Marcado por acusações e xingamentos, o debate de quinta-feira (29) entre os candidatos à Presidência mostrou como pode ser tenso o fim de semana das eleições no Brasil. Portanto, a lista de 10 desta sexta-feira (30) convida o leitor a escolher um filme e relaxar.
Em vez dos dramas tristes, dos títulos de terror, das séries policiais e dos documentários perturbadores que costumo indicar, é a vez de recomendar comédias.
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1) Quanto Mais Quente Melhor (1959)
Ninguém é perfeito, como diz o personagem de Joe E. Brown no célebre final desta comédia de erros, mas um filme pode ser. É o caso de Some Like It Hot, no qual Tony Curtis e Jack Lemmon são dois músicos de Chicago que, para fugir de mafiosos durante a Lei Seca, se disfarçam de mulheres e se juntam a uma banda de jazz feminino em turnê para a Flórida. No trem, vão conhecer Sugar Kane Kowalczyk, a sensual cantora encarnada por Marilyn Monroe — a personagem do polêmico (para dizer o mínimo) Blonde, que estreou na quarta-feira (28) na Netflix. O genial Billy Wilder disputou os Oscar de melhor diretor e roteiro. (MGM e para aluguel em Amazon Prime Video e Google Play)
2) Um Convidado Bem Trapalhão (1968)
Mais do que na série de filmes da Pantera Cor-de-rosa, é em Um Convidado Bem Trapalhão (The Party) que o inglês Peter Sellers mostra-se um incomparável ator cômico — a despeito do lance politicamente incorreto de escalá-lo para encarnar um indiano. Na trama dirigida por Blake Edwards, um magnata de Hollywood vai dar uma festa para estrelas encantadoras, modelos deslumbrantes, poderosos produtores e até um filhote de elefante. Mas, por uma falha de convite, Hrundi V. Bakshi (Sellers), um figurante com uma queda por desastres, também aparece. O que se sucede é uma coleção de cenas impagáveis: Hrundi perde o sapato numa passagem de água, Hrundi entope a privada no banheiro, Hrundi joga um frango na cabeça de uma mulher... (MGM e, para aluguel, em Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play)
3) Feitiço do Tempo (1993)
Nesta comédia dirigida por Harold Ramis, o ator Bill Murray interpreta um arrogante meteorologista da TV que fica preso em uma armadilha temporal, na cidadezinha de Punxsuatawney, na Pensilvânia, condenado a reviver indefinidamente o mesmo dia até que mude suas atitudes. As 24 horas que ele tem de repetir são as do Dia da Marmota — Groundhog Day, no original —, uma data festiva em que, segundo a crença dos moradores locais, o pequeno mamífero teria o poder de prever a duração do inverno. Feitiço do Tempo tornou-se um clássico tanto pela comicidade quanto pela discussão filosófica (o peso da rotina, nossa capacidade de mudar comportamentos etc) e pela abordagem dos paradoxos das viagens no tempo. Virou também uma referência: quando surge algum filme em que os personagens precisam ou são obrigados a reviver os acontecimentos de um determinado período de tempo, citamos as desventuras de Bill Murray. (Para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play)
4) O Virgem de 40 Anos (2005)
The 40-Year-Old Virgin é muito mais do que um besteirol apimentado, como o título pode sugerir aos incautos. Tanto é que apareceu na tradicional lista dos 10 melhores filmes do ano elaborada pelo respeitado American Film Institute. Era como um estranho no ninho em uma temporada célebre por assuntos sérios — o terrorismo (Munique), a indústria do petróleo (Syriana), o racismo (um dos temas centrais de Crash), o preconceito sexual (O Segredo de Brokeback Mountain), a perseguição política (Boa Noite e Boa Sorte). Tema sempre recorrente nas comédias adolescentes americanas, a primeira transa ganha uma abordagem diferente pelas mãos (sem trocadilho!) do diretor Judd Apatow e do ator Steve Carell (que naquele mesmo ano começaria a interpretar o chefe sem-noção Michael Scott na série The Office). Se pelo olhar juvenil é motivo de afobação, para um adulto de 40 anos é motivo de resignação. O elenco de apoio — Seth Rogen, Elizabeth Banks, Catherine Keener, Paul Rudd — é um dos trunfos do filme, que tem uma das cenas mais antológicas das comédias contemporâneas: aquela da depilação. Tente não chorar. (Netflix e para aluguel em Amazon Prime Video e Apple TV)
