O Dia dos Namorados tem um cupido cinematográfico: Richard Curtis, o gênio por trás de cinco das minhas comédias românticas favoritas — todas disponíveis em plataformas de streaming.
Neozelandês de 64 anos, Curtis construiu carreira na Inglaterra. Seu primeiro sucesso foi Quatro Casamentos e um Funeral (1994), que concorreu aos Oscar de melhor filme e roteiro original, escrito por ele — Mike Newell assina a direção. Na trama, ele conta a história de um jovem solteirão convicto (Hugh Grant) que acaba se apaixonando por uma estadunidense (Andie MacDowell), mas, como promete o título, vai arrastar a situação ao longo de outros casamentos e um funeral.
O protagonista valeu um Globo de Ouro a Grant, que voltaria a trabalhar com Curtis em um punhado de filmes. O primeiro deles foi Um Lugar Chamado Notting Hill (1999), de Roger Michell, que concorreu aos Globos de Ouro de melhor comédia ou musical, ator (Grant) e atriz (Julia Roberts).
Logo depois, O Diário de Bridget Jones (2001), de Sharon Maguire, contou com a mão do neozelandês na adaptação do best-seller da escritora Helen Fielding. Antes de coassinar o script de Bridget Jones: No Limite da Razão (2004), para Beeban Kidron, Curtis estreou como diretor de cinema. Fez Simplesmente Amor (2003), que acompanha um carrossel de paixões em Londres, nas semanas que antecedem o Natal, e, além de Grant, inclui no elenco Rodrigo Santoro, Emma Thompson, Liam Neeson, Laura Linney, Colin Firth, Keira Knightley, Chiwetel Ejiofor e Andrew Lincoln (o então futuro xerife Rick Grimes da série The Walking Dead). O filme disputou o Globo de Ouro de melhor comédia ou musical e melhor roteiro.
Na parceria com Hugh Grant, Richard Curtis burilou o tipo de desventuras amorosas que, mais recentemente, foram vividas por Domhnall Gleeson (em Questão de Tempo, de 2013, que ele mesmo dirigiu) e por Himesh Patel (em Yesterday, de 2019, escrito para o cineasta Danny Boyle) — tendo como pares, respectivamente, Rachel McAdams e Lily James. Temos um protagonista masculino com humor autodepreciativo, uma personagem feminina que exala doçura, o amigo esquisito que diz verdades ultrajantes, diálogos temperados com a fina mas às vezes cruel ironia britânica, dilemas morais capazes de colocar tudo por água abaixo, uma trilha sonora pop e, fundamentalmente, um convite para que abracemos o implausível.
Nos universos conspirados pelo diretor e roteirista, o amor é soberano à razão, às convenções, ao verossímil, à ciência. Um reles dono de livraria pode conquistar o coração de uma estrela de Hollywood (Um Lugar Chamado Notting Hill). O primeiro-ministro pode se apaixonar por uma funcionária (Simplesmente Amor). Um cantor e compositor fracassado pode se tornar a única pessoa no mundo a lembrar da existência dos Beatles (Yesterday). Um jovem pode viajar no tempo para reencontrar a garota ideal (Questão de Tempo).
Tudo isso acontece ao som de lindas canções, como Into my Arms, de Nick Cave and the Bad Seeds (presente em Questão de Tempo), e a trinca She (Elvis Costello), Ain't No Sunshine (Bill Withers) e How Can You Mend a Broken Heart (Al Green), ouvidas em Um Lugar Chamado Notting Hill. E ainda há as versões arrepiantes de clássicos dos Beatles, tanto aquelas interpretadas por Himesh Patel em Yesterday quanto a de All You Need Is Love por Lynden David Hall e o coro da igreja em Simplesmente Amor.
O que ver no streaming
- Quatro Casamentos e um Funeral (1994), de Mike Newell (canal MGM do Amazon Prime Video)
- Um Lugar Chamado Notting Hill (1999), de Roger Michell (Amazon Prime Video, Netflix, Telecine, Google Play e YouTube)
- O Diário de Bridget Jones (2001), de Sharon Maguire (Netflix)
- Simplesmente Amor (2003), de Richard Curtis (Amazon Prime Video, Google Play e YouTube)
- Questão de Tempo (2013), de Richard Curtis (Netflix, Google Play e YouTube)
- Yesterday (2019), de Danny Boyle (Telecine, Google Play e YouTube)