Para marcar o 12 de junho, Dia dos Namorados, fiz uma lista com 12 filmes da era 2000 que destacam relações amorosas e que estão disponíveis em plataformas de streaming.
Atenção: não tem só comédia romântica, e alguns são tristes ou mesmo violentos.
Também convém avisar que nem sempre o final é feliz — como na vida, né? Mas todos são marcados pelo signo da paixão.
Amor à Flor da Pele (2000)
Evocando o clássico O Ano Passado em Marienbad (1961), do francês Alain Resnais, o chinês Wong Kar-Wai dirige um dos mais belos filmes tristes e talvez o mais sexy sem ter cena de sexo. A história se passa em 1962, em Hong Kong, onde dois casais acabam de se mudar para o mesmo prédio. Com o tempo, o jornalista vivido por Tony Leung Chiu-Wai (melhor ator no Festival de Cannes) e a secretária que mora no apartamento vizinho (Maggie Cheung) descobrem que seus respectivos cônjuges estão tendo um caso. A dor mútua acaba aproximando os dois personagens, que hesitam em concretizar a crescente atração física. Originalmente chamado de In the Mood for Love, Amor à Flor da Pele é extremamente refinado do ponto de vista estético, com seus figurinos elegantes e a exuberância colorida da direção de fotografia. As canções românticas na voz aveludada de Nat King Cole contrastam com sequências melancólicas, como aquelas que, em câmera lenta, acompanham erráticas caminhadas noturnas. (MUBI. Tem sessões na Cinemateca Capitólio no dia 11/6, às 20h, e no dia 12/6, às 18h30min)
Casamento Grego (2002)
O filme dirigido por Joel Zwick é um dos maiores fenômenos de bilheteria nos Estados Unidos. Ao custo de US$ 5 milhões, estreou em 108 cinemas. Acabou ficando um ano em cartaz, chegou a ser exibido em 1,7 mil salas e arrecadou US$ 241,4 milhões (contando os outros países, faturou US$ 368,7 milhões). Além disso, disputou o Oscar de melhor roteiro original, virou seriado de TV e ganhou uma continuação em 2016. Assumidamente caricatural, Casamento Grego conta a história de Toula Portokalos (Nia Vardalos), mulher de 30 anos que mora em Chicago. Tímida e pouco atraente, é motivo de chacota para a própria família no restaurante Dancing Zorba's. Um dia, ela desperta a paixão de um professor, Ian Miller (John Corbett). O namoro decola, mas há um obstáculo: Ian é anglo-saxão, e o pai de Toula (Michael Constantine) quer um marido grego. (Netflix)
Os Normais: O Filme (2003)
A série de TV criada pelo casal Alexandre Machado e Fernanda Young (1970-2019) ganhou um filme de origem. Dirigido por José Alvarenga Jr., Os Normais: O Filme mostra como se conheceram Rui e Vani, os personagens interpretados por Luiz Fernando Guimarães e Fernanda Torres que se celebrizaram por comentários absurdos, incomodações provocadas por coisas estranhíssimas e o jeito descontraído de encarar o amor e o sexo. Na primeira cena, no cais do porto do Rio, Rui e Vani engatam uma conversa quando ela, com seu modo peculiar de ver como funciona o mundo, anota: "Navio é um negócio muito louco. Tem tudo para afundar, mas não afunda". Depois, visitamos uma igreja, onde surge um "miniflashback gigante": Vani vai se casar com o infiel Sérgio (Evandro Mesquita), e Rui, com a mesquinha Martha (Marisa Orth). (Globoplay)
Wall-E (2008)
Uma das animações mais políticas da Pixar é também uma das mais românticas. No filme de Andrew Stanton, a Terra de 2805 já foi abandonada pelos humanos, que deixaram para trás apenas um planeta imerso em lixo. O personagem do título é um pequeno robô, que vive solitário em sua missão de limpar o que ficou. Aí, uma nave traz a avançada robô EVA, que veio procurar sinais de vegetação e vira objeto da afeição de Wall-E. Ganhou o Oscar, o Bafta e o Globo de Ouro da categoria. (Disney+)
Drive (2011)
Assinado pelo dinamarquês Nicolas Winding Refn (prêmio de melhor direção no Festival de Cannes), o filme é um sofisticado exercício estilístico sobre um arquétipo recorrente em Hollywood: o do homem calado e calejado, às vezes travestido de justiceiro, noutras de criminoso, não raramente mocinho e bandido na mesma persona. O protagonista encarnado pelo canadense Ryan Gosling não tem nome. Ganha a vida pilotando carrões para bandos de assaltantes em fuga ou como dublê em cenas de perseguição em produções cinematográficas. É um sujeito deslocado, que se apega a uma jovem mãe (a inglesa Carey Mulligan) sem entender ao certo o que sente. Mas é por ela que se envolve numa ciranda típica dos filmes de roubo, em que um erro sucede o outro e a violência explode. Só que, quando isso acontece, já estamos embarcados na carona, embalados pela trilha sonora e admirando a paisagem produzida pela combinação de visual retrô, fusões de imagens e cenas em câmera lenta. (Belas Artes à La Carte e Netflix)
Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual (2011)
Em espanhol, Medianeras é um termo da arquitetura usado para descrever a parte lateral de um prédio. Aquela que não é a frente, nem os fundos e para a qual ninguém olha. "A que separa e a que une", diz alguém na comédia romântica argentina dirigida por Gustavo Taretto. Trata-se de uma metáfora para seus dois personagens. Martín (Javier Drolas) e Mariana (Pilar López de Ayala) são vizinhos em Buenos Aires. Por mais que sempre se cruzem pelas ruas, nunca se viram. É na internet que eles se encontram e compartilham suas mágoas e alegrias. Ganhou três Kikitos no Festival de Gramado, na competição latina: melhor filme, diretor e prêmio do público. (Reserva Imovision e disponível para alugar por R$ 4,90 na Apple TV)
Ferrugem e Osso (2012)
O diretor francês Jacques Audiard mesclou dois contos do canadense Craig Davidson para contar a história de como Stéphanie (interpretada por Marion Cotillard) e Ali (Matthias Schoenaerts) se encontram. Ele é um ex-boxeador desempregado que precisa cuidar do filho de cinco anos. Ela é uma adestradora de orcas que enfrenta um momento divisor em sua vida. Em ZH, o crítico Daniel Feix descreveu assim Ferrugem e Osso: "É um filme essencialmente físico, que contrapõe beleza e violência, delicadeza e selvageria, como a dizer o quão próximos são nossa fragilidade e nossa força, o fundo do poço e a redenção". A destacar, também, a trilha sonora com músicas de Lykke Li, Bon Iver, Katy Perry e Bruce Springsteen. (Disponível para aluguel ou compra em Apple TV e Google Play)
Questão de Tempo (2013)
Talvez seja a minha comédia romântica favorita no século 21. E não sou só eu quem digo isso: se você pesquisar no Google por "melhores comédias românticas", vai aparecer o título ou o cartaz do filme escrito e dirigido pelo neozelandês Richard Curtis, um gênio do gênero, indicado ao Oscar de roteiro original por Quatro Casamentos e um Funeral (1994), realizador de Simplesmente Amor (2003) e autor dos scripts de Um Lugar Chamado Notting Hill (1999) e Yesterday (2019).
