Animações natalinas são quase um subgênero do cinema. Desde a década de 1990, com O Estranho Mundo de Jack, a temática é explorada por cineastas de diferentes escalões e, com as proximidades das festividades, a Netflix aposta no segmento de vez: lança Klaus, nesta sexta-feira (15), seu primeiro filme original de animação com o Natal como o coração da história.
De início, parece que se trata de mais um clássico desenho em que o protagonista viverá uma reviravolta em sua vida. Felizmente, a animação vai além disso: consegue dialogar com o público adulto sobre a polarização da sociedade, algo que anda constantemente em debate.
Jesper (dublado por Rodrigo Santoro na versão nacional) é o filho do dono da empresa que gerencia os correios de todos os povos. Para que o herdeiro aprenda uma lição, de que é necessário batalhar para conquistar sua independência, o gerente envia o filho para Smeerensburg, uma ilha no Ártico em que dois povos vivem em guerra. O terreno é hostil e sem esperança.
Com a proximidade do Natal, Jesper tem a missão de promover o envio de cartas da região para outras localidades – ramo que está parado há um bom tempo. Ao reconhecer uma criança infeliz, em uma de suas andanças, acaba cruzando com Klaus (Daniel Boaventura), um velhinho antissocial que fabrica brinquedos e irá ajudar na função de dar diversão ao pequeno.
A parceria dá certo e, desta amizade, está a grande mensagem de Klaus, que tem direção de Sérgio Pablos, de Meu Malvado Favorito.
Veja os principais destaques do desenho:
Experiência do diretor
A experiência anterior de Pablos - Meu Malvado Favorito e Pé Pequeno - se reflete no ritmo desta nova animação, segundo Boaventura:
— Pela sua narrativa e ligação com Meu Malvado Favorito, o Sergio tem essa concepção de fazer algo inteligente, que eduque e faça pensar. Por isso, Klaus atinge todos os objetivos e, ao meu ver, pode se tornar um novo clássico. Ele tem um estilo de animação 2D e a textura de um clássico, mas dinâmica do moderno — explica o cantor, em entrevista por telefone a GaúchaZH.
Bem família
Tanto para Boaventura como para Rodrigo Santoro, que dubla o protagonista Jesper, o longa-metragem inspira a família. Pai de Nina, de dois anos, Santoro lembrou dela durante todo o processo de dublagem:
— Essa experiência da maternidade é muito potente, indescritível, e a relação do Jesper tem muito a ver com isso. A questão da gentileza, que está no filme, vem do afeto, de enxergar o outro sem preconceito, algo que sinto sempre que estou com ela.
Ligado no 220 V
Para dar a vida ao carteiro, o ator brasileiro que está apostando em sua carreira no exterior disse que se inspirou em “um café expresso” para construir a personalidade.
— Café, porque ele é muito ligadão (risos). Ele fala rápido e transita muito rápido entre tons de agudo e grave, então precisei de muitos exercícios de dicção — explica Santoro. — Mesmo permitindo eu brincar com ele, nunca tive um desafio tão grande na dublagem.
Tradução
Segundo Santoro e Boaventura, dublar os personagens em português, gravados originalmente em inglês, foi um trabalho complexo.
— Quando vai passar de um idioma para o outro, exige a dinâmica do humor do seu país. Como não houve um estudo prévio, de como seria, a criação foi na hora: um olho na tela, outro no diretor de dublagem, e nós testando na hora. Tivemos a impressão de gravar juntos todo o filme — lembra Boaventura.
Primeira animação mundial
Este é o primeiro projeto da Netflix voltado exclusivamente para a animação. O longa também foi exibido nos cinemas norte-americanos com a proposta de colocar o desenho na disputa do Oscar, em 2020.
E vem mais por aí: a plataforma está trabalhando em animações com Guillermo Del Toro em Pinóquio; com Chris Williams (Operação Big Hero) em Sea Beast; e com Nora Twomey (A Ganha-Pão) em My Father's Dragon.
Trama natalina
Além de falar de polarização e da festividade em si, o desenho explica como as renas do Papai Noel voam, o motivo para o bom velhinho entrar por chaminés e como ele sabe quem merece presentes ou não.
Fernanda Vasconcellos
O trio de dubladores brasileiros de destaque foi completado com Fernanda Vasconcellos, de Coisa Mais Linda, Malhação e Páginas da Vida.