5) Mamma Mia! (2008)
Inspirado em canções do quarteto pop sueco ABBA, o musical dirigido por Phyllida Lloyd é um dos filmes preferidos na minha família. A Bia, eu e as gurias (Helena e Aurora) já revisitamos algumas vezes a ilha grega onde Meryl Streep interpreta Donna, a dona de um hotel. Ao preparar o casamento de sua filha (Amanda Seyfried), descobre que três ex-namorados (Pierce Brosnan, Stellan Skarsgard e Colin Firth) foram convidados — um deles é o pai da noiva. O filme ganhou uma continuação, não tão deliciosa, em 2018. (Globoplay e para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play)
6) Se Beber, Não Case! (2009)
Diz a matéria de apresentação em Zero Hora de The Hangover (em inglês, A Ressaca): "Um tigre no banheiro, um dente a menos, um bebê a mais — esses são apenas os primeiros e menores dos problemas que três amigos reunidos em Las Vegas para uma despedida de solteiro enfrentam depois de acordar de uma noite de farra descontrolada". Os três amigos são o bonitão Phil (Bradley Cooper), o reprimido Stu (Ed Helms) e o meio abobado Alan (Zach Galifianakis). A grande encrenca deles é descobrir onde foi parar o noivo desaparecido— que os sequelados padrinhos não sabem como, onde ou quando perderam. Com uma participação especial da lenda do boxe Mike Tyson, o filme do diretor Todd Phillips (o mesmo de Coringa) deu início a uma trilogia que arrecadou US$ 1,4 bilhão. (HBO Max, NOW e para aluguel em Apple TV e Google Play)
7) Intocáveis (2011)
De cara, é preciso dizer que esta comédia francesa me fez rir tanto quanto chorei. Os diretores Olivier Nakache e Eric Toledano apostam em uma fórmula imbatível: a dos filmes sobre uma amizade improvável, que supera barreiras — no caso, sociais, culturais, étnicas e até físicas — para, ao fim, dar uma lição moral de solidariedade, tolerância e respeito às diferenças.
Eles adaptaram a história real de Phillippe Pozzo di Borgo, milionário tetraplégico que criou um forte vínculo com o enfermeiro argelino que foi seu braço direito, Abdel Sellou. Em Intocáveis, Phillippe é interpretado pelo ótimo François Cluzet. Abdel ganhou o nome de Driss e representa outra ex-colônia francesa na África, o Senegal — vale dizer que os imigrantes africanos são marginalizados na França. O papel deu estrelato a Omar Sy, visto recentemente como protagonista da série Lupin. O aristocrático Phillippe e o ex-detento Driss são como azeite e água. Um é expert em música erudita, uma chatice sem vibração para o outro, apaixonado por funk. Na galeria de arte, onde Phillippe interpreta significados ocultos, Driss vê borrões infantis. Sofisticação versus rudeza, limitação física contraposta à energia da força bruta — esses duelos provocam ora risos, ora lágrimas e já mereceram três refilmagens: uma na Índia, em 2016, uma na Argentina, também em 2016, e uma nos Estados Unidos, em 2017. (Globoplay, MUBI e NOW)
8) Toc Toc (2017)
