Criaturas cheias de teorias na mitologia e nas religiões de todo o mundo, os anjos ganham uma versão modernizada em Ninguém Tá Olhando, série assinada por Daniel Rezende (Turma da Mônica - Laços) e estrelada pela youtuber Kéfera Buchmann. Os oito episódios da primeira temporada foram liberados nesta sexta-feira (22) na Netflix, que vem apostando cada vez mais em seriados nacionais.
Em Ninguém Tá Olhando, Ulisses (Victor Lamoglia) é o primeiro Angelus (como os anjos da guarda são chamados) contratado em muitos anos do 5511º Distrito e tem que passar por treinamento. Todos os dias, os anjos são direcionados para uma pessoa e uma missão, sistema que é insistentemente questionado por Uli.
O mais interessante do seriado é a sensação de que os anjos da guarda são mais humanos do que se imagina. Na trama, eles pegam ônibus, não voam e não têm poderes especiais – apenas vivem de forma invisível, para proteger e atuar na vida das pessoas quando há necessidade. Em alguns momentos, eles parecem inferiorizados, comparando-se com a literatura universal.
— Trata-se de uma releitura, mas não de forma negativa. A série se preocupa em ser uma comédia existencialista, com um protagonista que inspira todos a quebrarem esse sistema burocrático e cheio de regras — explica Daniel Rezende, em entrevista por telefone a GaúchaZH.
Fora do padrão
Nos primeiros capítulos, Ulisses tira todo o padrão dos anjos da linha. Em uma investigação ousada, ele descobre um segredo sobre a existência de Deus e, além disso, se relaciona com a humana Miriam (Kéfera), mesmo que ela não tenha sido ordenada como objeto de proteção. Em alguns momentos, os dois alternam o conceito esperado de um ser místico: Ulisses se torna a razão, enquanto Miriam confia na astrologia e na fé para definir os próximos passos.
Com esses dois protagonistas, Ninguém Tá Olhando promove uma discussão sobre contradições. Para Kéfera, sua personagem se perde em princípios e, por isso, deve gerar debates entre os espectadores.
— É quase como questionar um questionamento (risos). A vida, muitas vezes, acaba nos levando para comportamentos que não têm nada a ver com a gente, mas nos obriga a desempenhar algo, por isso a série funciona bem nessa discussão — explica Kéfera, ao lembrar de uma cena em que Miriam se diz empoderada e, no momento seguinte, é obrigada a atuar em uma peça infantil com muitos estereótipos de gênero por precisar do dinheiro do trabalho como atriz para pagar as contas.
Outra qualidade da série original é sua fluidez. Cada um dos oito episódios tem cerca de trinta minutos, o que facilita uma maratona, além de seu discurso mais cômico, que recorda outra série de sucesso da plataforma, The End of Fucking World, que ganhou sua segunda temporada no início de novembro. Outros dois anjos ajudam a alimentar esta veia, como a mal-humorada Greta (Júlia Rabello) e o tímido Chun (Danilo de Moura)
— É muito legal de ver em galera, para chorar e se questionar mesmo. Como as personalidades de cada anjo são bem definidas, dá para ver quem é parecido com quem e, ao ver com os pais, a série faz um debate legal sobre questionamentos em diferentes gerações — aponta Kéfera. — Mas vejam todos, cada um em uma televisão diferente, para darmos mais visualizações para a série (risos).