Uma das plataformas de streaming surgidas durante a pandemia, a Supo Mungam Plus tem em seu catálogo três filmes que permitem matar a saudade de uma atriz marcante: a canadense Sarah Polley, protagonista ou coadjuvante em Exótica (1994), O Doce Amanhã (1997) — ambos dirigidos por Atom Egoyan — e Minha Vida Sem Mim (2003), de Isabel Coixet.
Este último procura responder a uma pergunta — se você soubesse hoje que iria morrer em breve, o que faria? — que já foi formulada em uma série de filmes, como Gritos e Sussurros (1972), Laços de Ternura (1983) e As Invasões Bárbaras (2003). Há sempre um acerto de contas com o passado, uma lista de coisas a fazer antes de partir, uma longa despedida entre quem vai e quem fica.
Minha Vida Sem Mim propõe uma variação sobre o tema. Esse drama rodado no Canadá pela diretora e roteirista espanhola Isabel Coixet conta a história de Ann (Sarah Polley), uma moça de 23 anos que leva uma vida não exatamente sonhada: mora num trailer estacionado no quintal da casa de sua amargurada mãe (a roqueira Deborah Harry) e faz faxina noturna em uma faculdade. Mas tem duas filhas que são uns amores e um marido — Don (Scott Speedman) — que, embora passe mais tempo desempregado do que trabalhando, é dedicado ao bem-estar da família.
Após um desmaio, Ann vai a um hospital público — onde toma um chá de banco enquanto realiza exames. A notícia de um tumor irreversível nos ovários é dada por um médico tremendamente humano — o experiente doutor Thompson não consegue ter a frieza de olhar nos olhos de um paciente que está para morrer.
É nessa cena que Minha Vida Sem Mim começa a conduzir o público para uma vereda incomum. Haverá pela frente momentos dolorosos, a lista de coisas a fazer encerra clichês ("Fazer amor com outro homem", "Visitar meu pai na prisão"...), algumas situações parecerão inverossímeis. Mas a maneira como Ann encara sua condição difere do costumeiro. Com o rosto, Sarah Polley vai do egocentrismo à doçura, do horror à sensualidade — sem nunca pedir a pena do interlocutor ou do espectador.
Ao escolher pelo sigilo — nem mesmo seu marido sabe da iminência de sua morte —, Ann acaba por presentear com a vida as pessoas ao seu redor (que inclui personagens encarnados por atores como Mark Ruffalo, Maria de Medeiros e Amanda Plummer). Uma vida em que a plenitude manifesta-se nos atos mais singelos, como dizer todos os dias para suas filhas: "Eu te amo".