Na histórica representação brasileira no Festival de Berlim deste ano (formada por quatro longas, entre eles Castanha), Hoje Eu Quero Voltar Sozinho foi o único reconhecido com prêmios. Ganhou o Teddy Bear, voltado a filmes de temática homossexual, e um prestigiado prêmio da crítica, além de receber a segunda nota mais alta de avaliação do público do festival.
Para aproveitar a badalação, sem perder tempo, o diretor paulistano Daniel Ribeiro e a distribuidora Vitrine Filmes lançam nesta quinta-feira o longa em mais de 30 cinemas do Brasil.
- As pessoas têm se mostrado ansiosas para vê-lo - diz Ribeiro, 31 anos.
Faz sentido. É que o filme está na cabeça de muita gente desde 2010, quando o cineasta, já premiado em Berlim pelo curta Café com Leite (2007), encontrava dificuldades para financiar o projeto de seu primeiro longa. E, então, resolveu fazer um curta-metragem apresentando os seus personagens e contando, de maneira reduzida, a história de Eu Não Quero Voltar Sozinho. O curta foi batizado Hoje Eu Quero Voltar Sozinho.
- Para mim, foi um projeto piloto - define o cineasta. - Deu tão certo que o longa está aí. O título mudou porque a história foi sendo aprofundada a cada novo tratamento que demos ao roteiro. Ganhou elementos que não cogitávamos à época do curta.
Clique aqui e veja o curta, na íntegra, no blog CineclubeZH
No YouTube, o curta-metragem somou mais de 3,2 milhões de visualizações. A maneira sensível como aborda o amadurecimento de um adolescente cego (Guilherme Lobo) que se descobre apaixonado por um menino novo na escola (Fábio Audi), despertando ciúmes na melhor amiga (Tess Amorim), cativou espectadores de diversos países. Há, entre os quase 13 mil comentários registrados na página, elogios em diversos idiomas. O sucesso em Berlim garantiu a distribuição do longa-metragem em 14 países, EUA, França e Alemanha entre eles.
O título é uma referência ao fato de que, todos os dias, o protagonista volta da escola acompanhado da amiga, que o conduz até o portão de casa. Conforme os conflitos se desenvolvem, sua busca por independência aumenta. A descoberta da homossexualidade vem acompanhada de alguma rebeldia, e a insegurança inicial para percorrer o trajeto é substituída por coragem - algo que só pôde ser desenvolvido no longa.
O talento de Ribeiro - e do ator principal, que não é deficiente visual - está, acima de tudo, na empatia do personagem. Na forma como traz o espectador para acompanhá-lo em sua jornada.
- Ele faz o que o público torce para ele fazer - comenta o realizador.
De fato, sequências-chave como a do primeiro beijo têm provocado uma catarse coletiva na plateia - foi assim no festival alemão, repetiu-se na sessão de pré-estreia em Porto Alegre, sábado passado. Essa sensibilidade, no entanto, coexiste com tropeços típicos dos longas de diretores estreantes. Alguns diálogos são excessivamente descritivos e, por isso, soam arrastados. Evidenciam a dificuldades para comunicar algo que não seja pela verbalização.
Já a maneira colorida como vislumbra o universo de todos os personagens - não há final infeliz para ninguém, e o público sai de alma lavada da sessão - pode soar um tanto irreal, mas faz parte da essência do projeto. É essa sensação de otimismo e satisfação que Hoje Eu Quero Voltar Sozinho quer provocar. E consegue, com méritos.
HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO
De Daniel Ribeiro. Com Guilherme Logo, Tess Amorim e Fábio Audi.
Drama, Brasil, 2014. Duração: 96 minutos. Classificação: 12 anos.
Estreia nesta quinta-feira nos cinemas. Em Porto Alegre, entra em cartaz no Espaço Itaú, no Guion Center e na Cinemateca Paulo Amorim.
Cotação: 3 estrelas (de 5).
Confira outros filmes que vislumbram as descobertas adolescentes sem preconceito:
Delicada Atração
Produção britânica sobre dois jovens vizinhos que se apaixonam. De Hettie Macdonald, 1996.
Minha Vida em Cor-de-Rosa
Menino sofre preconceito ao entrar em crise de gênero. De Alain Berliner, Bélgica/França, 1997.
Nunca Fui Santa
Pais suspeitam que filha é gay e a mandam para internato. Também conhecido pelo título original, But I'm a Cheerleader. De Jamie Babbit, EUA, 1999.
Bruno
The Dress Code no original, narra a história de menino que passa a se vestir como menina. De Shirley MacLaine, EUA, 2000.
XXY
Drama argentino sobre garota hermafrodita. De Lucía Puenzo, 2007.
Tomboy
Filme francês sobre menina que se passa por menino. De Céline Sciamma, 2011.
Azul É a Cor Mais Quente
Garota descobre o amor ao se apaixonar por menina mais velha de cabelos azuis. De Abdellatif Kechiche, 2013.