![Amazon Prime Video / Divulgação Amazon Prime Video / Divulgação](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/25724903.jpg?w=700)
Aviões são cenários por excelência para filmes e seriados tensos – como 7500, longa-metragem de 2019 estrelado por Joseph Gordon-Levitt e recentemente adicionado ao catálogo do Amazon Prime Video. Tripulantes e passageiros estão isolados do resto do mundo em um ambiente claustrofóbico, onde costuma haver uma corrida contra o tempo e qualquer imprevisto pode complicar bastante a situação. Seja por razões meteorológicas, seja por ação humana (ou até animal), voos turbulentos são convidativos quando encenados.
No cinema, essa vertente é variada. Inclui comédias pastelão, como Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu! (1980), ou dramáticas, como Herói por Acidente (1992); obras baseadas em fatos reais, a exemplo de Sully: O Herói do Rio Hudson (2016), dirigido por Clint Eastwood e protagonizado por Tom Hanks; filmes de terror B, tipo Serpentes a Bordo (2006); e suspenses psicológicos – Plano de Voo (2005), em que uma passageira interpretada por Jodie Foster acorda no avião e não encontra mais sua filha – ou investigativos, caso de O Voo (2012), de Robert Zemeckis, em que o piloto encarnado por Denzel Washington evita um desastre, mas seu heroísmo é posto em xeque por ser alcoólatra.
Seriados, que precisam dilatar a ação em um determinado número de episódios, fazem do avião um microcosmo no qual podem desenvolver personagens e dramas. Investem em mistérios que serão desdobrados ao longo dos capítulos, a exemplo do icônico Lost (2004-2010) ou do recente Manifest (que estreou em 2018), ambos sobre passageiros desaparecidos. O tom pode ser apocalíptico, como visto na enxuta e ótima primeira temporada de Noite Adentro (2020).
Dirigido e coescrito pelo alemão Patrick Vollrath, estreante em longas, 7500 insere-se em uma seara ficcional que evoca uma tragédia real: a do terrorismo aéreo. Filmes sobre aviões sequestrados não eram inéditos antes do 11 de Setembro – em Força Aérea Um (1997), por exemplo, o próprio presidente dos Estados Unidos (Harrison Ford) é atacado por partidiários de um ditador do Cazaquistão.
Mas os eventos de quase 20 anos atrás tornaram-se um espectro que injeta tensão extra a títulos como Voo Noturno (2005), de Wes Craven, e Sem Escalas (2014), de Jaume Collet-Serra – e também renderam um fabuloso docudrama, Voo United 93 (2006), em que o cineasta Paul Greengrass reconstitui o que teria acontecido no único avião tomado pela Al-Qaeda que não atingiu seu alvo.
Praticamente todos esses filmes vêm à mente quando 7500 começa, mas o filme escolhe uma rota original que, pelo menos do ponto de vista formal, lhe garante um assento na primeira classe.
Com exceção das imagens de abertura, que captam, pelas câmeras de segurança, a circulação de passageiros no aeroporto de Berlim, e do plano final, toda a ação ocorre dentro da cabine de um avião programado para viajar da capital da Alemanha a Paris.
O comandante é o alemão Michael (Carlo Kitzlinger), mas o protagonista é seu copiloto, o americano Tobias, vivido com gana e honestidade por Joseph Gordon-Levitt. Aos 39 anos, o ator vem exercendo cada vez mais sua versatilidade – já estrelou comédias românticas (10 Coisas que Eu Odeio em Você, 500 Dias com Ela), ficções científicas (A Origem, Looper: Assassinos do Futuro), cinebiografias (A Travessia, sobre o equilibrista francês Philippe Petit, Snowden: Herói ou Traidor, sobre o analista de sistemas que revelou detalhes da vigilância americana).
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Tobias viaja na companhia da esposa (Aylin Tezel), uma comissária de bordo de família turca. No início da história, ambos estão trocando planos sobre o filho pequeno ou conversas íntimas – ela avisa o marido de que ele está com mau hálito. Quando o piloto Michael aparece, os diálogos passam a ilustrar os procedimentos de rotina para uma decolagem (a propósito: se você assistir à versão dublada, precisará acionar as legendas nas falas em alemão).
A banalidade retratada por Patrick Vollrath tem um propósito claro e duplo: ao mesmo tempo em que brinca com a expectativa do público (afinal, sabemos que algo de ruim vai acontecer), o diretor permite que a gente desenvolva empatia pelos personagens – algo fundamental diante dos dilemas que vão chacoalhar a aeronave.
Mas o algo de ruim não demora a acontecer: tão logo o avião decola, homens tentam invadir a cabine de pilotagem – o 7500 do título é o código da aviação para esse tipo de incidente. Quem são eles? O que querem? Como estão os tripulantes e os passageiros? O que vai ser do avião? São perguntas que Vollrath responde a conta-gotas e em tempo real. Algumas das questões nem precisariam ser elucidadas – o terror sem nome pode ser ainda mais apavorante, e essa omissão tornaria 7500 mais universal. Mas o diretor atinge voo de cruzeiro em seu exercício de suspense claustrofóbico. Orquestra muito bem os solos de Gordon-Levitt com a exibição de parcas imagens providenciadas por um monitorzinho em preto e branco que revela um pouco do lado de fora e a exploração do som. Abrindo mão da música, 7500 transforma em soturna trilha sonora os ruídos da aeronave, os alarmes do painel de controle e as constantes e angustiantes batidas na porta.