Quem lê só a sinopse desta comédia espanhola dirigida por Vicente Villanueva e baseada em um espetáculo teatral francês pode achar que é politicamente incorreta demais: seis pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) marcam consulta no mesmo horário com um psiquiatra, mas ele se atrasa muito, e o grupo precisa esperar. Entre os personagens, estão Federico (o ótimo Oscar Martínez), que tem síndrome de Tourette e solta palavrões e gestos obscenos involuntariamente, Blanca (Alexandra Jiménez), obcecada por limpeza, Otto (Adrián Lastra), maníaco por linhas e simetrias, e Ana María (Rossy de Palma), que, sempre que sai de casa, volta para verificar se fechou mesmo a torneira, o gás, a porta... No consultório, eles descobrem as peculiaridades de cada um, provocando risadas no espectador — que, mais adiante, perceberá as sutilezas do filme, como uma bela mensagem sobre empatia e cooperação. (Netflix)
9) Minha Mãe É uma Peça 3 (2019)
Com direção de Susana Garcia, é o divertido encerramento da trilogia em que o saudoso ator Paulo Gustavo encarnou Dona Hermínia. Na pele, nas sapatilhas e com os bobs da personagem, ele personificou as mães que não largam do pé dos filhos apesar de já estarem bem crescidos, as mães que brigam por causa da tampa não devolvida de um pote de plástico, as mães que se metem na decoração da casa da prole e até na criação dos netos. Mas também as mães que não medem esforços para defender os rebentos, as mães que derramam seu amor sobre nós, as mães que, ora, só pedem um pouquinho de retribuição por tudo o que já fizeram pela gente. (Globoplay e NOW)
10) Yesterday (2019)
Esta calorosa declaração de amor aos Beatles foi dirigida por Danny Boyle e escrita por Richard Curtis (o roteirista de Quatro Casamentos e um Funeral e o realizador de Questão de Tempo). Himesh Patel encarna um fracassado cantor e compositor que, após um estranho blecaute, se torna a única pessoa no mundo a lembrar da existência de John, Paul, George e Ringo. A situação rende momentos mágicos — como a cena em que Jack, o personagem, interpreta Yesterday para sua admiradora platônica Ellie (Lily James, de Pam & Tommy) e um casal de amigos: é como se fosse a primeira vez que nós, o público, fôssemos expostos à beleza da canção — e divertidos: como não rir diante da tentativa do sujeito de mostrar aos pais Let It Be? (Para aluguel em Apple TV e Google Play)
Bônus
A Noite do Jogo (2018) / Duas Tias Loucas de Férias (2021): dirigida pela dupla John Francis Daley e Jonathan Goldstein, A Noite do Jogo é uma comédia divertidíssima — mas, convém avisar, no geral as piadas são com adultos e para adultos. O humor está inclusive temperado por momentos de tensão e até de violência (mas nada a ponto de cortar o embalo). Na trama, um grupo de pessoas se mete em uma enrascada a partir do momento em que se reúne para uma noite de jogos na qual, como em um RPG (sigla de role-playing game), precisam interpretar papéis. Falando em interpretar, o elenco é ótimo. Temos, entre outros, Jason Bateman, três vezes indicado ao Emmy de melhor ator pela série Ozark e duas por Arrested Development; Rachel McAdams, que disputou o Oscar por Spotlight; Kyle Chandler, ganhador do Emmy por Friday Night Lights; Jesse Plemons, que concorreu ao Oscar e ao Bafta de coadjuvante por Ataque dos Cães; e Michael C. Hall, o protagonista de Dexter. (HBO Max e para aluguel em Amazon Prime Video e Google Play)
Indicadas ao Oscar de melhor roteiro original por Missão Madrinha de Casamento (2011), Kristen Wiig e Annie Mumolo reúnem-se novamente no script de Duas Tias Loucas de Férias (no original, Barb and Star Go to Vista Del Mar). Sob direção de Josh Greenbaum e sem medo de brincarem com o sexo ou o absurdo, Kristen e Annie interpretam duas amigas que deixam sua cidade no Meio-Oeste pela primeira vez e se envolvem em uma trama de crime e romance na Flórida. Jamie Dornan, o Christian Grey de 50 Tons de Cinza e o assassino serial do ótimo seriado The Fall, mostra seu desprendimento para o humor. (Para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play)