Power, que a Netflix estreia mundialmente nesta sexta-feira (14), tem um atrativo extra para o Brasil: a presença de Rodrigo Santoro. Dando sequência a sua carreira internacional – que começou em 2006, com o imperador Xerxes, de 300, e o misterioso Paulo, do seriado Lost, e nunca mais parou –, o ator interpreta o vilão do filme americano estrelado por Jamie Foxx, Joseph Gordon-Levitt e a jovem Dominique Fishback. Seu personagem, Biggie, é um grande traficante de uma pílula que, durante cinco minutos, desperta no usuário superpoderes imprevisíveis.
No filme dirigido pela dupla nova-iorquina Henry Joost e Ariel Schulman (responsáveis pelos segmentos 3 e 4 da franquia Atividade Paranormal e por Viral), Santoro é, inclusive, o primeiro a falar em cena (uma curiosidade: ele faz a própria voz na versão dublada). No meio da madrugada, Biggie despeja em Nova Orleans, nos Estados Unidos, uma grande carga da droga, um comprimido luminoso chamado exatamente de power – poder, em inglês.
Seis semanas depois, a cidade virou um lugar perigoso, com alta taxa de criminalidade. Todo mundo quer experimentar a pílula para descobrir que habilidade especial está oculta dentro de si. Uns se tornam incendiários, outros, absolutamente maleáveis. Mas quase ninguém quer ser super-herói – ao contrário do lema do Homem-Aranha, grandes poderes trazem grandes irresponsabilidades.
Também é o personagem de Santoro quem explica o funcionamento da power, durante uma demonstração, em uma boate, para a presidente de um inominado país da América do Sul – não é segredo que Nova Orleans virou campo de testes para os fabricantes da droga, que buscam financiamento para produzir uma que não seja apenas temporária, mas dure para sempre. Biggie relaciona a pílula às capacidades evolutivas – e regenerativas – do mundo animal. Cita exemplos como o polvo que se camufla no fundo do mar e um sapo que quebra os próprios ossos para usar como armas:
— Eles veem no escuro, transformam água em plasma, se termorregulam. A evolução deu aos animais inúmeras habilidades que só podemos imaginar. Tanto poder! Todo o potencial genético escondido no nosso DNA, só esperando para ser liberado.
Esse monólogo, bem ilustrado e embalado por uma trilha sonora eletrônica e soturna, talvez seja um dos raros pontos altos do filme. Escrito pelo romeno Mattson Tomlin – sem nada de brilhante no currículo, exceto o vindouro The Batman, que ele coescreveu com o diretor Matt Reeves –, Power trafega entre o clichê e a previsibilidade, com uma passadinha pela inverossimilhança e pela enrolação. Por exemplo: a sinopse já deixa evidente que os personagens encarnados por Foxx (o ex-militar Art, chamado de Major), Dominique (a estudante de Ensino Médio Robin) e Gordon-Levitt (o policial Frank) vão se aliar, então por que perder tempo fazendo o último caçar o primeiro? "Ah, mas Frank não sabe que o Major é do bem" – só que todo o público sabe, e também intui que os produtores de power têm amigos nos altos escalões de Nova Orleans. Portanto, um momento que era para ser surpreendente acaba sendo... enrolação.
Quando deixa de enrolar e parte para a ação, Power até que manda bem. Tirando uma transformação em monstro em que os efeitos visuais deixam a desejar, são de encher os olhos os duelos do Major contra um homem que vira fogo e, depois, contra outro que consegue se alongar todo. Mas é pouco para que o filme disfarce o seu principal superpoder: o de cair no esquecimento. Daqui a alguns dias, passados os cinco minutos de vibração, já estaremos ansiosos pelas próximas pílulas de mistério e adrenalina.