselho diretor da empresa. (6 episódios, Netflix)