A trama aplica conceitos da ficção científica a um desejo que muitas pessoas devem nutrir: o de voltar ao passado para resolver pendências de sua vida e fazer dar certo aquela paixão. No caso, acompanhamos a jornada do jovem Tim Lake (Domhnall Gleason), que, após descobrir que pode viajar no tempo, usa sua habilidade para tentar conquistar a garota dos seus sonhos, Mary (Rachel McAdams). A química entre os dois é ótima, o elenco de coadjuvantes inclui Bill Nighy, Tom Hollander, Margot Robbie e Vanessa Kirby, e a trilha sonora traz uma linda versão de How Long Will I Love You e a arrepiante Into my Arms (Nick Cave & The Bad Seeds). (Amazon Prime Video e Star+)
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014)
A vida do garoto Leonardo (Ghilherme Lobo) muda completamente quando um novo aluno (Fábio Audi) entra em sua turma no colégio. Adolescente cego, ele precisa lidar com o ciúme da melhor amiga (Tess Amorim), com os pais superprotetores por causa de sua deficiência e com seus próprios sentimentos pelo novo rapaz. Com cenas que provocaram catarse coletiva nas plateias de cinema, o filme do diretor paulista Daniel Ribeiro ganhou dois troféus no Festival de Berlim: o da crítica na mostra Panorama e o Teddy, destinado a produções de temática LGBT+. (Netflix e Telecine)
Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016)
Oscar de melhor filme — foi o primeiro com elenco todo negro e o primeiro LGBT+ a conquistar a estatueta —, roteiro adaptado e ator coadjuvante (Mahershala Ali), o drama dirigido pelo estadunidense Barry Jenkins acompanha três fases da vida do protagonista: criança, quando é apelidado de Little (Alex Hibbert), adolescente, quando se chama Chiron (Ashton Sanders), e jovem adulto, quando se apresenta como Black (Trevante Rhodes). Sua trajetória é acidentada, marcada pela negligência da mãe, pelo uso de drogas, pela pobreza, pela violência, pelo racismo estrutural e pelo preconceito — a sexualidade que o personagem está descobrindo e que mal compreende é rejeitada por sua comunidade. Como o emprego de três nomes indica, Moonlight é uma história sobre busca da identidade. Mas também é uma linda história de amor — sufocado e sofrido, mas que perdura e sobrevive. (HBO Max)
Retrato de uma Jovem em Chamas (2019)
Este filme escrito e dirigido pela francesa Céline Sciamma se passa em uma ilha, em 1776, quando uma pintora (Noémie Merlant) é contratada para fazer o retrato de uma garota (Adèle Haenel) prometida em casamento para um cavalheiro de Milão. A artista e a musa se apaixonam, mas esse romance precisa ser nutrido em silêncio. Aliás, o som ambiente é uma das virtudes da obra vencedora do prêmio de melhor roteiro e da Palma Queer no Festival de Cannes. O crepitar de uma lareira ou o estouro das ondas marcam cenas — o fogo como símbolo do desejo que cresce, o mar bravio como símbolo da perturbação emocional das personagens. (Globoplay e Telecine)
A Última Carta de Amor (2021)
A estadunidense Augustine Frizzell dirige esta adaptação de um romance da jornalista e escritora britânica Jojo Moyes. Ambientada em Londres, a história se passa em dois tempos. No presente, a repórter Ellie Haworth (encarnada por Felicity Jones), incumbida de escrever um artigo sobre o recentemente falecido editor de seu jornal, descobre uma carta romântica endereçada por alguém identificado como "Boot" para uma pessoa chamada de "J". Intrigada, Ellie resolve investigar o passado, a década de 1960, quando os personagens principais são vividos por Shailene Woodley e Callum Turner. A Última Carta de Amor pode não ser a última bolachinha do pacote, mas funciona — ou seja, emociona — quem curte títulos como Tarde Demais para Esquecer (1957), Nunca te Vi, Sempre te Amei (1987) e Diário de uma Paixão (2004). Prepare o lencinho. (Netflix)